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Por que Muçulmanos não oram o Pai Nosso?

Os muçulmanos não oram o Pai Nosso, mas podem suplicar pelas mesmas coisas que são ditas nesta prece. Entenda as razões disso.
  • Os muçulmanos não chamam Deus de "pai", pois o termo está associado à Trindade e pode gerar desvios de fé.
  • Mesmo na Bíblia, Jesus nunca tentou se igualar a Deus, e usava o termo "filho de Deus" para se referir àqueles que seguiam a palavra divina.
  • Os muçulmanos invocam Allah pelos nomes revelados no Alcorão, evitando termos que possam causar confusão teológica.
  • Algumas súplicas islâmicas têm semelhanças com o Pai Nosso, mas respeitam os limites da doutrina islâmica.

Jesus é um profeta de Deus segundo o Islam, e isso pode levar muitas pessoas a pensar que seria natural que os muçulmanos também recitassem o Pai Nosso.

A principal razão pela qual isso não ocorre é que os muçulmanos não se referem a Deus como "pai".

Essa palavra está profundamente associada ao conceito da Trindade cristã e, além de não fazer parte da doutrina islâmica, os muçulmanos são orientados a não adotar práticas de outras religiões.

No entanto, é possível encontrar e realizar súplicas que evocam o sentido original da oração ensinada por Jesus na Bíblia, sem contrariar os princípios da tradição islâmica. Isso mostra que o tema é complexo e não deve ser tratado de forma simplista.

Por que muçulmanos não chamam Deus de "pai"

No Islam, acredita-se que o Evangelho foi um dos livros que Deus revelou por meio do Profeta Jesus. No entanto, sua mensagem original foi misturada com palavras de outras pessoas e percepções que não tinham relação com o propósito da Revelação.

Com a inserção dessas novas visões, a mensagem de Deus foi corrompida, dando origem ao conceito da Trindade, ou seja, a crença de que Jesus é o filho unigênito de Deus e consubstancial com o Pai.

Em outras palavras, a tradição cristã transformou Jesus em Deus, algo que ele nunca reivindicou. Pelo contrário, ele jamais aceitou ser comparado a Deus ou reconhecido como divindade:

"Ouvistes que eu vos disse: Vou e venho para vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, porque o Pai é maior do que eu." (João 14:28)

"E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus." (Marcos 10:18)

"Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou." (João 5:30)

"E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mateus 26:39)

"Jesus respondeu e disse-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou." (João 7:16)

Para eliminar qualquer possibilidade de que os muçulmanos acreditassem na Trindade ou em conceitos semelhantes, o Alcorão rejeita de forma definitiva a noção de que Jesus é filho de Deus ou que ele tenha qualquer tipo de associação no senhorio de Deus:

"Ele é Deus, o Único! Deus! O Absoluto! Jamais gerou ou foi gerado! E ninguém é comparável a Ele!" (Alcorão 112)

"E os cristãos dizem: ‘O Messias é filho de Allah.’ Esta é a palavra de suas bocas; eles imitam a palavra dos que renegaram a Fé antes deles. " (Alcorão 9:30)

Se Jesus não é filho de Deus, por que ele afirma isso na Bíblia?

O Islam não toma a Bíblia como referência quando ela afirma coisas que contradizem o Alcorão; no entanto, esta pergunta pode ter camadas mais profundas.

Isso porque a afirmação de que Jesus não é o filho de Deus pode estar direcionada ao sentido atribuído pela doutrina da Trindade. Ou seja, é falso que haja consubstancialidade entre Jesus e Deus.

Contudo, é possível que o Alcorão não esteja refutando essa afirmação em um sentido histórico, pois, mesmo no livro sagrado islâmico, não há evidência clara de que Jesus jamais tenha afirmado ser o filho de Deus.

Se isso for verdade, podemos olhar para a própria Bíblia para entender por que ele fez tal afirmação:

“Eu e o Pai somos um. Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais? Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses? Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus? (João 10:30-36)

Ou seja, o próprio Jesus afirma que, ao dizer que é filho de Deus, ele não está se igualando a Deus, mas afirmando que "filhos de Deus" são aqueles a quem a palavra foi dirigida.

Jesus não estava anunciando algo novo aos israelitas, apenas reafirmando algo que já estava amplamente estabelecido na religiosidade daquele povo:

"Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós sois filhos do Altíssimo." (Salmos 82:6)

Isso nos permite concluir que o termo "filho de Deus" empregado por Jesus na Bíblia não tem o mesmo sentido que os trinitários atribuem a ele.

Mesmo com esse entendimento, o muçulmano não se refere a Deus como "pai", pois isso seria uma imitação do hábito dos cristãos e poderia desviar o crente na fé ou levar outras pessoas ao erro.

Allah é chamado no Alcorão por 99 nomes diferentes, que inspiram submissão, beleza, amor, dependência e outras qualidades sublimes. É necessário ser obediente à forma na qual Deus escolheu ser tratado.

E de Deus são os mais belos nomes: então, invocai-o com eles, e deixai os que profanam Seus nomes. Serão recompensados pelo que faziam. (Alcorão 7:180)

Muçulmanos podem orar o Pai Nosso?

Os muçulmanos não devem chamar Deus de "pai", mesmo no sentido em que os profetas israelitas supostamente afirmaram, pois isso pode levar aos mesmos desvios que judeus e cristãos cometeram no caminho da fé.

No entanto, há na tradição profética um relato do Profeta Muhammad em que ele recita uma súplica muito semelhante ao Pai Nosso, usada para pedir cura em caso de enfermidade: 

Se algum de vocês ou seu irmão estiver sofrendo de alguma coisa, então ele deve dizer: Ó Senhor Deus que estás no céu, Santificado seja o teu nome, o teu decreto está no céu e na terra. Assim como a tua misericórdia está nos céus, faze com que Tua misericórdia esteja também na terra. Perdoa-nos os nossos pecados e as nossas transgressões, Tu és o Senhor dos puros, envia uma misericórdia da tua misericórdia, e uma cura da Tua cura sobre esta dor para que ela seja curada". (Sunan Abu Dawud 3888)

A autenticidade deste hadith é contestada por alguns estudiosos, mas eruditos como Imam Hakim e Imam Dhahabi concordavam que ele é autêntico, enquanto Hafiz Ibn Hajar o classificava como um relato forte.

Ou seja, Allah revelou uma súplica semelhante, que os muçulmanos podem fazer em momentos de dificuldade para pedir amparo, proteção e cura.

O muçulmano deve buscar a todo momento não copiar os hábitos de outras religiões e isso inclui não rezar o Pai Nosso, mas ele pode pedir a Deus o que é solicitado nesta prece, como: aproximar-se da presença divina; aceitar o decreto de Deus; pedir sustento; buscar perdão e orientação, entre outras coisas.

Tudo que é feito com o devido respeito aos limites da religião é lícito e puro para o muçulmano, especialmente quando exaltado abertamente pelos profetas.

Conclusão

A relação dos muçulmanos com orações como o Pai Nosso reflete a centralidade da unicidade de Deus no Islam e a rejeição de conceitos que possam abrir margem para confusões teológicas, como a filiação divina. 

Embora Jesus seja reconhecido como profeta no Islam, e algumas súplicas da tradição islâmica compartilhem um espírito semelhante ao Pai Nosso, o termo "pai" é evitado por muçulmanos para preservar a pureza da crença e evitar os desvios que ocorreram em outras tradições religiosas.

Além disso, o uso de termos como “filho de Deus” na Bíblia não se alinha com a teologia trinitária quando analisado à luz do contexto histórico e cultural. 

As palavras de Jesus, entendidas sob uma perspectiva mais próxima da tradição judaica, indicam que ele se referia àqueles que recebem a palavra divina como "filhos de Deus", não estabelecendo uma consubstancialidade com Deus.

Por fim, os muçulmanos são orientados a invocar Allah pelos nomes mencionados no Alcorão e seguindo os exemplos proféticos. 

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