Após o fim do Califado corretamente orientado, formados por grandes nomes como os califas Abu Bakr, Omar, Uthman, e Ali, o califado islâmico passou para as mãos da família Omíada em 661. Mu’awiya, o primeiro califa omíada, liderou os muçulmanos a partir de sua capital em Damasco, e nomeou como seu sucessor seu filho, Yazid, em 680. Isso marcou o início de uma hera em que os califados vindouros seriam dinastias familiares, e assim iria continuar até à sua abolição em 1924. Durante os 1292 anos do califado, o título já passou algumas vezes entre diferentes famílias. A primeira vez que isso aconteceu foi durante a revolta do final dos anos 740, quando a família Abássida derrubou os Omíadas e tomou o poder, isso marcou o estabelecimento de um dos mais poderosos impérios muçulmanos de todos os tempos.
Durante os 89 anos de governo omíada, o mundo muçulmano experimentou um crescimento exponencial geograficamente, militar e economicamente. Exércitos muçulmanos eram empurrados para a Índia no leste e para Espanha e França, no Oeste. Com uma economia impulsionada por essas conquistas, o califado dos Omíadas se tornou incrivelmente rico, levando a uma sociedade relativamente estável.
Apesar dessas conquistas e poder, houveram problemas para os omíadas para sua estabilização sobre a sociedade. O primeiro problema foi o tratamento desigual dedicado aos não-árabes. À medida que o império muçulmano crescia rumo a terras não-árabes do Norte da África, Espanha, e Pérsia, um grande número de não-árabes não-muçulmanos ficou sob controle Omíada. Para a maioria, as suas vidas foram deixadas em paz, com a liberdade religiosa sendo um dos princípios fundamentais do governo islâmico. Na lei islâmica, não-muçulmanos em um estado muçulmano são obrigados a pagar um imposto conhecido como jizya. Para a maioria das partes do império, este imposto era menor do que os impostos pré-islâmicos que eram cobrados desses povos pelos impérios bizantino ou sassânidas. De modo nenhum descontentamento veio deste aspecto do governo.
Para os muçulmanos, no entanto, o califado dos Omíadas não os tributava além do zakat , que é uma forma obrigatória de adoração envolvendo a doação de uma certa percentagem de riqueza (de 2,5% dos lucros anuais), que era recolhido pelo Estado, e repassado para os necessitados. Para os não-muçulmanos sob domínio recente dos omíadas, a conversão ao Islam claramente tinha algumas vantagens financeiras. Se convertidos, eles estariam isentos do imposto jizya e, ao invés, teriam que pagar o zakat, que seria menor na maioria dos casos. Mesmo a jizya não sendo uma taxa tributaria opressivamente alta, uma taxa de imposto mais baixa é sempre atraente para a lógica dos seres humanos, assim, a coisa lógica a fazer era se converter.
No entanto, o califado dos Omíadas viu um grande problema com conversões em massa ao Islam com base nas alíquotas. Se uma proporção grande o suficiente da população se convertesse ao islamismo e parasse de pagar a jizya, as receitas fiscais iriam cair, levando a instabilidade financeira. Para combater esse problema, os omíadas decidiriam continuar a tributar recém-convertidos como se eles ainda não fossem muçulmanos. As implicações disso foram enormes.
Primeiro de tudo, aplicando a lei islâmica de forma contraditória, levou a revoltas contra os omíadas. A igualdade no tratamento de todos os muçulmanos tinha sido uma das mensagens mais atraentes do Profeta Muhammad ﷺ, e essa política omíada era claramente contra os seus ensinamentos. Além disso, a maioria dos convertidos que estavam sendo tributados eram não-árabes. A grande maioria dos árabes do império viviam na Península Arábica e haviam se convertido durante a vida do Profeta ﷺ, e, portanto, não estavam sujeitos à jizya. Isso criou uma sociedade desigual com base no racismo. Muçulmanos árabes tinham mais privilégios, enquanto os muçulmanos não-árabes eram tratados como inferiores.
O califa omíada Omar ibn’ Abd al-Aziz, que governou entre os anos 717 e 720 reconheceu os inúmeros problemas com esta política e inverteu-a assim que ele chegou ao poder. Devido ao seu reinado fortemente baseado no Islam, historiadores e estudiosos islâmicos consideram ele com o “quinto califa bem orientado”, depois de Abu Bakr, Omar,Uthman, e ‘Ali. O resto da família Omíada governante se opôs a suas reformas, e ele foi envenenado após 3 anos no poder. Com sua morte, o tratamento equitativo de todas as raças no Império Omíada também terminou, e sérios planos para remover os omíadas de poder começaram a se espalhar por todo império.
Desde o início do governo Omíada em 661, um dos principais problemas que eles tinham era legitimidade. Ao contrário dos primeiros quatro califas, os omíadas não foram escolhidos pela opinião popular ou por líderes comunitários respeitados. O poder omíada era essencial baseado em sua capacidade de manter o mundo muçulmano unido e organizado após os grandes conflitos do tempo de ‘Ali.
Um grupo que oferecia uma alternativa ao governo omíada era o povo que apoiavam o governo da família de Ali. Eles argumentaram que, como ‘Ali era o primo e genro do Profeta ﷺ’, sua família tinha mais direito de governar. Esta ideologia encontrou adeptos entre o povo do Iraque, bem como no Hejaz, onde os descendentes de ‘Ali viviam. Mais tarde, essa ideologia política iria se transformar em uma nova seita conhecida como os xiitas, mas nos anos 700, eram indistinguíveis Islam tradicional, e só divergiam sobre política.
O problema com as pessoas que apoiaram o governo relacionado a família do Profeta ﷺ através de Ali, é que eles não tinham as habilidades organizacionais e poder para derrubar os omíadas e estabelecer-se. É aí que um outro grupo que estava relacionado com o Profeta Muhammad ﷺ entrou em cena – os abássidas.
A família Abássida era descendente do tio do Profeta ﷺ, ‘Abbas ibn’ Abd al-Mutalib. Até o início dos anos 700, a família se estabeleceu em Humayma, uma cidade oásis no que é hoje a Jordânia. Estando perto do centro do poder Omíada em Damasco, os abássidas podiam ver claramente quando as rachaduras sutis começaram a se desenvolver na sociedade omíada, baseadas na desigualdade racial, e optaram por usar isso como um trampolim para reivindicar o poder para si próprios.
Os abássidas enviaram missionários secretos para as províncias persas do império entre os anos 730 e 740, onde o descontentamento contra os omíadas era um sentimento comum. Como a maioria dos muçulmanos nesta área eram não-árabes, os abássidas sabiam que podiam contar com o apoio dessas pessoas. A fim de obter o apoio do mais religioso e legitimo, os abássidas alegaram que um dos descendentes de Ali tinha transferido oficialmente o direito de governar à família abássida. Querendo ou não isso realmente aconteceu, e isso ajudou a dar aos abássidas alguma legitimidade como governantes legítimos do mundo muçulmano, algo que faltava aos omíadas.
Em 747, depois de anos recebendo secretamente promessas de apoio em toda a parte oriental do mundo muçulmano, os abássidas decidiram que o momento era propício para a revolta abertamente. Suas distintas bandeiras pretas foram levantadas perto da antiga cidade de Merv, na província de Khurasan, onde o apoio popular era muito forte para os revolucionários.
Liderada por uma figura misteriosa conhecida como Abu Muslim, os partidários da família Abássida em Khurasan prometeram um retorno aos ideais originais do Profeta Muhammad ﷺ e dos primeiros califas. Fora isso, as promessas dos abássidas eram vagas. O importante para os abássidas e seus partidários era a remoção da família Omíada do poder, e as outras questões seriam resolvidas depois.
Depois de conquistar a cidade de Merv e exilar o governador omíada, Abu Muslim começou a enviar os exércitos abássidas para o oeste, em direção ao resto da Pérsia e do Iraque. A posição Omíada nunca tinha sido particularmente forte na Pérsia, provavelmente devido ao fato de que seu governo ser mal visto pela grande população não-árabe, e a revolução abássida começou a evoluir para um movimento maior, uma vez que crescia através do planalto iraniano.
Enquanto isso, a família abássida tinha fugido de Humayma para o Iraque relativamente mais seguro. Depois de uma árdua jornada através do deserto sírio, eles chegaram em Kufa, não muito tempo antes que os exércitos que lutavam por seu governo começassem a aparecer no horizonte leste. Com o apoio da população local, os abássidas organizou uma derrubada do governo local omíada, para instalação dos abássidas como governantes da cidade. Foi em Kufa que a primeira demonstração pública de lealdade foi dada a Abul-Abbas, que foi declarado o primeiro califa abássida em 749.
Toda essa transferência simbólica da califado teria significado nada sem a remoção forçada dos Omíadas. O exército abássida finalmente enfrentou o grosso das forças omíadas perto do rio Zab no norte do Iraque. Os dois exércitos não poderiam ter sido mais diferentes. Os omíadas, com suas bandeiras brancas representavam os árabes sírios que haviam sido o grupo social mais importante nos 89 anos de governo. Agitando bandeiras negras, os soldados abássidas representavam os prejudicados e esquecidos não-árabes do império e aqueles que desejavam um governo mais baseada na essência islâmica.
Na batalha culminante de Zab, no início de 750, a força abássida esmagou completamente o exército omíada. O exército sírio foi efetivamente destruído e deixou de existir. Os abássidas foram capazes de marchar para capturar a capital omíada, e oberam assim o controle de Damasco, de forma relativamente pacífica.
O último califa omíada, Marwan II, fugiu para o Egito, onde foi encontrado por agentes abássidas e executado. No caos da transição, os abássidas conseguiram reunir quase todos os membros da família omíada e executá-los nos anos posteriores a 750, exceto por um homem jovem, Abd al-Rahman. Fugindo dos exércitos abássidas durante sua adolescência, ele conseguiu fugir para a al-Andalus – a Península Ibérica – e estabelecer um novo governo Omíada lá, onde ele duraria até 1031.
Após a revolução, os abássidas conseguiram criar uma sociedade islâmica mais equitativa, como haviam prometido, mas não cumpriram com todas as esperanças que vieram junto com a derrubada dos Omíadas. A partir de sua nova capital, em Bagdá, os abássidas estabeleceram uma dinastia muito parecido com os omíadas que governavam antes deles. Apesar de dar a não-árabes um papel mais igualitária na sociedade, os abássidas não honraram suas promessas vagas de reaplicar um governo de essência com nos primeiros dias do califado, numa sociedade quase utópica. Como os omíadas, e cada dinastia na história islâmica, houveram aspectos positivos e negativos.
Ao estudar a história islâmica, é importante evitar a pintar qualquer grupo como 100% bom ou 100% ruim. Com exceção do Profeta ﷺ e seus companheiros, quase todas as figuras históricas, movimentos, e impérios tem boas e más qualidades. Ao aplicar este entendimento aos Omíadas e Abássidas, podemos apreciar as conquistas e ideais elevados de ambos, enquanto ainda o entendimento de que ambos eram governos humanos, e como humanos, tiveram suas falhas.
Fonte: https://lostislamichistory.com/the-abbasid-revolution/
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