O islã foi introduzido na parte sudoeste do subcontinente, à costa de Malabar, através do comércio. Foi introduzido na parte noroeste, Sindh e Multan, através de um acidente histórico.
A conquista de Sindh, localizada no Paquistão, aconteceu por etapas. Durante o califado de Omar ibn al Khattab (579 – 644 d.C) (r), os exércitos muçulmanos se aproximaram da costa de Makran, mas Omar (r) retirou-as em resposta a relatos que ouvira sobre a dificuldade no território e sobre sua inospitalidade. Emir Muawiya (661 – 680 d.C) subjugou o leste do Afeganistão e as áreas da fronteira à noroeste. No entanto, não foi até o reinado de Walid I (705-713) que muito do que é hoje o Paquistão incorreu sob o domínio muçulmano.
Desde os tempos pré-islâmicos, houve um forte comércio entre a costa leste da Península Arábica e a costa ocidental da Índia e do Sri Lanka. Navios atravessaram as monções do leste para a costa de Malabar e Sri Lanka para pegar especiarias e voltar para casa andando atravessando as monções ocidentais. As especiarias estavam em grande demanda em toda a Ásia Ocidental, Norte da África e Europa do Sul e as transações eram extremamente lucrativas. Este comércio continuou a prosperar e expandir-se com o advento do domínio muçulmano na Ásia Ocidental e no norte da África. Foi através destes comerciantes que o islã foi introduzido pela primeira vez em Kerala, no sudoeste da Índia e no Sri Lanka, localizado perto da borda da Índia.
Sindh era notória para piratas naqueles tempos. Esses piratas tramavam emboscadas para navios mercantes na costa de Sindh e os atacavam intentando saqueá-los. No fatídico ano 707, esses piratas atacaram um dos navios mercantes muçulmanos navegando de volta do Sri Lanka para o Golfo Pérsico. Os homens, mulheres e crianças a bordo do navio foram capturados e levados para Sindh, onde o Raja os aprisionou.
Hajjaj bin Yusuf Saqafi (661 – 714 d.C) foi o governante Omíada do Iraque. Quando os relatórios chegaram a ele sobre este incidente, ele escreveu para Raja Dahir exigindo que os cativos fossem libertos e os piratas responsáveis, punidos. Dahir recusou. Essa recusa preparou o cenário para o início das hostilidades. Era responsabilidade do califado proteger seus cidadãos e lutar contra a injustiça, independentemente de onde ela viesse. Hajjaj bin Yusuf teve essa responsabilidade como governante representante do califa. Ele enviou uma expedição sob Ubaidullah bin Binhan para libertar os prisioneiros, mas Ubaidullah foi derrotado e morto em combate pelas tropas do Raja.
Com a determinação de que as provocações recebessem uma resposta apropriada, Hajjaj despachou um exército de 7.000 cavaleiros experientes sob Muhammed bin Qasim Saqafi (695 – 715 d.C). Muhammed bin Qasim era apenas um jovem de dezessete anos, porém um dos generais mais capazes da época. Prestando plena atenção a um minucioso planejamento, ele enviou tropas de investida fortemente preparadas e suprimentos militares por mar enquanto a cavalaria avançava por terra através do Baluchistão.
O sucesso de uma investida inesperada exige que as armas ofensivas sejam superiores às armas defensivas. Até o ano 700 d.C, os muçulmanos tinham melhorado os vários mecanismos de guerra que encontraram enquanto avançavam através da Pérsia, Bizâncio e Ásia Central. Um dos mecanismos de guerra foi a minjanique, uma catapulta que podia lançar pedras grandes em forças inimigas e fortificações. A catapulta, como arma de guerra, estava em uso na China já no século IV. Os engenheiros muçulmanos fizeram duas melhorias específicas no design chinês. Primeiro, eles adicionaram um contrapeso a uma extremidade do cantilever (trave ou qualquer estrutura semelhante que se projeta para fora), de modo a aproveitar a energia potencial do contrapeso à medida que a catapulta fosse acionada. Em segundo lugar, eles montaram todo o mecanismo sobre rodas de modo que a reação lateral do tiro não reduzisse o alcance do maquinário. Os minjaniques podiam projetar pedras arredondadas pesando mais de duzentas libras em distâncias superiores a trezentos metros. A persistente pulsação de pedras tão grandes podia derrubar as paredes mais duras dos fortes existentes à época.
Depois de capturar Panjgore e Armabel, Muhammed bin Qasim avançou em direção ao porto de Debal, que estava localizado perto da moderna cidade de Karachi. O Raja de Debal fechou os porticos da cidade e um longo cerco se seguiu. Mais uma vez, os meios para a guerra ofensiva provaram ser mais eficientes do que os mecanismos para defesa, permitindo que os exércitos árabes continuassem seu avanço global para a centralização militar e política. Tal como era o padrão com conquistas árabes, os minjaniques lançavam projéteis pesados nos fortes e derrubavam suas paredes. Depois de um mês, Debal caiu. O governador local fugiu e os prisioneiros muçulmanos que haviam sido mantidos lá foram libertos.
De Debal, Muhammed bin Qasim continuou seu avanço para o norte e para o oriente. Todo o Baluchistão e Sindh caíram, incluindo Sistan, Bahraj, Kutch, Arore, Kairej e Jior. Raja Dahir foi morto na Batalha de Jior. Um de seus filhos, Jai Singh resistiu a Muhammed bin Qasim na Batalha de Brahabad, mas ele também foi derrotado e acabou fugindo. Muhammed bin Qasim fundou uma nova cidade perto da atual cidade de Karachi, onde construiu uma mesquita e avançou para o norte até o oeste de Punjab. Multan era seu alvo. Gour Singh era o Raja de Multan. Seu grande exército foi reforçado por contingentes de rajas vizinhos. Os indianos se destacaram em guerra estática com elefantes blindados e soldados de infantaria, mas estes não foram adversários à altura contra uma cavalaria veloz e feroz. Percebendo a vantagem da cavalaria de Muhammed bin Qasim na guerra em movimento, o Raja se trancou no forte de Multan. Um cerco se seguiu. Mais uma vez, a tecnologia de minjaniques mostrou-se decisiva. As máquinas pesadas destruíram o forte e o raja se rendeu. Multan foi adicionado ao império árabe no ano 713.
A conquista de Sindh trouxe a civilização islâmica face-a-face com a antiga civilização védica das planícies indo-gangéticas. Em séculos posteriores, havia muito tempo se passado desde que os estudiosos muçulmanos aprenderam da índia – matemática, astronomia, fusão de metais; para citar apenas alguns exemplos. Intelectuais muçulmanos centraram-se mais na interação entre o Islã e o ocidente que a interação entre a civilização islâmica e o Oriente; algo surpreendente considerando que até o século XVIII, pouco havia que poderia ser oferecido pelo Ocidente à mais avançada civilização islâmica. O fluxo de conhecimento era quase sempre do Islã para o ocidente. Em contraste, os muçulmanos aprenderam muito com a Índia.
Logo, as fronteiras do Império Omíada se estenderam às fronteiras da China e os muçulmanos adquiriram muitas tecnologias avançadas dos chineses, incluindo o processamento e fabricação de seda, porcelana, papel e pólvora. O próprio Profeta disse: “Busquem conhecimento mesmo que este esteja tão distante quando está a China”. A adição do que é hoje o Paquistão consolidou um império que se estende dos Pirineus ao Indo e ao deserto de Gobi. Este enorme império agora estava esfregando os cotovelos com as antigas civilizações da Índia e da China. A partir deste ponto de vista, os muçulmanos estavam em uma ótima posição para absorver, transformar e desenvolver conhecimento da Pérsia, da Grécia, da Índia e da China.
Muhammed bin Qasim estava ansioso para continuar seu avanço no norte e leste do Punjab, mas os eventos na distante Damasco ultrapassaram os acontecimentos no Paquistão. O califa Walid morreu em 713. Na turbulência política que se seguiu, Muhammed bin Qasim foi convocado de volta ao Iraque, assim como Musa bin Nusair (640 – 716 d.C) foi convocado da Espanha quase a mesma época.
Após a morte do califa Walid I, o fim de Muhammed bin Qasim foi ainda mais trágico que o de Musa bin Nusair. Muhammed bin Qasim era sobrinho de Hajjaj bin Yusuf, também conhecido como Hajjaj o Cruel, o governador do Iraque. O novo califa Sulaiman teve uma aversão pessoal contra Hajjaj, mas Hajjaj morreu antes que Sulaiman pudesse puni-lo. Então, Sulaiman voltou-se contra os parentes de Hajjaj. Muhammed bin Qasim foi demitido e enviado de volta ao Iraque. O novo governador do Iraque, Saleh bin Abdur Rahman, odiava Hajjaj porque este último havia matado seu irmão. Mas desde que Hajjaj morreu, Saleh também se voltou contra os familiares de Hajjaj. Muhammed bin Qasim foi preso e enviado à prisão sem culpa, a não ser a de ser sobrinho de Hajjaj. Na prisão, Muhammed bin Qasim foi cegado, torturado e morto. Assim terminou a vida de dois dos mais brilhantes generais do século VIII.
Os destinos de Musa bin Nusair e Muhammed bin Qasim são uma lição de importância histórica. Com a ascensão de Muawiya, a legitimidade do governo não era mais por consentimento das massas; mas pela força. Sultão após sultão surgiram e estabeleceram-se em virtude de herança de soldados-conquistadores. Quando um governante era competente e justo, como aconteceu com Omar bin Abdul Aziz (682 – 720 d.C), as pessoas comuns gozavam de algumas liberdades. Quando ele era um tirano, como aconteceu com Sulaiman bin Abdul Malik (674 – 717d.C), as pessoas sofriam.
Desde o período dos quatro primeiras Califas, os muçulmanos não mostraram capacidade institucional para evoluir e nutrir sua liderança política entre as massas. Quando o corpo político lança seu primeiro escalão de liderança, a tendência foi destruir essa liderança, a menos que o líder sobrevivesse através de manobras astutas ou imposições implacáveis. Essa incapacidade de cultivar e nutrir a liderança política de baixo para cima definiu os limites do poder muçulmano e, em um sentido mais amplo, as conquistas da civilização islâmica. A sobrevivência de potenciais líderes sempre dependia dos caprichos do déspota no topo ou de seus amigos políticos locais.
Uma segunda lição das mortes trágicas desses dois generais destacados é que a dialética interna do mundo islâmico definiu os limites do seu alcance. Tendo completado a conquista da Espanha, Musa bin Zubair estava pronto para iniciar uma invasão à França quando foi chamado de volta. Ele poderia muito bem ter conseguido esse objetivo, porque ainda não havia um líder forte para resistir a um assalto determinado. Quando os muçulmanos se aventuraram no centro da França, a Gália encontrou um líder forte em Charles Martel e os muçulmanos foram forçados a dar meia volta na Batalha de Tours (737). Da mesma forma, Muhammed bin Qasim penetrou com sucesso nas defesas indianas na bacia do Rio Indus. Se houvesse ocorrido um sinal verde de Damasco e Kufa, ele poderia muito bem ter estendido os domínios do Califado nas planícies gangéticas. Mas isso não era para ser. Mohammed bin Qasim foi chamado de volta de Multan, de modo que ele se pudesse lançar uma grande investida para além do rio Indus. O norte da Índia permaneceu em mãos Rajaputes por algum tempo. Não foi até a vitória de Mohammed Ghori (1149 – 1206 d.C) na Batalha de Panipat (1191) que os muçulmanos capturaram Deli. Em ambos os casos, foi a turbulência interna no corpo político muçulmano que foi o fator determinante no impedimento do avanço muçulmano.
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