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Alguém já usou Sahih Bukhari para te chantagear?

Muitos dos maiores eruditos do Islã consumiram bastante tempo e passaram por diversos problemas para explicar a abordagem correta e a aplicação dos hadith que são atribuídos ao Profeta Muhammad (saas). Volumes extensos foram escritos, e em todas as escolas ortodoxas e seminários islâmicos, o estudo do Usul (princípios) do Hadith é uma disciplina obrigatória antes de prosseguir para estudos mais avançados. O assunto é tão importante que as escolas de jurisprudência mais antigas existentes (a Hanafi, desde o tempo dos Tabiin – sucessores dos Companheiros do Profeta (saas) e a Maliki, da geração posterior à última) dedicaram-se tanto para coletar os hadith quanto para regular e limitar a sua aplicação de maneiras apropriadas.

Seu problema, entretanto, muito provavelmente, começará com o parágrafo acima.

Você, caso seja um muçulmano leigo, provavelmente considera as coletâneas “Sahih Bukhari” e “Muslim” como as mais antigas, confiáveis e “canônicas” coleções de hadith, ou ditos atribuídos ao Profeta, existentes. De fato, as coletâneas de hadith mais antigas foram feitas pelos Hanafis, e após eles o famoso “Muwatta” do Imam Malik. O primeiro livro escrito após a geração dos Sahabas (Companheiros do Profeta) foi o “Kitab Al Athar” dos Hanafis, contendo numerosos hadith, e assim como foi o caso com o “Muwatta” de Malik, continha cadeias de transmissão muito curtas e aplicação limitada no caso da jurisprudência.

Mas dificilmente em nossos dias alguém no Reino Unido conhece esses fatos.

A razão é que, atualmente, temos uma abordagem altamente heterodoxa dos hadith sendo exposta por dois grupos bem financiados e disseminados que gostariam de reclamar para si a autoridade neste campo de estudos. Estas pessoas selecionam um hadith e dão por resolvido um determinado assunto apenas através da leitura do mesmo. Por exemplo, há o epônimo “Chantagem por Bukhari”, no qual um pessoa insuspeita será confrontada por alguém, normalmente sem nenhuma espécie de formação islâmica além da habilidade de ler em árabe (frequentemente de forma parca), que não obstante tentará acossá-lo da seguinte maneira, “Irmão/irmã, este hadith está no Sahih Bukhari, como você ousa não segui-lo?!”

A necessidade de se possuir uma base sólida em Fiqh e Ciências Islâmicas e, acima de tudo Alcorão, antes de se extrair dos Hadith regras ou até mesmo a Sunnah, tem sido enfatizada quase ad nauseum pelos mais notáveis eruditos islâmicos do passado e do presente.

Entretanto, em nosso tempo a situação é grave e as pessoas leigas (Muçulmanos e outros) precisam de um escudo contra o desvio que é resultado de se dizer às pessoas para seguirem narrações diretamente ou simplesmente pelas mesmas estarem nas

coleções “canônicas”. Além do mais, estaremos fornecendo uma arma excelente para os inimigos do Islã se insistirmos em tradições que os sábios do fiqh (Lei e Jurisprudência) e da Aqidah (Crença), apesar das mesmas serem classificadas como Sahih ou estarem no Bukhari, ou rejeitaram ou, pelo menos, não tomaram de forma literal.

Os indivíduos e organizações que espalham estes desvios se escondem por detrás de uma falsa bandeira de ortodoxia, ou ainda acusam aqueles que os Sunitas que os denunciam de sectarianismo ou de rejeitarem os hadith. Os principais grupos responsáveis são “Ahl al Hadith” (“Povo do Hadith”) e o movimento Salafi associado. É necessário enfatizarmos de começo, qual é de fato a abordagem do Islã Sunita e a desses grupos antes de entrarmos em mais detalhes – isto porque qualquer tentativa de retificar estas ideias resulta numa falha deliberada dos grupos mencionados em declarar sua real posição em relação ao hadith e, consequentemente, na confusão das massas, e em particular dos revertidos ao Islã, dos quais recebemos muitas correspondências pedindo ajuda com esta questão.

Em suma, a posição dos muçulmanos sunitas, como declarada tanto por sábios do hadith como Ibn Hajar, Al Nawwawi e mais importante por sábios da lei e da crença como Abu Hanifa, Imam Malik e Imam Shafi, é que o conhecimento do Alcorão é correto, pois ele foi transmitido em massa (“muttawatir”) sem a possibilidade de erro. Essencialmente, o Alcorão foi narrado por tantas pessoas diferentes que não se conheciam e não poderiam ter se colaborado numa mentira, que é impossível que ele tenha sido fabricado – e o mesmo é válido para todas as recitações diferentes. Isto é logicamente equivalente a uma conspiração de ingleses medievais fabricando a existência de Londres e isto nunca ter sido exposto. Então, uma boa definição de muttawatir é “transmitido em massa sem a possibilidade de erro”. Além do Alcorão, existem outras transmissões muttawatir, poucas no campo do hadith (como por exemplo “Aquele que mente em meu nome [do Profeta], deixa-o preparar seu lugar no Inferno”) e também fora do hadith, como é o caso dos livros de fiqh que tratam de assuntos como a maneira correta de orar.

Muhadithin tais como Imam Bukhari não se preocupam com as “cadeias de transmissão” ou com os “isnads” de narrações Muttawatir – isto porque elas são abundantes e estão corretas, e a sua investigação é inútil.

Mas além do Alcorão e de hadith e narrativas Muttawatir, existem 1.000.000 a mais de Hadith (ditos coligidos ou ações do Profeta saas). Se excluirmos as cadeias variantes com o mesmo texto, teremos ainda 300.000. Se tomarmos aqueles classificados como “Sahih” pelos Shafis, que possuem uma “Mustalah de Hadith” (metodologia de hadith) mais leniente e inclusiva do que a dos Malikis and Hanafis, ficamos com, aproximadamente, 20.000 hadith atribuídos ao Profeta (saas) que podem ser “sahih”/autênticos na sua cadeia de transmissão (isnad).

Aparentemente, nenhum desses 20.000 e poucos hadith são muttawatir, e a grande maioria são “ahad” (narrados por uma única testemunha). E mais, a maioria foram narrados a partir do significado, em oposição a uma narrativa verbatim (por este motivo,

eles podem conter inúmeros erros gramaticais, que o discurso verbatim do Profeta não teria, devido à sua perfeita dicção em árabe).

Mas a cadeia (“isnad”) não é tudo. Também temos que observar o conteúdo (“matn”). Uma vez que nos certificamos da validade do isnad, examinamos o próprio texto da narrativa.

Os sábios que estudam a Sunnah estabeleceram muitos critérios para o estudo do hadith, desde o mais inclusivo (com o da Escola Hanbali) até o mais cauteloso (como os Malikis e Hanafis), com os Shafis assumindo algum lugar entre os dois. A abordagem do hadith por especialistas da Sunnah é frequentemente resumida em cinco pontos que são amplamente reconhecidos:

1) Um isnad (cadeia de transmissão) composto por pessoas de boa e exata memória

2) Um entendimento claro acerca do que está sendo narrado bem como uma moral impecável e atestada.

3) Estas duas qualidades precisam estar presentes em cada pessoa da cadeia – sejam elas três ou sete pessoas. Se qualquer uma delas não cumprir estes requisitos, o hadith se torna fraco

 

Uma vez que o isnad é considerado válido, examinamos então o próprio texto do hadith:

4) Ele não pode ser aberrante (por exemplo, contradizendo o Alcorão, ou um hadith Muttawatir ou outro relato mais confiável etc.)

5) Ele não pode conter um erro que o torne inaceitável.

 

Os diferentes usul do hadith então prosseguem para elucidar estas matérias bem como os tipos de cadeias que podem ser aceitas, e muitas das diferenças em crença e práticas entre as escolas do Islã dependem de quais hadith elas aceitam ou não.

Isto já é um grande problema para o Ahl al Hadith – pois eles gostam de julgar a autenticidade de um hadith somente pela sua cadeia de transmissão, independente do conteúdo do mesmo. Se quando eles te disserem que um hadith é “Sahih”, você perguntar “Sahih na transmissão (isnad), no conteúdo (matn) ou ambos?”, eles irão reagir com raiva e confusão, pois para eles o conteúdo não é nem ao menos secundário: A cadeia de transmissão governa.

Há muitas terminologias diferentes utilizadas na classificação dos hadith, e elas variam de acordo com a metodologia seguida – todos os grupos possuem métodos diferentes e termos variantes (os Malikis não aceitam Hadith que são Sahih e ao mesmo tempo entram em choque com a prática dos habitantes de Medina no tempo do Imam Malik; os Hanafis não aceitam Hadith Sahih se eles conflitam com o Alcorão ou com a razão; Os Shafis irão aceita-los se eles cumprirem com os “cinco pontos” que são similares àqueles do Imam Bukhari), mas uma terceira classificação de hadith é “Mashur” ou “famoso”. Este é novamente um outro tipo de narrativa e tem definições diferentes de acordo com cada grupo, mas em resumo é mais provável que seja verdadeiro do que um

ahad – pois ser mais próximo de “muttawatir” devido à sua aceitação por gerações anteriores ou Sahabas, apesar de não terem sido iniciado narrados em massa.

E agora chegamos à parte importante: Narrativas Muttawatir, sejam elas do Alcorão ou Hadith, são consideradas como “verdadeiras” pela ijma/consenso dos muçulmanos (não apenas dos sábios) e a lógica e necessidade comum. “Mashur” são considerados “Ilm al Tomaninah” (ou “muito prováveis”) e Ahad com uma cadeia perfeita são considerados como “Ilm al Zann” (prováveis, ou uma tradução melhor seria “talvez sim, talvez não”, ou como o sábio do hadith Ibn Hajar Al Asqalani coloca na introdução ao seu comentário do Sahih Bukhari “Fath Al Bari”, são “50/50”). Mas o Ahl Al Hadith e os Salafis, apesar de insistirem no contrário, não seguem de fato o Islã Sunita.

E esta última parte, que afirma que narrativas ahad (i.e essencialmente todo o conteúdo de Bukhari, Muslim, Sunan Abu Dawood, Tirmidhi, Musnad Imam Ahmad etc) não são autênticas é o que grupos como Ahl Al Hadith e Salafis não gostam: Em graus variados de desacordo entre estes dois, eles gostariam que um hadith ahad (de uma única cadeia de transmissão) autêntico em cadeia fosse considerado como “conhecimento verdadeiro” i.e da mesma forma que o Alcorão ou um hadith Muttawatir, então eles agem de acordo com isso.

Alguns dentre eles dirão isto abertamente, mas outros irão negar argumentando que eles (por exemplo, os Salafis) realmente têm princípios ou usul de hadith, mas na prática, isto significa verificar as cadeias de transmissão e então compará-las com Bukhari, dando preferência a Bukhari em detrimento de Muslim, Muslim sobre Tirmidhi etc., e não checar se os imames do hadith levaram isto em consideração ao derivarem seus juízos. Posteriormente, estas pessoas não costumam comparar os hadith com o Alcorão e insistem que as narrativas ahad podem especificar ou até mesmo abrogar o Alcorão – e mais importante, que as mesmas podem ser tomadas como crença – i.e. assuntos que não podem certamente ser provados como parte do que o Profeta transmitiu, devem ser tomados como tais e incluídos na crença. Existem várias “maquiagens” e uma porção de “fumaça e espelhos” nisto tudo, mas isto é no que se resume a abordagem deles.

É desnecessário dizer que esta não é abordagem do Islã Sunita.

E nem mesmo do Shiismo Duodecimal.

Certamente, estas pessoas, que clamam serem “Ahl al Hadith” ou o partido do hadith dizem que eles possuem a metodologia correta e que os outros grupos é que são heréticos. Estas pessoas são bastante hostis com aqueles que não aceitam a sua versão dos estudos de hadith (ou melhor, ausência de estudos de hadith), mesmo que eles sejam Salafis Históricos como Abu Hanifa ou Malik. Entretanto, por causa do prestígio que estes líderes ou “Imames” gozam nas comunidades muçulmanas, seus ataques periódicos ao legado deles são contrapostos de forma dura. Mais a este respeito depois.

De fato, a disputa é antiga, como muitos revertidos que foram levados a sérios conflitos por causa desta questão já puderam perceber (por exemplo, Lang em sua obra-prima – e

eu não uso o termo de forma eufêmica – “Losing my Religion” [Perdendo minha Religião]). Tem havido um grande conflito permanente entre o povo do hadith e o povo do fiqh: Abu Hanifa foi acusado de ser ignorante a respeito dos hadith e de rejeitá-los – porque para estas pessoas, rejeitar um hadith que é “sahih” em termos da sua cadeia é uma impossibilidade (embora como veremos, por necessidade, eles são frequentemente forçados a fazê-lo, e neste caso eles costumam fingir que há um problema com a cadeia de transmissão, mesmo que ela seja autenticada por Bukhari ou Muslim).

É chocante para muitos muçulmanos que foram “chantageados pelo hadith” perceber que muitos muhaddithin, incluindo alguns dos mais conhecidos tais como Imam Bukhari e Imam Ahmad, descreditaram os juristas nos termos mais fortes. Pode-se verificar que Bukhari dificilmente narra algo de Imam Abu Hanifa ou de Malik. E como pode ser que o livro de hadith mais antigo que existe, escrito por um dos fundadores dos estudos de hadith, o “Muwwata” de Imam Malik, não é considerado um dos livros confiáveis de hadith e não está entre os “seis sahihs”?

A conclusão inescapável é que os imames do fiqh não eram conhecedores de hadith.

Ou que os muhadithin às vezes exageraram em seu zelo, como veremos em breve.

Um dos truques utilizados pelos Salafistas para evitar o insulto aberto aos Imames Malik e Abu Hanifa, em particular, é insistirem que os sábios do hadith, apesar da sua especialização e competência limitadas (apenas ao hadith) devem, não obstante, receber prioridade sobre o que é ou não é “Islã”; e ainda implicam que pessoas como Abu Hanifa foram “Imames” apenas de nome, mas careciam de toda a competência em matéria de Hadith. Este é um método muito perigoso: Imames do Hadith, por vezes, descreditaram doutores da crença e da lei ao narrar que alguns conheciam somente cinco hadith (i) e outro Muhadithin foram tão longe a ponto de acusar pessoas como Abu Hanifa e Malik de apostasia (ii).

Então ao exigir que você siga somente os hadith dos seus muhadithin seletos e sectários, eles estão de fato abrindo uma porta para o descrédito dos fuqaha e até para acusação de kufr dos mesmos. É claro que eles não querem se revelar e dizer estas coisas, pois o grande número de indivíduos e grupos do subcontinente indiano no Reino Unido irá reagir de forma dura, pois eles tendem a respeitar Abu Hanifa.

Eles estão na realidade tentando reavivar uma questão antiga, já resolvida no Islã Sunita, até que bilhões de petrodólares inundaram as mesquitas e editoras ao redor do mundo para injetar sua heresia nas crenças de muçulmanos comuns – e se isso significa acusar pessoas como Malik ou Abu Hanifa de múltiplas apostasias, ou colocar em perigo a fé de muçulmanos leigos, e armar os missionários ateístas e cristãos reavivando hadith rejeitados e obsoletos, então que seja (iii).

E mais, eles estão forçando, novamente de uma maneira furtiva, as pessoas para que “escolham” entre um Salafi histórico como Abu Hanifa e o Imames do Hadith eminentes como Bukhari. Além do fato disto ser uma forma vergonhosa de se conduzir

o Islã, não existe nenhuma escolha de fato – Bukhari é um poderoso sábio do hadith mas não tem madhab, nenhum livro de aqidah resumido, ele não é nem mesmo um jurista. Além do fato de que Abu Hanifa e Maliki, assim como Shafi são anteriores a Bukhari até mesmo no hadith, pois eles estabeleceram os princípios desta ciência, ao contrário de Bukhari, eles também estabeleceram a ciência do fiqh e da aqidah, e foram eminentes lógicos e teólogos. Imam Bukhari não pretendia se engajar em disputas com eles, e se ele assim fizesse, onde estão a sua madhab e o seu livro de fiqh? Como veremos depois, ele não se preocupava em seu “sahih” nem mesmo com a maneira de se realizar as orações obrigatórias, pois para isto ele se referia aos Imames que o antecederam.

Este truque de se elevar seus muhaddithin favoritos sobre os Sahabas ou Salafis Históricos é repetido pelo Ahl al Hadith para pessoas posteriores como Ibn Taymiyyah e Nassiruddin Albani, que eles novamente permitem criticar os Salafis Históricos em Aqidah, Fiqh e Hadith respectivamente.

Em todo caso, o assunto tem sido decidido em favor dos juristas (pelo menos para os muçulmanos sunitas) porque elevar o Sahih ao status de “certitude” pode trazer sérios problemas como será mais tarde evidente.

A velha disputa tem sido enfatizada a tal ponto que não existe ciência do hadith sem antes haver um entendimento da jurisprudência (fiqh) – em suma, o povo da aqidah e do fiqh – que são polímatas – tem precedência sobre o povo que se fia apenas no hadith.

Al Shafi (ele próprio um Muhaddith e com a exclusão de Ahmad o mais parcial das escolas de hadith) narrou que foi dito a Malik ibn Anas: “Ibn Uyayna narra de Al Zuhri coisas que você não tem!” Ele respondeu: “Por que, eu deveria relatar todo dito que eu ouvi? Só se quisesse desviar as pessoas!” (iv)

Ibrahim al Nakhai (professor do Imam Abu Hanifa, ele mesmo um Salafi Histórico e muhadith) disse: “Em verdade, eu ouço um hadith, então eu vejo qual parte dele se aplica. Eu a aplico e deixo o resto de lado” (v) (vi) Sheykh Muhammad Awwama comentou: “Significando, o que é reconhecido pelas autoridades é retido enquanto qualquer outra coisa estranha (gharib), anômala (shadhdh), ou condenável (munkar) é posta de lado.”

Hujjat al Islam al Ghazali (um Shafi) no seu al Mustasfa e Imam Ibn Qudama (Hanbali e Muhadith) no seu Rawdat al Nazir, ambos disseram que um Alim pode ser um Imam em uma ciência particular e uma pessoa comum sem conhecimento em outra ciência.

Desta forma, tem se concordado que o conhecimento do Hadith por si só não torna ninguém onicompetente nas ciências islâmicas. Sem qualquer insulto, pode-se comparar os maiores Muhadithin aos grandes historiadores – seus mesmos padrões de verificação e autenticação de informação não podem, entretanto, torná-los competentes em outros campos, tais como teologia ou jurisprudência. Outra maneira de colocar isto é que há mais no Islã do que Estudos de Hadith – muito mais. Os hadith não são nem mesmo as

fontes mais importantes do Islã – Estas seriam o Alcorão e então o Usul do Tafsir, pois o Alcorão é a fonte protegida do Islã. E mesmo antes disso, Deus ordena o uso do intelecto para se chegar a conclusões corretas sobre qual religião seguir.

É fácil entender: Nós não permitiríamos, mesmo hoje, que os maiores historiadores se pronunciassem a respeito de Física e nem vice versa, a menos que eles fossem polímatas (versados em várias campos do saber). Gibbon nunca ousaria discutir com Mawell a respeito do Eletromagnetismo, não importanto sua preeminência como historiador. Mas tristemente, isto é muito comum no Islã, com os Muhadithin frequentemente recomeçando os insultos mais baixos contra os juristas. Os polímatas do Islã foram os fuqaha, não os muhadithin, o maior e mais antigo dos quais foi Abu Hanifa, como foi admitido pelo Imam Shafi, “Toda a jurisprudência islâmica vem dele”.

Até mesmo muitos dos maiores muhadithin não eram qualificados para emitirem fatwas ou se reportavam aos Imames da Aqidah e do Fiqh. Entretanto, haviam muitos que emitiam opinião, baseados somente no hadith e em seus significados literais, e estes tiveram um grande problema com Abu Hanifa e Maliki.

Ibn Abd al Salam disse: “A maior parte dos sábios do hadith são ignorantes em fiqh” – 90 % de acordo com Anas ibn Sirin – entre os Salaf. Então agora o que restou para os Muhadithin posteriores? (vii)

Imam Al Dhahabi (novamente, ele mesmo um muhadith) disse: “A maioria dos sábios do hadith não tinham entendimento e nem zelo sobre o real conhecimento do hadith, e nenhum temor de Allah em relação a isto”. (al Sakhawi, al Jawahir wa al Durar (p.18). Todas as autoridades que al Dhahabi listou como “aqueles que são imitados no Islam” são juristas, e não somente mestres do hadith.

Al Sakhawi em sua biografia de Ibn Hajar intitulada al Jawahir wa al Durar fi Tarjamat Shaykh al Islam ibn Hajr declara que al Fariqi disse: “Aquele que conhece cadeias de transmissão de hadith, mas não as regras legais que são derivadas das mesmas, não pode ser contado entre os Sábios da Lei”.

Seu aluno Ibn Abi Asrun (m. 585) também seguiu esta visão em seu livro al Intisar [Al Sakhawi, al Jawahir wa al Durar] (p.20-23)]

Quando você encontrar pessoas do Ahl al Hadith e Salafis, eles irão falhar em te mostrar uma só referência dos Salafis Históricos ou dos Imames Mujtahid dizendo que é necessário seguir todos os hadith que são “Sahih”. Eles falarão sobre consenso (ijma) mas nenhum será demonstrado. De fato, os eruditos islâmicos afirmam claramente que hadith sem verificação é desvio.

Ibn Abi Zayd al Maliki relata que Sufyan ibn Uyayna disse: “O Hadith é uma armadilha (madilla) exceto para os fuqaha”, e o companheiro de Malik, Abd Allah ibn Wahb disse: “O Hadith é uma armadilha, exceto para os ulemá. Todo memorizador de hadith que não possui um Imam no fiqh é um desviado (dall), e se Allah não nos tivesse resgatado com Malik e al Layth [ibn Sad] , nós seríamos desviados”. (viii)

O professor do Imam Ahmad, Yahya ibn Said al Qattan, apesar do seu famoso status como Mestre dos Mestres do Hadith, não fazia injunções a partir dos hadith mas seguia o fiqh de Abu Hanifa, como ele disse claramente: “Nós não desmentimos Allah. Nunca ouvimos opinião jurídica (ra’i) melhor do que aquela de Abu Hanifa, e nós seguimos a maioria das suas opiniões”. (ix)

Aqui é onde a “Chantagem através de Bukhari” ocorre: Certamente, tudo isto não se aplica a Bukhari, correto?

Certamente Bukhari estava no mesmo patamar que os Imames “Mujtahid Mutlaq” (x) que criaram as Madhabs. Se somente ele narra um determinado hadith devemos segui-lo, correto?

Errado.

Ele nunca declarou ser um Mujtahid [aqui está um exemplo da classificação de eruditos islâmicos dentro do Islã tradicional sunita, que obviamente o Ahl Al Hadith rejeita ao fazer do conhecimento do hadith a única qualificação para ser considerado um erudito competente – ver (x)] Nem ele disse que era necessário agir segundo todos os seus hadith. Nem ele declarou estar fundando a sua própria escola de Aqidah (crença) ou Fiqh. Ele é somente um Imam do hadith.

Se formos “seguir” Bukhari ou os muhadithin em detrimento do Islã sunita e dos próprios conselhos e afirmações destes Imames, devemos estar cientes que “imam”, em inglês, pode ser traduzido como “aquele que guia” ou “alguém para ser seguido”. Portanto, como algumas pessoas querem que sigamos Imam Bukhari e sua “escola”, embora ele próprio não nos tenha dito isto, vamos tentar isto.

Em primeiro lugar, teríamos que deixar de nos chamar de “Salafis” ou seguidores dos Salafis Históricos pois Imam Bukhari é de um tempo bem posterior àquelas gerações (ele nasceu em 194 A.H. e não completou sua obra até próximo de sua morte – de fato ele a deixou incompleta, então ela foi interpolada por dois outros autores, portanto o resultado final é de uma época ainda mais tardia). Também temos que admitir que não temos nenhuma escola nem dos Sahabas nem dos Tabain (esta honraria recai somente para Abu Hanifa, nascido em 63 A.H., embora seus inimigos entre os muhadithin tentem colocar esta data mais posterior). Os Salafis, obviamente, irão tentar alegar que a “escola” está no hadith. Vamos ver momentaneamente se isto é verdade.

Da mesma forma, não possuímos nenhum livro de hadith dos Salafis Históricos ou dos Tabain aceitos nas “seis coleções sahih” pelos Ahl al Hadith, então nos encontramos em uma posição similar às escrituras cristãs, onde as narrativas importantes não foram selecionadas e postas no papel senão pelo menos 200 anos após a Hijra. Certamente, havia uma tradição oral, mas a “esforço” necessário de autenticação pelos Imames Bukhari e Muslim etc teriam que esperar aproximadamente três séculos, e até lá as pessoas estavam supostamente em um estado confuso. Nós temos também que escolher entre Bukhari e Malik: Ele narrou somente um pequeno livro de hadith, diferente dos

4.500 hadith em Bukhari – seu “Muwatta” é um volume pequeno, facilmente lido em um dia ou dois, e não é composto inteiramente por hadith – existem muitas páginas de jurisprudência, ele julga de encontro a alguns dos hadith que ele mesmo narra.

Existem duas opções:

Malik (e os Hanafis antes dele que coletaram hadith) são negligentes e falharam em transmitir e escrever hadith essenciais que precisamos

ou

eles realmente transmitiram o que era necessário e Bukhari e outros coletaram material adicional somente por motivos históricos.

A outra opção é que os Imames do fiqh eram ignorantes em relação aos hadith e temos que aguardar até que Bukhari apareça. Ou, Bukhari inclui, por motivos históricos ou por razões particulares, hadith que eles rejeitaram como não aplicáveis apesar de serem Sahih.

Mas se nós usarmos somente o Imam Bukhari ou muhadithin, apesar do fato de que ele estava seguindo outros em matéria de lei e crença, e não obstante as suas idiossincrasias pessoais no fiqh, e ignorando o fato de que ele nem ao menos reclama para si a criação de uma escola de fiqh ou aqidah, devemos pelo menos ser capazes de encontrar os detalhes para nossas crenças e práticas em seus livros ou no dos muhadithin, correto?

Errado.

Onde, por exemplo, Bukhari narra como fazer uma simples rakat (ciclo) da Salat (as cinco orações diárias) por completo? Ou o número dos componentes das cinco diferentes orações? Ou os compreensíveis relatos não conflitantes dos seus respectivos horários? (as respostas estão de fato espalhadas nos livros de fiqh e hadith, e a maior parte dos hadith relevantes não são “Sahih”).

Portanto, Imam Bukhari não faz nenhum esforço para nos mostrar nem mesmo como fazer uma simples rakat (provavelmente porque sabia que isto não era necessário, já que as pessoas não seriam tão tolas a ponto de tomarem seu livro como referência em oposição a um registro histórico ou manual de hadith) e ainda assim esperamos seguir um hadith “sahih” não importa o quê?

O Ahl al Hadith dirá que as omissões do seu livro, mesmo em questões tão importantes como a oração, não significa que abandonamos o restante dos hadith “sahih”. Eles irão argumentar que deixar um hadith Sahih é “bidah” (inovação ou heresia). Mas quais Imames de crença e jurisprudência dizem isso? De fato, a posição é que Imames e pessoas devidamente qualificadas realmente deixaram ou não agiram segundo os hadith, ou em seus significados literais, ou acreditaram que eles tinham sido abrogados ou eram “estranhos” em seu matn.

Hanafis como Isa Ibn Abban rejeitaram várias narrativas Ahad, e embora as bases para a rejeição dos mesmos variem entre os Ahlus Sunnah (os Hanbalis são os mais relutantes em rejeitá-los), é válido rejeitar um ahad pelo significado ou conteúdo por alguma razão válida, o problema é quando eu rejeito por razão nenhuma. Mas aqui novamente os Salafis tentarão te confundir: Eles terão que admitir que o Sahih pode ser rejeitado, já que o seu próprio Imam do Hadith, Nassaruddin Albani rejeitou muitos, mas eles irão assevear que os hadith só podem ser descartados a partir da sua cadeia de transmissão e não pelos seus significados aparentes.

Isto é novamente uma mentira e mero sofisma, mas voltaremos a isto.

O infeliz resultado da “chantagem Bukhari” é encorajar as pessoas a questionar as intenções do Imam Bukhari, criar um conflito entre ele e os Fuqaha ( mais do que foi o caso) e por fim incentivar as pessoas no caminho vil e perigoso da rejeição dos hadith, ao fazê-las imaginarem que toda narrativa precisa ser incluída na crença: Crenças tais como “Deus teve um filho?”, somente podem estar no campo da certeza – você não pode estar 90% certo a respeito do Islã, mas 100%. Portanto, como pode ser apropriado tomar como matérias de crença o “Ilm ul Zaan” e as narrativas ahad (ambos somente conhecimento probabilístico)?

Tristemente, a confusão e impostura abundam no Ahl al Hadith – sem contar a falha deles em mostrar como se realiza a oração somente a partir do Sahih. Eles fazem declarações bizarras que o próprio Imam Bukhari não fez: Por exemplo, nem todos os hadith narrados pelo Imam Bukhari são de um grau – “Sahih”, entretanto eles nunca falam sobre os fatos reais, fazendo com que os cristãos e ateus venham até você te dizer que “o hadith está no Bukhari, e portanto é sahih e você tem que aceitar!” – quando na realidade alguns dos próprios hadith contidos no Imam Bukhari não satisfazem suas condições e estão lá somente como evidência para apoiar o hadith principal do capítulo:

“Narrativas auxiliares serviam para reforçar a autenticidade da tradição Profética, mas nem Bukhari nem Muslim sentiam que as mesmas precisavam satisfazer os rigorosos critérios de autenticidade que eles estabeleceram” (xi)

Então a real percentagem de Hadith Sahih em Bukhari, de acordo com seus próprios critérios, não é todo o livro mas somente os hadith mencionados no nome de cada capítulo – os outros algumas vezes podem não ser (alguns estudiosos dão uma aproximação de 1/3 dos hadith atendem os critérios de Bukhari, outros consideram uma percentagem menor). Há muita confusão sobre isso e Imam Dhahabi (sim, ele é um muhaddith também) expressa o assunto desta forma:

Eles são todos Sahih, mas nem todos eles possuem o mesmo alto grau de Sahih” (xii)

O perigo de se incomodar os muçulmanos insistindo que determinado hadith é “Sahih” então como você ousa não acreditar nele ou não segui-lo é manifesto no fato de que, não são somente os hadith que podem ser Sahih (e de forma alguma, nem são todos ou mesmo a maioria dos hadith e narrativas Sahih que estão nas coletâneas de Bukhari e

Muslim. Novamente, este é um consenso dos Sunitas e é admitido pelo Imam Bukhari no título completo da sua coleção – que é chamada de a “Versão pequena do livro”) – o incidente dos “Versículos Satânicos” é classificado como Sahih pelos mestres do hadith, como Ibn Hajar, e historiadores como Imam Tabari (ele mesmo um mestre do hadith e faqih, embora sua escola esteja atualmente perdida) – mas eles sabiam e articularam claramente que ser sahih não significa “verdadeiro”, mas meramente que a cadeia estava correta – o conteúdo e significado podendo ser rejeitados, como é neste caso. Mas uma pessoa, atualmente, convenientemente desviada pelo movimento Salafi pode ser incitada, como foi Ibn Taymiyyah, a tomar por engano este status “sahih” como aceitabilidade e, daí acreditar que o Profeta compromoteu a sua crença no monoteísmo (xiii) – uma impossibilidade rejeitada por todos os muçulmanos ortodoxos.

Você pensava que o incidente dos “Versículos Satânicos”, como é conhecido era suficiente para deter os Salafis de colocar em risco a fé das pessoas ameaçando-as com “Bidah” ou heresia quando as mesmas não aceitam tais narrativas sahih, mas nada desta sorte.

Eles retorquirão com a declaração enganosa de que nenhum dos mestres de hadith rejeitaram os sahih – o que não é verdade: Eles foram rejeitados abertamente, como foi o caso do incidente dos Versículo Satânicos (exceto por Ibn Taymiyya, que de fato não é encontrado na lista dos mestres de hadith posteriores).

A mentira que estes indivíduos estão tentando te empurrar é o fato de que eles serem rejeitados não os torna “não-sahih”, pois isto se se aplica somente à sua transmissão não ao seu conteúdo (como estes conceitos são idênticos para muitos Salafistas e para todos os Ahl Al Hadith, eles tentam equacioná-los na sua mente também).

Entretanto, os sábios do Islã não estavam sob tais ilusões, e o Imam Bukhari estava também ciente do critéria de falibilidade, como prescrito no Alcorão para todas as obras do homem e d os muhaddithin: “Não meditam acaso no Alcorão? Se fosse de outra origem, que não de Allah, haveria nele muitas discrepâncias”[4:82] – isto afirma claramente que todos as obras que não são de origem divina são cheias de contradição.

Portanto, embora a questão dos Versículos Satânicos deva ser o suficiente para deter as pessoas do “Este Hadith é sahih, irmão, como você ousa ir contra ele?!”, será necessário mostrar aqui que o Imam Bukhari e outros narraram hadith que eles sabiam que não seriam aceitos pelo fiqh e aqidah islâmicos, mas que eles somente documentaram – a sua ausência de endorso ou explicacação destas narrativas demonstra isto suficientemente.

Bukhari 18. “A respeito da má sorte nas mulheres”: 4805. Está relatado por Abdullah ibn Umar que o Mensageiro de Allah, que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele, disse, “Existe má sorte nas mulheres, nas casas e nos cavalos”. 4806. Está relatado que Ibn Umar disse, “Eles falaram sobre má sorte na presença do Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele, e o Profeta, que a paz e as

bênçãos de Allah estejam com ele, disse, “Se existe má sorte em alguma coisa, ela está nas casas, nas mulheres e nos cavalos.” Está história é encontrada de diversas maneiras em várias coleções de hadith: A primeira narrativa claramente alega que existe má sorte e a segunda diz “se”, deixando então a questão em aberto. Obviamente, não existe tal coisa como má sorte e muitos menos em todas as mulheres – Esta ausência de superstição no Islã é confirmada pelo próprio Bukhari. Ainda o Imam Bukhari narra estes hadith sem qualquer explicação ou comentário e, novamente, no “Adab wal Mufrad” (seu texto sobre etiqueta islâmica). Uma pessoa que lesse este hadith ficaria chocada e confusa, especialmente por Imam Bukhari ter omitido a explicação de hadrat A’isha onde ela explica que Ibn Umar omitiu a parte na qual o Profeta disse “As pessoas ignorantes acreditam que exista má sorte…”

Imam Ahmad, que checou e aprovou o “Sahih” de Imam Bukhari, incluiu aquela narração de A’isha (RA): Então as opções são que Imam Bukhari quer que você acredite que as mulheres trazem má sorte (impossível), ele narra hadith contraditórios (o que é aceitável desde que ele não os esteja narrando com o propósito de agir segundo eles ou de acreditar em sua veracidade), ou você não deve agir, acreditar ou até mesmo ler, como um leigo, cada hadith no Bukhari (ou o Imam Bukhari espera que você saiba todas as outras narrativas que ele deixou de incluir, possivelmente porque ele não as considerava autênticas ou era negligente, o que também seria inapropriado). Sahih Bukhari, Narrou A’isha: “O Apóstolo de Allah ouviu um homem recitando o Alcorão à noite e disse, ‘Que Allah derrame a Sua misericórida sobre ele, pois por causa dele fui lembrando de tal e qual passagem de tal e qual suratas, que eu havia esquecido.” Obviamente, ninguém está dizendo que você deve acreditar nisto, ou poderíamos ser levados a pensar que o Profeta esqueceu partes do Alcorão, o que se choca com o próprio Alcorão e com Aqidah. Mas o Imam Bukhari não fornece nenhuma explicação – tendo narrado isto, resta aos Imames do Fiqh e da Aqidah decidirem, e eles claramente a rejeitam. Não há nenhuma questão de “seguir o hadith”. Novamente, de Bukhari via Abu Huraira:

“O anjo da morte foi enviado até Moisés e disse ‘responda a teu Senhor’ … Moisés o golpeou severamente, arrancando um dos seus olhos. O anjo voltou ao seu Senhor e disse, ‘Você me enviou a um servo que não quer morrer’. Allah restituiu o olho dele e disse, ‘Volte e diga a ele para a colocar a mão sobre as costas de um boi, pois lhe será permitido viver um número de anos equivalente ao número de fios de cabelo sob as suas mãos…. (continua)” Uma pessoa lendo este hadith sem saber que nem todo sahih é aproveitado para a crença etc. estaria muito confusa. Esta narrativa já foi discutida em detalhes pelos sábios islâmicos (um bom estudo em árabe foi feito por Muhammad Al Ghazzali para quem se interessar). Está claramente dito no Alcorão que a hora da morte de qualquer pessoa não será adiada, e em todo caso é inaceitável para um Profeta rejeitar a morte e se recusar a se encontrar com Deus. Também soa estranho que anjos sejam criaturas que possam ter

seus olhos arrancados por seres humanos. Várias explicações foram dadas por eruditos como Ibn Khuzayma, que disse que talvez Moisés tenha confundido o Anjo da Morte com um assassino. Estas explicações são por si problemáticas devido ao texto do hadith, mas o ponto aqui é que ele é narrado sem explicação e não tem nenhuma relevância nem para a prática nem para a doutrina – forçar as pessoas a aceitarem isto, como se Imam Bukhari significasse para elas agir ou acreditar no que está contido nel, pode causar séria confusão.

Narrou ‘Imran ibn Husain: “O Versículo de Hajj-at-Tamatu foi revelado no Livro de Allah, então nós o executamos com o Apóstolo de Allah, e nada foi revelado no Alcorão para torná-lo ilegal, nem o Profeta o proibiu até o seu falecimento. Mas o homem (que o considerou ilegal) apenas expressou o que a sua própria mente sugeriu. Esse homem era Umar.” Isto irá, da mesma maneira, sem a explicação dos sábios, que Imam Bukhari não fornece, causar confusão e fazer alguém acreditar que Umar (RA) fez coisas da sua própria vontade – o hadith requer comentário e poderia causar confusão sem o mesmo. “Seguir o hadith de Bukhari” também não ajuda. Sahih Al-Bukhari Hadith 1.251 Narrao por Abu Salama: “O irmão de A’isha e eu fomos até ela e ele perguntou a respeito da maneira que o Profeta (saas) tomava banho. Ela trouxe uma bacia contendo por volta de um Sa’ de água e se banhou jogando a água sobre sua cabeça, e naquele momento havia um tela entre nós e ela.”

Qual é a necessidade de se dizer às pessoas para aceitarem histórias como essa? Imam Bukhari está registrando esta história estranha com propósitos históricos (de fato, a mesma foi rejeitada pelos Hanafis e omitida por Malik e Shafi). No seu significado literal, ela implica que A’isha tomou banho detrás de uma tela para demonstrar como fazer o banho completo (ghusl) – mas isto é impossível para nossa mãe A’isha! Várias explicações foram apresentadas, mas nenhuma de real utilidade, e este hadith é dos favoritos dos xiitas. Se ela fosse demonstrar o ghusl, ela não precisaria fazê-lo diante deles. É impossível que a tela fosse transparente, então qual é a utilidade desta narrativa além de ser utilizada por aqueles que difamam a nossa nobre mãe A’isha? Os Ahl al hadith irão por aí dizer que este hadith está no Bukhari e portanto temos que aceitá-lo? Ou uma das suas explicações bizarras (admitindo que isto aconteceu, mas que ela estava completamente vestida, o que ainda seria inaceitável, ou que ela simplesmente tomou o banho, o que neste caso coloca em questão o fato do mesmo ter sido testemunhado). Defender este hadith não tem valia, e os Hanafis lidam com ele apropriadamente ao rejeitá-lo apesar do seu status de “Sahih”. Bukhari 3:49 863, Narrou Al-Bara: “Quando o Profeta intencionou fazer a ‘Umra no mês de Dhul Qada, as pessoas de Meca não deixaram ele entrar na cidade até que ele prometesse que ficaria na cidade por apenas três dias. Quando o documento do acordo foi escrito, o seguinte foi mencionado ‘Estes são os termos pelos quais Muhammad, o Mensageiro de Allah concordou (em fazer a paz)’. Eles disseram, ‘Não concordaremos com isto, pois se acreditássemos que você é o Mensageiro de Allah nós nunca te impediríamos. Você é Muhammad bin ‘Abdullah’. O Profeta disse, ‘Eu sou o

Mensageiro de Allah e também Muhammad ibn ‘Abdullah’. Então ele disse para ‘Ali, ‘Apague as palavras (Mensageiro de Allah)’, mas ‘Ali disse, ‘Não, por Allah, eu nunca apagarei seu nome’. Então o Profeta pegou o documento e escreveu, ‘Isto é o que concordou Muhammad ibn ‘Abdullah’ “.

Tomadas literalmente, isto significa que o Profeta podia não apenas ler, mas escrever também – esta narrativa é adorada pelos missionários cristãos, mas novamente, ela é rejeitada pelos sábios e a explicação é encontrada mais à frente em Bukhari – o que de fato aconteceu é explicado nos dois ahadith seguintes. Ali se recusou a atender o pedido do Profeta e foi o próprio Profeta quem retirou aquela parte. Ele não escreveu como foi mencionado por Bukhari, 3:863 Narrou Al-Bara bin ‘Azib: Quando o Apóstolo de Allah concluiu o acordo de paz com o povo de Hudaibiya, Ali bin Abu Talib escreveu o documento e mencionou nele, “Muhammad, Mensageiro de Allah”. Os pagãos disseram, “Não escreva: Muhammad, Mensageiro de Allah, pois se você fosse um Profeta nós não lutaríamos contra ti”. O Profeta para para ‘Ali apagar, mas ‘Ali disse, “Eu não serei a pessoa que irá apagá-lo”. O Mensageiro de Allah apagou a passagem e fez o acordo com a condição de que ele e seus companheiros entrassem em Meca e ficassem lá por três dias, e que eles pudessem entrar com as suas armas embainhadas. Porém, o Imam Bukhari novamente não explica – isto porque estas narrativas não são para serem tomadas da maneira que os Salafis e Ahl al Hadith te contam. A menos que eles estejam dizendo que temos que desenvolver o que o Imam Bukhari quis dizer sem ele nos ter dito – e neste caso nós precisaríamos de um outro Imam e assim por diante ad infinitum.

Sahih Muslim, Kitab Ar-Radaa’ A’isha (RA) relatou: Sahla bint Suhail veio até o Profeta de Allah e disse: Mensageiro de Allah, eu vi no rosto de Abu Hudhaifa (sinais de repugnância) quando Salim (que é um aliado) entrou (em nossa casa), no que o Profeta de Allah (saas) disse: “Amamente-o”. Ela disse: “Como posso amamentá-lo? Ele já é um homem!” O Mensageiro de Allah sorriu e disse: “Eu já sei que ele é um jovem”. ‘Amr acrescentou à narrativa que ele participou na Batalha de Badr e na narrativa de Ibn ‘Umar (as palavras são): O Mensageiro de Allah riu. Será que os integrantes abalados das fileiras salafis irão por aí pedir que o que o Imam Muslim registrou seja aplicado ou dirão que aquilo de fato aconteceu? Está claro até aqui que as pessoas que insistiram nos Versículos Satânicos também não irão parar aqui, mas o Imam Muslim estava certamente recolhendo as narrativas como um historiador, e como tal ele não nos pediria para acreditar nela. Em todo caso, o hadith está rejeitado por razões óbvias. Abu Dawood: 4723: Foi narrado por Al Walid bin Abi Thawr, de Simak, de Abdullah bin Amirah, de Al Ahnaf bin Qais, de Al Abbas bin Abdul Muttalib, que disse: “Eu estava em Al Batba com um grupo de pessoas, e entre elas estava o Mensageiro de Allah. Uma nuvem passou sobre ele, e ele olhou para ela e disse: ‘Do que vocês chamam isso?’ Ele disseram: ‘As-Sajab (uma nuvem)’. Ele disse: ‘E Al Muzn (nuvem de chuva)?’ Eles disseram: ‘E Al Muzn’. Ele disse: ‘E Anan (várias nuvens)?’ Eles

disseram: ‘E Al Anan’. – Abu Dawud: ‘Eu não estou muito certo a respeito de Al Anan – Ele disse: ‘Qual a distância que vocês acham que existe entre o céu e a terra?’ Eles disseram: ‘Nós não sabemos.’ Ele disse: ‘Entre eles há uma distância de 71, ou 72, ou 73 anos. E entre este céu e o outro acima dele existe a mesma distância (e assim por diante)’ – até que ele contou sete céus. ‘ Então, acima do sétimo céu, existe um mar, cuja distância entre o fundo e a superfície é como aquela entre um céu e outro. Então acima dele existem oito cabras, e a distância entre seus cascos e seus joelhos é como a distância entre um céu e o próximo. Então nas suas costas está o Trono, e a distância entre a base e o topo do Trono, é como a distância entre um céu e outro. Então, Allah está acima disso, Exaltado seja Ele.

Este é um hadith particularmente embarassante para os Salafis, especialmente porque Ibn Taymiyyah classificou ele como “aceitável”, mas a ideia de Deus sendo carregado por cabras selvagens (ou carregado de qualquer forma) é herética – o hadith, apesar de ser narrado em muitas coleções e classificado como Sahih por no mínimo Ibn Khuzayma e Ibn Taymiyya, é rejeitado pelo seu antropomorfismo explícito e por soar muito familiar à narrativa do Antigo Testamento que mostra Deus carregado por querubins. Temos que aceitar esta narração bizarra e demolidora da fé só porque ela foi classificada como “sahih” por alguns estudiosos do hadith? Às vezes, as “explicações”, que são mentiras abertas nos casos apresentados, tornam o problema pior: (Texto original árabe aqui: https://futureislam.files.wordpress.com/2013/07/sunan-abu-dawud-volume-5– Uma tradução deliberadamente falsa onde eles interpolam ‘anjos’ no lugar de ‘cabras’ e explicação verdadeiramente confusa e terrível aqui: https://islamqa.info/en/88746) Sunan Abu Dawood e Musnad de Ahmad: de Abu Huraira – ” ‘O filho ilegítimo é o mais maldoso dos três’, ou seja pior do que seus pais”.

Mais uma vez, esta é uma narrativa confusa e há outras como essa com vários graus de autenticidade. Devemos segui-la somente porque alguns (incluindo Salafis como Albani) dizem que é “sahih”? É óbvio que não, pois ela contradiz o Alcorão e parece promover a ideia de “Pecado Original” – no entanto, a explicação de Hadrat A’isha (nominalmente, de que o significado do hadith em questão não é o que Ahmad e Abu Dawood estão narrando, mas é um alerta para os filhos que reproduzem as ações dos seus pais) não foi incluída pelos Muhadithin, ou por razões deles próprios ou porque não preenchia seus requisitos. Obviamente, impor esta narrativa a alguém e então dizer que ela é “sahih” irá causa uma confusão ainda maior – Os Hanafis e os Malikis a rejeitaram, e os muhadithin que quiseram retê-la foram forçados a oferecer suas próprias explicações. Mas nenhuma destas estão na sua frente quando você lê o hadith – então o que aconteceu com o seguir todos os ahadith Sahih? Esta narrativa é muito útil para ilustrarmos a mentalidade Salafi – após exigir que alguém aceite um hadith, no caso de um que seja difícil, eles recorrem à ginásticas mentais e outras fontes para explicá-lo. Uma estratégia engraçada para eles é dizer que Albani não aceitou determinado hadith, ou que Ibn Baz o rejeitou no fiqh, como se seus Imames do final do século 20 tivessem que ser aguardados para esclarecer assuntos

importantes. E mais uma vez – eles tentarão dar aos Muhadithin direitos exclusivos para criticar os ahadith por medo de que os juristas os rejeitem – como de fato é o direito dos juristas.

Sahih Muslim Livro 19, Hadith Número 4322. Capítulo: Permissibilidade para se matar mulheres e crianças em ataques noturnos, desde que não sejam deliberados. Foi narrado por Sa’b b. Jaththama que ele disse (ao Santo Profeta): “Mensageiro de Allah, nós matamos as crianças dos politeístas durante os ataques noturnos.” Ele disse: “Elas são deles”. Aqui está um contraexemplo interessante – um esforço foi feito pelo Imam Muslim para explicar a narrativa que podia ser mal interpretada. Ele também toma cuidado para colocá-la após a seção que denuncia a morte de não-combatentes. Só que mais uma vez, ignorar que ninguém na história islâmica tomava isto literalmente e que era meramente um entendimento de que, mortes acidentais de civis em guerras ocorriam devido à mistura de combatentes com civis, e que foram inevitáveis, mas extremamente lamentáveis, podia levar alguém que foi “chantageado” pelo hadith a concluir que “eles são deles” significa que é lícito matá-los, ao contrário de “eles estão misturados com eles”, que seria uma tradução melhor. Podemos ver cmo aquelas pessoas do “partido do hadith” predispostos à violência podem facilmente ser desviados por narrativas sem fiqh.

Então, há esta flagrante e confusa narrativa no Bukhari (que mais uma vez, é uma das favoritas dos xiitas): “Narrou Nafi: Sempre que Ibn Umar recitava o Alcorão, ele não falava com ninguém até que ele tivesse terminado sua recitação. Uma vez eu segurava o Alcorão e ele recitou a Surata al Baqarah de memória, e então parou em um certo versículo e disse, ‘Você sabe em que contexto este versículo foi revelado?’ Eu respondi, ‘Não.’ Ele disse, ‘Ele foi revelado em tal e qual situação’. Ibn Umar então terminou sua recitação. Nafi acrescentou em relação ao versículo: – ‘Então acercai-vos dos vossos campos como e quando quiserdes’ Ibn Umar disse, ‘Isto significa que deve-se acercar da sua esposa pelo …’ ” Os três pontos não são meus. De fato, eles estão no texto do Sahih Bukhari: Se fôssemos “seguir todos os ahadith sahih”, o que faríamos com esta narrativa confusa? Como agimos neste caso, especialmente quando narrativa existe de foma completa com a mesma cadeia de transmissão, que o Imam Bukhari deixou de mencionar – desta maneira, a parte omitida foi: “deve-se acercar da sua esposa pelo ânus” (xiv)

Este hadith é rejeitado por todos os sunitas, e em todo caso, qual a utilidade de se narrar uma passagem confusa e incompleta como essa? Quis o Imam Bukhari que a seguíssemos, como dizem os Salafis e o Ahl Al Hadith? Obviamente não. Sahih Bukhari, Kitab Al Jihad Narrou Abu Huraira: “O Apóstolo de Allah disse, ‘Uma vez Salomão, filho de Davi, disse ‘(Por Allah) Esta noite eu terei relações sexuais com cem (ou noventa e nove) mulheres, e cada uma dará a luz a um cavaleiro que combaterá na Causa de Allah’. Sobre isto um (i.e. se Allah quiser) mas ele não disse, ‘Se Allah quiser’. Consequentemente, apenas uma daquelas mulheres concebeu e deu a

luz a um meio homem. Por aquele em Cujas Mãos está a vida de Muhammad, se ele tivesse dito, ‘Se Allah quiser’, (Ele teria tido filhos) e todos seriam cavaleiros lutando pela causa de Allah.” Espera-se realmente que acreditemos que o Imam Bukhari espera que nós acreditemos neste incidente chocante? Em todo caso, como reconciliar a ideia de um Deus misericordioso com a punição severa que Salomão, um Profeta, sofre por não ter dito ‘Se Allah quiser’ (o que não é um pecado, em primeiro lugar)? Então, qual chance qualquer um de possui? E por que Deus está punindoa mãe da criança e a própria criança por algo que Salomão fez? O Imam Bukhari espera que nos tornemos cristãos? Claro que não – ele nunca quis que esta narrativa fosse “aceita” da maneira que os Salafis e os Ahl Al Hadith estão fazendo.

Obviamente, os exemplos podem ser multiplicados ad nauseum, mas isto deve ser suficiente: A próxima vez que pedirem para você agir segundo um hadith porque os muhadtihin o classificaram como “sahih”, questione estas pessoas a respeito da “ação” segundo os ahadith mencionados acima. Pode-se ver claramente, e assim esperamos, que os Muhadithin não coletaram estes ahadith com o propósito de agir segundo os mesmos, mas antes por motivos históricos. Nenhum deles possui qualquer relevância para esta vida ou a próxima, e se forem seguidos levarão ao desvio e à confusão. Mas estejam avisados – Os Salafis e Ahl al Hadith irão ainda assim te desafiar com explicações mirabolantes, como vimos no cado do hadith das “cabras”, onde eles recorreram na verdade à mudança de palavras na tradução, adicionando toda uma frase a respeito de anjos que não estava no texto original.

Você também será constantemente persuadido com ‘mostre-me alguém (na verdade alguém que eles aprovem) que rejeitou um hadith Sahih – tenha cuidado, pois eles estão brincando com você. Ninguém rejeita um hadith como não sendo Sahih, por conta da sua cadeia de transmissão. Na realidade, rejeita-se ou pelo conteúdo ou pela aplicação prática. Ao contrário do que o Ahl Al Hadith gostaria que pensassem, um hadith Sahih, contendo uma perfeita cadeia de transmissão, pode ser rejeitado devido ao seu conteúdo. Não há razão para denunciá-lo como “não-Sahih”, porque em primeiro lugar, a cadeia de transmissão nunca foi garantia de certitude. Estas pessoas desviaram muitas com esta sofística enganosa. Não é necessário classificarmos um hadith como ‘não-sahih’ para rejeitá-lo. Na realidade, ninguém jamais fez isso, pois um hadith que é sahih pela cadeia de transmissão, pode ser rejeitado por pessoas qualificadas por uma razão válida. Sahih não significa “verdadeiro” ou “definitivamente dito pelo Profeta”, então não hánecessidade de lidarmos com o hadith dizendo “não-sahih = não-verdadeiro”, pois sahih não significava verdadeiro primeiramente (como foi explicado por, asism como outros muçulmanos sunitas, Ibn Hajar em sua introdução ao seu magistral comentário do Sahih Al Bukhari).

E mais, aqueles que decidem pela rejeição a partir do conteúdo não são os Imames do hadith, que são apenas especialistas nas cadeias de transmissão (algo semelhante aos arqueólogos contemporâneos ou os historiadores forenses). Quem assim decide são

juristas como Malik e Abu Hanifa, e eles frequentemente rejeitavam ahadith Sahih, alguns dos quais foram mostrados acima. Nós também, infelizmente, precisamos combater aqui, mais detalhadamente, a afirmativa ilógica de que nenhum hadith no Bukhari jamais foi criticado ou posto em dúvida. Isto é sofisma total, especialmente vindo dos Salafis cujo Imam do hadith, Albani, não apenas questionou mas, apesar do status dos seus últimos dias e numerosas gafes documentadas em ciências do hadith, na realidade rejeitou um númeor chocante de ahadith tanto quem Bukhari quanto em Muslim. Lembrando que os Imames dos muçulmanos sunitas usualmente não tinham nenhuma necessidade de rejeitar abertamente os ahadith Sahih, pois primeiramente, eles não os consideravam como nada além de probabilidades. O seu desejo de atacar as narrativas em Bukhari, talvez tivesse agradado o lado acadêmico do próprio Imam Bukhari.

Não somente os Imames dos muçulmanos sunitas questionam e até rejeitam algumas narrativas do Sahih, mas também os Imames Mujassim dos Salafis – Ibn Taymiyya e Ibn Quyyum – Então qual é a questão de se persuadir muçulmano leigos com “O Hadith está no Bukhari! Como você ousa questionar?!” – Estes arquidecanos do Salafismo não apenas questionam, mas rejeitam ahadith sahih em Bukhari: Imam al Bukhari escreve: “Abu Hurayra relatou que o Profeta (que Allah o abençoe e conceda paz) disse, ‘No Dia do Juízo quando Allah O Altíssimo jogar as pessoas no Fogo, este dirá, ‘Dai-me mais’. Então Allah O Altíssimo irá criar uma nação e então a jogará lá. O Fogo do Inferno irá reclamar novamente, ‘Eu quero mais’, e novamente Allah O Altíssimo irá criar uma nação para jogá-la no Fogo. O Inferno dirá novamente, ‘Eu quero mais’ e então Allah O Altíssimo porá Seus pés no Fogo e então este ficará cheio.” (Bukhari, Kitab at Tawhid, capítulo sobre Tawhid) O Doutor Maximus do Hadith, Ibn Hajar al Asqalani escreveu: “Imam al Bukhari escreveu este hadith em seu tafsir da Sura Kahf. Nesta narrativa, quando o Fogo do Inferno pede mais, Allah O Altíssimo coloca Seus ‘pés’ nele que, então ficará cheio. Allah O Altíssimo nunca é cruel, e mesmo assim, no hadith de Abu Hurayra diz que Allah O Altíssimo criará uma nação para encher o Inferno com ela. Hafiz ibn Qayyim, Abu Hasan Qubsi e outros grupos de sábios do Hadith dizem que o narrador deste fabricou o relato quando disse que Allah O Altíssimo irá fabricar uma nação para o Inferno. Eles dizem que Allah O Altíssimo criou o Inferno para aqueles pessoas que seguem Satanás, e que a nova criação nunca pecou, então como pode ser que Allah O Altíssimo os colocará no Inferno? Allah O Altíssimo também diz no Alcorão que Ele nunca comete injustiça contra ninguém (Sura al Kahf versículo 49)” (al Asqalani, Fath al Bari, capítulo sobre Tawhid)

Hafiz ibn Taymiyya escreveu: “Um autêntico narrador às vezes comete erros, mas eruditos do Hadith encontram estes erros de imediato. Por exemplo, Imam Bukhari escreve no Kitab al Tawhid que Allah O Altíssimo criará uma nova nação e encherá o Inferno com ela. Um mestre do Hadith irá identificar imediatamente se um narrador cometeu um erro. Estes erros cometidos por

narradores também são encontrados em outros livros de Hadith. Imam Muslim escreveu que quando o Profeta (saas) casou-se com sua esposa Maymunah, após ele ter tirado o ihram, o Profeta (saas) não realizou duas rakats nafila dentro da Ka’ba. Uma pessoa com conhecimento profundo do hadith irá saber de imediato que o narrador deste hadith cometeu um erro porque está provado por outro hadith autêntico que o Profeta nunca realizou a ‘umra no mês de Rajab. Quando o Profeta se casou com sua esposa Maymunah, ele estava usando o ihram e realizou duas rakats nafila dentro da Ka’ba. (Ibn Taymiyya, Usuli Tafsir, capítulo ‘Ijma al Muhaddithun)

Ibn Taymiyya também escreve sobre o Imam Muslim: “Imam Muslim escreveu aqueles tipos de narrativas as quais os sábios do Hadith objetaram e.g. Allah O Altíssimo fez os céus e a Terra em sete dias e Abu Sufiyan pedindo ao nosso Profeta (saas) para casar-se com sua filha após tornar-se muçulmano. Outra narrativa no Livro da Salat indica que nosso Profeta (saas) tinha dois filhos que se chamavam Ibrahim (quando sabemos que ele teve apenas um como esse nome) (Ibn Taymiyya, at Tawassul, ‘Ulum al Hadith e Fatawa Ibn Taymiyya, vol. 18, capítulo sobre ‘Maqam Bukhari e Muslim’) Obviamente, Ibn Taymiyya é tão indireto e pouco claro como ele sempre foi, mas parece que ele criticou os ahadith coletados por Imam al Bukhari e Imam Muslim, assim como os de Ibn Quyyum – e eles são prezados pela sua honestidade e vigor acadêmico ao criticar um hadith que, de fato, apoia suas crenças antropomórficas.

Imam al Bukhari escreve: “Após a morte do Profeta (saas), Umm al Mu’minin Sawda (ra) foi a primeira a morrer.” (Bukhari, Capítulo do Zakat) Hafiz Ibn Hajar al Asqalani escreve que isto está errado, e que Umm al Mu’minin Zaynab morreu primeiro. Imam Ibn al Jawzi diz que este hadith não está correto e que é muito estranho que Imam al Bukhari tenha escrito isto. Imam an Nawawai também diz que Bukhari cometeu erros (Fath al Bari, ‘Zakat’)

Bukhari: ‘Umar ibn Maymun disse: “Eu vi um macaco que tinha acabado de cometer adultério com outro. Outros macacos então os apedrejaram, então eu comecei a atirar pedras também.” (Bukhari, “Ayyam al Jahiliya”) Hafiz al Asqalani escreve: “Allama Ibn Abdi ‘l Barr diz: ‘Este hadith está errado porque aplicar uma lei islâmica sobre um animal em relação a qualquer assunto está errado”. Humaydi diz que este relato não estava no original de Bukhari, mas alguém o acrescentou depois. Nusqi escreveu a segunda versão de Bukhari, e este hadith não estava contido nela. Se fôssemos dizer que Hafiz Humaydi e Ibn Abdi ‘l Barr estão corretos, então como ficam sábios que dizem que todos os ahadith escritos no Bukhari estão corretos?” (Fath al Bari, “Ayyam al Jahiliya”)

Imam al Bukhari e Imam Muslim disseram que a Guerra de Mustalaq aconteceu no ano 4 A.H. , ao passo que Mussa ibn ‘Uqba disse que Ibn Ishaq disse que ela aconteceu no ano 6 A.H. Mustalaq estava na guerra quando A’isha foi falsamente acusada de um pecado que ela não cometeu. Disseram que quando A’isha foi falsamente acusada, o ‘Versículo do Véu’ foi revelado. Um dia nosso Profeta (saas) estava conversando com algumas pessoas e então disse, ‘Algumas pessoas acusaram minha esposa falsamente, mas eu só consigo ver bondade nela’. A partir desta evidência, Sa’d ibn Mas se levantou e disse, ‘Se a pessoa que acusou falsamente sua esposa for da minha tribo eu irei matá-la’. (Bukhari, Magazi; Muslim, Tawba)

Hafiz al Asqalani escreve: “Imam al Bukhari disse que a guerra de Mustalaq aconteceu no ano 4 A.H.. Imam al Bukhari cometeu um erro, porque a Guerra de Mustalaq aconteceu no ano 5 A.H. Eu sinto que o Imam al Bukhari quis escrever 5, mas escreveu 4, porque o Imam al Bukhari também escreveu um hadith no capítulo sobre Jihad que prova que a guerra de Mustalaq aconteceu no ano 5 A.H. Em segundo lugar, a narrativa onde Sa’d ibn Mas disse que ele mataria o caluniador também está errada. Isto porque Sa’d ibn Mas foi martirizado na Batalha de Khandaq (que aconteceu antes da Guerra de Mustalaq). A’isha disse, ‘Quando eu fui falsamente acusada, o Versículo do Véu foi revelado e isto foi depois da Batalha de Khandaq’ “. (al Asqalani, Fath al Bari, Magazi)

É muito interessante ver que a mesma e muito compreensível confusão com números, se for aplicada à questão da idade de A’isha, em outras palavras que as idades relatadas nas coleções Sahih não se somam, e ela tinha mais do que nove anos quando se casou, faz com que os Salafis soltem uma fúria de acusações como “modernista” e “negador de ahadith” – mas aqui está Ibn Hajar dizendo que Bukhari e Muslim erraram nas suas datações – o que dizer desta questão? As pessoas se sentiram livres para encontrar erros não somente nas coleções Sahih em relação ao seu matn (lembrem da fúria que os Salafis sentem por qualquer coisa à exceção da crítica às cadeias de transmissão, mas Ibn Taymiyya e Ibn Quyyam ficavam felizes em criticar o conteúdo, ou matn, das coleções acima) mas também nas suas cadeias de transmissão. Antes de tratarmos disto, é importante saber porque as pessoas tentam chantagear os muçulmanos a aceitarem os muhadithin como as principais autoridades no Islã – em outras palavras, para facilitar suas opiniões heréticas sobre hadith. Para este fim, eles irão frequentemente apontar que narradores tais como Abu Hanifa e Malik eram considerados fracos por certos muhadithin (eles querem dizer seus favoritos, é claro) e por esta razão, eles não relatam ahadith deles – isto é um engano brutal.

Mas se supormos que isto é verdade, por que temos que aceitar as opiniões dos oponentes dos fuqahah, neste caso os muhadithin, como sendo corretas? Não se pode tomar a informação somente de um dos lados em disputa. De fato, os narradores de hadith como Imam Bukhari, e mesmo outros mais antigos,

tiveram sérios problemas com os Imames do fiqh, muitas vezes fazendo declarações chocants sobre eles – então quando os Salafis te falam que Abu Hanifa e o Muwatta do Imam Malik são ‘fracos’ em hadith, eles não te contam os seguintes fatos pertinentes: Imam al Bukhari declarou: “Imam Abu Hanifa era um Murji’i” (*Murjis eram uma seita que acreditava que acreditar em Deus garantia o Paraíso, da mesma forma que não acreditar garantia o Inferno, e portanto as ações não eram de nenhum benefício com a exceção destas. A acusação, obviamente, é falsa). (Al Ta’rikh al Kabir, sob a ‘Biografia de Numan ibn Thabit’) Imam al Bukhari também escreve: “Quando Sufyan ath-Thawri ouviu notícias sobre a morte do Imam Abu Hanifa, ele disse: Não podia haver pior pessoa nascida no Islã.’ ” (Ta’rikh Saghir, Biografia do Imam Abu Hanifa)

Imam al Bukhari também escreve: “Em duas ocasiões ordenou-se ao Imam Abu Hanifa que se arrependesse de declarações blasfemas.” (al Bukhari, Kitan ad-Daufa Walmat Rukin; Ibn ‘Abdi’l Barr, Al Intiqa) Imam al Bukhari nos informa que ele recolheu estas declarações do seu tutor Na’im ibn Hammad (Ta’rikh as Saghir) Imam al Bukhari foi tão convencido pelo seu tutor, que ele nunca mencionava ou utilizava o Imam Abu Hanifa como referência para o seu livro Sahih al Bukhari, e ainda o acusou de não conhecer um conjunto de ahadith (uma acusação bizarra). Então, o Imam Bukhari não está de forma alguma dizendo que Abu Hanifa é ‘fraco’, mas antes que ele é um apóstata (duas vezes). Imam ‘Abdullah ibn Mubarak (outro notável Muhaddith) disse, ‘Eu não considero Imam Malik um erudito’.

Então, antes que os muçulmanos leigos sejam levados a acreditar que devem duvidar de Malik ou de Abu Hanifa em matéria de hadith, deve ser sabido que o Ahl Al Hadith aceita este tipo de narrativas de indivíduos como Na’im Ibn Hammad: Frequentemente acham-se declarações tanto louváveis quanto muito mordazes a respeito de sábios e narradores – ao passao que Imam Bukhari (e os Salafis) se alegram em tomar a palavra de Hamma a respeito de Abu Hanifa, existe isto a respeito dele, dentre outas calúnias alegadas: “Na’im ibn Hamma foi um famoso erudito de uma região chamada Marau. Ele enxergava de um olho só. Durante a última parte de sua vida, ele foi viver no Egito. Primeiramente, ele pertenceu a uma seita conhecida como Jahmitas, e foi um membro ativo. Ele então deixou esta seita e escreveu um livro, que foi o primeiro livro a utilizar a ciência do Musnad. Estes eram compilações de narrativas feitas pelos Sahabas, que foram colocadas em ordem alfabética, de acordo com quem havia narrado o hadith. Durante este período particular, a Umma costumava questionar se o Sagrado Alcorão era makhluq (criado). Quando esta questão foi posta para Na’im ibn Hammad, ele não deu nenhuma explicação. Ele foi então enviado para a prisão junto com Yaqub Faqia.

Ele morreu no ano 228 A.H. Foi notado que nenhuma janaza (oração funeral) foi feita para ele, e ele foi enterrado sem um kaffan (manto fúnebre)” (al Baghdadi, Tadhkirat al Huffaz; adh Dhahabi, Tahzib al Tahzib; al Asqalani e al Baghdadi, Biografia de Na’im ibn Hammad)

Então, são estes tipos de truques que são usados pelo Ahl Al Hadith para confundir os revertidos e muçulmanos leigos – se os Muhadithin relutam em relatar de Malik ou Abu Hanifa devido a dúvidas a respeito deles, o que dizer das dúvidas a respeito de eruditos mais recentes tais como Hammad? Por que duvidam deles? A razão é obviamente, porque eles estão na gangue do ‘hadith’, e Abu Hanifa é persona non grata para eles. Sendo assim, não há necessidade de dar a eles alguma explicação sobre quem Abu Hanifa ou Malik foram ou deixaram de ser. Na realidade, não devemos nos levar pelo movimento Salafi que quer nos fazer parciais demais em relação ao ‘povo do hadith’: Eruditos são seres humanos – eles erram e ficam nervosos – isto acontece até mesmo com os Sahabas. De fato, isto ocorre devido à luta de poder entre os narradores de hadith e os sábios do Islã, dos quais os primeiros se recusam a narrar qualquer coisa, e ainda os acusam e os diminuem. É realmente uma grande perda para o Islã e a sua autenticidade, se descartamos os dois Imames mais antigos porque alguns Muhadithin têm problemas com eles. E como visto acima, não podemos reconstruir o Islã, o Fiqh e a Crença somente a partir dos livros de hadith. Ou se pudermos, é um Islã muito estranho, cheio de cabras selvagens e histórias inexplicáveis. E mais, pode-se ver que o fato dos Muhadithin não narrarem das coleções de ahadith mais antigas, como Malik, não é devido ao rigor acadêmico, mas à animosidade. Por exemplo, vimos que Imam Bukhari narrou um hadith de Imran Ibn Hattan. Mas ele era o líder da seita Khawarij, e seu poema exaltando Ibn Moljam que assassinou Ali é famoso. Ainda assim, Bukhari frequentemente narra dele, mas não dos Hanafis. Pode ser, como alguns disseram, que ele tenha feito isto em uma época anterior ao tempo que ele se tornou khawarij – mas ele certamente parece mais acomodado com tais pessoas do que possa ser considerado apropriado, dado à sua aspereza contra Abu Hanifa, baseado no que uma pessoa similarmente não confiável relatou sobre ele. E mais, o fato de que alguém tenha se tornado khawarij não torna os seus relatos mais antigos suspeitos? Em que altura ele se tornou khawarij? E o Imam Bukhari dá a mesma condescendência a outras seitas? Imam Bukhari também narra, como fizeram outros muhadithin, de Hariz Ibn Uthman que era conhecido por amaldiçoar Ali (RA) setenta vezes antes de deixar a mesquita. Ismail Ibn Ayyash relatou: “Eu acompanhei Hariz do Egito até Meca. No caminho, ele ficou amaldiçoando Ali. Eu disse para ele: Como você pode amaldiçoar alguém sobre o qual o Profeta (saas) disse: ‘Você é para mim como Aarão foi para Moisés?” Bukhari, Tirmidhi, Nasai e outros narraram isto dele.

Imam Bukhari narrou mais de cinquenta e três ahadith de Uthman Ibn Abi Shayban – que muitos Muhadithin estavam querendo dar o benefício da dúvida, ao contrário de Malik ou Abu Hanifa, apesar dele ser bem conhecido por zombar do Alcorão e narrar

“Nosso Profeta participou de um festival de descrentes e respeitou os ídolos da mesma forma que eles. Por este motivo, dois anjos se recusaram a orar atrás do nosso Profeta.” Mas esta situação nunca aconteceria com o nosso Profeta. Ibn Abi Shayba também costumava interpretar o Alcorão incorretamente e o desrespeitava trocando as palavras (xv). Zakariyya ibn Yahya ath Thani Daraqutni declarou que não possuía nenhum conhecimento de hadith e costumava narrar tradições desconhecidas. Hakim dizia que ele era fraco e cometia muitos erros na narração. Al Bukhari admite que os eruditos do hadith o ignoravam e não coletavam ahadith dele de maneira alguma. Mas o Imam al Bukhari relatou ahadith dele mesmo assim (xvi). Aceitar tal pessoa e não aceitar Abu Hanifa revela a parcialidade do Imam Bukhari. Os Muhadithin pelos quais os Salafis querem que você julgue Malik e Abu Hanifa, também são desejosos de narrar de Umam Zuhri e Sufian Ibn Ouyana – que clamam que alguma parte do Alcorão foi perdida na batalha de Yarmuk. Claro, isto é direito deles, mas não é então necessário que você se volte para eles para saber quem é ou não é Sahih vis-a-vis os Imames do Fiqh e da Aqidah. Com todas estas pessoas, você encontra narrativas boas e ruins – Os Muhadithin não negam que estas pessoas, por exemplo, faziam escárnio do Alcorão, mas a metodologia permite que se narre as tradições recolhidas por eles. Da mesma forma, a metolodgia dos lógicos e juristas islâmicos como Malik, permitiam que ele rejeitasse tais narrativas ‘Sahih’. De todo modo, os últimos apresentam o caminho mais seguro.

Certamente, nossa intenção aqui não é depreciar os nobres Imames do Hadith, mas antes manter o equilíbrio correto ou ‘Al Qistas al Mustaqim’ como o Imam Al Ghazzali poderia dizer. Os esforços dos Imames do Hadith são imensos, mas colocá-los acima dos fuqahah, dos tabiin e dos salafis históricos, e permitir que eles insultem estes, é incorreto e ofensivo. Especialmente, quando o método das seitas desviadas na atualidade é brincar nas mãos de xiitas, modernistas e missionários, ao asseverarem que o hadith tem primazia sobre o fiqh, ou que Bukhari tem primazia sobre Malik ou Shafi, ou, pior de tudo, Abu Hanifa. Isto é estupidez manifesta. Apesar dessas afirmativas duras e ahadith e narradores aparentemente estranhos feitos pelos Imames do Hadith, os Hanafis, Malikis, Shafis e outros têm sido tolerantes e dão aos Imames do Hadith seu lugar devido lugar de respeito. Ao mesmo tempo, eles se reservam o direito, devido à sua antiguidade e superioridade em conhecimento, de rejeitar ahadith (sahih ou não) que conflitam com o Alcorão ou com o nobre caráter dos Profetas. Os Malikis rejeitam livremente aqueles ahadith que entram em choque com a prática antiga de Medina, pois eles questionam como uma simples cadeia de transmissão pode ir contra o que todos os Companheiros e Sucessores estavam fazendo. Os Shafis rejeitam qualquer hadith que não apresente as cinco condições ou que se chocam com a realidade. Os Hanafis têm uma grande lista de condições, mais de uma dúzia, e assim rejeitam ahad que se chocam com o Alcorão, com a Sirah, com a realidade observável, com a analogia e uma grande lista de outras (xvii). É fato que os Hanafis e os Malikis são os mais rígidos quando se trata de atribuir ditos ao Profeta, e os Muhadithin, em realidade, são os seus maiores antagonistas, e eles foram paradoxalmente chamados de rejeitadores de hadith (e muito pior isto é mostrado

por Bukhari). Como eu espero que esteja óbvio agora, pessoas como Isa Ibn Abban, Abu Hanifa e Malik tinham razões muito boas para rejeitar alguns ahadith, com seus seguidores distante no tempo sendo acusados de negação de ahadith ou modernismo (ironicamente são os Ahl Al Hadith e os Salafis que detêm as honras da inovação e do modernismo, com sua política de “qualquer hadith é válido conquanto seja Sahih”). O verdadeiro significado da tolerância de opiniões diversas é não começar a acusar as pessoas quando elas têm uma metodologia diferente – depois de tudo, todos estão dispostos a tolerar aqueles que concordam com eles. Desta forma, as escolas de jurisprudência precisam ser livres para aplicar suas metodologias de hadith, da mesma forma como há fizeram desde os primeiros dias. Em realidade, desde muito antes de Bukhari, sem medo da marginalização ou do assédio. Da próxima vez que um homem, ou uma mulher, carrancudo ir até você e começar a atirar ahadith, insistindo que os mesmos são ‘Sahih’ e por isso você deve segui-los, diga a eles que ‘o hadith sobre as mulheres e a má sorte é sahih, você o aceita? Por que você procura por uma saída com as narrações de Imam Ahmad? Você aceita que Deus cavalga sete cabras selvagens? Por que não, o hadith é Sahih!’. Ou ignore-os e siga a metodologia correta das escolas de jurisprudência e o maior de todos os Imames, Abu Hanifa (RA).

Um Exemplo de Diálogo para Estudantes que são Assediados em Universidades

Este não é uma método para convencer aqueles que atormentam e desviam outros sob a bandeira d’ O Partido do Hadith ( pois pessoas que acreditam que Deus cavalga não somente em uma, mas em sete cabras selvagens são um tanto quanto difíceis de convencer), mas preferencialmente para armar aqueles muçulmanos e novos muçulmanos que sofrem dos ataques deles. Esta não é uma resposta erudita, apenas mais uma resposta retórica. Eu dei algumas referências de acordo com o que meu conhecimento limitado permite e, também uma lista de leitura no final do texto, para pessoas mais qualificadas.

“Você está dizendo que um Hadith Sahih pode ser rejeitado!”

Eu não estou dizendo isso, todo mundo está dizendo isto. Especialmente Sheikh Albani do movimento Salafi.

Sheikh Albani apenas rejeitou hadith devido às cadeias de transmissão, na maneira tradicional.

Onde está sua prova conclusiva que de que a rejeição de hadith se dá apenas devido à sua cadeia e, mais ainda , está confinado aos muhadithin apenas?

( *Esta é de fato a atual posição do “povo do hadith “e da maioria Wahhabi/Salafi- Se eles permitem a alguém como Malik rejeitar uma narração, eles irão afirmar que foi por

causa da cadeia de transmissão apenas e porque ele era um Muhaddith. Se Ghazzali ou Maturidi rejeitam um hadith, então eles recebem o tipo de tratamento que Abu Hanifa recebeu nas mãos de Hammad, ou seja, takfir)

Neste caso se isso é verdadeiro, como é que tivemos que esperar 1100 anos para Albani vir e eliminar as narrações non-sahih ( não confiáveis) de Bukhari e Muslim? Se era o “modo tradicional”, você está dizendo que todos os eruditos do Hadith entre ele e Bukhari eram incompetentes?

Quais garantias tempos então que outro erudito, ainda melhor que Albani não virá e removerá ahadith ainda mais fracos de Bukhari? Como você pode estar certo disto se Albani é um revolucionário tão genial( apesar de suas gafes óbvias), outro não emergirá (possivelmente de fora de seu partido/seita). Você o aceitará? Ou ele será um “modernista que rejeita hadices”?

Sahih significa você tem que aceitar!

Sahih (no isnad) significa que o hadith tem uma cadeia de transmissão válida, e isto é tudo.

E mesmo aqui há diferenças entre os narradores, o Sahih de Bukhari não é igual ao Sahih de Tirmidhi etc.

Isto não significa que o Profeta definitivamente disse isto ou aquilo exatamente como está relatado. Mas significa que a probabilidade está em favor da veracidade do hadith, a menos que haja algum problema com seu conteúdo. A maioria os ahadith não são narrados verbatim, mas por significado, então raramente um hadith é “o que o Profeta disse”. É logicamente impossível (e nenhum sunita jamais afirmou isto) que toda e cada cadeia de transmissão entre todos os diferentes narradores até o tempo de Bukhari acrescidos de mais 230 anos, seja verbatim e sem nenhum erro. Há livros inteiros onde os sábios discutem os erros e faltas dos famosos narradores de hadith. Além disso, o Alcorão demanda que todos os livros com a exclusão dele são ‘contraditórios’ (‘Se fosse de outra origem que não de Allah, haveria nele muitas disparidade’ 4:82) e isto inclui as coleções de ahadith – se não, onde está a isenção explícita? Há inúmeros ahadith no Bukhari onde o narrador diz ‘Não estou certo se foi x ou y’, como foi por exemplo, Sa’id e Anas em desacordo sobre o número de esposas do Profeta (em uma mesma narrativa). Então, como pode estar isento de erro?

Ninguém jamais deu ao Sahih o critério de infalibilidade. Mostre-nos onde isto está escrito. Mostre-nos onde algum estudioso sunita diz que o hadith Ahad possui 100% de certeza. E, se de acordo com Ibn Taymiyya e o Ahl Al Hadith, mesmo os Profetas podem esquecer e errar (que Allah proíba), e quanto aos narradores? Você está distorcendo o Alcorão – o problema dos outros livros contendo erros não se aplica aos livros de hadith, pois como eles são comentários do Alcorão, são portanto, protegidos por Deus

E quanto aos comentários e explicações dos livros de Hadith, em outras palavras, os livros de fiqh – Eles também são protegidos? E os comentários a respeito deles? Ad infinitum? Mostre onde está escrito que Allah promete salvaguardar qualquer outro livro além do Alcorão. E se os comentários do Alcorão estão somente nos livros de hadith e não na sirah, na ciência, na gramática e na história, porque a exegese alcorânica ainda prossegue? Por que os exegetas corânicos não são todos Muhadithin? Quantos dos comentários do Alcorão foram feitos por Muhadithin? Não muitos …

Você está insultando os narradores e os Sahabas! Uma calúnia barata, mas esperada. Nem todos os narradores eram Sahabas, muitos eram de uma época bem posterior. E ninguém insultou os Sahabas – nós não temos um hadith deles, mas da última pessoa na cadeia, ou por exemplo, Bukhari 200 anos depois. E já foi claramente apresentado acima que alguns narradores foram altamente criticados por insultarem Ali, ou por mentirem sobre o Alcorão, ou por dizer que ele foi modificado: Imames como os mencionados & Daruqutni desafiaram as cadeias de transmissão de muitas das narrativas citadas. Também, sabemos que haviam muitos hipócritas em Medina, e seus nomes eram conhecidos apenas por um sahabah (Hudhayfa Ibnitul Yamman) – você pode garantir que nenhum hadith foi narrado por essas pessoas, que nem mesmo os Sahabas sabiam quem eram?

Imam Bukhari narrou a maioria dos ahadith, portanto ele é o mais versado no assunto e mais digno de ser seguido

Abu Huraira narrou milhares de ahadith a mais do que Abu Bakr, Umar e Ali postos juntos, e isto significa que ele é melhor do que eles? Sua afirmativa é tão tola quanto dizer que ‘tal pessoa é um excelente historiador, portanto vamos deixá-lo voar em uma nave espacial’.

Os Imames do fiqh ou falharam em narrar ahadith importantes ou os ignoravam, portanto os muhadithin, dos quais Bukhari é o maior, tiveram que preencher este vazio

Antes de tudo, isto significa que você não está seguindo os Salafis históricos e nem uma escola de pensamento deles, mas os Imames do hadith – por favor, mostre-nos suas escolas de pensamento e jurisprudência, provando a existência de Deus, comentários completos dos Alcorão etc.

Onde está a evidência de que Bukhari é um muhaddith maior do que Abu Hanifa ou Malik ou Shafi? Só porque ele narrou mais? Então Stephen King é um escritor melhor do que Melville porque ele escreveu mais livros?

Também podia ser porque os Fuqahah estavam cientes das narrativas, mas não as passaram adiante para evitar confusão, pois muitos dos ahadith acima realmente a causaram. Pelo mesmo motivo, Abu Bakr destruiu uma coleção de 400 ahadith dos Sahabas e Umar proibiu que se narrassem hadith, dizendo ‘Deixai o povo com o livro de Deus’. Eles ignoravam os ahadith também?

Além disso, está claro que Bukhari estava narrando para documentar as coisas, não porque ele queria que os ahadith fossem seguidos ou acreditados. Se fosse esse o caso, mais uma vez, onde está a sua madhab e o seu livro de aqidah, detalhando como orar, seus argumentos contra os xiitas, Mu’tazzila, Murji’ah e os ateus?

Está em seu livro

Ele não incluiu nem ao menos como fazer uma rakat da oração, porque ele sabia que isto era assunto para os fuqaha. Então, e quanto ao resto das coisas?

Devemos extrai-las de suas narrativas?

Então precisamos de Imam Bukhari para o hadith e então de outro Imam para fazer as regras a partir deles (isto é exatamente o que o movimento Salafi tem feito com Ibn Taymiyyah, Ibn Baz, Uthaymin etc.)

Por que eu deveria fazer isto e seguir estes Imames quando eu posso evitar este problema e seguir um dos outros que são dos Salafis históricos e confiáveis, a exemplo de Malik?

Porque Bukhari e nossos Imames, tais como Ibn Taymiyyah têm mais conhecimento

Então todos ignoravam como orar, como realizar o casamento, ter relações sexuais e fazer a circuncisão até Bukhari aparecer duzentos anos depois, ou Ibn Taymiyyah outros quinhentos anos depois dele? Por que a Ummah foi deixada sem as pessoas para esclarecer estas questões?

Se haviam outros da ‘sua escola’, onde estão sua madhab, escola ou até mesmo seus livros? Por que ninguém os está seguindo?

A maioria das pessoas seguem o Imam Shafi e aceitam o hadith a menos que ele vá de encontro às cinco condições que são similares àquelas de Bukhari, então você tem que seguir a maioria

Você quer dizer ‘ijma’ (consenso) ou ‘maioria’`?

Se for consenso, então existe um consenso de que todos os ahadith em Bukhari são ‘Sahih’, mas nem todos os ahadith nele podem ser aplicados em situações possíveis – esta honra vai para o ‘Muwatta’ do Imam Malik.

E de qualquer maneira, não há consenso de que Bukhari seja “o livro mais confiável” – um grande número de Malikis e Hanafis discorda, ao mesmo tempo em que consideram que Imam Bukhari foi bem sucedido em estabelecer uma cadeia de transmissão completamente Sahih (embora não em conteúdo)

Em todo caso, não faz parte do método do Islã tradicional fazer um apanhado de opiniões de Shafi, Abu Hanifa, Ahmad etc. e então seguir a maioria – isto significaria que temos conhecimento o suficiente para julgar entre eles e torna assim, obsoleto a necessidade do taqlid (ver (x) ). Nem isto é a forma como as coisa são feitas, pois isto aboliria todas as diferenças e, consequentemente, a misericórdia divina que existe nelas. Pelo contrário, somos livres para seguir a metodologia de um Imam em matéria de hadith, fiqh, etc.

Se o seu apelo é para o consenso, então mostre-o.

E em quais bases você então permite que Ibn Taymiyyah viole o consenso em assuntos tais como os Versículos Satânicos, a criação do Universo, casamento e divórcio, assim como Albani que o violou sob o argumento de que havia ahadith fracos em Bukhari?

Eu sou um Deobandi/Barelwi: somos ensinados a agir de acordo com o hadith se ele for sahih, e nós somos Hanafis portanto você está errado, não é somente o Ahl Al Hadith que discorda de você

Primeiramente, os Deobandis não seguem a mustalah de hadith Hanafi, mas a de Shafi – assim como muitos Hanafis nos últimos séculos – saibamos de quais livro vocês extraem o Usul de Hadith – eles invariavelmente não serão Hanafis nem Malikis. E mais, a posição de uma escola de jurisprudência ou crença é conhecida daqueles que estão em posição para narrá-la, como demonstrado pelas classificações de eruditos (x) e não o que nossos Imames modernos disseram.

Mostre-nos a prova clara de que rejeitar um hadith sahih não é permitido. Não é permitido somente caso não haja uma razão válida – Os Imames do Fiqh e da Crença forneceram razões válidas e evitaram problemas ao não relatarem ahadith que pudessem causar confusão. Os Muhadithin, em sua especialidade limitada, não agiram assim.

Sem Bukhari e outros livros não conheceríamos os fundamentos da nossa religião

Antes de mais nada, quem te disse para deixar o Bukhari?

Mas quais fundamentos da religião você perderia e onde eles estavam antes que o Bukhari fosse escrito? Se eles estiveram em outros livro como Bukhari, por que os perdemos mas ainda temos os livros de Fiqh e Aqidah anteriores a eles?

Nem a Crença nem o fiqh estão contidos somente naqueles livros, mas foram derivados a partir do Alcorão e da Sunnah autenticada (em oposição ao hadith isolado) pelos fuqaha.

Por que você precisa de ‘Aqidah Tahawiya’, ‘Al Fiqh Al Akbar’ ou o Credo Sanussi ou mesmo os livros dos Mujassims como Muhammad Abd Al Wahhab, se tudo já está no Bukhari?

Os Imames da Aqidah que você mencionou meramente colheram do Bukhari e outros livros de hadith

Então por que o Imam Bukhari e Tirmidhi etc não fizeram eles mesmos em vez de seguir outros em matéria de Aqidah (As’haris)? E alguns dos Imames mencionados são anteriores a qualquer uma das coleções de hadith Sahih.

Todos os hadith Sahih estão em Bukhari e Muslim

Ninguém afirma isto dentro da Ortodoxia, e você é contradito pelo Bukhari, que chamou seu Sahih a ‘menor coleção’ (xi), de acordo com ele, a maioria dos sahih estavam fora destas coleções.

Nós não precisamos dos outros, eles não são tão fortes ou relevantes quanto Bukhari

Ninguém diz isto também, mas então mostre-me como fazer uma rakat de oração utilizando somente Bukhari ou Muslim.

Você rejeita os ahadith Sahih baseado em seus caprichos e para apaziguar os modernistas

Eu posso apenas dizer simplesmente, da mesma forma, que você insiste em aceitar todos eles por causa dos seus caprichos e para apaziguar sua seita, que é muito moderna, mas…

Então estavam o Imam Ahmad e Malik rejeitando hadith Sahih para aplacar os modernistas de seu tempo?

Ninguém disse que os ahadith Sahih podem ser rejeitados levianamente por nenhuma razão, mas de acordo com os Usul de Hadith estabelecidos pelos legítimas escolas de juriprudência.

E se você é tão inclinado a aceitar narrações ‘Sahih’, você aceita aquelas que dizem que os filhos ilegítimos irão para o Inferno, ou que falam de homens adultos sendo amamentados na frente do Profeta, ou ainda o incidente dos Versículos Satânicos?

Eu deixo para os sábios

Você quer dizer que deixa para os seus sábios selecionados, o que significa que você pensa que tem a habilidade de julgá-los e escolher seus favoritos. Desta forma, você na verdade está seguindo seu próprio juízo (o que suponho não ser um problema, mas ao menos seja sincero quanto a isso).

Vamos esperar que os não-muçulmanos e cristãos que buscam nos atacar utiizando estes ahadith deixem para ‘os sábios’ também …

Eu não preciso de Abu Hanifa e aqueles caras. Sábios do Hadith como Zuhri forneceram explicações para todas os ahadith que você mencionou

Então por que os narradores não mencionaram estas nos lugares, quando e onde foram narradas?

Eles presumiram que todos sabiam sobre todas as milhares de narrativas possíveis em cada tópico, que todos fossem Mujtahid ou que os livros de todos os Muhadithin estavam abertos diante das pessoas ao lerem um único hadith como aquele dos filhos ilegítimos que vão para o Inferno?

Se for assim, por que você está trazendo hadith sahih como provas, se está além da nossa capacidade compreendê-los ou conciliá-los?

Então não os leia. Deixe-os para os sábios do hadith

Se for para segui alguém cegamente, por que não os Fuqahah que se especializaram além do hadith e estão entre os Salafis históricos?

Por que correr em desespero para os sábios do hadith?

Eu entendo seu ponto, mas Bukhari e os Muhadithin são os melhores em matéria de hadith, e Malik e Shafi são os melhores em Fiqh. Ninguém é ‘melhor’ do que os outros. Deixe como está!

Então agora você está dizendo que não há benefício em ser da geração dos Salafis como Malik e Abu Huraira (apesar do hadith do Profeta que louve estas gerações). E mais, você desistiu da ideia de que os Salafis históricos são melhores do que as últimas gerações, e fez com que Bukhari tivesse o mesmo mérito de Shafi e Abu Hanifa, algo que ele mesmo nunca afirmou.

E mais, você fez com que alguém que criou e iniciou os ramos do conhecimento islâmico, igual a um especialista em apenas um destes ramos.

Mais crucialmente, se não tivesse havido nenhum Abu Hanifa ou Malik ou Shafi ou Ahmad para fundar as ciências do hadith, você acha que existiria algum Bukhari para compará-los?

Isto não é diferente de alguém que afirma que as últimas gerações de muçulmanos são iguais aos Sahabas. Absurdo.

Nós, o Ahl Al Hadith, fomos mais longe ainda no passado, até pessoas como Imam Zuhri

Então onde está a madhab dele e os livros de crença, refutações do ateísmo etc?

Todos tiveram suas madhabs, mas estão perdidas

Então não foram as melhores e mais aceitas madhabs que sobreviveram até os dias de hoje? Somos apenas os degenarados, exatamente como falam os irmãos xiitas?

E, claro, o último recurso ‘Hadu-ken’ que todos os Salafis e Ahl Al Hadith utilizam:

Você não sabe Árabe!

(e fuja depois disso, mesmo que você seja, em realidade, um Phd em Árabe Corânico)

(i) Ibn Khaldun menciona a acusação de que o Imam Abu Hanifa conhecia somente dezessete ahadith em seu famoso ‘Muqaddima’, escrevendo que esta acusação é completamente falsa, pois os Imames Abu Yusuf e Muhammad, alunos do Imam Abu Hanifa, narraram um grande número de ahadith do seu mestre, que eles escreveram em seus livros (Kitab al Athar por Imam Abu Yusuf e Kitab al Athar por Imam Muhammad – disponíveis em inglês). De fato, todas as narrações de ahadith acumuladas no Jami’ al Masanid de Imam Abu Hanifa – que é uma das primeiras pessoas a ditar livros de Hadith/Fiqh. Imam al Bukhari, Imam Muslim, etc. todos vieram muito tempo depois dele, Isto porque seu status é o maior de todos eles, e dentre os famosos sábios de Hadith/Fiqh, ele é o único que é um Tabi’i (que viu os Sahabas). Este privilégio foi concedido somente ao Imam Abu Hanifa, e não ao Imam Malik, nem Imam Shafi, nem Imam Ahmad, nem Imam al Bukhari e nem Imam Muslim.

(ii) Narrated in ‘Sunnah of Abdullah ibn Ahmad’ (the son of Imam Ahmad)

(iii) ‘History of Baghdad’ by Khatib Baghdadi

(iv) al-Khatîb in al-Jâmi` li Akhlâq al-Râwî (2:109)

(v) Ibn Abî Khaythama by Abû Nu`aym in the Hilya (4:225)

(vi) Ibn Rajab in Sharh. `Ilal al-Tirmidhî (1:413)

(vii) Ibn `Abd al-Salâm, al-Fatâwâ al-Mawsiliyya (p. 132-134)

(viii) Ibn Abî Hâtim in the introduction of al-Jarh. wa al-Ta`dîl (p. 22-23); Ibn Abî Zayd, al-Jâmi` fî al-Sunan (p. 118-119)

(ix) Narrated by al-Dhahabî in Tadhkirat al-Huffâz. (1:307) and Ibn Hajar in Tahdhîb al-Tahdhîb (10:450)

(x) 1. ‘Mujtahid Mutlaq’ – Tal como Imam Abu Hanifah (ou Imam Malik etc) – o mais alto nível e é ele que fundou a madhab Hanafi (sistema de conhecimento sobre a religião. Eles articularam e provaram os primeiros princípios e basearam eles no pensamento racional – e assim eles elucidaram o pensamento daquela madhab. Eles não devem seguir outros sábios do mesmo nível ou de nível inferior, e nem lhes é permitido fazer isso, pois eles são capazes de raciocinar a partir dos primeiros princípios. O requisito do intelecto, memória, verificação independente e exame cuidadoso para atingir este nível é quase exageradamente rigoroso para os padrões de qualquer sistema de conhecimento. Por exemplo, saber tudo de memória que pode incluir peças de evidência que podem incluir centenas, milhares ou até milhões de citações literais. Tais pessoas são, por esse motivo, extremamente raras e atualmente não se encontrará ninguém que preencha este padrão (embora muitos o reclamem).

  1. Mujtahid Muqayyad – tal como Abu Yusuf, Imam Muhamma (os irmão Salafis podem discordar de mim, mas isto é devido a seus próprios antagonismos e nova metodologia). Em tese, eles não devem deixar a madhab e podem apenas utilizar os princípios já estabelecidos da madhab para emitir fatwa (parecer jurídico) a respeito de masail não-existentes (novos problemas que necessitam de respostas, como por exemplo, atualmente, a permissibilidade do transplante de órgãos). Mas em prática, nós os vemos abandonando a madhab de tempos em tempos.
  2. As’haab Tarjih – os exemplos seriam indivíduos como Qadikhan, Sarakhsi. São aqueles que podem escolher a opinião mais forte se houver mais de uma opção disponível dentro da madhab, ao pesarem a evidência de cada posição e escolher. Mas se houver apenas uma opção, eles não são qualificados para deixar aquela opinião. Assim como se houver mais de uma, então eles não são qualificados para tomarem alguma opinião de fora da madhab.
  3. Rawil Madhab – são aqueles incumbidos de narrarem a posição mu’tamad (oficial) da Madhab.

(xi) Jonathan A C Brown, ‘Criticism of the proto hadith Canon’, Oxford Centre for Islamic Studies, Journal of Islamic Studies, 15:1 (2004) Page 20, though Imam Muslim makes the same point in his introduction to Sahih Muslim.

(xii) Al-Muqiza (p. 80)

(xiii) https://www.scribd.com/doc/28923302/Ibn-Taymiyya-and-the-Satanic-Verses

(xiv) Fatah ul Bari Sharah Sahih Bukhari, Volume 8 page 190

(xv) Imam Adh-Dhahabi, ‘Mizan al-I’tidal’ and ‘Tadhkirat al-Huffaz’

(xvi) Imam Adh-Dhahabi, Mizan al-I’tidal; al-‘Asqalani, Tahzib at-Tahzib, Biography of Zakariyya ibn Yahya ath-Thani

(xvii) Al Mutasaar of Imam

LEITURA (BÁSICA) EXTRA EM INGLÊS SOBRE A METODOLOGIA DO HADITH NA ORTODOXIA SUNITA

1) The Sunnah of the Prophet by Muhammad Al Ghazzali

2) The Canonisation of Bukhari and Muslim by Jonathan A C Brown

3) Towards Understanding Taqleed Darul Uloom Deoband (Volume I&II)

4) Losing My Religion by Jeffrey Lang

5) Albani and His Friends by GF Haddad

Fonte: https://asharisassemble.com/2014/05/27/have-you-been-blackmailed-by-bukhari-yet/

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