Tradição significa verdade ou princípios de uma origem divina revelados ou desvelados à humanidade.
No caso do Islã, a tradição descreve além do mais as palavras, ditos e ações relatados do Profeta Muhammad (que Allah o abençoe e lhe dê a paz), os quais têm sido registrados nas coleções de hadîth junto com a religião islâmica inteira, tal como as escolas islâmicas de Direito, espiritualidade, santidade, etc
Editado de “Islã no Mundo Moderno, S. H. Nasr
“Dois séculos atrás, se ocidentais (ou outros)… quisessem estudar sobre o Islã, teriam encontrado uma única tradição islâmica.” Embora haja também numerosas escolas de pensamento e interpretações, e ambas ortodoxia e heterodoxia em crença assim como em prática, elas todas entretanto “pertenciam em um nível ou outro à tradição islâmica; isto é, àquela única árvore da Origem Divina cujas raízes são o Alcorão e as tradições do Profeta do Islã, ou Hadîth,” um corpo de tradição que cresceu dessas raízes por mais de catorze séculos em quase todo canto habitável do globo.
“Então, uns duzentos anos atrás, as principais ondas de modernismo começaram a alcançar as praias da Morada do Islã (Dâr al-Islâm) e com a passagem do tempo gradualmente as inundou.”
Pode-se ver o quanto influências modernistas penetraram o mundo islâmico desde a virada do século XIX d.C. (XIII h.) primeiramente na “ciência militar, astronomia e medicina,” e então “em educação, pensamento político e Direito e, um tanto depois, em filosofia, arquitetura e muitas das artes.” …
“Para qualquer um que entendeu a essência do modernismo baseado e originado nas tendências secularizantes e humanísticas da Renascença europeia, foi fácil detectar o confronto que já estava acontecendo entre elementos tradicionais e modernos no mundo islâmico.”
“Somente durante as poucas décadas passadas que um novo fenômeno apareceu, que necessita ser distinguido rigorosamente do Islã tradicional e não só do modernismo, mas tambem aquele espectro de sentimento, ação e pensamento que veio a ser identificado pelos sábios ocidentais e o jornalismo como “Islã fundamentalista,” revivalista ou ‘ativista’.”
Enquanto muito do antigo “fundamentalismo,” “era ainda ortodoxo, e não uma separação completa ou desvio das normas tradicionais. Hoje, entretanto, junto com a tendência modernista, que se põe contra o Islã tradicional, há toda uma série dos assim chamados movimentos fundamentalistas que falam em revivificar o Islã em oposição ao modernismo e a ‘civilização ocidental’, mas também não é tradicional e de fato se opõe ao Islã tradicional em questões básicas. É, então crucial distinguir esses movimentos que vieram a serem chamados de ‘neofundamentalismo’, ou simplesmente ‘fundamentalismo islâmico’ do Islã tradicional, com o qual é frequentemente confundido. ”
Qualquer um “que tenha lido obras duma natureza tradicional sobre o Islã e compará-las com aquelas aclamadas pelos atuais “fundamentalistas” consegue discernir imediatamente diferenças básicas entre elas, não só em conteúdo, mas também em todo o ‘clima’ no qual elas respiram,” embora “o que é tachado de “fundamentalismo” inclui um espectro amplo,” partes do qual estão perto da interpretação tradicional de certos aspectos do Islã, tal como a jurisprudência.
“Mas a maior estocada desse tipo de movimento político-religioso agora chamado de “fundamentalismo,” um termo que precisamente por causa de sua ambiguidade é bastante problemático e poderia ter sido evitado se possível, é tão basicamente diferente do Islã tradicional como para certificar a distinção clara entre eles frisada aqui, apesar da existência de certas áreas onde alguns tipos de “fundamentalismo” e certas dimensões do Islã tradicional podem estar de acordo.
O termo ‘tradição’ que é usado aqui foi redescoberto por René Guénon (Shaikh ‘Abd Al-Wâhid Yahyâ), um termo que “implica tanto no Sagrado como revelado à humanidade através da revelação quanto no desenvolvimento dessa mensagem sagrada na história da comunidade humana particular para a qual ela foi destinada.”
Com a avalanche do modernismo e mais recentemente a aparição no palco dessa caricatura da tradição chamada ‘fundamentalismo’, agora é necessário definir universalmente Tradição. Tradição tem na verdade três aspectos:
• al-dîn (religião, i.e. o que engloba todos os aspectos da vida)
• al-sunna (a qual – enquanto baseada em modelos sagrados – se tornou tradição como essa palavra é comumente entendida) e
• al-silsila (a corrente, “que liga cada período, episódio ou estágio da vida e pensamento no mundo tradicional à Origem, como se pode ver tão claramente no sufismo, que representa a maior parte da dimensão esotérica e mística do Islã.”
Tradição implica no sagrado, o eterno, a Verdade imutável, a sabedoria perene, assim como a aplicação contínua de seus princípios imutáveis à várias condições de espaço e tempo.
“O que é diretamente oposto à tradição é antitradição, à qual nos voltaremos depois, e claro o modernismo, que é antitradicional por natureza e sem cuja existência não haveria de fato necessidade de uso de tal termo como ‘tradição’.”
Se aqueles que seguem a tradição “insistem na completa oposição entre tradição e modernismo, é precisamente porque o modernismo, entendido como uma visão de mundo distinta e paradigma, ou nega verdades de uma natureza religiosa ou metafísica, ou cria nos reinos religioso e metafísico uma imagem embaçada na qual meias-verdades aparecem como a própria verdade, assim comprometendo a integridade de tudo que a tradição representa.”
“A significância do Islã tradicional pode ser entendida mais claramente à luz de sua atitude quanto a várias facetas do Islã. O Islã tradicional aceita, claro, sem qualquer “se”, “e” ou “mas” o Nobre Alcorão tanto em conteúdo como em forma como a Palavra de Deus, não criada em sua essência e sem origem temporal, inclusive “os comentários tradicionais do Alcorão”, e eles interpretam o Texto Sagrado não se baseando no significado literal somente ou pelo uso de raciocínio linguístico individualista ou histórico, mas se baseando na longa tradição de hermenêutica voltando até ao próprio Abençoado Profeta Muhammad (s.a.w.s.) e confiando na transmissão oral, tal como nos comentários escritos até o dia de hoje.
“Quanto a Hadîth, de novo a escola tradicional aceita a coleção ortodoxa” de hadîth proféticos. O Islã Tradicional tende a considerar a crítica trazida contra hadîth espúrios pelos críticos modernos, “mas não tende a aceitar inquestionavelmente a premissa sobre a qual a crítica moderna é baseada, nomeadamente a negação da penetração do Sagrado na ordem temporal. O Islã Tradicional crê na revelação divina, a realidade da transmissão oral e a possibilidade de conhecimento pelo Profeta Muhammad (s.a.w.s.) se baseando no acesso direto à Fonte de todo conhecimento em vez de meros agentes humanos de transmissão.” …
“A perspectiva tradicional sempre se lembra do famoso princípio da filosofia islâmica, que ‘adam al-wijdân lâ yadullu ‘alâ ‘adam al-wujûd, isto é, ‘A não existência da consciência de algo não é prova de sua não existência,’” assim também a alegação de que o que não deixou rastros em registros escritos não existe é rejeitada pelos sábios islâmicos tradicionais.
“O Islã tradicional defende completamente a Sharî’a, ou Lei Divina, tal como foi entendida e interpretada através dos séculos e como ela foi cristalizada nas escolas clássicas (madhâhib) de Lei e considera segui-la como obrigatório para todos os muçulmanos. Além disso, aceita a possibilidade de dar visões novas (ijtihâd) baseadas nos pricípios legais tradicionais, que por eles mesmos provêm os meios de aplicar a Lei para situações novas que existam, mas sempre de acordo com tais princípios legais tradicionais como qiyâs (analogia), ijmâ’ (consenso de opinião), istihsân (preferência judicial), e assim vai.”
“Além disso, para o Islã tradicional, toda a moralidade é derivada do Alcorão e Hadîth e relacionada, de uma maneira mais concreta, à Sharî’a. Quanto ao sufismo, ou a tarîqas, o Islã tradicional o considera a dimensão interna ou coração da revelação islâmica, sem negar nem o estado de decadência, no sentido de cair ou desviar das normas tradicionais de doutrina e prática, nas quais algumas ordens sufis tem caído através dos séculos, ou a necessidade de preservar as verdades do sufismo somente para aqueles qualificados para recebê-las.”
“A atitude do Islã tradicional quanto ao sufismo reflete a visão que era corrente durante os séculos antes do advento dos movimentos puritanos e modernistas no século XII/XIII, nomeadamente que é o meio para alcançar a santidade para aqueles desejosos de encontrar seu Criador aqui e agora e não um ensinamento que seria para ser seguido por todos os membros da comunidade.”
“Nem a perspectiva tradicional ignora a discordância que existia entre certos representantes das dimensões exotéricas e esotéricas do Islã através dos séculos. De fato, essa discordância é entendida como necessária à luz da natureza da revelação islâmica e a condição da comunidade humana para a qual a revelação foi endereçada. A escola tradicional assim confirma e reitera a visão de autoridades tais como a do Imâm Abu Hamîd al-Ghazzâli, no mundo sunita e a do Shaikh Bahâ’ al-Dîn al-‘Âmili, no mundo xiita, autoridades religiosas reconhecidas que foram mestres de ambas as ciências exotéricas e esotéricas e que defenderam ambas as dimensões do Islã enquanto explicavam o porquê do esotérico compreender o exotérico, mas o exotérico exclui e não compreende o esotérico.”
Enquanto houve discordância entre escolas diferentes, “todos esses vários modos de pensar pertenciam de todo modo ao universo tradicional.“ Além disso, aqueles que seguem a tradição islâmica “não defende só uma escola a despeito das outras, mas insiste no valor da tradição intelectual integral do Islã em todas as suas manifestações autênticas com total consciência dos níveis diferentes de universalidade exprimidos por eles, já que todas essas manifestações foram emitidas desde os ensinamentos da revelação islâmica.”
“Quanto à arte e arquitetura islâmica tradicional, o Islã tradicional insiste em sua islamicidade e sua relação com a dimensão interna da revelação islâmica, como são cristalizações dos tesouros espirituais da religião em forma visível ou audível. [Os Seguidores da Tradição] insistem no fato de que a religião possui não só uma verdade, mas também uma presença, e que a baraka emanando da arte e arquitetura islâmica é tão essencial para a sobrevivência da religião como um todo como a Sharî’a em si. Não se pode simplesmente negar a significância da arte e arquitetura islâmica insistindo nos aspectos legais e éticos da religião.”
“Da revelação alcorânica foram emitidos não somente regulamentos sobre como os seres humanos devem agir, mas também os princípios de acordo com os quais eles devem fazer as coisas. A arte e arquitetura islâmica está diretamente relacionada à espiritualidade islâmica, e aqueles que seguirem a tradição islâmica estão “opostos a toda a feiura que está agora invadindo o mundo islâmico na forma de projetos urbanos e arquitetura, artefatos, vestimentas e tudo mais, uma invasão aceita tanto por modernistas quanto por ‘fundamentalistas’ em nome da compaixão pelos seres humanos, conveniência e preocupação com o bem estar material da sociedade, com total indiferença à beleza.”
“De acordo com o hadîth famoso, Deus, que é também a Verdade (al-Haqq), é belo e ama a beleza. A beleza representa o aspecto de presença na religião, tal como doutrina representa a verdade. Ainda assim as grandes obras-primas da arte islâmicas parecem insignificantes tanto para modernistas quanto para ‘fundamentalistas,’ e sua visão relativa à significância espiritual da arte islâmica parece quase idêntica.”
“Se um campo agora produz mesquitas que parecem fábricas exceto por um pseudominarete ou domo adicionado superficialmente meramente para apontar a função da construção, o outro é conhecido por ter declarado que não faz diferença se muçulmanos rezam na mesquita mogul ou otomana mais bonita ou numa fábrica moderna, como se todos os muçulmanos fossem santos e não necessitando de apoio externo daquelas formas tradicionais que agem como veículos para o fluxo da baraka Muhammadiana para o indivíduo e para a comunidade.” …
“Em economia, o realismo nunca é sacrificado em favor de um idealismo irrealizável, nem é pensado ser possível inculcar as virtudes do trabalho duro, honestidade, frugalidade e generosidade simplesmente por força externa ou pressão.”
“No domínio político, a perspectiva tradicional sempre insistiu em realismo baseado nas normas islâmicas. No mundo sunita historicamente se aceitou o califado clássico e, na sua ausência, outras instituições políticas, tal como o sultanato, que se desenvolveu através dos séculos à luz dos ensinamentos da Sharî’a e as necessidades da comunidade. Sob nenhuma condição, entretanto, se procura destruir o que resta de instituições políticas islâmicas tradicionais, que são controladas por restrições tradicionais, na esperança de instalar outro Abu Bakr ou ‘Umar, mas enquanto isso se resolvendo com alguma forma de ditadura por um oficial do exército.”
É assim claro de ver que em nenhum lugar “o verniz da islamicidade (que cobre tantos movimentos alegando um reavivamento do Islã) foi passado tão fino do que no campo da política. Ali, onde clamores são feitos para se retornar à origem do Islã, à mensagem pura do Alcorão e aos ensinamentos do Profeta Muhammad (s.a.w.s.) e rejeitar tudo que seja moderno e ocidental, acaba-se adotando todas as ideias políticas mais extremas que já surgiram na Europa desde a Revolução Francesa, mas sempre as retratando como as ideias islâmicas mais não adulteradas.”
“No nome dum suposto Islã puro antes de sua adulteração pelos omíadas,” defende-se então a revolução secular, republicanismo e ideologia, “mas raramente se incomoda de questionar se o Alcorão ou Hadîth já tenha usado esses termos, por que um movimento que alega islamicidade precisa tanto de tais conceitos de origem ocidental, ou de fato por que o ataque contra instituições políticas islâmicas tradicionais coincide tão ‘acidentalmente’ com aqueles da Esquerda do no ‘mundo ocidental’ moderno?”
“É essencial lembrar de que, nesse momento da história humana, deve-se distinguir, em todas as religiões e civilizações assim como no Islã, não somente entre o tradicional e o moderno, mas também entre a tradição autêntica e pseudotradição, que é antitradicional e agora mais e mais contratradicional, mas que também apresenta certas características exteriormente similares ao tradicional.”
“Quanto ao mundo islâmico, essas distinções aparecem claramente uma vez que se consiga distinguir entre o tradicional, como definido aqui, e aquela perspectiva pseudotradicional que é muitas vezes identificada com uma forma ou outra de “fundamentalismo”.“Esse tipo de fenômeno, enquanto alega restaurar o Islã à sua pureza original, está de fato criando algo muito diferente do Islã tradicional que foi trazido pelo Profeta Muhammad (s.a.w.s.) e que sobreviveu e cresceu como uma árvore viva durante os catorze séculos desde sua migração para Medina.”
“Essas diferenças entre o tradicional e o anti- ou contratradicional no Islã se tornaram mais claras uma vez que o tradicional é comparado com o “fundamentalista” em campos específicos. O tradicionalista e o ‘fundamentalista’ se encontram na sua aceitação do Alcorão e Hadîth assim como em sua ênfase na Sharî’a, mas ainda aqui as diferenças permanecem profundas quanto às interpretações.”
“Como já mencionado, a tradição sempre enfatiza os comentários sapienciais e a longa tradição da hermenêutica alcorânica no entendimento dos significados dos versículos do Texto Sagrado. Assim muitos dos movimentos “fundamentalistas”, entretanto, simplesmente pega esse ou aquele versículo do Alcorão e dá um significado de acordo com seus objetivos e metas, muitas vezes lendo de uma forma alienígena à tradição integral de comentário alcorânco, ou tafsîr.”
“Quanto à Sharî’a, a tradição sempre enfatizou, em contraste com muito do atual “fundamentalismo”, fé, apego interno aos mandamentos da Lei Divina, e julgamento leniente baseado nas imperfeições da sociedade humana, ao invés de simples coerção externa baseada em medo de alguma autoridade humana, alguma autoridade que não Deus.”
“Fora desse domínio, as diferenças entre o tradicional e o anti- e contratradicional no Islã são ainda mais gritantes. Muitos dos movimentos “fundamentalistas” atuais, enquanto denunciam o modernismo, aceitam alguns dos aspectos mais básicos do modernismo. Isso é claramente visto na sua aceitação completa e de braços abertos da ciência moderna e tecnologia.”
“Muitos deles até mesmo buscam uma base alcorânica para a dominação e destruição da natureza pelo homem moderno se referindo à injunção alcorânica para o ser humano ‘dominar ‘ (taskhîr) a terra, como se o ser humano endereçado no Alcorão não fosse o servo de Deus (‘abd Allah) e vicegerente de Deus na terra (khalîfat Allah), mas em vez disso o consumidor moderno.”
“Eles se engajam em longas discussões para demonstrar como a ciência islâmica serviu como o pano de fundo necessário para tornar possível a criação da ciência ocidental a despeito do cristianismo, completamente ignorando o fato de que a natureza e caráter da ciência islâmica é totalmente diferente da ciência moderna.”
“A atitude deles em relação à ciência e tecnologia é de fato quase idêntica com aquela dos modernistas, como visto no plano prático na atitude de países muçulmanos com formas modernas de governo comparados com aqueles que alegam possuir uma ou outra forma de governo islâmico. Não há quase qualquer diferença na maneira na qual ambos tentam adotar cegamente tecnologia ocidental moderna, de computadores a televisão, sem qualquer pensamento nas consequências dessas invenções nas mentes e almas dos muçulmanos.”
“Essa atitude comum é de fato encontrada no domínio do conhecimento em geral. O processo de secularização do conhecimento que ocorreu no Ocidente desde a Renascença, (indo contra) todos os ensinos islâmicos tradicionais relativos à “ciência” (al-‘ilm), não foi somente tomado como certo de ser um sinal de progresso pelos modernistas, mas também até mesmo notado pelos “fundamentalistas”. Simplesmente equalizando formas modernas de conhecimento com al-‘ilm, o último alega seguir as injunções do Islã em sua aceitação da ciência moderna, raramente se perguntando que tipo de ‘ilm era aquele que o Abençoado Profeta Muhammad (s.a.w.s.) instruía seus seguidores a buscar do berço ao túmulo.”
“Nem eles pausaram para ponderar quais seriam as implicações reais do dito famoso, às vezes atribuído a ‘Ali ibn Abi Tâlib, “Eu me torno o escravo daquele que me ensinar uma única palavra.“ Poderia essa ‘palavra’ possivelmente ser um termo saído de um dicionário de química ou uma tirada de linguagem de computador?”[fn14]
“A natureza real de muito do pensamento “fundamentalista” em sua relação com o modernismo é tornada evidente na questão integral do processo de secularização do conhecimento no Ocidente e a adoção do fruto desse processo em tantos cantos do mundo islâmico contemporâneo, para não se falar de algumas das soluções sendo oferecidas ao problema da islamização do conhecimento por seguidores tanto do campo modernista como do “fundamentalista”.”
O caso da ‘ideologia’ é outro exemplo de alguns aspectos básicos do modernismo que são muitas vezes aceitos pelos movimentos islâmicos ‘fundamentalistas.
“A verdade do assunto é de fato que o Islã tradicional se recusa absolutamente a aceitar o Islã como uma ideologia e é somente quando a ordem tradicional sucumbe ao mundo moderno que o entendimento da religião como ideologia vem à tona, com consequências momentâneas para a religião em si, para não falar da sociedade que é governada em nome da ideologia religiosa em vez de acordo com o mandamentos da Sharî’a, como entendido tradicionalmente.”
“Falhar em distinguir entre esses dois modos é falhar em captar a distinção mais manifesta entre o Islã tradicional, de um lado, e o Islã ‘fundamentalista’ e modernista, do outro. De fato, isso marca a falha em compreender a natureza das forças em jogo no mundo islâmico hoje.”
“Muito mais poderia ter sido dito em relação ao Islã tradicional em contraste com ambas as interpretações modernista e ‘fundamentalista’, embora entre o último há alguns grupos que são mais próximos do campo tradicional, enquanto outros são diametralmente opostos e representam simplesmente o contratradicional.”
“Concluindo, é suficiente acrescentar que a escola tradicional se opõe ao ganho de poder terreno e qualquer submissão à mundanidade em nome do Islã, nunca esquecendo a injunção alcorânica: “O outro mundo é melhor para você do que este mundo“ [ وَلَلآخِرَةُ خَيْرٌ لَكَ مِنَ الأولَى. E sem dúvida que a Outra Vida será melhor para ti, do que a presente. 93:4] Enquanto aceita o fato de que o Islã não separa o domínio religioso do ‘secular’, o Islã tradicional se recusa a sacrificar o meio pelo fim e não aceita como legítimo o uso de qualquer e toda maquinação política possível apropriada de fontes completamente anti-islâmicas para se obter poder em nome do Islã.”
“Além do mais, o Islã tradicional não perdoa a intoxicação causada por ódio e raiva mais do que a causada por álcool; nem vê tal ódio hipócrita e intoxicante como um substituto legítimo para a necessidade de resolver os problemas intelectuais, morais, sociais, econômicos e políticos que o mundo islâmico encara hoje.”
“Apesar do modernismo e desse ‘fundamentalismo’ recente, o Islã tradicional ainda sobrevive nas vidas atuais daqueles sábios e homens e mulheres santos que continuam a seguir o caminho do Profeta Muhammad (s.a.w.s.), nas vidas daqueles artesãos e artistas que continuam a recriar aquelas formas visuais e audíveis que são veículos para a graça da revelação alcorânica, e nas vidas cotidianas daquela vasta maioria de muçulmanos piedosos cujos corações, mentes e corpos ainda reverberam em resposta aos ensinamentos tradicionais do Islã.”
“Havia um certo renascimento do Islã tradicional nos domínios espiritual, intelectual e artístico durante algumas décadas passadas, um renascimento que passou batido no Ocidente em grande parte. O Islã Tradicional resistirá de fato até o fim da história, pois ele não é nada menos que a árvore cujas raízes estão afundadas da revelação alcorânica.”
E “ não importa o quão grande seja a confusão, a verdade se protege a si mesma, porque não é nada além do que a realidade.”
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