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Antissionismo é o mesmo que Antissemitismo?

O antissionismo não é uma luta contra uma etnia, cultura ou religião, mas sim contra a política de ocupação que Israel promove na Palestina.
  • O antissionismo é uma causa contrária ao sionismo, que por sua vez é a política de ocupação e expansão do território israelense na Palestina.
  • Antissemitismo, por sua vez, é uma expressão de intolerância ou ódio ao povo judeu.
  • O antissionismo pode, eventualmente, conter expressões antissemitas, mas não é necessário para a causa e nem é algo predominante entre os ativistas.
  • O sionismo não é o legítimo representante do povo judeu, sua história, cultura e religiosidade, portanto, ser contrário a isto não é uma forma de racismo.

Desde a segunda metade do século XX, um dos assuntos principais da geopolítica global é a questão do conflito que envolve Israel e a Palestina.

A discussão é pautada por vários pontos favoráveis e contrários a ambos os lados. Frequentemente, um dos argumentos que mais surge entre aqueles que apoiam Israel é que ser contra o estado sionista é o mesmo que ser antissemita.

Esta afirmação contrasta com cenas frequentes em que o militarizado estado israelense faz uso desproporcional de força contra a Palestina, que sequer possui exército.

A pouca resistência armada que os palestinos conseguem oferecer é através de grupos paramilitares, que não se comparam em absolutamente nada às Forças de Defesa de Israel.

Diante disso, igualar antissemitismo e antissionismo se torna para Israel uma forma conveniente de blindar a discussão, afinal, se o ativismo contra sionismo é fruto do ódio e da intolerância contra judeus, isso tira o país da posição de agressor e o coloca na condição de vítima.

Atualmente, a vida de milhões de pessoas é afetada diariamente pelos controles de movimentação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Além disso, a Palestina enfrenta sistemáticas agressões, bombardeios contra civis sem envolvimento com os conflitos, expulsão de pessoas de suas terras, enquanto os palestinos assistem à expansão do estado israelense sob seu território década após década.

O antissionismo é uma das poucas ferramentas que os palestinos têm ao seu alcance para exercer influência política e oferecer alguma resistência ao sionismo, por isso, é muito importante para Israel que esta causa seja enfraquecida.

O Que é Antissionismo?

O antissionismo é uma causa que luta contra o sionismo que, por sua vez, é a política de estabelecimento de um estado israelense no solo palestino.

Trata-se de uma causa heterogênea que não aponta apenas uma, mas várias possíveis soluções para o conflito entre Israel e Palestina.

Atualmente, uma das soluções defendidas mais comum, é o acordo de paz entre os dois países e o reconhecimento da soberania de ambos os estados.

No entanto, há muitos antissionistas que não acreditam em uma solução pacífica e defendem que a ocupação israelense deve ser totalmente expulsa e que o estado palestino seja totalmente restaurado na área que hoje pertence a Israel.

Em geral, uma pessoa pode se definir como antissionista apenas defendendo a soberania da Palestina e sendo contrária às políticas de controle e anexação do território palestino promovido por Israel.

Por que os Antissionistas são Contrários à Israel?

O muro da Cisjordânia é uma barreira que isola fiscamente o território palestino.

O atual estado de Israel é resultado de uma colonização feita por imigrantes judeus ao longo dos séculos XIX e XX. 

Eles eram, em sua maior parte, oriundos da Europa, e ocuparam terras pertencentes à população nativa, isto é, os palestinos.

Não é incomum vermos israelenses nascidos em países como Polônia, Estados Unidos, Alemanha, etc. enquanto os palestinos são oriundos de cidades de seu próprio país ou dos territórios ocupados, como Ramallah, Acre, Belém, Jerusalém, etc.

O estado israelense se consolidou por meio de diversos conflitos civis e através de guerras contra países vizinhos como o Egito, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque.

Atualmente, Israel ocupa os territórios palestinos de Jerusalém Oriental, Faixa de Gaza e Cisjordânia, além das colinas de Golã, que é oficialmente parte da Síria.

Por causa dessas ocupações, hoje cerca de 8 milhões de palestinos vivem no exílio segundo o levantamento da Palestinian Central Bureau of Statistics.

Este número supera até mesmo a população que vive na própria Palestina, que é de aproximadamente 5 milhões.

A população que vive nas terras ocupadas por Israel, enfrenta severas restrições. Entre elas podemos citar:

  • Assentamentos israelenses promovem a colonização da Cisjordânia, violando a lei internacional.
  • Há postos de controle israelenses espalhados por toda a Palestina restringindo a movimentação de palestinos e são uma violação ao direito de ir e vir.
  • Israel bloqueia estradas palestinas para induzir as pessoas a passarem pelos postos de controle.
  • Os palestinos não podem transitar dentro de seu país livremente e, para se locomover entre a Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém oriental livremente, é necessário ter justificativa, demandando um longo tempo de espera.
  • Apenas em casos raros os palestinos conseguem autorização para transitar dentro dos territórios, como em quadros médicos graves.
  • O tempo de espera afeta o abastecimento das cidades palestinas, causando o colapso da economia e gera níveis altíssimos de desemprego. 
  • Importações de produtos são limitadas e exportações são proibidas.
  • Israel não permite a operação de portos aéreos e marítimos na Palestina. Destruiu o aeroporto de Gaza em 2001 e um porto na mesma região em 2000, quando este ainda estava em construção.
  • Israel não reconhece casamentos inter-religiosos dentro de seu país e não concede cidadania ou residência para cidadãos palestinos casados com israelenses.
  • De acordo com o UN Watch, entre 2015 e 2022, a ONU aprovou 140 resoluções críticas contra Israel por causa do tratamento dado aos palestinos. No mesmo período, todos os outros países somaram apenas 68.

Antissionismo é Antissemita?

O antissionismo não é igual a antissemitismo. Os palestinos são um povo semítico que compartilham raízes e parte de sua genética com o povo judeu.

O que conhecemos hoje como Israel e Palestina era, na antiguidade, um território que em sua maior parte pertencia à Canaã.

De lá para cá, essas terras estiveram sob influência e controle de vários povos diferentes, incluindo os hebreus, babilônios, persas, helênicos, romanos, árabes, cruzados, mamelucos, otomanos, britânicos e, finalmente, entre israelenses e palestinos.

Todos esses povos deixaram uma marca histórica sobre este local, seja nas construções e, alguns, até mesmo na herança genética da atual população.

Um estudo da revista científica Cell realizado em 2020, mostrou que os árabes e judeus modernos que vivem ali possuem mais da metade do seu DNA herdado dos cananeus e outros povos que viveram ali naquele local.

Esses dois povos, portanto, possuem uma genética muito semelhante e partilham a mesma raiz semítica, ou seja, há uma grande relação de parentesco entre eles.

Isso significa que a maior parte das pessoas que vivem naquele local são autênticos descendentes dos habitantes originais daquela terra, ou seja, são herdeiros naturais de todo o território.

O Antissionismo é Racista?

O antissionismo é uma causa contra a política expansionista de Israel. Nem todos os judeus defendem o sionismo e nem todos os defensores do sionismo são judeus, portanto não é um problema racial.

Um movimento ou manifestação antissionista pode, eventualmente, assumir um tom racista, mas o ódio pelos judeus não é algo fundamental para a luta antissionista e esta sequer é uma palavra de ordem ou uma pauta importante para a causa.

Porém, uma postura contra o racismo é mais essencial para a causa antissionista do que outra preconceituosa, pois o drama que os palestinos enfrentam atualmente é em grande medida fruto do apagamento e do ódio por sua cultura e nacionalidade.

Não é necessário para ativismo antissionista questionar o direito à vida e a dignidade do povo judeu, mas lutar para que esses valores também sejam garantidos aos palestinos é algo fundamental para a causa.

O sionismo não é algo inerente ao povo e à religião judaica, mas sim uma ideologia política que surgiu somente no século XIX. Atualmente, existem expressões antissionistas que são autenticamente judaicas. 

Alguns judeus ortodoxos são contrários ao restabelecimento de Israel pois vêem isso como uma tentativa de apressar a volta do Messias antes do que Deus prescreveu, ou seja, um sacrilégio.

Há também grupos de judeus não-religiosos se manifestam contra a ocupação israelense, seja por não concordar com sua política ou por acreditarem que a melhor forma de enfrentar o antissemitismo é através da assimilação com a população dos países onde vivem.

Entre os grupos religiosos, diversos judeus hassídicos acreditam que a volta à terra prometida não deve ser feita através da intervenção humana, como é caso das dinastias de Satmar, Toldos Aharom, Toldos Avrohom Yitzchok, Dushinsky, Spinka e do grupo ativista Neturei Karta.

Já as associações de caráter secular que denunciam o estado israelense e suas constantes violações dos direitos humanos, podemos citar a Jewish Voice for Peace e a International Jewish Anti-Zionist Network.

Conclusão

O antissionismo é uma reação ao sionismo, que por sua vez é uma iniciativa colonialista e que há décadas está ocupando territórios palestinos e substituindo a população local por outra judaica e de origem predominantemente européia.

O sionismo não representa todos os judeus que existem, não é o mesmo que religião ou cultura hebraica, mas sim um projeto político com objetivo de dominação.

Há uma quantidade enorme de judeus que são antissionistas, e muitas figuras importantes para o sionismo não são judeus.

Portanto, antissionismo não é sinônimo de antissemitismo e ser contrário ao sionismo não equivale a ser racista.

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