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O Muçulmano que Salvou Centenas de Judeus do Holocausto

Embora tenha sido uma figura histórica controversa, Si Kaddour Benghabrit teve um papel muito importante durante a guerra ao salvar centenas de vidas.
  • Si Kaddour Benghabrit foi um líder muçulmano argelino, mas que contribuiu muito para que os franceses consolidassem seu poder no norte da África.
  • Por outro lado, sua relação amistosa com os colonizadores permitiu que ele conseguisse construir a primeira mesquita da história da França.
  • Durante a Segunda Guerra Mundial, ele conseguiu emitir documentos falsos para que muitos judeus conseguissem se salvar do holocausto.

No final do século XIX, os franceses tinham controle do atual território argelino. Além disso, a influência sobre a colônia não era apenas militar: naquela época, a Mission Civilisatrice ou "Missão Civilizadora" impôs uma forte mudança de costumes dos muçulmanos argelinos.

Isso se refletia na educação que as pessoas receberam naquele período. Foi nesta época que Si Kaddour Benghabrit iniciou seus estudos para se tornar imam, uma liderança religiosa do Islam.

Ele estudou na madrassa Thaalibia, na cidade de Argel, e na Universidade de al-Karaouine, em Fez, no Marrocos.

Sabia árabe clássico e memorizou o Alcorão por completo, mas, por causa de sua educação paradoxal, nunca foi avesso aos valores franceses. Pelo contrário, incorporou-os muito bem.

Ele não via sua identidade islâmica e francófila como paradoxais e alternava entre as duas com grande naturalidade, o que lhe rendeu um posto de intérprete assistente nas missões diplomáticas dos franceses na Argélia e no Marrocos a partir de 1892, quando tinha 38 anos de idade.

Seu trabalho foi fundamental para expandir a influência francesa no norte da África, ajudando a estabelecer um protetorado no Marrocos e orientando os argelinos a lutarem contra os otomanos e a favor da França na Primeira Guerra Mundial.

Nessa época, ele também ajudou a fundar uma associação para facilitar a acomodação dos peregrinos em Meca.

A Mesquita de Paris

Sua contribuição com os franceses de fato não favoreceu a autodeterminação dos povos árabes do norte da África, mas acabou tendo um outro efeito que repercute até hoje.

Pela contribuição dos muçulmanos na Primeira Guerra Mundial, foi possível erguer o primeiro templo islâmico da história da França, a Grande Mesquita de Paris, cuja construção foi concluída em 1926.

Futuramente, a mesquita teve um papel ativo em abrigar muçulmanos refugiados do norte da África que se estabeleceram na França, o que marcou o início de um fluxo que se expandiu por causa das constantes guerras, opressões e crises econômicas nos países islâmicos e acabou perdurando até os dias atuais.

Si Kaddour Benghabrit era o imam da mesquita na época em que os nazistas invadiram a França, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940.

Seu papel na história poderia ser totalmente controverso se não fosse por suas atitudes para salvar vidas durante a perseguição que os alemães empreenderam no território francês.

A partir dali, ele iniciou um intenso trabalho para proteger os muçulmanos e judeus que estavam no país.

Para os judeus, em especial, Si Kaddour ofereceu documentos falsos alegando que eles eram muçulmanos, abrigou-os na mesquita durante as batidas feitas pelos nazistas em todo o país e entregou-os à Resistência Francesa para que eles pudessem ir para os países islâmicos do norte da África.

Sua atividade gerou suspeitas e ele chegou a ser preso pela Gestapo em 1941, mas foi solto após ser instruído a parar de emitir documentos falsos. Os alemães tentaram usar a mesquita de Paris como veículo de propaganda, mas Si Kaddour conseguiu impedir que isso fosse feito.

Alain Boyer, ex-chefe de assuntos religiosos do Ministério do Interior francês, afirmou que Si Kaddour salvou pelo menos 500 pessoas, mas é possível que este número seja maior.

O Dr. Albert Assoulin, um judeu sobrevivente do holocausto, afirma ter tido acesso aos cartões de racionamento e aos livros da mesquita que documentavam cerca de 1700 pessoas que foram salvas. No entanto, esses documentos nunca foram encontrados.

Um dos casos mais famosos de vítimas salvas foi o do músico judeu Salim Halali, um dos cantores mais famosos da música popular argelina.

Depois que os nazistas perderam a guerra, Si Kaddour continuou dirigindo a mesquita de Paris até o seu último dia de vida. Ele morreu em 1954, aos 85 anos, e seu corpo foi enterrado no templo.

Fontes

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