Pergunta: Eu sigo a escola Hanafi e quero saber quais são os princípios de fiqh e do tassawuf para se escolher uma opinião de jurisprudência dentro da escola Hanafi. Por exemplo, a diferença entre opiniões quanto a comer camarão, ao horário do Asr e outras mais. O muçulmano comum pode escolher a opinião mais fácil para ele? E o estudante do conhecimento?
Resposta: Assalamu ‘alaykum.
A Resposta para a sua pergunta é: às vezes sim, às vezes não.
O regime do madhab possui uma lógica nele. Essa lógica é tanto pessoal quanto social.
Num nível pessoal, o madhab garante que a pessoa comum siga uma autoridade estabelecida e não seus próprios caprichos e desejos. Ele dá ao indivíduo um meio de cumprir seus deveres religiosos sem ter que se comprometer com estudos aprofundados sobre a tradição, o que seria difícil na presença de outros compromissos. Seguir a autoridade dos sábios é um mandamento de Deus e do Profeta ﷺ. O Alcorão, por exemplo, afirma: “Pergunte a quem sabe, se não sabeis,” (16:43) enquanto o Profeta ﷺ disse que: “A cura para a ignorância é perguntar.” [Abu Dawud]
Por esse e outros motivos, os sábios da nossa tradição sempre deram muita importância à assimilação de escolas de jurisprudência. A ideia de seguir autoridades não é nenhuma novidade. Por exemplo, depois que o Profeta ﷺ partiu deste mundo, a maioria dos Companheiros depositou sua confiança num grupo seleto de indivíduos para que respondessem as suas perguntas religiosas, como os quatro Califas, ‘Abd Allah ibn Mas‘ud, Zayd ibn Thabir, ‘Abd Allah ibn ‘Umar, e assim por diante.
Sobre Seguir um Único Madhab
Enquanto seguir um madhab é algo necessário, seguir um só madhab em toda circunstância, de acordo com muitos estudiosos, não é. A obrigação do taqlid é seguir uma mesma escola ou autoridade num certo assunto ou numa categoria de assuntos. Portanto, por exemplo, é permitido que o indivíduo siga a escola Hanafi nas orações e a escola Maliki nas normas que dizem respeito ao Zakat. Isso não é proibido desde que a pessoa:
a. conheça de fato as normas da escola sobre o assunto, e
b. não busque isenções sistematicamente (isto é, a opinião mais branda).
[Ibn ‘Abidin, Radd al-Muhtar (1:33); Nabulsi, Khulasa al-tahqiq (56)]Dessa forma, é permitido que você procure a opinião de outra escola se tiver um motivo válido para fazer isso.
“Um motivo válido” não deve ser compreendido somente como “em caso de necessidade”. Mais que isso, mesmo a conveniência pode ser um motivo válido para seguir outra opinião. Por exemplo, você pode decidir rezar o Asr no horário que venha mais cedo por ser mais fácil para você do ponto de vista da sua agenda de horários, considerando coisas importantes como o trabalho e o estudo. Da mesma maneira, você pode decidir comer frutos do mar porque a sua família se alimenta assim. As opiniões mencionadas têm base sólida na nossa tradição e, portanto, podem ser seguidas contanto que a pessoa não se habitue a buscar isenções desta maneira.
O Tasawwuf e os Madhab
Quanto ao tasawwuf, o princípio seria seguir as instruções do seu guia espiritual. É permitido que você siga a norma de outra escola de jurisprudência se o seu guia espiritual assim recomendar.
Isso porque a via do tasawwuf é a via de purificar a alma se submetendo a alguém que tenha percorrido o caminho da gnose. Este indivíduo, o murshid (ou guia espiritual), é como um médico que dá ao estudante medicamentos espirituais para curar as doenças do coração. Não faz muito sentido ir contra o que ele aconselhar, permanecendo na própria escola. Principalmente no que diz respeito às práticas que são consideradas centrais na instrução do professor.
Portando, contanto que seja uma opinião válida, é permitido seguir a opinião de um guia espiritual que vá contra a sua própria escola. Se alguém não estiver disposto a fazer isso, deve conversar com seu guia espiritual e, talvez, verificar se quer permanecer no caminho dele.
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