O Islam não é uma religião para árabes e nem exige que abandonemos a nossa cultura para nos comportarmos como estranhos entre aqueles que nos conhecem.
Há aspectos da cultura árabe, persa, turca, etc. que não são compatíveis com o Islam, assim como há aspectos da cultura ocidental que são convergentes com a religião.
O Islam é mais assimilado pelos árabes devido aos vários séculos em que ele foi incorporado à cultura, no entanto, a religião não está restrita a um povo, e nem é inimiga de outro, isso inclui o ocidente moderno.
O termo "Urf" refere-se aos costumes e práticas locais que, embora não sejam expressamente mencionados nas fontes principais da jurisprudência islâmica (o Alcorão e a Sunna), podem ser considerados válidos e aplicáveis desde que não contradigam princípios islâmicos.
O Urf desempenha um papel importante na aplicação das normas e no desenvolvimento da Sharia ao longo do tempo, adaptando-se às diferentes culturas e contextos sociais.
É através da explicação deste termo que nós iremos entender o porquê o Islam é perfeitamente compatível com o ocidente, e porque nenhum muçulmano ocidental precisa abrir mão de sua cultura para aderir à religião.
O Urf, embora não seja explicitamente mencionado nas fontes sagradas islâmicas, já estava presente desde o período da revelação.
Muitos costumes e tradições dos árabes foram preservados após a revelação islâmica, pois não contrariavam a Sharia. Esses hábitos, entretanto, eram meramente culturais, sem mérito religioso em sua prática
Nós praticávamos coito interrompido durante a época do Profeta, enquanto o Alcorão ainda estava sendo revelado. Se houvesse algo errado com isso, o Alcorão o teria proibido." (Sahih Bukhari, 5207).
O Profeta Muhammad também se deparou com hábitos culturais que para ele eram repulsivos, mas que não contrariavam o Islam; portanto, não havia nenhum problema em continuar praticando-os.
"Foi trazido ao Profeta um prato contendo lagarto (dhabb) e ele estendeu a mão para pegá-lo. Foi-lhe dito que era carne de lagarto, e ele retirou sua mão. Khalid ibn al-Walid perguntou: 'Ó Mensageiro de Allah, é haram (proibido)?' Ele respondeu: 'Não, mas não está presente na terra do meu povo, e sinto aversão por ele.' Então Khalid pegou o lagarto e o comeu enquanto o Profeta olhava para ele." (Sahih Muslim, 1944).
Esses são apenas dois exemplos, mas a literatura do hadith está repleta de outros exemplos, como:
O Urf é algo estabelecido, pois muitas questões não são detalhadas de forma específica nas fontes islâmicas, e, por isso, podem ser realizadas de acordo com a cultura local.
O Islam estabelece princípios, mas não obriga ninguém a viver sob uma cultura estrangeira.
A aceitação do Urf como parte da jurisprudência é condicionada por alguns critérios. Em primeiro lugar, o costume deve estar de acordo com os princípios do Islam.
Ou seja, práticas que vão contra o Alcorão, a Sunna, ou outros preceitos jurídicos não são aceitas, por mais comuns que sejam em determinada sociedade. Além disso, o Urf deve ser amplamente reconhecido e praticado por uma comunidade para que seja relevante.
Há uma distinção entre o "Urf geral", que é aceito em uma vasta área geográfica ou por uma ampla população, e o "Urf específico", que é limitado a uma comunidade ou região particular.
O conceito de Urf também está ligado a princípios como a maslahah (bem-estar público) e a ijtihad (esforço intelectual para interpretar as fontes).
Ele permite que as leis islâmicas sejam aplicadas de maneira mais flexível, levando em consideração as particularidades locais, desde que as bases essenciais da fé sejam preservadas.
O uso do Urf é geralmente visto como uma forma de assegurar que a lei islâmica permaneça relevante e aplicável às circunstâncias mutáveis da vida cotidiana sem perder seu fundamento espiritual.
Assim, o Urf permite ao Islam manter uma relação dinâmica com a cultura e a sociedade, permitindo adaptações quando necessário, sem comprometer os princípios fundamentais da fé.
Através do conceito de Urf, o Islam demonstra sua capacidade de coexistir e prosperar em diferentes contextos culturais, incluindo as sociedades ocidentais modernas.
O Islam não exige que os muçulmanos descartem suas identidades culturais, mas fornece diretrizes para que a prática da religião possa ser integrada à vida cotidiana, mantendo-se em harmonia com o ambiente social e cultural.
O Alcorão, por exemplo, exorta os muçulmanos a adotarem práticas que promovam o bem comum, sugerindo que o Islam reconhece o valor de normas sociais justas:
"Perdoa o que é fácil (de perdoar), ordena o que é bom, e desvia-te dos ignorantes." (Alcorão, 7:199).
Aqui, a expressão "ordena o que é bom" pode ser interpretada como uma aprovação para a adoção de costumes locais que estejam alinhados com os valores islâmicos.
Essa abertura para o bom senso e a prática comum está na base do Urf, desde que as práticas locais não entrem em conflito com as disposições explícitas do Alcorão ou da Sunna.
A flexibilidade do Islam para aceitar os costumes locais pode ser vista na maneira como as questões sociais e culturais são tratadas. Nas palavras do Profeta Muhammad :
"O que os muçulmanos consideram bom é bom perante Allah, e o que eles consideram ruim é ruim perante Allah." (Sunan Ibn Majah, 2331).
Embora o Urf ofereça um meio de acomodar a diversidade cultural, é fundamental reconhecer que ele tem seus limites.
Costumes que contradizem as leis islâmicas essenciais, como práticas que violam os direitos humanos ou promovem a injustiça, não podem ser aceitos.
Isso é enfatizado no princípio islâmico de que o Alcorão e a Sunna têm precedência sobre os costumes locais.
O conceito de Urf demonstra claramente a flexibilidade do Islam em coexistir com diferentes culturas, incluindo a ocidental, sem comprometer seus princípios fundamentais.
Ao permitir que costumes locais sejam preservados, desde que estejam em conformidade com as diretrizes do Alcorão e da Sunna, o Islam não apenas se adapta, mas também se integra de maneira harmoniosa aos contextos sociais em que os muçulmanos vivem.
Isso reflete a natureza universal e inclusiva da religião, que não exige a adoção de uma cultura específica, mas sim o cumprimento de valores morais e espirituais.
Portanto, um muçulmano no Ocidente pode praticar sua fé plenamente, sem abrir mão de sua identidade cultural, demonstrando que o Islam não é inimigo da diversidade, mas, sim, um facilitador para que diferentes povos encontrem um caminho de fé em meio às suas tradições.
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