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De acordo com o Islam, o Dilúvio de Noé foi Global ou Local?

Algumas pessoas afirmaram que o Islam crê que o grande dilúvio de Noé, (Nuh) عليه السلام, tenha sido global por natureza. Como a ideia de uma inundação global contradiz muitos modelos científicos atuais de geologia, arqueologia e história, alguns afirmaram que é preciso escolher entre a evidência científica e o islamismo.

Na realidade, o Islam não exige a crença de que a grande inundação tenha sido fisicamente global, e nem é apropriado inferir modelos científicos de versículos do Alcorão que nunca foram destinados a fornecer fatos científicos.

A ideia de que os muçulmanos devem acreditar em um dilúvio global é baseada em duas evidências escriturísticas: referências nas fontes e na herança clássica de que a inundação cobriu “a terra” e que todas as pessoas que viveram contemporaneamente a Noé (Nuh), عليه السلام, morreram. Com exceção de alguns.

Allah disse:

فَفَتَحْنَا أَبْوَابَ السَّمَاءِ بِمَاءٍ مُّنْهَمِرٍ وَفَجَّرْنَا الْأَرْضَ عُيُونًا فَالْتَقَى الْمَاءُ عَلَىٰ أَمْرٍ قَدْ قُدِرَ

Então abrimos as portas do céu, com água torrencial (que fizemos descer). E fizemos brotar fontes da terra, e ambas as águas se encontraram na medida predestinada. (54:11-12)

A palavra árabe al-ard (geralmente traduzida como “a terra”) não era entendida como “o globo” na época em que o Alcorão foi revelado. Significava a terra no sentido de “terra” ou “solo”. Referências na literatura clássica de que a inundação cobriu “a terra” não significa necessariamente que a inundação cobriu “o globo”, já que a palavra árabe poderia significar terra em sentido regional.

A frase “as águas se encontraram” significa que a água da chuva e a água terrestre se combinaram para causar o grande dilúvio, mas em que modo ou medida eles fizeram isso, não podem ser conhecidos com certeza.

A segunda evidência usada para apoiar a ideia de uma inundação global é o fato de que todas as pessoas da época morreram no dilúvio, exceto os descendentes de Noé (Nuh) عليه السلام.

Allah disse:

وَجَعَلْنَا ذُرِّيَّتَهُ هُمُ الْبَاقِينَ

E fizemos sobreviver a sua prole. (37:77)

Ibn Abbas, رضي الله عنه, comentou sobre este verso, dizendo:

لـم يبق إلا ذريةُ نوح

Ninguém permaneceu exceto os descendentes de Noé.

E Qatadah disse:

فـالناس كلهم ​​من ذرية نوح

Assim, todas as pessoas são descendentes de Noé.

Fonte: Tafsir Tabari – 37:77

Como Adão (Adam) e Eva (Hawa), عليهم السلام, todas as pessoas podem ser rastreadas até os descendentes de Noé, عليه السلام, porque o dilúvio varreu completamente a civilização na época. Mas a destruição dessa civilização primitiva, que teria residido em uma pequena região do globo, não significa que a inundação fosse fisicamente global.

Adão e Eva, عليهم السلام, os primeiros seres humanos, estavam apenas a algumas gerações de Noé, عليه السلام, e do dilúvio. A civilização humana estava em sua infância, comparativamente, e uma inundação regional catastrófica teria sido suficiente para eliminá-la.

Alguns estudiosos chegaram a sugerir que a inundação não poderia ter sido global porque Noé, عليه السلام, não foi enviado à toda a humanidade, ao contrário do Profeta Muhammad ﷺ.

Ibn Atiyah escreve:

فلو كانوا جميع أهل الأرض كما قال بعض الناس لاستوى نوح ومحمد عليهما الصلاة والسلام في البعث إلى أهل الأرض … ويترجح بهذا النظر أن بعثة نوح عليه السلام والغرق إنما كان في أهل صقع لا في أهل جميع الأرض

Se fosse todos da terra, como dizem algumas pessoas, então Noé (Nuh) e Muhammad, عليهم صلاة وسلام, seriam os mesmos em relação ao seu envio para o povo da terra … Torna-se mais ponderável a visão de que o envio de Noé (Nuh), عليه السلام e o dilúvio foram apenas para o povo de uma região e não para todos na terra.

Fonte: al-Muharrar al-Wajiz 10: 72-73

Além disso, não há evidência arqueológica remanescente significativa deste evento, como a civilização antes de Noé, عليه السلام, foi completamente destruída. Também não há informação suficiente no Alcorão para formar qualquer tipo de cronologia histórica precisa ou modelo geológico científico do fato de que a inundação ocorreu. 

Inferir esse tipo de informação do Alcorão é adivinhar as questões do Invisível, assim como as pessoas costumavam fazer sobre a história dos companheiros da Caverna.

Allah disse:

سيقولون ثلاثة رابعهم كلبهم ويقولون خمسة سادسهم كلبهم رجما بالغيب ويقولون سبعة وثامنهم كلبهم قل ربي أعلم بعدتهم ما يعلمهم إلا قليل فلا تمار فيهم إلا مراء ظاهرا ولا تستفت فيهم منهم أحدا

Alguns diziam: Eram três, e o cão deles perfazia um total de quatro. Outros diziam: Eram cinco, e o cão totalizava seis, tentando, sem dúvida, adivinhar o desconhecido (18:22)

Os povos do Livro costumavam discutir sobre os detalhes da história da caverna, como quantas pessoas havia além do cão. Allah os culpa por “adivinhar o incognoscível”, alegando detalhes sobre eles sem provas concretas, uma vez que qualquer tipo de argumento deve ser apoiado por prova “demonstrável” (thahir). Se não temos provas diretas e explícitas, devemos sempre dizer: Allah sabe melhor.

De maneira semelhante, alguns muçulmanos interpretaram injustificadamente a história de Noé, عليه السلام, como uma inundação fisicamente global e, então, propuseram um conflito entre o Alcorão e os entendimentos científicos, embora a evidência escriturística não exija essa interpretação. Eles tentaram desafiar modelos científicos ou derivar alternativas baseadas em como imaginam que a inundação deveria ter acontecido. Todos os detalhes estranhos desta história, como o modo em que a inundação se manifestou, são parte do Invisível e não podem ser conhecidos pelas escrituras com qualquer grau de certeza.

Sendo que nesse caso, os argumentos sobre como a inundação ocorreu prejudicam a apreciação de alguém pelas implicações morais essenciais da história, como o fato de que Noé, عليه السلام, pregou pacientemente ao seu povo por 950 anos.

Allah disse:

وَلَقَدْ أَرْسَلْنَا نُوحًا إِلَىٰ قَوْمِهِ فَلَبِثَ فِيهِمْ أَلْفَ سَنَةٍ إِلَّا خَمْسِينَ عَامًا فَيَخَهُمُ الطُّوفَانُ وَهُمْ ظَالِمُونَ

Enviamos Noé ao seu povo; permaneceu entre eles mil, menos cinqüenta anos, e o dilúvio surpreendeu esse povo em sua iniqüidade. (24:14)

A história de Noé, عليه السلام, é um exemplo incrível de fé, boa vontade, paciência e perseverança. Essa lição importante é perdida quando as pessoas discutem sobre seus supostos detalhes em relação à ciência moderna. O objetivo do versículo não é derivar ou desafiar modelos científicos. O propósito do versículo é fornecer um modelo exemplar do papel religioso e moral.

Finalmente, isso toca em um ponto mais amplo, de que Allah não nos informou deliberadamente sobre algumas coisas, exatamente porque elas não são nossa preocupação. Seu silêncio sobre os assuntos é parte de Sua misericórdia, então seu silêncio no modo físico do dilúvio é uma indicação de que não somos responsáveis ​​por conhecê-lo.

Abu Thalaba relatou: O Mensageiro de Allah, ﷺ, disse:

وَسَكَتَ عَنْ أَشْيَاءَ رَحْمَةً لَكُمْ غَيْرَ نِسْيَانٍ فَلَا تَبْحَثُوا عَنْهَا

Allah permaneceu em silêncio sobre os assuntos como misericórdia para você, não por esquecimento. Então não os busque.

Fonte: Sunan al-Daraqutni – 4316

Os muçulmanos não serão perguntados no Dia do Julgamento “como” o dilúvio ocorreu, mas sim como eles responderam às lições da história de Noé, عليه السلام.

Em suma, a disputa pela grande inundação de Noé, عليه السلام, é um exemplo da necessidade de proficiência em disciplinas religiosas, métodos científicos e a relação correta entre eles. A religião é baseada na evidência de revelação e a ciência é baseada em evidências naturais demonstráveis, ambas as quais podem ser interpretadas de maneiras diferentes. 

A religião e a ciência praticadas de maneira adequada revelam aspectos da mesma verdade unificada, portanto, qualquer conflito entre elas é apenas aparente e não real. Pelo contrário, tais conflitos são apenas devido à potencial fraqueza na compreensão de qualquer religião ou ciência.

O sucesso vem de Allah, e Allah sabe melhor!

Fonte: https://abuaminaelias.com/was-noahs-flood-global-or-local/

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