Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso
O Islam nos ensina a sermos misericordiosos com toda a criação, mesmo com aqueles que se opõem ao Islam e adoram ídolos. O Islam apenas permite a guerra em legítima defesa e evita a injustiça, e uma das circunstâncias infelizes da guerra é o aprisionamento de membros das forças inimigas. Mesmo assim, o Islam nos chama para tratar esses prisioneiros com misericórdia e dignidade.
Como regra geral, Allah ordenou que os crentes alimentassem bem os prisioneiros, à ponto de preferi-los a nós mesmos.
Allah disse:
وَيُطْعِمُونَ الطَّعَامَ عَلَىٰ حُبِّهِ مِسْكِينًا وَيَتِيمًا وَأَسِيرًا إِنَّمَا نُطْعِمُكُمْ لِوَجْهِ اللَّهِ لَا نُرِيدُ مِنكُمْ جَزَاءً وَلَا شُكُورًا
E porque, por amor a Ele, alimentam o necessitado, o órfão e o cativo. (Dizendo): Certamente vos alimentamos por amor à Allah; não vos exigimos recompensa, nem gratidão. (76:08-09)
Ibn Kathir explicou este versículo, escrevendo:
وَقَالَ ابْنُ عَبَّاسٍ كَانَ أُسَرَاؤُهُمْ يَوْمَئِذٍ مُشْرِكِينَ وَيَشْهَدُ لِهَذَا أَنَّ رَسُولَ اللَّهِ صَلَّى اللَّهُ عَلَيْهِ وَسَلَّمَ أَمَرَ أَصْحَابَهُ يَوْمَ بَدْرٍ أَنْ يُكْرِمُوا الْأُسَارَى فَكَانُوا يُقَدِّمُونَهُمْ عَلَى أَنْفُسِهِمْ عِنْدَ الْغَدَاءِ وَهَكَذَا قَالَ سَعِيدُ بْنُ جُبَيْرٍ وَعَطَاءٌ وَالْحَسَنُ وَقَتَادَةُ وَقَدْ وَصَّى رَسُولُ اللَّهِ صَلَّى اللَّهُ عَلَيْهِ وَسَلَّمَ بِالْإِحْسَانِ إِلَى الْأَرِقَّاءِ فِي غَيْرِمَا حَدِيثٍ حَتَّى إِنَّهُ كَانَ آخِرَ مَا أَوْصَى أَنْ جَعَلَ يَقُولُ الصَّلَاةَ وَمَا مَلَكَتْ أَيْمَانُكُمْ
Ibn Abbas disse: Seus cativos naquele dia eram idólatras. A evidência disso é que o Mensageiro de Allah, ﷺ, ordenou que seus companheiros fossem generosos com os prisioneiros na Batalha de Badr e eles dariam preferência à eles nas refeições em vez de si mesmos. Isso foi relatado por Said ibn Jubair, Ata’, Al Hasan e Qatadah. O Mensageiro de Allah havia ordenado um bom tratamento para os cativos em mais de uma narração, com tanta frequência que uma das últimas coisas que ele disse foi: Guarde a oração e aqueles que sua mão direita possui.
Fonte: Tafseer Ibn Kathir – 76:08
Assim, o Profeta, ﷺ, atribuiu grande importância ao bom tratamento dos prisioneiros, repetindo esse comando com frequência e fazendo dele uma de suas últimas instruções.
Durante a batalha de Badr, os muçulmanos capturaram vários combatentes inimigos da tribo Quraish, que foram bem tratados, de modo que alguns deles finalmente se converteram ao Islam.
Abu Aziz ibn Omair, رضي الله عنه, relatou:
كنت في الأسارى يوم بدر فقال رسول الله صلى الله عليه وسلم استوصوا بالأسارى خيرا وكنت في نفر من الأنصار وكانوا إذا قدموا غداءهم وعشاءهم أكلوا التمر وأطعموني الخبز بوصية رسول الله صلى الله عليه وسلم إياهم
Eu estava entre os prisioneiros de guerra da Batalha de Badr. O Mensageiro de Allah, ﷺ, disse: “Eu ordeno que você trate bem os cativos.” Depois de aceitar o Islam, eu estava entre os Ansar e, quando chegasse a hora do almoço ou do jantar, alimentaria os prisioneiros com tâmaras e pão como eu havia sido alimentado, devido ao comando do Profeta.
Fonte: Mu’jam Al Kabeer – 18444
Esses prisioneiros de guerra se tornariam servos, pois essa era única maneira legal de adquirir escravos no Islam. Em contraste à isso, a libertação de escravos se tornou uma grande virtude e um meio de entrar no Paraíso.
Allah disse:
فَلَا اقْتَحَمَ الْعَقَبَةَ وَمَا أَدْرَاكَ مَا الْعَقَبَةُ فَكُّ رَقَبَةٍ
Porventura, ele tentou vencer as vicissitudes? E o que te fará entender o que é vencer as vicissitudes? É libertar um cativo (90:11-13)
Abu Musa Al Ashari, رضي الله عنه, relatou: O Mensageiro de Allah, ﷺ, disse:
أَطْعِمُوا الْجَائِعَ وَعُودُوا الْمَرِيضَ وَفُكُّوا الْعَانِيَ
Alimente os famintos, visite os doentes e liberte os cativos.
Fonte: Sahih Bukhari 5058
Além disso, o Profeta nos alertou que o mau tratamento aos escravos é um meio de entrar no Fogo do Inferno.
Abu Bakr, رضي الله عنه, relatou: O Mensageiro de Allah, ﷺ, disse:
لَا يَدْخُلُ الْجَنَّةَ سَيِّئُ الْمَلَكَةِ
Não entrará no Paraíso aquele que é mau para seus escravos.
Fonte: Musnad Ahmad – 32
Esses ensinamentos acabariam levando à abolição da escravatura em terras muçulmanas.
Portanto, a atitude geral do Islam em relação aos prisioneiros de guerra é que eles devem ser tratados com misericórdia, dignidade, alimentados e vestidos adequadamente, e libertados se sua liberdade não levar a mais insegurança.
No entanto, há momentos em que a necessidade de justiça exige uma exceção à regra. Esse foi o caso de alguns prisioneiros da Batalha de Badr.
Omar ibn Al Khattab, رضي الله عنه, relatou: O Mensageiro de Allah, ﷺ, disse à Abu Bakr e mim no dia de Badr:
مَا تَرَوْنَ فِي هَؤُلاَءِ الأُسَارَى
Qual a sua opinião sobre esses cativos?
Abu Bakr disse: “Eles são nossos parentes e familiares. Eu acho que você deveria liberá-los depois de receber um resgate. Isso será uma fonte de força para nós contra os incrédulos e Allah poderá guiá-los ao Islam.” Então, o Profeta me disse:
مَا تَرَى يَا ابْنَ الْخَطَّابِ
Qual a sua opinião, ó filho de Khattab?
Eu disse: “Ó Mensageiro de Allah, não tenho a mesma opinião que Abu Bakr. Eu acho que você deveria entregá-los para nós, para que possamos atingir seus pescoços. Entregue Aqeel à Ali, para que ele possa golpear seu pescoço, e entregue outro para mim, para que eu possa golpear seu pescoço. Eles são líderes dos incrédulos e de seus veteranos”.
O Profeta aprovou a opinião de Abu Bakr e desaprovou o que eu disse.
No dia seguinte, quando cheguei ao Profeta, encontrei ele e Abu Bakr sentados e chorando. Eu disse: “Ó Mensageiro de Allah, por que você e seu companheiro choram? Diga-me, pois vou chorar com você e, se não, pelo menos fingirei chorar.”
O Profeta disse:
أَبْكِي لِلَّذِي عَرَضَ عَلَىَّ أَصْحَابُكَ مِنْ أَخْذِهِمُ الْفِدَاءَ لَقَدْ عُرِضَ عَلَىَّ عَذَابُهُمْ أَدْنَى مِنه
Choro pelo que aconteceu com seus companheiros por receber resgate. Foi-me mostrado o castigo a que foram submetidos. Foi trazido para mim tão perto quanto esta árvore.
O Profeta apontou para uma árvore perto dele. Então Allah revelou o verso:
مَا كَانَ لِنَبِيٍّ أَن يَكُونَ لَهُ أَسْرَىٰ حَتَّىٰ يُثْخِنَ فِي الْأَرْضِ ۚ تُرِيدُونَ عَرَضَ الدُّنْيَا وَاللَّهُ يُرِيدُ الْآخِرَةَ وَاللَّهُ عَزِيزٌ حَكِيمٌ
Deus tem-vos aliviado o peso do fardo, porque sabe que há um ponto débil em vós (08:67)
Fonte: Sahih Muslim – 1763
Vimos como o Profeta ordenou o bom tratamento dos prisioneiros no dia de Badr, mas esse incidente nos informa que alguns desses prisioneiros eram criminosos perigosos que deveriam ter sido executados por uma questão de justiça. Podemos derivar os seguintes pontos desta história:
Primeiro, o Profeta preferiu a opinião de Abu Bakr, que favoreceu o perdão e a misericórdia, indicando que esta é a regra geral no Islam.
Segundo, a razão pela qual esses poucos prisioneiros deveriam ter sido executados foi como Omar disse: “Eles são os líderes dos incrédulos e seus veteranos.” Esses homens eram líderes do exército inimigo e criminosos de guerra. Resgatá-los no momento em que o conflito estava em seu clímax colocaria em risco a comunidade muçulmana.
Terceiro, alguns muçulmanos tinham a intenção de resgatar os prisioneiros por desejar o pagamento. Isso demonstra que não é permitido instigar uma guerra com o objetivo de adquirir escravos ou riqueza por meio de resgate e despojos. Isso fica claro na seguinte narração:
Abu Huraira, رضي الله عنه, relatou: Um homem disse: “Ó Mensageiro de Allah, um homem pretende lutar por Allah e ele está buscando ganhos mundanos.” O Mensageiro de Allah, ﷺ, disse:
لَا أَجْرَ لَهُ
Não há recompensa para ele.
As pessoas acharam isso muito difícil e disseram: “Volte ao Mensageiro de Allah, pois talvez ele não tenha entendido você.” O homem voltou e disse: “Ó Mensageiro de Allah, um homem pretende lutar por causa de Allah e ele está buscando ganhos mundanos.” O Mensageiro de Allah disse:
لَا أَجْرَ لَهُ
Não há recompensa para ele.
Então ele voltou pela terceira vez e o Mensageiro de Allah disse:
لَا أَجْرَ لَهُ
Não há recompensa para ele.
Fonte: Musnad Ahmad – 7840
Por fim, devemos entender que essa exceção se aplica apenas às circunstâncias em que foi especificada e não anula a regra geral. Usar essa história para justificar aspereza e crueldade em relação aos prisioneiros em geral não é consistente com a totalidade da revelação divina.
O sucesso vem de Allah, e Allah sabe melhor.
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