Página Inicial » História Islâmica » As devastações portuguesas no Oceano Índico

As devastações portuguesas no Oceano Índico

A descoberta da América e a circunavegação da África foram consequências lógicas da rivalidade político-religioso entre as potências cristãs da Ibéria e os Estados muçulmanos do Norte de África. Com a desintegração politica do Maghrib, as potências cristãs da Ibéria em cooperação com as potências marítimas da Itália, consolidaram suas posições e projetaram suas ambições de poder muito além das fronteiras da Península Ibérica.

A religião e o comércio foram as principais motivações para o impulso luso-espanhol. O fanatismo cristão expressava-se através da Inquisição espanhola. Abu Abdallah (ou Boabdil), o último emir de Granada, tinha concordado em se render ao abrigo de um tratado abrangente, que garantia a liberdade de religião para os não-cristãos. Mas assim que a tinta secou, a implementação deste tratado foi abandonada. A Inquisição foi solta, em primeiro lugar sobre os judeus, e em seguida sob os muçulmanos. Houve uma forte resistência, mas revelou-se infrutífera. Alguns dos muçulmanos se esconderam nas cavernas nas colinas das Alpujarras perto de Granada para escapar da Inquisição. Eles foram caçados e exterminados. Em 1502, o monarca espanhol emitiu um decreto para expulsar os muçulmanos.

O conflito não se limitou à Península Ibérica. Ele transbordou para o Norte de África. Os ibéricos cristãos sonhava em conquistar o Norte de África por sua fé. O papa Alexandre VI dividiu o mundo em duas esferas de influência, um para os portugueses e outra para os espanhóis. De acordo com o decreto do papa, o Portugal dominaria ao longo da costa do Atlântico, enquanto a Espanha centrava-se na costa do Mediterrâneo.

Os motivos comerciais não estavam muito atrás como uma força motriz. A Europa há muito tempo sonhava em abrir rotas de comércio n Índia e Leste da Ásia. Os produtos da Ásia – especiarias, seda, tecido, materiais de bronze, marfim, ferro – tinham uma grande demanda no Mediterrâneo, e o comércio era altamente rentável. Desde o século 8, os muçulmanos tinham controlado as rotas de comércio para a Índia, Sumatra, e China, bem como a riqueza de cidades como Alexandria e em Basra, no Iraque dependiam, em grande medida, deste comércio. As cidades-estados da Itália – Veneza, Génova, e Nápoles – compravam estes produtos em Alexandria, os vendia para o resto da Europa, fazendo enormes lucros e tornando-se ricas no processo.

Portugal foi a primeira nação européia a realizar o sonho de chegar à Índia. Eles foram ajudados neste empreendimento pela tecnologia e geografia.

Motivos para o sucesso de Portugal

Em primeiro lugar, houveram grandes avanços tecnológicos. Os ventos em torno da África Ocidental mudam de direção do sul ao norte no Cabo da Bajador. Até a segunda metade do 15º século, nem os cristãos da Europa Ocidental, nem os muçulmanos do Maghrib possuíam a tecnologia para navegar contra o vento. E foi por isso mesmo que a tecnologia que era conhecida dos venezianos também foi amplamente utilizada no Oceano Índico. A ausência de tais navios tinham impedido as pessoas do Maghrib de se aventurarem mais ao sul ao longo da costa. Os portugueses e os espanhóis adquiriu essa tecnologia, por volta de 1450, a partir dos venezianos.

Em segundo lugar , o canhão fez a sua aparição na Península Ibérica no século 15. Os muçulmanos do Norte de África tinham aprendido a tecnologia da pólvora dos turcos e tinham introduzido-a na Espanha. Agora, a mesma tecnologia nas mãos dos cristãos voltou-se contra eles.

Em terceiro lugar , a desintegração econômica e política do Maghrib impedia qualquer resposta muçulmana coerente ao desafio militar do norte. Os muçulmanos do Maghrib tinham perdido as rotas comerciais do Mediterrâneo Ocidental (1350-1400). O comércio Trans-Saariano era esporádico por causa das condições políticas instáveis na região. Os emires estavam em guerra constante uns contra os outros. Em contraste, a consolidação da Ibéria cristã constantemente ganhava força. Mesmo que a estrutura política ibérica fosse feudal e despótica, ela provou ser mais coesa do que o prevalecente caos político no qual vivam os muçulmanos mais próximos.

Em quarto lugar , a evolução histórica e sua própria geografia ajudava Portugal. A localização de Portugal no litoral Atlântico deu-lhe o acesso à costa da África Ocidental. Portugal emergiu como um país unificado depois das Cruzadas de 1236-1248, mais de 200 anos antes de da Espanha ser unificada sob Fernando e Isabel, e Granada ser conquistada. Coesão política deu aos portugueses uma vantagem sobre seus rivais na sua corrida para o Oceano Atlântico. Os contatos com os muçulmanos do Norte da África tinham ensinado os ibéricos que haviam prósperas comunidades africanas ao sul do Saara, onde o ouro e marfim eram abundantes. Os contos de Timbuktu eram ouvidos nos soukhs (mercados) de Tânger e Ceuta.

A atração pelo ouro africano sempre seduzia a Europa. O Maghrib poderia ser contornado por mar, o que iria beneficiar os ibéricos em seu confronto militar estratégico com os muçulmanos, e ao mesmo tempo, eliminar-los como intermediários no comércio lucrativo com o Sudão (a vasta extensão do território do Atlântico ao os Oceanos Índico ao sul do Saara era chamado de Sudão). Em Lisboa e Madri, a exploração da costa atlântica da África recebeu a mais alta prioridade. Tristão cruzou com sucesso o Cabo do Bojador em 1434. Esta foi uma conquista notável. Em 1441 navios portugueses invadiram a costa do sul do Marrocos. Em 1443, a ilha de Tristão, que mais tarde iria ganhar notoriedade no comércio de escravos no Atlântico, foi capturada. Em 1456, o Senegal e a Gâmbia foram visitados. Em 1472, o Capitão Siqueira alcançou o Benin, na Nigéria. Depois disso, excursões portuguesas foram a frente em uma busca incessante para o extremo sul da África.

A rota ao redor do extremo sul da África para o Oceano Índico não era desconhecida. Já em 1406, o grande almirante muçulmano chinês Zheng He havia navegado o Oceano Índico em torno do Cabo da Boa Esperança para a costa ocidental da África. Mas ele tinha feito a volta antes de navegar para o norte para Marrocos e Europa. Em 1496, Vasco da Gama conseguiu o que Zheng não fez. Ele circum-navegou o Cabo da Boa Esperança, e, guiado por um marinheiro muçulmano Ahmed ibn Majid, que era um residente na África Oriental, navegou com as monções do nordeste para chegar à costa de Malabar (Índia).

Os eventos da última década do século 15, ou seja, a conquista de Granada (1492), a descoberta da América (1492), e a viagem bem sucedida em torno de África (1496), lançaram as energias da Europa. A presença muçulmana na Espanha tinha cercado a Europa por 700 anos. Não só a Europa escapou do rolo compressor dos muçulmanos, como fizeram um laço em torno do coração muçulmano na Ásia Ocidental e Norte da África. Era apenas uma questão de tempo antes que a corda apertasse. A história tinha mudado .

A África Oriental era uma parte do mundo islâmico em geral. O Oceano Índico era um mar aberto manejado por dhows árabes, velas multi-mastro indianas e gigantes navios chineses. As cidades do litoral do oceano forneciam mercados abertos para a troca de mercadorias a partir dos cantos mais distantes da Ásia e África. O litoral Africano realizava em um comércio vivo com as costas da Arábia, Pérsia, Índia, Sri Lanka, Indonésia e China.

As exportações da África Oriental incluíam ouro, marfim, nozes de cola, óleo de palma, presas de rinoceronte e minério de ferro. Importações incluíam especiarias de Malabar e Indonésia, os produtos de ferro de Bijapur, produtos de algodão de Bengala, a seda da China e da Pérsia e mármore e incenso da Arábia. O minério de ferro era exportado de Kilwa (na Tanzânia) para Gujrat e Bijapur (na Índia), onde era fundido em ferro. Al Masudi registra que os indianos faziam excelentes espadas com este ferro. O ferro fundido era exportado para Basra de era enviado para as indústrias de metal do Iraque e da Síria.

O Islã forjou, em conjunto com o comércio, uma irmandade na África Oriental transcendendo as barreiras de região, raça e etnia. O comércio e as viagens resultaram em casamentos mistos entre o povo da costa do Oceano Índico. De Malabar a Sahel haviam grandes populações resultantes de tais casamentos. Este caldeirão produziu uma cultura islâmica cosmopolita e rica, que fundiu as culturas antigas da Pérsia, Índia e África com a restrição doutrinária da Arábia. Cidades como Dar es Salaam (porta de entrada para a paz), Shofala, Kilwa, Mombasa, Pemba, Malindi, e Mogadishu cresceram com fortalezas de pedra, ruas pavimentadas, grandes mesquitas e palácios imponentes. Al Masudi refere-se a Shofala (em Moçambique) como uma cidade de ouro. Uma nova linguagem, swahili nascia, combinando a gramática bantu com vocabulário árabe e persa.

Os canhões dos portugueses destruíram a paz de Dar es Salaam. Vasco da Gama viu uma civilização florescente na África Oriental e Índia Ocidental, e o que viu aguçou seu apetite. Assim que ele voltou da Índia, os portugueses elaboraram planos para a subjugação da África Oriental e a captura de rotas comerciais muçulmanas no Oceano Índico. Correntes históricas favoreceram os portugueses. Era um período em que grandes realinhamentos políticos estavam ocorrendo no mundo islâmico. Na Pérsia, Shah Ismail estava ocupado em consolidar o Império Safávida. No Egito, os mamelucos eram uma força gasta. No Cairo, a sede do califado, era incapaz de defender-se, e muito menos proteger os muçulmanos em todo o mundo. Os otomanos, ativos na Europa, ainda não tinham firmado seus limites com a Pérsia e Egito. Na Índia, os lodhis eram um eco distante do poderoso sultanato sob os khiljis. O Maghrib tinha acabado de perder Granada, e foi no total desalinho com a guerra desenfreada entre os emires locais.

Sentindo uma janela de oportunidade histórica, Portugal e Espanha mudaram-se para expandir as suas posições ao redor do mundo entre os anos de 1500 e 1530. O objetivo dos portugueses e seu rei era cortar as rotas de comércio, subjugar as cidades comerciais africanas e destruir a ‘’influência moura’’. O portugueses e espanhóis utilizavam o termo mouro para se referir a todos os muçulmanos, fossem eles árabes, africanos, persas, indianos ou malaios. Essas cidades tinham fortificações mínimas, porque não tinha inimigos naturais; suas relações com o interior africano eram pacíficas e estavam de braços abertos para o oceano azul e seu livre comércio. Assim, quando o canhão português trovejou, choveu morte e destruição, os centros comerciais em todo o Oceano Índico foram totalmente depredados.

A primeira viagem de Vaco da Gama foi de inteligência, para coletar informações. Ele retornou em 1502 à frente de uma frota de vinte e cinco navios armados com os canhões mais poderosos no inventário português e bombardeou as cidades-estados ao longo da costa Leste africana. Seu primeiro encontro com o transporte marítimo do Oceano Índico foi com um navio com 700 peregrinos que retornavam de Meca para a Índia. Um muçulmano indiano de Malabar, Merim, era proprietário do navio. Desconsiderando pedidos de misericórdia, Da Gama queimou o navio com todos os seus ocupantes, inclusive mulheres e crianças. Quando chegaram ao largo de Calecute, o raja Manna Vikrama, enviou um emissário, um brâmane de alta reputação, para negociar a paz. O embaixador chegou a bordo do navio almirante português com seus dois filhos e um sobrinho. De Gama cortou as mãos, nariz e orelhas do embaixador, e crucificou os três jovens. O bombardeio de Calicut então teve inicio, causando estragos na antiga cidade. Ele então voltou sua atenção para os navios em âncora. Ele tratou os hindus capturados da mesma maneira que ele tinha tratado o embaixador brâmane do raja, cortando-lhes as mãos, narizes e orelhas e empilhando-as a bordo de seus navios.

Mas o tratamento mais sádico foi reservado para os muçulmanos capturados. Khwaja Muhammed, um comerciante notável do Egito foi capturado, espancado, sua boca recheada com carne de porco a força e depois incendiada. Tais atrocidades foram repetidas sempre que os portugueses passavam pela costa indiana.

As primeiras incursões portuguesas estabeleceram uma posição fortificada na África Oriental. Shofala, um centro comercial estabelecido pelos comerciantes muçulmanos já em 957, foi capturado. Em 1505, o capitão português Almeida invadiu Kilwa e seguiu seu caminho ao longo da costa Leste africana para a Somália, retornando com um espólio rico. Em 1507, Bab el Mandap, na entrada do Mar Vermelho caiu. Os portugueses tentaram capturar Aden (no Iêmen), mas não conseguiram. Em 1508, eles apareceram na costa da Índia, e capturaram Diu e Damão. Pouco tempo depois, o porto de Goa foi capturado do sultão Adil Shah de Bijapur, que foi traído por um marinheiro renegado, um tal de Timoja. Todos os seus habitantes muçulmanos do sexo masculino foram mortos e as mulheres foram escravizadas. A porta esplêndida de Goa deu a Portugal uma base de comando de onde se podia expandir suas operações, e tornou-se a sede de seu império incipiente no Oceano Índico.

Em 1511, Afonso de Albuquerque foi nomeado governador de Goa e foi dado o comando das operações neste setor. Ambicioso, determinado e implacável, Albuquerque prometeu transformar o Oceano Índico em um lago Português. Em 1512, uma poderosa frota enviada de Goa chegou ao Estreito de Malaca (na Malásia). A resistência malaia foi valente, determinada e desesperada, mas o maior poder de fogo dos invasores foi decisivo e Malaca caiu. O controle de Malaca deu aos portugueses o domínio sobre as rotas comerciais entre o Oceano Índico e no Pacífico ocidental (China). Em 1515, Albuquerque capturou o Estreito de Hormuz, na Pérsia, na entrada do Golfo Pérsico e completou suas conquistas, ocupando Mascate e Bahrein (1516).

Dentro de um período de quinze anos, os portugueses tinham destruído as cidades-estados prósperas da África Oriental, capturado postos estratégicos navais ao longo de todo o Oceano Índico e no Mar da Arábia. Ocuparam as entradas tanto para o Mar Vermelho como para o Golfo Pérsico, e interromperam o comércio que outrora fluiu da Índia, Sumatra e da China para Ásia Ocidental e África Oriental. Cidades outrora prósperas no litoral africano tornaram-se cidades-fantasma. A violência, a ganância, a inimizade e crueldade assumiram o comércio e cooperação. O ódio dos português aos muçulmanos era ilimitado. Onde quer que eles desembarcassem, os primeiros alvos eram os muçulmanos. A Inquisição foi instituída em Goa contra ambos os hindus e muçulmanos, e as instruções eram passadas pelo governador português de que nenhum muçulmano fosse contratado, mesmo que o território de Goa tivesse sido uma parte do Sultanato de Bijapur, e tivesse um grande número de muçulmanos ainda.

O desafio mundial lançado por Portugal não ficaria sem resposta. No período entre 1261 e 1517, os mamelucos do Egito foram os guardiões de Meca e Medina. O califado residia no Cairo. Os mamelucos, como guardiães do califado, tinham o dever de ajudar os muçulmanos em todo o mundo. Quando a África Oriental e Gujrat (na Índia) gritaram por ajuda, Mansuh al Ghalib, sultão mameluco do Egito enviou uma frota poderosa do Iêmen para o Mar Arábico, apesar das sérias dificuldades financeiras pelas quais passava. Em 1508, esta frota derrotou uma força portuguesa no largo da costa de Chaul (perto da Karachi moderna), e passou a sitiar Diu (em Gujrat). Os portugueses foram detidos; no entanto, a frota mameluca foi pega por uma tempestade de monção e teve que atracar em Surat, que era governada pelo sultão de Gujrat. Este episódio mostra que na parte inicial do século 16, havia uma estreita coordenação entre os Estados muçulmanos da África Oriental, Índia e sultanato/califado Mameluco do Egito.

A batalha em Diu foi um ponto de viragem na história. A incapacidade dos mamelucos em expulsar os portugueses solidificaram sua influência sobre Goa, Diu e Damão. Eles ficaram lá por quase 500 anos até que o Exército indiano os expulsassem em 1962.

Eventos na Ásia Ocidental alcançaram este impulso inicial dos mamelucos. Após a batalha de Chaldiran (1514), os turcos otomanos avançaram para o Egito e conquistaram o Cairo (1517). O califado mudou-se para Istambul e a responsabilidade pela proteção dos muçulmanos passou para os otomanos.

Em 1525, Sulaiman, o Magnífico, sultão otomano e califa, enviou o seu vizir Ibrahim Pasha ao Cairo para reorganizar a administração do Egito.Uma das realizações de Ibrahim Pasha foi reestruturar a marinha egípcia (agora otomana) no Oceano Índico. Em 1535, Sulaiman Pasha, governador do Egito, partiu com uma poderosa frota de Suez, expulsando os portugueses do Iêmen, e chegando na Índia, sitiou Diu (em Gujrat) em cooperação com o sultão de Gujrat. O cerco, no entanto, não teve sucesso, e Sulaiman Pasha voltou ao Egito.

A defesa das rotas comerciais orientais tornaram-se de importância acrescida aos otomanos quando capturaram o Iraque e o porto de Basra (1546) dos safávidas. Os portugueses controlavam o Estreito de Hormuz bloqueando Basra. Sulaiman, o Magnífico, ordenou que o bloqueio fosse quebrado. O célebre almirante Piri Rais, partiu de Suez em 1551, infligindo grandes danos nas guarnições portuguesas em Ormuz, Mascate e Omã, fazendo seu caminho rumo à Basra.

Deixando seu comando em Basra, ele voltou no ano seguinte. No entanto, ele não foi capaz de expulsar os portugueses de Hormuz e o bloqueio do Golfo Pérsico continuou. No ano seguinte, outro almirante, Ali Pasha, ultrapassou o bloqueio e seguiu sitiando Diu juntamente com o sultão de Gujrat, mas teve de abandoná-la devido a uma tempestade. Logo depois, o imperador Akbar (1556-1605) capturou Gujrat e fez de Surat uma porta principal da exportação no império mongol. Akbar, embora reconhecendo o califado otomano como um “na tradição dos quatro califas corretamente guiados”, tinha suas próprias ideias sobre como lidar com os portugueses.

Portugal iniciou negociações com outros cristãos na Etiópia para negar o acesso da marinha otomana para o Mar Vermelho. Para antecipar-se a esta possibilidade, os turcos ocuparam Masawa (Eritréia) em 1557. Em 1560, uma força turca foi montado para recapturar o Estreito de Malaca (na Malásia) dos portugueses, mas o esforço foi abandonado devido à situação política interna na Malásia. No entanto, através de seus esforços determinados, Sulaiman, o Magnífico, deu a volta nos bloqueios portugueses até o tempo em que faleceu em 1565.

A guerra entre os otomanos e os portugueses pelo controle das rotas comerciais continuaram ao longo do século 16. O almirante Ali Beg partiu do Iêmen em 1580, e transformando o sul da costa da Somália, ele conquistou fortes portugueses em Mombasa, Kilwa (atual Tanzânia) e Malindi. Em 1589, ele repetiu esse feito novamente, mas desta vez ele foi barrado ao sul de Kilwa por uma forte frota portuguesa enviada de Goa. Esta batalha naval teve o efeito de longo alcance de preservar as zonas costeiras com influência muçulmana na África Oriental da Somália, Quênia e Tanzânia. No entanto, Portugal manteve Moçambique, que se tornou uma colônia portuguesa durante 400 anos, e uma importante fonte de escravos que eram enviados ao Brasil.

A ameaça portuguesa diminuiu no final do século 16 por quatro razões importantes. Em primeiro lugar, os portugueses não possuíam nem os recursos materiais, nem a mão de obra para monopolizar o comércio do Oceano Índico. A área de terra limitada de Portugal não poderia produzir a madeira necessária para suportar a construção contínua de muitos navios. Por volta do ano 1565, mais comércio fluía em navios muçulmanos do que em navios portugueses, e Alexandria no Egito era mais uma vez um posto comercial florescente. Em segundo lugar, o comércio português era monopolista, com o rei de Portugal delimitando os preços e taxas, e os monopólios são inerentemente ineficientes e não sobrevivem por muito tempo. Em terceiro lugar, a estrutura dominante portuguesa era feudal, com os governadores em dívida com o rei, e pouco incentivo para a iniciativa local. E em quarto lugar, a resistência otomana no Oceano Índico quebrou a parte de trás do monopólio português. Os impérios do litoral dos grandes moghuls na Índia e dos safávidas na Pérsia tornaram-se tão poderosos que os portugueses passaram a ser nada mais que um incômodo. Um desafio europeu bem mais potente começou a surgir nos séculos seguintes, em primeiro lugar, a Holanda, e depois a Inglaterra.

As atividades navais otomanas foram globais, e não confinadas apenas para o Mediterrâneo e no Oceano Índico. Dispostos contra os otomanos estavam o poder combinado da Europa envolvendo Espanha, Portugal, Veneza, Áustria, Rússia e Vaticano. Em 1552, quando o czar russo Ivan IV capturou Astrakan e Kazan, Sulaiman, o Magnífico, encomendou uma frota no Mar Negro para recapturar Astrakan. Sulaiman teve uma grande visão de cavar um canal ligando os rios Don e Volga para que as tropas otomanas pudessem ignorar os inimigos safávidas na Pérsia, ao moverem-se através dos territórios turcomanos em torno do Mar Cáspio rumo aos territórios amigáveis do império mogol na Índia. Este sonho persistiu até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando os otomanos fizeram um plano desesperado para atacar os britânicos na Índia através da região do Mar Cáspio e ligar-se com as grandes populações muçulmanas pró-califado do Afeganistão e no que é hoje o Paquistão. Os esforços de Sulaiman não tiveram sucesso em 1555, e os esforços otomanos foram frustradas em 1914 pelos avanços russos na Turquia oriental e do norte da Pérsia.

Fonte: https://historyofislam.com/contents/onset-of-the-colonial-age/the-portuguese-devastations-in-the-indian-ocean/

Sobre a Redação

A Equipe de Redação do Iqara Islam é multidisciplinar e composta por especialistas na Religião Islâmica, profissionais da área de Marketing, Ilustração/Design, História, Administração, Tradutores Especializados (Árabe e Inglês). Acesse nosso Quem Somos.