Os turcos abriram seu caminho para o palco do mundo com um impulso estrondoso. Seu avanço galáctico é marcado por três eventos críticos que proporcionaram grandes mudanças históricas: a contratação de uma guarda turca pelo califa abássida al Mu’tasim (833); o desaparecimento do Estado samânida baseado em Bukhara (999); e, finalmente, a Batalha de Manzikert (agosto 1072).
Após o califa al Mu’tasim, os abássidas em Bagdá estavam em desordem. Uma série de sucessores incompetentes deixaram o Califado ineficaz e incapaz de governar os vastos territórios que se estendiam desde o Oceano Atlântico até o rio Indo. Os guarda-costas turcos aproveitaram esta oportunidade. e se tornaram o centro de poder. Em um breve espaço de nove anos, entre 861 e 870, os turcos assumiram o comando do califado e, em seguida, se livraram de três califas. A fraqueza de Bagdá encorajou diversos governantes locais a afirmarem-se. Por volta do ano 850, os aglábidas na Argélia e Marrocos iniciaram a cunhagem de moedas em seu próprio nome. Em 868 um general turco, Ahmed ibn Tulun, assumiu o controle do Egito e da Síria e estabeleceu a dinastia tulúnida. Os buídas que eram xiitas duodecimanos, desafiando a autoridade dos abássidas sunitas, assumiram o controle do Iraque em 945 e mantiveram Bagdá sob a sua influência. Em 900 os samânidas trouxeram Khorasan sob o seu controle e estabeleceram a sua autoridade a partir do rio Oxus na Ásia Central para o coração da Pérsia.
O comércio com a Índia e a China ao longo da rota da seda e com os vikings através do rio Volga na Europa trouxe-lhes prosperidade. Os samânidas são mais lembrados por seu patrocínio da ciência, cultura e da literatura persa. Ibn Sina (Avicena), talvez o cientista mais famoso da Idade Média, desenvolveu seus estudos em Khorasan sob julgo samânida. Enquanto a poderosa e brilhante corte dos samânidas mantiveram seu poder, as tribos turcas para além do rio Amu Darya foram mantidas à distância. Mas poderosas forças internas estavam operando dentro do corpo político islâmico que enfraqueceram os samânidas. Para o final do 10 º século, a luta global entre os (xiitas) fatímidas no Cairo e os abássidas (sunitas) com base em Bagdá estava no auge. A comunidade muçulmana global estava fendida por duas visões concorrentes do Islã.
Os fatímidas, após se expandirem no Norte de África e Egito (969), projetaram-se para a Síria e península Arábica. Emires e governantes de lugares tão distantes como Multan (no Paquistão moderno) seguiram o exemplo fatímida. Os emires samânidas não poderiam escapar destas convulsões. Um dos emires samânidas Nasr al Saeed, que governou Bukhara entre 914-943, favoreceu os fatímidas. O khorasanis (povo da região de Khorassan), que eram predominantemente sunitas, se ressentiram disso e os samânidas perderam sua legitimidade aos olhos da maioria dos seus súditos.
Haviam razões econômicas. Os fatímidas no Cairo desviaram com sucesso o comércio entre a Índia e a Europa a partir do Golfo Pérsico para o Mar Vermelho. O resultado foi a prosperidade para o Egito e empobrecimento dos samânidas em Khorasan e dos buídas no Iraque. A carga militar de conter os turcos ao norte (que ainda não eram muçulmanos) tinha seu preço também. Aos poucos, o poder escorregou de suas mãos e a dinastia samânida desapareceu em 999. A dissolução dos samânidas abriu as comportas para migrações turcas.
Os Kara-Khanis, uma tribo turca, atravessaram o Amu Darya (Rio Oxus) e ocuparam Bukhara em 999. Em 962, Alaptagin estabeleceu outra dinastia turca poderosa ainda mais para o sul, em Ghazna. As tribos turcas estavam inquietas, constantemente em movimento e desafiando umas as outras pelas estepes. Na década seguinte, outro general turco, Sabugtagin ganhou o controle do Ghazna (977). Ele era filho de Sabugtagin Mahmud que invadiu a Índia 17 vezes entre 1000 e 1030. Mahmud tentou conter o dilúvio turco dispersando as tribos turcas e estabelecendo-as nas áreas distantes de Khorasan. Mas isso foi em vão. Entre 950 e 1000, um grupo de tribos turcas, os oguzes, que habitavam as áreas ao norte do Mar Cáspio, aceitaram o Islã e migraram para o sul para Khorasan. Os turcos oguzes eram soldadas em uma força de combate notável sob seu líder Seljuk. O filho de Seljuk, Arsalan, lutou contra Mahmud de Ghazna. Combate que culminou num impasse. Quando Mahmud morreu (1030), a maré virou decididamente a favor dos seljúcidas. Os seljúcidas (denominados assim como referencia a seu líder Seljuk) eram guerreiros destemidos.
Eles consideravam seu dever o esforço no caminho da fé. E foram eles que introduziram o termo ghazi (da palavra árabe ‘’ghazza’’ ou esforço armado) paras linguas faladas pelos muçulmanos. Como seguidores da escola de jurisprudência hanafi, eles eram os campeões sunitas contra os fatímidas. Os califas abássidas em Bagdá, sob crescente pressão militar dos fatímidas no Egito e dos bizantinos na Síria, ficaram muito felizes em aceitar a proteção dos seljúcidas.
Os buídas xiitas duodecimanos, deixaram o Iraque sob a liderança de Basasiri que formou uma aliança com o califa fatimida al-Mustansir do Egito para conter os turcos seljúcidas. Entretanto, Taghril Beg sucedeu Arsalan (1036) e uma luta feroz se seguiu entre ele e Basasiri pelo controle de Bagdá. A cidade mudou de mãos várias vezes entre 1056 e 1060. Finalmente, Taghril abriu caminho para Bagdá, em 1060. Basasiri foi morto em combate. Com a morte de Basasiri, o desafio fatímida recuou da Pérsia e no Iraque. Em 1058, Taghril foi ungido pelo califa abássida como “sultão do Oriente e do Ocidente”, encarregado com a autoridade para governar e a responsabilidade de proteger a visão ortodoxa do Islã (sunita) e defender a ummah (nação muçulmana) contra os inimigos da fé . Os turcos valentemente desempenhariam este papel pelos próximos 800 anos.
Por volta de 1058, os turcos tinham mudado o caráter do Califado e sem aboli-lo, eles substituiram-o com uma nova instituição, o sultanato. Esta instituição prosperou durante a idade dos soldados (através do século 18) e tem sobrevivido até hoje em algumas partes do mundo islâmico.
Aproveitando as lutas internas entre os muçulmanos, os bizantinos ocuparam a Armênia e invadiram profundamente na Síria. Logo, este impulso, se chocou contra os turcos cujo avanço implacável em busca de pastagens tinha levado às fronteiras de Anatólia. Taghril morreu sem filhos em 1063 e seu sobrinho Alap Arsalan assumiu a liderança dos seljúcidas. Os bizantinos tentaram deter a maré, mas turcos foram os derrotaram em uma série de escaramuças (1063-1070). Em desespero, o imperador bizantino Romano IV Diógenes levantou um enorme exército consistindo de mercenários gregos, russos, franceses e italianos e marchou contra Alap Arsalan. Os dois exércitos se encontraram em Manzikert, perto do lago Van, em agosto de 1072. Os mercenários franceses brigaram com o imperador bizantino antes da batalha começar e deixaram o campo de batalha. A defesa estática dos bizantinos não era párea para os rápidos movimentos da cavalaria turca. Os turcos derrotaram os bizantinos, e seu imperador foi feito prisioneiro. Os turcos ganharam o dia. Alp Arsalan era tão cavalheiresco na vitória como era rápido no campo de batalha. E enviou o Imperador de volta para Constantinopla sob escolta militar.
A batalha de Manzikert foi um acontecimento importante e um ponto de virada na história global. Ela destruiu o poder grego na Ásia Menor e abriu-se para os agrupamentos turcos. Os turcos, surgindo em frente onda após onda em busca de pastagens, seguiram mais profundamente na Anatolia. Os proprietários de terras e feudos gregas, à sua sorte abandonados pelos exércitos bizantinos em retirada, fugiram. Os camponeses aceitaram o Islã e juntaram-se ao avanço turco. Vários grupos de ghazis surgiram, cada um marchando adiante mais fundo rumo a Constantinopla (atual Istambul) para o Ocidente e para o Mar Negro ao norte. Era apenas uma questão de tempo antes que os ghazis atravessassem o Estreito de Dardanelos para a Europa. Assim, Alp Arsalan conseguiu o que Muawiya não teve exito em 668, e no que sucessivos califas abássidas sonharam em conseguir por 400 anos, ou seja, penetrar na Anatólia com os exercitos islâmicos.
O desastre de Manzikert levantou alarme geral no Ocidente latino. Os gritos de ajuda do Imperador Alexius e seu filho Diógenes reverberaram por toda a Igreja de Roma e produziram, 25 anos depois, em 1096, a pregação da Primeira Cruzada pelo Papa Urbano II.
Assim, Alp Arsalan conseguiu o que Muawiya não teve exito em 668, e no que sucessivos califas abássidas sonharam em conseguir por 400 anos, ou seja, penetrar na Anatólia com os exércitos islâmicos.
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