Nota do tradutor (Dante Ibrahim Matta): O imam Abu Hamid al-Ghazali (século XI) foi um dos maiores sábios islâmicos da história e seu livro em 30 volumes, ”Reavivamento das Ciências religiosas” é um dos mais estudados no mundo islâmico. Ele também é conhecido pelo titulo honorifico de ”Hujjat al-Islam”, ou ”A Prova (autoridade) do Islã”.
As partes em itálico-negrito depois desta pequena nota são do sheikh Hamza Yusuf, o famoso teólogo muçulmano dos EUA.
Al-Ghazali afirma que, embora exista uma narrativa profética confiável, que diz que apenas um individuo de cada 1.000 entrará no paraíso, isso não significa que o resto irá permanecer no castigo eterno, mas irá passar um tempo purificador no Fogo. Este hadith (narração profética) significa, de acordo com al-Ghazali, que livre de todo pecado, é somente um de cada 1.000. Logo, indica que os muçulmanos no Fogo serão salvos no final, e mais assombroso, que:
”a Misericórdia Divina abarca também muitos entre as nações do passado (antes do Islam), apesar de que a maioria deles serão expostos ao Fogo, nem que seja um pouco, por um momento ou uma hora, ou por um período maior de tempo, para que possa-se aplicar sobre eles a expressão ”’os habitantes do Fogo”. Irei até dizer que a maioria dos europeus e dos turcos em nossa época (século 11 quando viveu al-Ghazali) serão abarcados pela mesma misericórdia, se Deus o Altissímo quiser. Me refiro especificamente aos que vivem entre os habitantes distantes da Europa e da Ásia Central para os quais a Chamada ao Islam não os alcançou (aqueles que serão abarcados pela misericórdia divina).
Os cristãos podem ser divididos em 3 categorias:
A primeira contém aqueles que nunca escutaram o nome de Muhammad (sws): são dispensados (por sua incredulidade)
A segunda categoria são os que escutaram sobre seu nome e sua descrição, e que escutaram sobre seus milagres. Eles vivem perto dos muçulmanos e interagem com eles e até convivem com eles. Eles são os incrédulos negadores (kuffar mulhidun).
A terceira categoria é a que contem os que estão entre as outras duas: o nome de Muhammad (sws) chegou efetivamente a seus ouvidos, porém, não conhecem sua verdadeira descrição e caráter. Ao invés disso, escutaram desde crianças que há um mentiroso enganador que se chama Muhammad, tal como nossas crianças escutam sobre um mentiroso chamado al-Muqanna que fingia ser profeta.
Ao que me diz respeito, tais pessoas são desculpadas como os da primeira categoria, porque enquanto escutaram seu nome, escutaram o contrário de suas verdadeiras qualidades. E escutar coisas como as que escutaram nunca incentivará alguém a investigar (quem ele era realmente).
O entendimento do Imam al-Ghazali vem de seu conhecimento profundo da natureza humana e dos véus que existem sobre o coração humano com resultado do contexto e dos condicionamentos sociais prévios. Observa em seu livro ”A Libertação do Erro”, que a maioria das pessoas, incluindo os muçulmanos, só seguem a religião de seus pais. Notou que há poucos muçulmanos que realmente exploraram a profundidade de qualquer tema de sua religião para determinar a si mesmos se sua crença é verdadeira ou não. Depois de haver explicado sua crença sobre as pessoas de outras religiões, reiterou seu ponto de vista com uma claridade excepcional:
A respeito das demais nações, (considerando uma pessoa) que qualificam de mentiroso o Profeta depois de haverem escutado autenticas e indiscutíveis transmissões sobre sua personalidade, suas qualidades e seus milagres que superaram as leis normais (da natureza), como ter dividido a lua em dois, os seixos que louvaram a Deus em sua mão, a água que saiu dentre seus dedos, e o milagroso Alcorão revelado a ele, que desafiou o mais eloquente porém todos (que intentaram supera-lo sua qualidade) falharam. Se toda esta (informação) chega ás suas orelhas, porém ele evita-a, dá as costas, não considera ou não reflete nelas, e não se apreça para crer nisto, então, tal pessoa é de fato um renegador (jahid) e um mentiroso, e ele é também de fato um incrédulo (kafir).
Porém. tal pessoa não representa a maioria dos europeus e centro-asiáticos que vivem distantes da terra dos muçulmanos (o imam al-Ghazali continua falando no contexto do século 11). De fato, eu diria que qualquer pessoa que escuta estas coisas sobre (o profeta) deveria investigar para verificar a realidade destas afirmações. (Tal pessoa deveria ser) uma pessoa religiosa que não prefere os assuntos terrenos aos assuntos espirituais. Se não tiver sentido a necessidade de saber (a verdade). pode ser dado ao fato de que esta pessoa era complacente, inclinada a este mundo, carente de piedade e de um sentido de transcendência, e isso é o que é a incredulidade (kufr). Porém, uma pessoa que sentiu o desejo de encontrar (a verdade), porém descuidou de faze-lo, esta negligencia também é incredulidade (kufr).
Certamente, quem tem fé em Deus e no Último Dia, seja da religião que for, vai buscar incansavelmente a verdade depois de haver visto sinais que desafiassem as normas da experiencia (milagres). Se alguém sai adiante e tenta averiguar a realidade, porém morre antes de haver conseguido completar sua investigação, é também perdoado e logo receberá a ampla misericórdia e graça de Deus. Então, tenham uma opinião ampla sobre a misericórdia de Deus, o Exaltado, e não meçam os assuntos divinos com critérios comuns e limitados. E saibam bem que a outra vida é similar a esta vida, porque o Alcorão diz: ”Vossa criação e ressurreição não são mais do que (o são) a de um só ser…” (Alcorão 31:28)
A maior parte das pessoas neste mundo desfrutam de uma relativa segurança e facilidade, ou de um estado que faz da vida desfrutável; por esta razão, se a maior parte das pessoas pudessem eleger entre a vida e a morte, por exemplo, elegeriam a vida. E para aqueles que sofrem de tal maneira que prefeririam a morte, seus casos são raros. Os condenados eternamente ao Fogo, na vida futura também serão raros, porque o atributo da misericordia divina não muda em relação as diversidades de nossa circunstancias, e ”esta vida” e ”a outra vida” são somente duas expressões que designam a diversidade de nossas circunstancias. Se não for o caso, não teria sentido a declaração do profeta (sws) quando disse:
Não há duvidas que os incrédulos estão no Inferno, porém o Imam al-Ghazzali está explicando que a incredulidade (kufr) é uma negação ativa, não um estado passivo de ignorância. Por isto, a negação deve ser precedida por um entendimento claro do que se esta negando. Ademais, para os que são sinceros, não é somente entendível mas necessário que vão em busca da verdade.
Imam Abu Hamid al-Ghazali
em Majmu´at rasa´il al-Ghazzali
Comentarios (em itálico-negrido) do Sheykh Hamza Yusuf.
Tradução: Dante Ibrahim Matta
Fonte (livro ”Who are the Desbelivers” ou ”Quem são os Incrédulos” do sheykh Hamza Yusuf no qual o teologo discute mais extensamente este tema) de onde foi extraído o texto (em inglês):
https://www.sunnismo.com/uploads/5/4/8/1/54813167/whoarethedisbelievers.pdf
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