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O salafi que virou sufi – A Jornada de Omar James Dunlap

O texto abaixo relata a jornada de Ustadh ‘Omar James Dunlap, e foi extraído do seu blog, “The Lettered Wayfarer”, que não se encontra mais disponível na internet.

“Provavelmente, isto irá causar alguma controvérsia, então espero que meus leitores me perdoem se eu tentar amenizar, por assim dizer, esclarecendo o título do texto. Quero fazer isso porque, por um lado, eu gostaria de um título chamativo que pudesse chamar a atenção das pessoas, mas por outro lado, não quero que o artigo saia como uma diatribe ou seja apologético. O conjunto do que estou prestes a escrever, pode ser resumido desta forma: Se alguém quiser chamar a si mesmo ‘Salafi’, tudo bem; e se alguém se denomina ‘Sufi’, está bem do mesmo jeito. Os termos que eu quero explicar, primeiramente, são as próprias palavras, ‘Salafi’ e ‘Sufi’, e cada um tem duas defninições. A primeira sendo a que é percebida pelos seguidores, e a outra é aquela das pessoas que escolheram não serem conhecidas por tais classificações.

O Salafismo, de acordo com seus seguidores é o Islã “Puro”, de acordo como foi entendido pelo Profeta Muhammad (saas), seus seguidores imediatos, seus alunos, e os alunos dos seus alunos, ou seja, os Salaf Salihin, com pouca interpolação; uma tentativa de revitalizar a fé na forma de uma religão perfeita e livre de alterações modernas. O Salafismo,  segundo os não-Salafis, é uma seita puritana do Islã que se choca com a Ortodoxia Islâmica em alguns assuntos, e que tipicamente adere às opiniões mais radicais que possam ser decifradas. Igualmente, esta corrente particular do Islã é mais focada no aspecto externo da religião, similar ao Judaísmo Rabínico, em oposição ao aspecto interno e, pode ser ou não, a razão da existência de tantos muçulmanos fanáticos no mundo.

O Sufismo, de acordo com seus seguidores é a Ortodoxia Islâmica que, além de se basear no Alcorão, nos ditos do Profeta Muhammad (saas) e nos Salaf Salihin, também reconhece que as opiniões dos eruditos e sábios islâmicos dentro da tradição normativa, foram vastas e às vezes lenientes, e que, portanto, há espaço para todos dentro de certos parâmetros. Por outro lado, o aspecto interno do Islã não é negado, mas considerado como uma parte integral da religião juntamente com a shari’ah. O Sufismo, segundo os não-Sufis é um grupo de inovadores heréticos que fazem coisas estranhas, como dançar na mesquita, escutar instrumentos musicais, orar para santos, e se reunir em grupos de culto chamados de “tariqas”, nenhuma das quais não tem nada a ver com o Islã ‘puro’.

Portanto, já que estamos com os termos definidos segundo seus seguidores e seus detratores, vamos seguir adiante e ver como isto se relaciona à minha jornada pessoal. Quando eu me tornei muçulmano, 12 anos atrás, os outros muçulmanos na minha região eram uma minoria incrivelmente pequena, e se reuniam em um apartamento para fazer a Salat al jumuah (oração de sexta-feira). A comunidade era em sua maioria formada por jordanianos e sírios, com algumas outras etnias pingadas, e talvez nenhum outro revertido branco no final dos 30 anos. Não havia nenhum erudito local, nem imam, nenhuma figura central qualificada para falar, digamos assim, para guiar a comunidade corretamente, e isto significava que todo meu conhecimento naquele momento vinha de três fontes primárias: Qualquer coisa que eu aprendia com os muçulmanos leigos da minha comunidade; qualquer coisa lida nos livros e qualquer coisa lida online.

Agora, esta abordagem é problemática, porque, no que concerne à minha primeira fonte, muitos muçulmanos comuns em nossos dias são ignorantes em matéria de religião, e a extensão do seu conhecimento se resume ao que eles viram ser dito na TV por algum divulgador islâmico, ou o que eles ouviram sendo repetido nas mesquitas de seus países natais, frequentemente por Imames subqualificados e sem brillho, e por vezes, escolhidos pelo governo; ou ainda, eles se baseiam no conhecimento transmitido por seus pais que, possivelmente, eram ainda mais ignorantes do que eles em relação à religião. Já no que concerne à leitura de livros, existe o problema de que hoje em dia qualquer pessoa pode escrever um livro, e cada pessoa tem o seu próprio ponto de vista que tenta transmitir através dele, e sem uma base sólida, os novos muçulmanos podem acabar aceitando tudo sem questionar, somente porque o autor tem um nome árabe. E este problema também ocorre quando buscamos informação online.

Eu mal sabia que a maior parte do “Islã” que era apresentado para mim online nos primeiros anos de reversão, era em realidade, Salafismo. Atualmente este quadro mudou, mas era diferente nos primórdios da internet, com o financiamento dos petrodólares do movimento Salafi. Com a exceção talvez do Islam Online, os websites Salafi eram a cena dominante no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, frequentemente frutos de esforços individuais. Allaahu Akbar e Islam Web são grandes exemplos dos primeiros websites Salafi.

Da mesma maneira, a maior parte do que eu aprendia com os muçulmanos praticantes da minha região tinha orientação Salafi, embora estes muçulmanos em particular não se denominassem Salafis. E esta realmente é uma questão que precisa ser discutida. Eu acho que uma grande parte da ignorância do muçulmano moderno é que ele pensa, simplesmente, “Ei, Eu não tenho barba! Vou para o trabalho de terno e gravata! Eu não sou Salafi!” Na minha experiência, este pensamento é correto, por um lado, e no outr lado, é falso.  É verdadeiro no sentido de que eles não aprendem somente com os Salafis.

Eles podem, acidentalmente, ter cruzado com algumas palestras de Habib ‘Ali al Jiffri ou Imam Ramadan al Buwthi, ou talvez se envolveram com alguns irmãos Ikwani (Irmandade Muçulmana) e coisas do tipo. Mas o lado falso é que o pensamento Salafi dominou a mídia e a imprensa de quase todo o Oriente Médio devido aos petrodólares, e portanto eles estão influenciados pelo manhaj Salafi, consciente ou inconscientemente. Eu te garanto que nas ruas do Egito existem mais muçulmanos que sabem quem é Muhammad Hasan, o pregador Salafi que aparece no programa egípcio Rahma TV, do que quem é Salih al Ja’fari – embora este último tenha sido, por mais de quarenta anos, um grande sábio, diretor al Azhar e fundador da Tariqa Ja’fari no Egito. Portanto, mesmo que um muçulmano insista em dizer que não é Salafi, e ele não pareça Salafi, eu garanto que se você investigar suas crenças, irá descobrir que 75% ou mais, do seu pensamento é Salafi, mesmo que provavelmente ele não saiba disso.

 

Portanto, as coisas foram assim por um tempo. Eu suponho que o Islã fosse algo com 90% de concordância, e se apenas os Xiitas pulassem no vagão Sunita, a ummah seria unida. E, para ser honesto, por volta de 200 anos atrás, quando o movimento Salafi começou, este provavelmente era o caso. Mas as coisas não são mais como foram, e para tudo Allah (swt) tem um propósito.

Provavelmente, o primeiro sinal de alerta que me fez começar a pensar fora da caixa manhaj, foi uma discussão que eu travei com um jovem muçulmano. Ele provavelmente tinha 16 anos de idade e uma irredutível rejeição por um erudito medieval, um dos favoritos dos Salafis, chamado Sheikh Ibn Taymiyyah (ra). Sua questão era a respeito de um ponto que, até aquele momento, eu acreditava ser ponto pacífico entre os muçulmanos: ‘Aqidah (teologia islâmica). Ele disse que acreditava que o Sheikh Ibn Taymiyyah (ra) era antropomorfista, e que ele se afastou do pensamento islâmico traditional na questão de alguns dos Nomes e Atributos de Allah (swt). Influenciado sem saber pelo pensamento Salafi, eu defendi, da melhor forma que permitia minha habilidade limitada, o Sheikh Ibn Taymiyyah (ra) deste jovem muçulmano.

 

Mas aquilo me deixou um pouco curioso porque até então eu presumia que todos concordavam que o Sheikh Ibn Taymiyyah (ra) era o Sheikh al Islam, como os Salafis o chamavam. Sendo assim, ver um outro muçulmano que parecia não gostar dele era algo um pouco estranho, e me deixou pensando.

Agora, antes de prosseguir, Eu preciso dizer que, particularmente, eu não tenho nenhum problema com Sheikh Ibn Taymiyyah (ra), e eu encontrei algum benefício em seus ensinamentos e naqueles dos seus discípulos. Eu não sou de seguir modismos, e sinto que denunciá-lo, dizendo que ele não é sunita, mas sim um herege, e todas as outras calúnias que alguns Sufis reacionários lançam sobre ele,  é um pouco injusto. Até o Dr. ‘Umar Faruq ‘Abdullah, um Sufi bem conhecido que não esconde sua antipatia pela seita Salafi, disse que o Sheikh Ibn Taymiyyah (ra) é uma das maiores maravilhas da tradição islâmica. Eu penso que o que está em jogo, para os Sufis mais razoáveis, é o quanto queremos privilegiar um sábio sobre outros, e por que escolhemos  suas fatawa, e não aquelas escritas por sábios mais antigos e próximos das fontes da religião? Por que, quando há ikhtilaf, diferenças de opinião entre os sábios, precisa-se dar preferência às fatawa de Sheikh Ibn Taymiyya (ra)?

Depois disso, por vários anos foi relativamente tranquilo navegar nas águas Salafi. Eu repetia os slogans Salafis usuais: Mawlid é bid’ah, seguir uma madhhab não está na sunnah, wasilah é shirk, tariqa é bid’ah e assim por diante. E eu acho que parte disso foi devido a um pouco de privilégio branco que os revertidos caucasianos desfrutam nas mesquitas. Sempre nos dizem, “Os revertidos são sempre melhores do que os que nascem no Islã!”, o que nem sempre é verdade. E, aparentemente, em vez de algo bom, a comunidade islâmica de imigrantes preferem ter um complexo de inferioridade, depositando suas esperanças nos muçulmanos caucasianos revertidos, para que estes façam a mudança por eles. Então, eu estava me sentindo grande e poderoso, e eu havia encontrado um Islã que era livre de cultura, sectarianismo, e que era o caminho verdadeiro. E eu ia ensinar aos ignorantes que celebravam Mawlid, faziam bid’ah, aos muçulmanos imigrantes idólatras. Eu ia mostrar a eles a seita “salva”. Eu quero parar aqui por um instante, e discutir o que estava acontecendo com a minha família não-muçulmana na época da minha jornada.

Para o Salafi, mais do que nunca, o único relacionamento real que você pode ter com não-muçulmanos consiste em breves interações para fazer da’wah (evangelismo). Muitos dos Salafis mais radicais cortaram laços com seus familiares e amigos, frequentemente se referindo a eles como “kuffar”, que na minha opinião é o equivalente moderno de se chamar alguém de “infiel”, julgando-os pelo seu modo de vida não-islâmico, como se de repente todos devessem parar de comer carne de porco e consumir bebidas alcoólicas, somente porque eles encontraram a “verdade”, falando com eles como se fosse Sheikh Ahmed Deedat (ra) em seus debates no palco na década de 80. Em outras palavras, tratando-os com arrogância.

Eu não era diferente. Frequentemente eu ia à casa dos meus pais, não por amor e respeito filial, e nem com humildade como o Alcorão recomenda, mas com arrogância e raiva – a Bíblia em uma mão e o Alcorão na outra – pronto para provocar algum drama e mostrar a eles o quanto o Cristianismo era estúpido, e se eles não aceitassem a verdade … Bem, isso era problema deles, certo? Eu estava no caminho correto, um ‘Umar ibn al Khattab (ra) moderno, ou pelo menos era o que eu pensava. E eu estava pronto para despejar algum conhecimento sobre aqueles amigos e familiares desviados e ignorantes.

Surpresa, surpresa … Eles não se tornaram muçulmanos. Depois de um ano ou mais fazendo isso, os relacionamentos que eu tinha amargaram. Eu e minha mãe, que sempre fomos muito próximos, não éramos mais. E aquilo foi muito doloroso para mim, mesmo que eu não demonstrasse. Eu tinha que manter a minha estampa Salafi ativa. Depois de um tempo, havia cada vez menos fotos minhas na casa dos meus pais, e virtualmente nenhuma da minha esposa que se cobria com hijab. Nós não nos telefonávamos muito. Eu não parava para nenhum dos feriados deles, seculares ou religiosos. “Eu não vou celebrar nenhum feriado kafir!”, dizia. Eles não me deixavam fazer nenhuma das minhas orações diárias em sua casa. E mais tarde eu descobri que alguém da minha família, em reação a uma discussão sobre religião que travamos, tinha queimado no quintal um Alcorão dado por mim. Eu era mal. Os amigos não-muçulmanos que eu tinha antes da reversão tiveram uma reação semelhante. Eu imagino que eles tenham se cansado de serem julgados por mim toda hora que queriam tomar cerveja ou comer presunto e, antes que eu percebesse, já estavam zombando do Islã pelas minhas costas. E por um tempo pequeno, todos eles até pararam de falar comigo durante um verão, e eu tive que ir ainda mais longe somente para salvaguardar as já abaladas amizades.

A coisa importante aqui que eu quero que meus leitores percebam, é que estas pessoas que foram tão contra o Islã não são os caras maus. Eu não quero que ninguém saia com a impressão errada aqui. Eles reagiram negativamente a tentativas muito rigorosas de convertê-los, do nada, por um Salafi teimoso, ignorante e arrogante que eles, meses antes, conheciam e amavam. E eu acredito que esta história evidencia o problema com a abordagem da metodologia Salafi. E uma das razões pelas quais eu tive que, no final das contas, abaraçar o Sufismo, foi o Islã verdadeiro. Os elementos mais extremistas da ideologia Salafi, frequentemente rejeitam, por completo, a ciência da tadzikiyyah (purificação espiritual), que muitos sábios consideram apenas outra palavra para Sufismo. E aqueles grupos Salafis que não a abandonaram completamente, mas que também não a enfatizam. Eles provavelmente têm algum sábio da tadzikiyyah, o aluno do já mencionado Sheikh Ibn Taymiyyah (ra), Imam Ibn al Qayyim al Jawzi (ra), que tinha ele próprio algumas influências sufis. Além dele, eles podem apenas atirar juntos alguns arranhões aqui e ali da sua seleção de “sábios aceitos”, que podem já ter dito alguma coisa no terreno da purificação da alma.

Agora, para aqueles sem filiação, quando eu me refiro à purificação da alma, ou tadzkiyyah, estou me referindo à suava ciência da purificação do “eu” interior de todas as coisas pecaminosas que ofuscam Allah (swt) e a realidade do nosso lugar no mundo, limpando-nos da dúvida através do que Imam al Ghazali (ra), um grande teólogo sufi da escola Shafi, denominou conhecimento prático de Allah (swt). Não que os Sufis acreditam que literalmente Allah (swt) habita dentro de nós, apesar do que alguns Salafis clamam a nosso respeito por causa da nosso conceito de Unidade com Allah (swt), mas antes nós experienciamos o que só pode ser descrito como Proximidade ou Presença (Hadrah). É um conhecimento interno, o que Imam Malik (ra), um erudito dos Salafis históricos (as 3 primeiras gerações de muçulmanos), chamdou de Luz (Nur) no coração do crente. A ciência da tadzikiyyah é, em um sentido, um manual de como combater o ego, como foi codificado e organizado por cada sábio da tradição islâmica, a maior parte dos quais é agora criticada ou desmerecida pelo movimento Salafi. A tadzkiyyah lida com tópicos tais como: Como se livrar do orgulho, da inveja, como se dedicar somente a Allah (swt), como livrar-se do pessimismo, da ostentação, da derisão e, assim fazendo, eles trazem o indivíduo para um estado de Proximidade do Criador, e de harmonia com as obras do universo.

Portanto, esta é realmente a questão ou não? Estas coisas não formam o núcleo do objetivo da religião? E ainda assim, eu deixei escapar. Eu não sabia como combater o nafs (ego). Eu não sabia como lidar com meu orgulho, minha raiva por ter sido desviado por tantos anos, ou minha aversão pelos pecados que eu via a meu redor. Tudo o que eu sabia era que eu havia descoberto alguma pequena parcela da verdade, de que não havia nenhum deus além de Allah (swt) e que Muhammad (saas) era o Seu servo e mensageiro, mas eu não sabia o que fazer com aquela verdade. Eu ainda estava muito doente esprititualmente e nem sabia disso, e naturalmente não sabia nem que eu tinha que aprender alguma coisa sobre purificação espiritual. E isto porque muitos Salafis afirmam, como o famoso escritor e divulgador Salafi Jamal Zarabozo que, “conhecimento do tawhid purifica o coração”, não a tadzkiyya. Eu aceitava e tinha um bom conhecimento sólido sobre a Unicidade de Allah (swt), e mesmo assim eu continuava sendo arrogante, cheio de orgulho e raiva. julgando e arruinando relacionamentos a torto e a direito – apesar daquela afirmação Salafi.

Toda esta loucura sobre manhaj chegou ao limite quando, após oito anos e meio como Salafi, sem saber, e de repente me vendo abandonado sem família e amigos, eu decidi que o melhor para mim era fazer “hijrah” da “terra dos kuffar” e ir para o Dar al Islam, a “terra do Islã”, no meu caso, o Egito. Minha esposa e eu planejamos tudo em segredo. Naturalmente, eu tinha muitos inimigos naquela época. E então, após comprar as passagens e providenciar um apartamento temporário no Cairo, eu enviei um texto para todos os meus amigos e liguei para os meus pais, comunicando a todos que estaria no Egito em um mês. Eu honestamente esperava que a maiora deles fosse dizer algo como,, “Que bom”. Para minha surpresa, eles não fizeram isso. Na verdade, eles me pediram para ficar. Por alguma razão, eu me lembrei de uma discussão sobre religião que eu tive com meu melhor amigo, que era então um cristão nominal, cuja única resposta após todo o drama que nosso debate causou, foi postar uma foto minha, mais jovem e sem barba, da época da minha conclusão do nível médio, no seu MySpace, na época em aquele website era revelante.

E em baixo ele escreveu uma legenda que dizia apenas, “Sinto falta deste cara”. Eu mencionei isto somente porque as pessoas precisam entender como todos ao redor de mim se sentiam – como se um amigo querido tivesse morrido, e sido substituído por um facsimile arrogante que estava lá para tornar a vida deles infeliz. Eles queriam que eu ficasse nos Estados Unidos apenas por esperança de que “eu” voltaria, e este Salafi iria embora.

Entretanto, quem ficou mais preocupada ainda foi minha mãe, que havia me ligado apenas algumas semanas antes do nosso vôo partir. Seu pedido era que eu ficasse nos Estados Unidos logo se transformou em um debate religioso, que por sua vez se transformou numa discussao bastante acalorada. No curso desta discussão, eu apenas lembrava de duas coisas: Eu disse a ela para “tomar cuidado com o que você diz” porque eu “amo ele – o Profeta Muhammad (saas) – mais do que você” e “Eu ouvi – a mensagem do Evangelho – e a odiei!” Agora, pense a respeito disso da perspectiva uma mãe cristã sincera. Seu filho acabou de gritar com você que “odeia” o Evangelho. Agora, eu não quis dizer aquilo da mesma maneira que ela entendeu.

O que quis dizer foi, simplesmente, “Eu quero que você leve a sério minhas crenças religiosas!” e “Eu odeio os ensinamentos idólatras do Cristianismo moderno que eu sinto que eles se opõem à verdadeira mensagem de Cristo, que eu amo.” Mas uma mãe nervosa sendo gritada não ouviu isso. Ela ouviu: “Eu não te amo” e “Eu odeio Jesus”. O conversa terminou logo depois disso, e tudo o que eu pude ouvir foi seu choro através do telefone antes dela desligar na minha cara, algo que ela nunca fizera antes. Meu pai me ligou depois e disse para nunca mais falar com minha mãe, uma conversa que também se transformou em um debate religioso, mas, por sorte, me deu a oportunidade para esclarecer o que eu quis dizer e para pedir a ele que enviasse desculpas a minha mãe em meu nome.

E, obviamente, nada disto me deteve de ir para o Egito. Dois meses depois, eu estava no avião, para em breve trabalhar em tempo integral na da’wah Salafi em um canal “islâmico” de TV via satélite em língua inglesa. Mas alguma coisa aconteceu antes da minha viagem que, pela primeira vez, atraiu meu interesse sincero para o Sufismo e mudou minha vida.

Uma coisa a respeito dos ramos mais extremistas do movimento Salafi é que eles adoram difamar os eruditos sunitas não-Salafis sob o disfarce de “alertar a ummah contra o desvio”. Eles têm toda uma lista de Shuyukh “fora do manhaj” que, se você ouvir, provavelmente também irá em frente e se declarar um apóstada no que concerne a eles. Eles tentam desbancar os moderados que clamam pela unidade, tais como Ustadh Suhaib Webb, Imam Zaid Shakir e outros. E se você for um dos Sufis “que estão fora”, ou seja, um dos daqueles Sufis que declaram orgulhosamente seu Sufismo e o defende com provas textuais, você entra na lista dos dez “mais procurados”. Mais procurados como em, estes são os shuyukh que eles mais querem acusar de bid’ah pelas costas e fazer takfir. Aqui eu me refiro a Sufis bem conhecidos, como Sheikh Faraz Rabbani. Sheikh Nuh Ha Mim Keller, Habib ‘Ali al Jiffri e outros.

Por outro lado, ironicamente, o número um desta lista é um erudito islâmico que nunca afirmou ser Sufi. E, de fato, ele negou isto em várias palestras. Obviamente, estou falando do Sheikh Hamza Yusuf.

 

Eles são muito diretos em seus ataques a este homem, que estudou o Islã tradicional aqui e no exterior por mais de 30 anos em seis países islâmicos diferentes: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Argélia e Mauritânia. Agora, como isto se relaciona comigo é, basicamente, tão corrupto quanto eu era pela metodologia Salafi. Eu ainda estava aberto o suficiente para escutar os eruditos que estavam fora da pequena caixa dos “eruditos selecionados” por eles. Na realidade, seu eu precisasse de uma fatwa sobre um assunto pessoal, eu a buscava junto a um website saudita, mas assuntos mais gerais eu não via nenhum problema em flutuar fora dos parâmetros. Isto é particularmente correto no que concerne o Sheikh Hamza Yusuf, porque eu ouvi algumas das suas palestras antes sendo “advertido a não ouvi-lo” pelos Salafis, e então eu soube que, Salafi ou não, aquele homem definitivamente tinha algum conhecimento. Eu gostei especialmente do seu profundo conhecimento sobre a etimologia das palavras árabes e sua abordagem filosófica, o que atraiu a minha natureza investigativa.

Mas eu também não queria dar a impressão que eu era um Salafi que gastava todo seu tempo ouvindo às palestras do Sheikh Hamza Yusuf. Ele era apenas alguém que eu ouvia de tempos em tempos, aqui e ali. Eu não tinha nenhum dos seus livros e CD´s, nada deste tipo. O dinheiro da minha da’wah ia na maior parte para Anwar al Awlaki, Sheikh Ahmed Deedat (ra) e Dawud Adib, se você puder acreditar. Mas o fato dele ter sido fundamental para minha “conversão” ao Sufismo foi, alguns meses antes de partir para o Egito, porque eu estava imerso apenas no aspecto exterior da religião, como o fiqh, o aprendizado de como os “desviados” estavam errados, aprender sobre as punições legais islâmicas e por que elas eram melhores do que as leis do kufr; aprender a “oração do Profeta (saas)”, ou mais exatamente, o entendimento do erudito Salafi Nasr ad Din al Albani tinha dela. Eu percebi que eu nunca havia de fato internalizado a religão. Meu coração nunca sentiu paz ou proximidade com Allah (swt). Eu estava sempre no limite; sempre preocupado ou nervoso com alguma coisa; sempre nervoso com algum novo deslize percebido, ou ocupado julgando as pessoas. Não era fácil para eu evitar os pecados quando estava sozinho, mesmo embora no que dizia respeito aos outros, eu era um “bom” muçulmano que orava e jejuava. Aparentemente, para muitos muçulmanos modernos, isto é considerado “suficiente”, o que é uma maneira muito heterodoxa de pensar, islamicamente falando.

Em uma palavra, eu era infeliz e todos sabiam disso. Eu sabia. Meus pais sabiam. Meu amigos não-muçulmanos sabiam. Minha esposa sabia. Provavelmente as únicas pessoas que aparentemene não sabiam, por incrível que pareça, eram os Salafis. Para eles, simplesmente por fazer as cinco orações diárias, fazer da’wah e ouvir os sábios “corretos”, eu era um bom muçulmano e naturalmente precisava ser feliz, certo? Mas eu não era feliz. Verdade seja dita, eu ficava deprimido e chateado a maior parte do tempo, e o restante eu era um hipócrita. Eu sentia que estava fingindo. As dificuldades começaram a despencar sobre mim, e as elas não pareciam testes, mas punições.  E eu comecei a suplicar a Allah (swt) das profundezas da minha alma. Em uma ocasião dessas, eu até pedi que “Se isto for tudo o que há neste mundo para mim”, ou seja, o estado material e espiritual no qual me encontrava, “então deixe-me morrer”. E eu comecei a chorar.

Mas Allah (swt) não me deixou morrer. Não, pelo contrário, uma vez tarde da noite, enquanto pesquisava na internet, eu encontrei um fórum que continha um dos livros do Sheikh Hamza Yusuf, ou mais exatamente, um livro de outro estudioso traduzido por ele para o inglês, resumido na forma de microlições para o Ramadan. O livro chamava-se Matsarat al Qulub, Purificação do Coração. Era um poema utilizado para fins educacionais, composto por um sábio Sufi da África Ocidental Imam Mawlud al Mauritani (ra). Dentro do poema havia uma lista 25 doenças espirituais que o autor sentia que eram as mais prevalecentes do seu tempo, e também haviam as formas para lutar contra elas e removê-las. Sheikh Hamza Yusuf, além da tradução, escreveu uma introdução à ciência da purificação e ainda um comentário a certas partes do texto.

A pessoa que preparou as lições tinha na realidade transcrito em um único post no fórum todas as vinte e cinco doenças espirituais que o Imam Mawlud (ra) havia categorizado. E conforme eu olhava o nome de cada uma dessas doenças, percebia alguma coisa profunda – eu tinha cada uma delas. Pela primeira vez em nove anos como muçulmano, eu finalmente descobria o motivo da minha infelicidade. Por que o Islã ainda não havia sido capaz de me livrar da minha hipocrisia, meus sentimentos de distância em relação a Allah (swt), minha ansiedade, raiva e depressão? Era como seu eu tivesse sido um homem doente que por nove anos se consultou com clínicos gerais, e finalmente eu havia conseguido um especialista renomado. Eu apenas fiquei sentado lá olhando a lista de doenças espirituais segundo o Imam Mawlud (ra), refletindo sobre elas uma por uma, e como elas faziam parte de mim: avareza; extravagância; ódio; iniquidade; amor pelo mundo; inveja; falsa modéstia e timidez para desafiar os erros; fantasias sobre coisas pecaminosas; medo da pobreza; ostentação; confianças em outras coisas além de Allah (swt); insatisfação com o Decreto Divino; busca da fama; falsas esperanças e confiança excessiva na Misericórdia de Allah (swt); pessimismo; vaidade; fraude e o desejo de esconder as faltas para benefício pessoal; raiva; descuido; rancor; jactância e arrogância; desagrado com a responsabilidade; antipatia pela morte; indiferença às bênçãos e escárnio das outras pessoas.

Agora, como eu disse, as lições foram resumidas online. Mas eu fiquei profundamente convicto. Imediatamente, comprei o livro para ter acesso ao texto completo e o li por inteiro em dois dias. Meus pensamentos iniciais foram, “Por que ninguém nunca me falou sobre isto?” Mas este era um pensamento evasivo. Meu próximo passo foi conseguir ainda mais informação sobre o assunto. Acabou descobrindo que o Sheikh Hamza Yusuf havia, na realidade, escrito este livro após uma série de lições sobre o Sheikh Mawlud (ra) nos anos 90. Devido aos pedido urgentes e insistentes, ele foi obrigado a colocar aquelas lições em forma de livro. Mas o livro não era suficiente para mim. No que me concerne, aquela foi uma experiência de mudar vidas, e eu queria cada mínimo detalhe que eu pudesse obter. Eu encontrei  e escutei gravações em áudio das lições que ele deu sobre o tema nos anos 90 . Foi a única vez na minha vida que me vi sentado diante de um computador escrevendo notas sobre uma palestra que havia ouvido online.

A verdadeira surpresa era que eu e minha esposa não tínhamos internet em nosso apartamento naquela época, mas estávamos profundamente envolvidos com uma mesquita local e tínhamos a chave do prédio. Eu saía do trabalho meia-noite, e normalmente ia direto para a mesquita, abria o escritório e ouvia as palestras pelo computador. E realmente, eu sentina como se aquilo fosse o Decreto de Allah Todo Poderoso, porque conforme eu comecei a internalizar a religião, com a ajuda do Imam Mawlud (ra) e Sheikh Hamza, eu também me vi querendo fazer mais. Com isto não quero dizer “mais estudo”, embora isto fizesse parte, mas atos adicionais de adoração, e que lugar melhor para praticá-los do que dentro da mesquita?

Então, durante os meses que antecederam o meu êxodo para o Egito, meu tempo consistia em ouvir o Sheikh Hamza Yusuf explicar sobre o Sufismo, e então ir para a mesquita para fazer orações voluntárias e Zikr (recordação de Allah). Eu menciono isto, porque, de acordo com os sábios, um sinal de que suas boas ações estão sendo aceitas por Allah (swt) é que elas levam a mais boas ações. Então, por nove anos, sem nenhum progresso espiritual, eu imagino o quanto estava realmente me beneficiando. Por outro lado, após simplesmente estudar uma pequena parte do Sufism; após ler o livro de um “desviado”; de repente os portões da adoração a Allah estavam abertos para mim. Foi só então que os sinais de que a minha adoração a Allah (swt) estava sendo aceita começaram a se manifestar. Mas a história não termina aqui. De uma maneira, isto é apenas o começo.

Eu ainda não me identificava como Sufi. Tudo o que eu podia dizer era que o meu respeito pelo Sufismo aumentou. Eu ainda deveria ir para o Egito. Eu ainda me encontraria, por volta de três meses, trabalhando para um canal de TV de da’wah Salafi, cercado por figuras e eruditos chave Salafis. E eu iria ver, ouvir e ler coisas que ao final me levaram não apenas a me afiliar ao Sufismo, mas a declarar esta afiliação abertamente, malgrado as consequências. E houve consequências. Antes da minha viagem ao Egito, eu tinha de alguma forma aprendido sobre o ofício da filmagem, já havia adquirido meu próprio equipamento e já estava decidido a dedicar minha vida a esta profissão se Allah (swt) assim Quisesse. Então, uma vez no Egito, procurei por algum canal de televisão islâmico em língua inglesa para que eu pudesse trabalhar, pois fiquei sabendo que havia muitos canais desse tipo lá. Pesquisei um pouco no Google, enviei emails falando sobre as minhas qualificações, e acabei obtendo uma resposta. Este canal em particular ainda encontra-se ativo, e apresentava muitos dos mais conhecidos pregadores e eruditos Salafis.

Nos primeiros meses, tudo correu normalmente no trabalho, e eu não tinha muito do que reclamar. Eu comecei a expandir meus horizontes no meu tempo livre, ouvindo cada vez mais a palestras de sábios e pregadores Sufis. Eu não havia jogado a da’wah Salafi pela janela, mas meu gosto nos livros e palestra tinha se tornado definitivamente mais eclético. Um resultado inegável disso foi que minha personalidade começou a mudar para a melhor. Eu me vi realizando todas as minhas orações diárias em congregação; fazia todo o tipo de zikr, e apenas no geral me sentia em paz. Um dia, lembro-me de estar saindo do escritório e um dos irmãos me seguir. Ele me chamou de lado e exclamou, “Sinto que tenho que te dizer, toda vez que te vejo, eu me sinto bem!” Sem dúvida o seu coração estava recebendo boas vibrações do meu coração, que estava sendo polido pela Recordação de Allah (swt).

Conforme o meu zikr aumentava, minha sede por ele crescia. Eu me vi querendo aprender mais e mais tipos de zikr e praticar mais e mais adorações.  E isto me levou a pesquisar online por várias formas de zikr Sufi, que eram frequentemente feitos em grupos, e algumas vezes cantados em uníssono. Sobre isso, eu estava em conflito. Não tinha sempre ouvido da seita “salva” que esta forma de zikr era bid’ah, uma inovação herética? Além do mais, eu não era Sufi. No melhor, eu era um Salafi com inclinações Sufi. Se eu começasse a dizer que isto era OK, então o gato estaria fora do saco, digamos assim. Ainda assim, não podia negar que quando eu assistia os vídeos de zikr, eu me sentia bem. Eu não sentia que aquilo era bid’ah.

Mas, eu também sabia que só os sentimentos não eram suficientes. Tinha que haver algum tipo de prova para aquilo antes que eu aceitasse. E, realmente, isto era o que sempre me impediu de ser um Sufi, por anos desde que eu comecei a me interessar pela prática e filosofia Sufi. Eu sempre pensei que seus rituais não tinham qualquer base na shari’ah. “Eles são exagerados na ‘ibadah, desviados e, em alguns casos, descrentes. Então, antes de aceitar aquilo, eu tinha que pesquisar.

É interessante que, naquele tempo, começaram a aparecer mais e mais websites Sufis e com inclinações Sufis, feitos por eruditos no campo, todos defendendo veementemente suas práticas contra os ataques do extremistas Salafis. Igualmente, alguns dos Sufis nos países muçulmanos começaram a utilizar o Youtube para divulgar suas opiniões. E então, havia o fato de que eu trabalhava com um irmão em particular que, apesar de se identificar como Salafi, tinha muitos amigos Sufis, alguns dos quais eram eruditos, e ele era, na realidade, justo em sua abordagem. Ele frequentemente me contava sobre os argumentos e defesas deles. E eu acho que ele fazia isso para ser um contrapeso para alguns dos Salafis linha dura que ele conhecia e com quem trabalhava, o que mostra que não podemos pintar todas as pessoas com o mesmo pincel, porque para ser honesto, não fosse por este irmão, não estou certo de que eu fosse alguma vez declarar abertamente o meu Sufismo.

De todo modo, através das suas respostas, e da minha própria pesquisa pessoal, comecei a descobrir que algumas das defesas de certas práticas Sufis criticadas, tinham mérito. Lembro-me muito claramente, que ele me mostrou que quase todos os ahadith que mencionam zikr, na verdade mencionam ele sendo feito em grupo. Por exemplo, no Sahih Bukhari, “… Há um grupo de anjos que percorrem a Terra e onde eles encontram qualquer grupo de pessoas fazendo zikr, eles chamam uns aos outros e formam ao redor deste grupo um círculo que toca os céus…” O círculo dos anjos descrito neste hadith é muito similar à forma como muitos sufis sentam quando fazer o zikr em grupo. Eles estão imitando a descrição narrada no zikr. Há também um hadith bem conhecido narrado por Mu’awiyah (ra) no Sahih Muslim, “Nos congregamos aqui para nos lembrar de Allah Ta’ala e para agradecê-LO por nos ter Guiado até o Islã e por ter nos Abençoado com ele.” Novamente, no Sahih Muslim, “Qualquer grupo de pessoas que se engajam no zikr de Allah, os anjos os envolvem e cascatas de Misericórdia descem sobre eles, a Tranquilidade descende sobre eles e Allah se lembra deles na presença daqueles que são por Ele.”

Pela primeira vez desde que me tornei muçulmano, lembro-me de sentir como se uma venda que estava posta sobre os meus olhos, tivesse acabado de ser removida. Senti que estava começando a ver as coisas claramente. Como isto pode ter sido chamado de bid’ah quando a maior parte dos ahadith que tratam do assunto, mencionam a prática do zikr sendo feita como os sufis a fazem, em congregação? Como não percebi isso em todos aqueles anos? Quero dizer, eu conhecia aqueles ahadith. Não era como se eu nunca tivesse ouvido sobre eles antes. Mas por alguma razão, era como se, não sei, nunca fez sentido. Era como se o verdadeiro significado estivesse escondido, e somente veio a ser propriamente explicado quando os Sufis explicaram. Então, e somente então, eu compreendi por inteiro porque meu coração rejeitava a sensação de que tais congregações de zikr fossem bid’ah.

Mas eu ainda trabalhava para um canal de TV que era totalmente Salafi, e uma ou duas questões não eram suficiente para me convencer que eu era um Sufi. Isto significava, no que me dizia respeito, eu concordava com os Sufis em algumas questões, mas eu continuava sendo “apenas muçulmano”. Eu também havia sempre rejeitado o título Salafi, embora minhas crenças fossem Salafi. Eu caí vítima da tendência do “Evite os rótulos! Sem seitas!”, que se tornou popular entre os muçulmanos, e que é, como veremos, um grande mal entendido entre nós que precisa ser corrigido. Entretanto, uma coisa significante surgiu disto: Eu comecei a reconhecer os Salafis pelos seus ensinamentos, e meu coração começou a se distanciar, mesmo que lentamente, da sua metodologia.

A minha confiança em suas doutrinas sofreu um grande golpe, ao contrário de antes quando eu simplesmente aceitava tudo o que um Salafi me ensinava sem questionar. E meu interesse no Sufismo ficou ainda mais perceptível. Eu realmente comecei a pesquisar suas alegações depois disso, porque eu queria ver outros concepções erradas que eu poderia ter ou não ter tido.

Outra coisa que aconteceu naquele momento foi que, um conhecido divulgador do Islã, evangelista, tinha visitado o set para fazer algumas apresentações para nós, e quando eu digo conhecido, eu quero dizer bem conhecido. Ele é o crème de la crème dos pregadores Salafis, e eu fiquei impressionado. Lembro-me de sentir que eu era muito abençoado porque alguns anos antes eu assistia aquele cara no YouTube e agora eu estava na mesma sala que ele fazendo um programa de televisão. Eu não podia esperar até tirar fotos com ele e carregá-las no meu Facebook, para eu mostrar para todos quem eu estava conhecendo no Egito. E havia uma bênção na visita dele a nós, mas não era a bênção que eu esperava. Quanto mais eu trabalhava com esse irmão, mais eu comecei a perceber que alguma coisa estava errada.

Ele parecia um pouco mais rude do que eu esperava. Ele é mais conhecido pela sua risada, brincadeiras com pessoas em vídeos do Youtube, e por contar piadas em suas entrevistas. Ele é a “cara feliz” da da’wah Salafi no Ocidente, embora alguns Salafis mais radicais também sejam contra ele. Além de ser rude, ele pedia muito das pessoas e fazia todo mundo se sentir inconfortável. Ele parecia ter algum tipo de problema de ego. Estava sempre falando sobre como ele era expert em Da’wah e que ele “realmente sabia como fazer isso”. Durante a filmagem de um programa em particular com um outro apresentador que nunca havia apresentado um programa antes, e estava provavelmente nervoso, o apresentador interjeitou seus próprios pensamentos na conversa, e esta pessoa parou o programa, olhou direto para ele e disse bem francamente, “Não me interrompa”. A sala ficou silenciosa e desajeitada, e eu lembro de ter pensado: “Qual inferno de problema esse cara tem?’’. Mas isto não era o pior. Lembro de uma ocasião, voltando para o vestuário onde todos se reuniam depois das apresentações, ele estava sentado lá rodeado por um grupo de admiradores, e ele contava uma história sobre o Sheikh Hamza Yusuf. Aparentemente, de como os dois haviam se encontrado algumas vezes, e de como ele era um Sufi, e como ele tinha, numa ocasião, dito que o termo árabe para cheio ou aroma vinha da mesma raiz que a palavra utilizada para médico, adicionando, “E não é isso o que a palavra significa!” Eu poderia dizer pela sua citação do Sheikh Hamza Yusuf que aquilo não era o que o Sheikh Hamza Yusuf quis dizer. Ele quis dizer que as duas palavras compartilhavam a mesma raiz triliteral, não que elas tinham o mesmo significado, mas esta pessoa em particular estava trabalhando muito duro, pareceu a mim, para ter um problema com o Sheikh Hamza. Ele também alegou que na faculdade do Sheikh Hamza é feito zikr em grupo, e então concluiu a história dizendo, “Eu queria socá-lo no nariz.”

Lembro-me de que durante a visita de duas semanas desta pessoa, eu o vi mais de uma vez contando esta mesma história para um grupo diferente de ouvintes atentos a cada vez. Comecei a notar,  por certas nuances e coisas que ele estava dizendo, que o ponto principal era que esta pessoa em particular foi para o Zaytuna Institute e se sentiu desprezado. Ele não recebeu atenção suficiente e agora contava esta história para todos que quisessem escutar. Parecia que ele não tinha nada melhor para fazer em seu tempo livre do que difamar o Sheikh Hamza Yusuf atrás de portas fechadas. E isto colocou um pouco em um dilema porque, por uma lado, eu não podia enfrentar o problema sozinho. Estava claro que as pessoas ao meu redor não iriam defender o Sheikh Hamza Yusuf, e esta pessoa era facilmente irritável e não tomaria meu conselho. A outra opção era ligar para o Sheikh Hamza Yusuf e arrumar aquela bagunça com uma conversa amigável. E ainda, eu quase sentia como se fosse meu dever defender o Sheikh Hamza Yusuf, porque era o trabalho dele e, além de tudo, ele havia mudado minha vida e me ajudado a ser um muçulmano melhor.

Finalmente, eu tomei coragem para dizer alguma coisa, mas aquele irmão não tocou mais no assunto, pelo menos não em nossa presença, e pouco depois ele deixou o Egito. Talvez isto tenha acontecido para o melhor. Mas tudo aquilo deixou um gosto ruim na minha boca. Lembro-me de pensar, este irmão obviamente tem uma doença do coração. Era meio irônico que o homem que ele difamava era o mesmo que podia ajudá-lo a superar seus problemas e encontrar a paz. Imagine, um cara Salafi utilizando um poema Sufi para diagnosticar um pregador Salafi com certas doenças espirituais que podiam ser curadas se ele estudasse sob o mesmo Sheikh que ele criticava. Recordemos que eu escrevi anteriormente, que havia uma bênção na vinda deste irmão em particular, embora não fosse uma bênção como eu imaginava. A verdadeira bênção era que, através da sua visita, eu havia finalmente colocado os extremistas Salafis sob o microscópio, e começado a ver algo muito importante sobre eles: Que eram um grupo de indivíduos espiritualmente doentes, criticando os mesmos médicos que poderiam curá-los.  Aquele era um pensamento profundo e perturbador. Mas eu não poderia negá-lo.

Eu quero dizer agora algo sobre o canal de TV islâmico via satélite, para o qual eu trabalhava, que não foi dito antes no meu post. Dgamos simplesmente que ao passo que sua aparência na televisão era Salafi, não obstante muitos dos seus funcionários não eram Salafis. Dois dos meus amigos mais próximos no departamento preparatório, ambos estudavam e seguiam uma madhhab específica na Universidade al Azhar. Os Salafis não acreditavam que seguir uma madhhab fosse uma necessidade, e um dos diretores dificilmente era um muçulmano praticante, pelo que observei. E então havia o irmão Salafi mencionado anteriormente, que tinha muitos amigos Sufis e frequentemente os defendia e explicava seus argumentos. E muitos dos Shuyukh Salafis, incluindo aquele do canal, era perfeitamente gentis e não pareciam ser extremistas. Eu me dava bem com todos eles e até me sentia bem na compania deles. Para minha surpresa, sob a minha insistência, eles me deixaram apresentar um programa baseado na tradução do livro do Imam Mawlud (ra) feita pelo Sheikh Hamza Yusuf, após lê-lo com atenção, é  claro.

Tudo isto é para crédito deles. Mas isto não me deteve de questões sérias que eu via em algumas das abordagens Salafis, e no mau comportamento e etiqueta de alguns deles, muitos dos quais eram muçulmanos Salafis por décadas. Claramente, apesar do fato de que muitos deles eram bons e de bom caráter, muitos evidentemente precisavam internalizar mais a religião, e eu não podia ignorar que a internalização da religião era o objetivo do Sufismo. E ainda, isto era o que eles criticavam mais veementemente. Isto é talvez o aspecto mais irônico, senão trágico, do movimento Salafi moderno. Eles estão se envenenando com debate, argumentação, refutação, calúnia, fofoca – os quais são claramente condenados nos ahadith – e precisam urgentemente de um remédio espiritual, mas o remédio se encontra no que eles passam o dia inteiro refutando.

E isto, eu acredito firmemente, será seu fim. Por isso eles não podem durar. O debate verborrágico, intolerância em matéra de doutrina e os petrodólares irão apenas levá-los tão longe, após o que seu movimento irá certamente começar a se esvaziar, assim que as pessoas verem o que ele é pelo seu objetivo mortal filosófico, espiritual e intelectual. Ele simplesmente não irá resistir diante de uma crescente presença Sufi online, seus argumentos expostos; nem eles serão capazes de estar à altura da moralidade suprema e completa que os verdadeiros Shuyukh do Sufismo exalam da sua personalidade, quando vistos em pessoa ou através de vídeos. A Nur, luz espiritual, nos rostos de homens como Sheikh Hamza, Dr. ‘Umar Abdullah, Habib ‘Ali al Jifri, e outros, é uma prova mais contundente do que qualquer hadith ou argumento tendencioso que um Salafi possa produzir. E conforme mais e mais pessoas têm seus corações tocados pelo poder regenerador do Sufismo, o argumento a favor dele e contra o Salafismo será ainda mais forte, até que o fogo crepitante do Salafismo seja reduzido a nada além de uma centelha de vela que, finalmente, se apagará com o tempo.

E isto é, talvez, a melhor transição para o que eu penso ser importante discutirmos nesta quinta parte da minha história, que é, como os argumentos do Sufismo finalmente começaram a me conquistar. Como isto aconteceu poucos depois dos incidentes com o pregador famoso que eu mencionei anteriormente, eu fiquei ainda mais motivado para pesquisar o Sufismo ainda mais. Conforme eu estudava, comecei a me envolver mais e mais com os Sufis e comunidades sufis online. Inicialmente, apenas para aprender sobre eles. Eu notei que as diferenças chave que separavam os sufis dos Neo-salafis, até onde eu podia dizer, repousavam nas seguintes áreas: ‘aqidah; taqlid; turuq; celebração do Mawlid an Nabi; o Status do Profeta Muhammad (saas) vida e na morte; wasilah; dança durante o zikr e mausoléus do awliya. Conforme eu pesquisava estes assuntos um por um, eu comecei a ver a verdade destas matérias, ao contrário de come haviam previamente me doutrinado. Levou aproximadamente dois anos de estudo de cada um destes assuntos, dando a cada um seu tempo devido e diligência, antes de eu poder entendê-los à luz da Ortodoxia Islâmica.

Meus estudos destes tópicos começaram enquanto eu ainda estava no Egito, duraram alguns meses lá, e continuaram até meu retorno aos Estados Unidos. Eu vivi no Egito por apenas um ano. Eu irei tratar de cada um deles brevemente, insha’Allah, na ordem do assunto mais simples de explicar até o mais difícil.

Primeiramente, alguns pontos sobre os mausoléus dos santos. O que se quer dizer é, simplesmente, a prática islâmica tradicional de construção de santuários sobre os túmulos de patronos santos do pensamento islâmico, e em muitos casos existem mesquitas construídas como um anexo a esses lugares. Os túmulos em si tipicamente se localizando em um cômodo separado. Isto é problemático para os Salafis que, em sua metodologia heterodoxa e seca, se baseiam somente nos textos, atsar, dos ditos do Profeta Muhammad (saas), em oposição à forma como os sábios islâmicos tradicionais entenderam estes textos. É verdade, como os Salafis alegam, que há muitos relatos autenticados do Profeta Muhammad (saas) proibindo construções sobre os túmulos, e mesmo em uma ocasião ele enviou um dos seus discípulos numa missão ao Iêmen, dando-lhe a responsabilidade adicional de destruir as estruturas construídas sobre os túmulos.

Aqueles eruditos famosos da tradição islâmica que tradicionalmente eram contra as estruturas construídas sobre túmulos, tais como: Imam an Nawawi (ra) e Imam ibn Hajr (ra), consideravam a prática makruh – um status legal que, apesar de ter uma conotação negativa, não proíbe completamente exceto em certas condiçõe. Um exemplo seria a construção de estruturas sobre um túmulo em um cemitério público. Esta é a visão estrita no pensamento islâmico normativo, e é o mashhur, opinião embasada, da escola Shafi de shari’ah. Entretanto, visões mais lenientes existem, tal como aquela do Imam al Ghazali (ra) que disse que os santuários dos santos aumentam a reverência das pessoas pelo conhecimento e aspiração espiritual. Talvez, o mais impressionante a este respeito seja o que o grande sábio do hadith Imam al Hakim (ra) disse depois de narrar ahadith que proibiam estes tipos de construções. “Os sábios não agiram segundo estes ahadith , porque os grandes sábios islâmicos – do Ocidente e do Oriente – tiveram estes tipos de construção feitos sobre seus túmulos, o que é uma coisa que foi passada de geração em geração.

Mas então, os Sufis não fazem danças loucas em suas reuniões de zikr? Depois de começar a pesquisar o assunto, eu cheguei à conclusão de que as danças sufi, chamadas raqs por muitos adeptos, são de dois tipos: um expressa o êxtase espiritual de forma moderada e tem muitas manifestações. Em geral, uma pessoa pode sorrir e mexer para frente e para tás, ocasionalmente para cima e para baixo, não de forma extrema, mas meramente como expressão de alegria, e isto tipicamente acontece após uma sessão de zikr coletivo.

Quanto à primeira forma de raqs, as provas textuais para ela são óbvias, e de vários graus de mérito. Primeiro, há o famoso relato no Sahih al Bukhari, no qual os Abissínios estavam dançando. A palavra usada nos mesmos ahadith no Musand Ahmad ibn Hanbal é “yarqasawun”, da mesma raiz árabe trilateral  de raqs, que significa “dançando”. E cantando, “Muhammadun ‘Abd as Swalih”. Isto aconteceu na presença do Profeta Muhammad (saas) e ele não os condenou, mas assistiu com júbilo. Mas talvez a prova mais qualificada é o hadith no Musnad Ahmad ibn Hanbal no qual o Profeta (saas) infrmou Zaid (ra) que ele era seu “mawlay”, homem livre, o que Zaid (ra), em alegria espiritual, começou a pular para cima e para baixo numa perna só, após o que Ja’far (ra) e ‘Ali (ra), que estavam presentes, começaram a imitá-lo e fazer o mesmo. Comentando sobre estes ahadith, o famoso e aceito mestre de hadith, Imam al Bayhaqi (ra), declarou, “Neste, há prova sahih para o saltitar, o que inclui se levantar e pular num estado de alegria, e também a dança similar a isto, o que também é permitido…” Isto está relatado no Sunan al Bayhaqi al Kubra.

Depois disto tinha o Mawlid, do qual eu não pretendo escrever muito, pois as provas para ele são exaustivas e fáceis de serem acessadas online. Entretanto, era uma questão para mim, porque provavelmente por uma década, eu havia repetido em cada oportunidade que o Mawlid era bid’a, e até me irritava quando eu via outros muçulmanos trocando saudações e felicitações neste dia. Eu fiquei chocado quando descobri que, na realidade, a maioria dos sábios sunitas ao longo da história permitiram a celebração do Mawlid, ou, pelo menos, ficaram silenciosos a respeito. Na realidade, existiram alguns ‘ulama, aqui e ali, que o proibiram como uma inovação, mas a maioria deles simplesmente não fizeram isso. No melhor, isto prova que a opinião mais forte é que a celebração do Mawlid faz parte do Islã Sunita, e de forma minima estabelece ikhtilaf, uma diferença de opinião entre os sábios, que automaticamente desqualifica a prática como sendo pecaminosa, e certamente não como uma bid’ah. Talvez os argumentos mais convincentes para mim foram os do grande sábio Sunita Imam as Suyuti (ra) que produziu várias provas de que o Profeta Muhammad (saas), na realidade, celebrava o Mawlid à sua própria maneira, em vida através do jejum e fazendo sua própria ‘aqiqah depois do wahy ter descendido sobre ele, embora seu avô já tivesse feito isso quando do seu nascimento, e ele ainda informava seus Companheiros de que era um dia de grade felicidade – tudo isto estabelecido nos ahadith e na sirah.

No que concerne a seguir uma madhhab, eu pretendo deixar de lado esta discussão complicada por enquanto. Para aqueles que desejam pesquisar o assunto, eu indico um blog anterior (previous blog) que escrevi sobre a questão, que, insha’Allah, irei atualizar com nova informação nos dias seguintes, e com mais respostas atualizadas.

Quanto à questão da wasilah, ou seja, a intercessão do Profeta Muhammad (saas), mesmo após sua morte, como eu pude compreender, Os Salafis questionam este ato em particular devido à incompreensão de alguns pontos chave.

Eles acreditam que o método autêntico de wasilah é pedir para o Profeta Muhammad (saas) orar para Allah (swt) por nós, sabendo plenamente que é Allah (swt) e não o Profeta (saas), que responde o nosso pedido. Para os muçulmanos Sunitas, isto não é um ato de shirk, mas uma ação que simplesmente tem o mesmo status, segudo o fiqh, de pedir a uma pessoa virtuosa, e viva, que suplique por nós quando nos encontramos em necessidade.

 

Os Salafis parecem não compreender o significado de certas passagens alcorânicas que condenam os pagãos por suplicarem aos ídolos que não podem nem ouvir nem falar, e certos ahadith que conectam du’a à adoração.

Quanto ao Alcorão, realmente Allah (swt) está correto ao condenar as pessoas que suplicam a ídolos de pedra e madeira, criados por eles próprios, que não podem nem beneficiar nem prejudicar, mesmo como um ato de intercessão. Entretanto, isto é diferente de suplicar ao Profeta Muhammad (saas) que está vivo e pode ouvir. Quanto ao ahadith, a “Du’a é adoração”, não quer dizer que adoramos o destinatário da du’a, mas que a du’a em si mesma é um ato de adoração. Os muçulmanos médios pode não reparar isto, pensando que a recompensa da du’a consiste meramente em receber o que se pede. No entanto, o Profeta (saas) esclareceu que o ato da du’a em si carrega uma recompensa, ou seja, a recompensa de qualquer outro ato de adoração, e isto é o verdadeiro significado dos ahadith.

De acordo com os Salafis, o Profeta (saas) está morto e, portanto, não pode ser suplicado. Vamos falar sobre isso na seção que lida com o status do Profeta Muhammad (saas) na vida e na morte.

E finalmente, eles parecem não saber que existe prova textual para a prática da wasilah através do Profeta (saas), mesmo após sua morte. Para ser breve, não irei desenvolver muito além de dar ao leitor um link para os ahadith bem documentados do discípulo ‘Uthman ibn Hunayf (ra). Sheikh Hamza Yusuf menciona estes ahadith.

Quanto aos dois pontos finais que eu cobrirei neste post em particular, que são: o status do Profeta (saas) no Sufismo versus Salafismo e as Turuq (plural de Tariqas), deixe-me começar pela questão das Turuq. E ambos eu irei tratar muito brevemente. Uma Tariqa, para aqueles que não conhecem, é chamada no Ocidente de Ordem Sufi. Tipicamente, o líder da Tariqa é um Sheikh respeitado, e sob ele estão os muridun que dão a bay’ah, juramento de aliança, ao Sheikh, para obedecê-lo em todos os assuntos, e assim ele ordena a eles para realizarem certos atos de zikr, que são específicos da Tariqa. Isto é classificado como bid’ah pelos Salafis, e várias Turuqa que possuem Shuyukh que ordenam algumas práticas estranhas e fazem declarações bizarras, são postos como exemplo do Sufismo em ação de modo a generalizarem todos os praticantes do Tasawwuf  (Sufismo).

Na minha opinião, o que precisa ser discutido aqui, é o fato de que a bay’ah nas Tariqas sufis é um compromisso do qual se pode abrir mão em caso de necessidade. Portanto, apontar para estes compromissos como evidências de práticas de culto dentro do Sufismo é infundado e injusto. E mais, é verdade que alguns Shuyukh das Turuq são charlatões, e que se deve ter cuidado com ao se afiliar a uma Tariqa, caso seja preciso, pois isto não é algo importante ou necessário, e de quem se toma o conhecimento. Mas então, isto não é válido para qualquer Sheikh, involvendo ou não bay’ah e independente do seu título? Eu considero isto uma acusação dúbia. Isto era visto hipoteticamente como uma prática benéfica pelo antigo sábio islâmico Imam Muhasibi al Baghdadi (ra), já nos anos 700, pouco menos de 200 anos após a morte do Profeta (saas), durante a era dos Salaf Salihin, e foi oficialmente posta em prática pelo seu aluno, Imam Junaid al Baghdadi (ra). Tudo isto foi perto da mesma época que os ahadith foram oficialmente compilados e codificados, e portanto dizer que é bid’ah é um pouco de exagero. É algo que foi iniciado muito cedo dentro do Islã, e o responsável foi um sábio sunita respeito e conhecido durante a era dos Salaf.

Meus pensamentos finais neste longo post, é sobre o que eu por último percebi ser exatamente o objetivo do movimento Salafi. Pareceu a mim, depois de aprender estes fatos e muito mais, que o salafismo era uma corrente do Islã que, no seu zelo inicial procurou tirar da religião muitas práticas folclóricas que resistiam por volta do fim do período Otomano da civilização islâmica, e por fim tornou-se um movimento de beduínos ignorantes que, sem conhecimento algum, começaram a colocar “no mesmo saco” partes autênticas do Islã Sunita com o “Islã folclórico” que eles procuravam expurgar. A História atesta que os primeiros seguidores do fundados do Movimento Salafi, Muhammad ibn Abd al Wahhab, eram quase todos nômades analfabetos do deserto da Arábia. A erudição desenvolveu-se entre eles tardiamente.

Infelizmente, isto também significa que eles quase conseguiram desconectar o Islã do seu fundador, o Santo Profeta Muhammad (saas), em um certo sentido. Os Salafis dizem que o Profeta Muhammad (saas) é apenas um homem comum. Os Sufis, evidentemente, nunca negaram que o Profeta (saas) era mortal, mas ser comum é outra história.  Os Salafis insistem que não podemos amá-lo “demais”. E ainda. eles insistem que ele está morto, mesmo que a posição do Islã tradicional seja de que o Profeta (saas) está em um estado conhecido como hayyun fi qabrihi, vivo em seu túmulo, como os ahadtih atestam. O movimento Salafi insiste ainda que os ancestrais do Profeta (saas) eram todos descrentes, condenados ao Fogo eterno, apesar de evidências do contrário e das opinões do estudiosos que contradizem esta versão. Então, podemos perguntar, o que restou de Muhammad (saas) ?

Ele foi, caso o Salafismo vença, relegado a nada mais do que um envelope comum para a Revelação Divina, vazio de toda verdade mística e espiritual nele mesmo, aparentemente sendo apenas um veículo, filho de idólatras, agora morto e enterrado em um buraco no deserto da Arábia, que não deixou nenhum método claro para o embelezamento humano espiritual, mas em vez disso, seu legado pertence aos mais desviados que vieram depois deles por mais de mil anos, até que o movimento foi reavivado por um grupo de ladrões da estrada. O clã dos Sa’ud, com o qual Muhammad ibn Abd al Wahhab se aliou, fez sua riqueza atrás do roubo de caravanas no Najd. E mais, nós como simples muçulmanos, não temos nenhuma conecção com ele, pois sua morte nos separou dele espiritualmente até o Dia do Juízo.

Após estudar essas questões, e ponderar quais eram os objetivos finais dos dois movimentos, um consistindo em ajudar a internalizar a religião e nos conectar espiritualmente ao Profeta Muhammad (saas), e o outro tentando, na minha opinião, descreditar a maioria dos eruditos que procuraram nos ajudar a internalizar o Islã, para nos separar do Profeta Muhammad (saas), e para colocar, no lugar do Sufismo, ou como eu prefiro chamar, Islã Sunita, somente um cojunto de regras e regulamentos, eu fiquei imaginando o que isto significava para mim pessoalmente. E mais, perceber que a maioria dos atos que os Salafis condenam nos Sufis não eram tão claros como eu fui levado a acreditar, desenvolveu em mim um grande senso de desconfiança pela metodologia Salafi como um todo. Após dois anos de pesquisa rigorosa, e após dois anos lidando com estas verdades difíceis, eu não poderia mais negá-lo. Eu não era Salafi. Agora eu sabia. Sabia, pela primeira vez, o que eu era. Eu era Sufi. Mas a dúvida ardia dentro de mim. Eu ousaria dizê-lo? O que as pessoas pensariam? Deveria escondê-lo. Não, eu pensei. Eu não irei esconder. Não é a verdade? Não pode ser defendido? Direi a todos os fatos, venha o que vier E isto foi exatamente o que fiz.

A posição do Sufismo, que eu agora irei chamar de “Islã Sunita” até o final do posto, pois considero o Salafismo como um abandono do Islã Sunita tradicional. Em relação à ‘aqidah, existem quatro escola aceitas de ‘aqidah sunita, que são: Ash’ari, que é historicamente a maior escola; Maturidi, a qual muitos Hanafis pertencem; Tahawi, uma pequena escola que começou no Egito, e que muitos sábios consideram como uma mistura das crenças Ash’ari e Maturidi; e a ‘aqidah tradicional Hanbali, que foi a menor de todas, agora tipicamente limitada à Arábia Saudita. O Islã Sunita, com a exceção de apenas uns poucos sábios renegados do credo Hanbali aqui e ali, aceita todas estas quatro teologias como escolas ortodoxa e aceitas que apenas diferem em alguns pontos, por razões baseadas mais nas circunstâncias do que qualquer outra coisa. Até o movimento salafi, elas eram todas consideradas como a norma.

Os Salafis argumentam que o seu credo é o seu credo Hanbali, e seus detratores alegma, por outro lado, que a ‘aqidah Salafi é uma nova ‘aqidah com origens em algumas das interpretações mais radicais da teologia Hanbali, que depois ainda foram manipuladas por ideólogos puritanos, até que ela saiu da tradição ortodoxa e agora se tornou uma aberração antropomórfica. Este é um nó difícil de amarrar, e eu não pretendo me envolver na controvérsia. Por um lado, os detalhes disto trariam os leitores às lágrimas, e também é altamente técnico e lida com questões problemáticas e está, devo admitir, além da minha capacidade intelectual.

Mas eu gostaria de oferecer alguns pensamentos nesta área geral. A abordagem radical Salafi no seu credo teológico, que é insistir que o credo Hanbali é o único credo correto, se formos aceitar suas alegações de que eles estão verdadeiramente seguindo literalmente a teologia Hanbali, deve ser rejeitada. As tentativas para convencer o mundo islâmico de que a escola Ash’ari, a qual eles possuem um ódio particular, é shirk, ateísmo e kufr – com os plebeus entre eles alegam – é frequentemente não entendida pelo muçulmano comum, como eles arrogante, inevitavel e desagradavelmente dizem que é. O que eles estão verdadeiramente alegando, sem o muçulmano comum perceber, é que a maioria de todos os muçulmanos se tornaram desviados e descrentes. Esta alegação seria por si só fantástica, mas isto não é o fim. E mais, eles alegam que uma maioria significativa dos muçulmanos ao longo do tempo, desde que a escola Ash’ari foi fundada no século 10 e adquiriu uma posição forte até muito recentemente quando o Salafismo começou a se disseminar, eram na realidade descrentes. Esta diatribe espantosa ainda vai além, alegando que os grandes sábios sunitas, tais como Imam al Ghazali (ra), Imam ibn Hajr al Asqalani (ra), Imam al Qurtubi (ra), Imam al Haytsami (ra), Imam Zakariyyah al Answari (ra),  Imam an Nasafi (ra), muito provavelmente Imam an Nawawi (ra), e muitos, muitos outros grandes sábios sunitas eram todos descrentes em teologia, pois estes sábios e muitos outros também eram Ash’aritas.

Certamente, estas alegações são estúpidas, e devem ser rejeitadas por qualquer indivíduo. Mas ainda uma pergunta que eu não acho que muitos muçulmanos se perguntam é, “Por que os Salafis possuem esse desejo de discutir teologia?” O que eu quero dizer é, enquanto existem vários vídeos dos eruditos Salafis dizem que a wasilah é shirk, zombando do zikr coletivo e declarando que o Mawlid é bid’a, você nunca verá eles debatendo publicamente sobre os sábios sunitas que discordam deles nestes pontos. Nas raras ocasiões em que eles fazem um debate público entre um ponto de vista Salafi e um Sunita, será sempre sobre ‘aqidah. Será sempre Ash’ari contra Athari, o título que eles deram para sua ‘aqidah. Um dos seus debatedores, Abdur Rahman Dimashqiah, tem vários vídeos dele debatendo sobre as teologias Ash’aris e Maturidis, mas muito poucos, se nenhum, mostra ele debatendo sobre as outras questões sobre as quais os Salafis e os Sunitas discordam.

Minha hipótese é que isto é porque a própria ‘aqidah, particularmente em relação à alguns dos Nomes Divinos e Atributos de Allah (swt), é um tópico ambíguo. É muito fácil se perder nas várias controvérsias, contradições externas e termos e significados significados difíceis de entender deste assunto assunto particular. E mais, o verdadeiro caminho do Salaf era evitar se envolver em tais assuntos. Eles meramente afirmavam que o texto e significado, quando Allah (swt) Diz no Alcorão que Ele tem uma Mão, eles nunca dizem, “Isto significa que Ele tem uma mão, mas uma mão diferente da que conhecemos”, nem eles interpretam isto metaforicamente. Pelo contrário, eles afirmavam o texto e deixavam o significado para Allah (swt). Conforme o tempo passou, e as teologias desviadas como as do Jahmitas, os Mu’tazilitas e Rafidhis apareceram, a necessidade de responder a estas crenças desviadas também surgiu, e os sábios da tradição sunita aceitaram o desafio, na forma das quatro crenças anteriormente mencionadas. Isto, às vezes, demandava que eles dessem respostas racionalistas, involuntariamente, aos inimigos da Ortodoxia Islâmica.

Mas este é o ponto ou não? O verdadeiro caminho do verdadeiro Salaf, não os neo-Salafis, é evitar debater estes assuntos exceto em casos de extrema necessidade, como prevalência de teologias desviadas, precisamente porque elas são muito técnicas. As várias escolas teológicas apenas debatiam e racionalizavam certos aspectos da ‘aqidah para defender o próprio Islã. Quando não havia necessidade para isso, os sábios destas quatro escolas recusavam. Isto contrasta com o atual movimento Salafi, que possui fórums dedicados a espalhar a sua metodologia e a ridicularizar outras teologias. Eles possuem aulas após aulas em suas mesquitas e websites, que lidam especificamente com este tópico e, o que é pior, os leigos entre eles são ludibriados por isto. Agora, um irmão é Salafi há três anos, e debate sobre ‘aqidah no Facebook dia e noite, sem nenhum treino formal na ciência.  Mas, para mim, isto é de fato uma misericórdia para o muçulmano que sabe discernir. É uma prova para nós de que os neo-Salafis são qualquer coisa, exceto ortodoxos em sua abordagem. Allah (swt) diz no Alcorão:

“Ele foi Quem te revelou o Livro; nele há versículos fundamentais, que são a base do Livro, havendo outros alegóricos. Aqueles cujos abrigam a dúvida, seguem os alegóricos, a fim de causarem dissensões, interpretando-os capciosamente. Porém, ninguém, senão Deus, conhece a sua verdadeira interpretação. Os sábios dizem: Cremos nele (o Alcorão); tudo emana do nosso Senhor. Mas ninguém o admite, salvo os sensatos.” (Surata Al-Imran: 7)

Certamente, as nuances de significado no que concerne Allah (swt) e Seus Nomes e Atributos estão entre os versículos ambíguos, então ao insistir que isto foi sempre tópico de debate, e pelo comforto óbvio ao lidar com este assunto, eles não fizeram nada além de expor o seu próprio desvio, como dito nas palavras da Revelação Divina.

A questão da ‘aqidah era uma digressão que eu fiz somente porque eu tinha prometido anteriormente fazer. Agora, voltemos à minha jornada particular. Antes de explicar o que aconteceu quando comecei a me referir a mim mesmo como “Sufi” abertamente, o que ainda é problemático para alguns, eu quis lidar com um ponto significante que se relaciona aos títulos. Eu sei que muitos irmãos e irmãs irão objetar a se denominaar sufis, simplesmente por um ou duas razões. Primeiro, eles têm medo de que fazendo isso, eles estejam sendo sectários, e sejam então condenados pelas Palavras de Allah (swt) no Alcorão que proíbem a divisão em seitas e partidos. Segundo, eles objetam porque, tradicionalmente, alguém que se refere a si mesmo como Sufi provavelmente não é um ou, pelo menos, um verdadeiro. O termo, por si só, implica piedade. Existem muitas possíveis derivações da palavra, todas as quais denotam pureza, ascetismo, renúncia do mundo, ter um coração puro inclinado à adoração. E reivindicar piedade para si mesmo é precisamente um sinal de falta de piedade no pensamento islâmico.

Quanto ao primeiro ponto, o pensamento sunita tradicional não considerou referir-se a si mesmo como Sufi, como necessariamente uma marca de sectarianismo. Alguém pode ser Sufi e continuar sendo “Sunni”, assim como continuar sendo Hanafi, Shafi e assim por diante. O sectarianismo, de um ponto de vista acadêmico, sempre foi considerado como a separação da maioria dos muçulmanos e o satisfação com uma doutrina particular. Por exemplo, os xiitas estão condenados, não necessariamente por causa das suas crenças em si, mas porque eles se tornaram uma seita. Eles se separaram da jama’ah dos muçulmanos, declararam o restante como desviados e se satisfizeram com suas crenças e dogmas “especiais”. Eles possuem as suas próprias coleções de ahadith, suas próprias autoridades e assim por diante. Entretanto, como um Sufi, eu ainda me considero um sunita. Eu posso ir a qualquer mesquita sunita e orar sem nenhum problema. Eu leio todos os mesmos ahadith, e eu não me separei da jama’ah. Isto é porque os grandes ‘ulama da tradição sunita não tiveram nenhum problema em se identificar como sufis. O título pode ser tornar sectário, se se começa a utilizá-lo como uma ração para elevar eles mesmos sobre outros, mas então, isto seria contrário ao pensamento sufi, que ensina a humildade como um valor central, e que Allah (swt) nos Salve disto.

Quanto ao segundo ponto, eu não utilizo este título para declarar minha própria piedade, mas simplesmente como um desejo expresso. Se alguém me perguntava pessoalmente se eu era um Sufi, minha resposta era, “Insha’Allah”. Como muçulmanos, precisamos ter o que se chama himmah, ou altas esperanças em termos de aspirações espirituais. Poucos de nós, por exemplo, irão ser agraciados com a wilayat (santidade). Mas isto não anula a necessidade de se lutar por ela. Quando eu digo que sou Sufi, o que realmente quero dizer é que não sou neo-Salafi. É um termo usado em protesto ao que eu considero um desvio e forma nociva de pensamento, e é usado por mim principalmente online. Além do mais, você iria ler um post chamado “Minha jornada do Salafi ao Maliki”? Também é uma tentativa de eu recordar ao outros, pois de acordo com Alcorão a recordação beneficia os crentes, de que o tasawwuf ou, Sufismo, se você preferir, a ciência da religião interna, é uma parte legítima do Islã Sunita, apesar do que os radicais dizem.

Eu primeiramente declarei meu Sufismo sutilmente, ao simplesmente trocar no Facebook meu indicador religioso de Muçulmano para Muçulmano-Sufi. Ninguém percebeu. Então, quando os neo-Salafis profanaram o túmulo do grande sábio sufi Imam Ahmad az Zarruq (ra), eu decidi vir à luz como um leão devido à minha própria revolta. Eu postei um vídeo do Sheikh Faisal Hamid, um famoso estudioso sunita no Canadá, onde ele deplorava este ato e o Salafismo que o gerou, e eu me declarei Sufi para que todos vissem.

No entanto, depois de apenas alguns momentos, um Salafi que tinha me conhecido de alguns dos meus programas de televisão feitos no Egito, me enviou uma resposta espinhosa inbox no meu Facebook e me bloqueou. Isto me fez considerar que talvez a melhor maneira de fazer isto era gentilmente, e não de forma agressiva. Além do mais, eu quero conquistar os corações das pessoas para a verdade, e é mais fácil fazer isso com fatos simples, razão objetiva e bondade, e não com retórica reacionária. Portanto, eu deletei o post rapidamente e aguardei até uma data posterior.

Algumas semanas se passaram, e eu finalmente postei uma longa explicação no Facebook, esclarecendo que eu referia a mim mesmo como Sufi, não como por ódio em relação aos outros muçulmanos, mas como um título que eu me aferia como uma desculpa para estar mais perto do meu Senhor. A declaração passou despercebida, ou pelo menos foi o que pensei. Pouco depois soube que havia alguns espiões, segundo meu entendimento, que se tinham se infiltrado na minha página de Facebook e estavam relatando meus posts para os Salafis da minha região, particularmente de uma certa organização com qual eu estava envolvido localmente. O resultado foi que um grupo de apoio aos convertidos, que eu liderava, foi cancelado pela organização devido aos meus ensinamentos Sufis. Outros muçulmanos, na sua intolerância e amor pela fitnah, fabricaram informações contra mim para manchar a minha reputação e aquela de outros convertidos que me apoiavam.  E ainda assim, outros muçulmanos vinham até mim sorrindo, fingindo que eram Sufis também, apenas para me atrair para o debate e a fitnah nas mesquitas na frente de outros muçulmanos.

O que os Salafis pensaram estar conseguindo através desta guerra de propaganda, eu não sei. Isto apenas trabalhava contra eles, e não a favor. E certamente não me fez querer retornar à seita “salva”, mas apenas serviu como prova posterior de que minha avaliação do Salafismo estava correta.  Ele é uma ideologia venenosa e desviada, aceita principalmente pelas massas ignorantes. Eu sinto pelos incontáveis números de muçulmanos que, em seu amor pelo Islã, foram ludibriados pelo seu falso chamado de “retorno para a verdadeira religião das três primeiras gerações”, quando é tudo menos isso. E isto porque eu sou contrário ao Salafismo, mas não aos Salafis em si, com a exceção dos mais exaltados. Sinto que a maioria dos muçulmanos entraram na Salafiyyah sem saber, tentando encontrar o Islã puro do passado. O chamado dos Salafis, em face disto, é certamente tentador. É mais fácil seguir um hadith à primeira vista, do que pesquisar as centenas de opiniões eruditas sobre ele, antes de agir segundo o mesmo. Mas isto não representa um Islã que é aberto para todos, que é tolerante ou flexível, e que aceita várias culturas. O chamado enganador da abordagem Salafi, infelizmente, ludibriou muitos dos muçulmanos comuns devido a suas alegações sedutoras, usando o seu amor pelo Islã e pelo Profeta (saas) como pretexto.

Talvez o que mais me surpreendeu foi que os muçulmanos que, após debater todos estes tópicos comigo e foram mal, não porque sou alguém especial, mas porque o verdaeiro Islã sunita é uma coisa grandiosa e de peso, alhamdulillah, não obstante continuaram Salafis. Eu havia sempre considerado o Islã como a religião lógica e presumia que quando as evidências dentro da religião fossem fornecidas, os muçulmanos iriam se corrigir de acordo. Eu fiquei decepcionado ao ver que este não era o caso. Talvez isto revele muito mais sobre o grau no qual o pensamento Salafi se infiltrou na mente do muçulmano comum. Acredito firmemente que a maioria dos muçulmanos, verdadeiramente, se aterroriza com a ideia de abandonar este pensamento, e Allah (swt) proíbe qualquer um de falar contra. Eles temem o que irá acontecer a eles se criticarem, até de forma leve, a seita “salva”. Como se não apoiar o neo-Salafismo é equivalente ao kufr e digno do Fogo do Inferno.

E talvez eu irei terminar com este pensamento. Se você for Sufi, ou se foi convencido por estes posts, você não precisa se esconder. Talvez você não precise gritar na esquina, mas deve esperar que quando se está no caminho da verdade e isto é dito abertamente, mesmo que seja simplesmente quando se é perguntado, você irá enfrentrar tribulações assim como os profetas e santos enfrentaram. Não deixe que isto o detenha. De que amigos você precisa além de Allah (swt) e Seu Eleito? Que companhia melhor do que estar conectado com o Santo Profeta Muhammad (saa)? Que palavras de conforto são melhores do que aquelas escritas nos livros dos santos sufis? Diga a verdade e não se preocupe com as consequências. O Santo Profeta (saas) apenas se tornou mais paciente quando as perseguições aumentaram. Realmente, a perseguição é um sinal de que você está na verdade. O Imam al Ghazali (ra) escreveu em sua obra prima , Ihya ‘Ulum ad Din, o seguinte: “Se você ver Allah, Poderoso e Magnífico, negando as coisas deste mundo a você, frequentemente, te Testando com a adversidade e a tribulação, saiba que você possui um grande status junto a Ele. Saiba que ele está Lidando contigo como Faz com Seus awliya e elite escolhida, e que Ele Está te Protegendo. Você nunca ouviu esta passagem? :

“E tu (ó Mensageiro), aguarda até ao Dia do Juízo do teu Senhor, porque estás ante Nossos olhos …” (Surata at Tur: 48)

E isto conclui a história da minha jornada do Salafismo ao Sufismo. Espero que tenha sido algum benefício. Eu oro para que abra os olhos, os corações e as mentes. Oro para que tenha mesma alguma pequena contribuição para a separação da verdade da falsidade, e que isto seja contado a meu favor e não contra mim. Eu posso afirmar sem dúvida que, apesar dos testes dados a mim por outros muçulmanos que ainda se entregam a ignorância e ao preconceito, todos os outros aspectos da minha vida melhoraram. Minha vida espiritual ficou bem melhor e fui agraciado com milagres e maravilhas; meu casamento aumentou em bênçãos; minha satisfação em geral e minha paciência aumentaram, assim como minha certeza nas promessas de Allah (swt). Eu consegui resolver a discórdia que o Salafismo causou entre mim e meus familiares e amigos cristãos, e agora nossa relação está melhor e mais próxima. Eles até  me pediram para orar por eles em uma ocasião. Alhamdulillah, as bênçãos de Allah (swt) são incontáveis. Apenas os erros são meus.

 

Fonte: https://amuslimconvertoncemore.blogspot.com.br/2013/03/umar-james-dunlap-my-journey-from.html

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