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O Falso Casamento infantil de Menina afegã noticiado nos EUA

Nos EUA, a CNN transmitiu uma reportagem sobre um casamento infantil no Afeganistão, mas jornalistas afegãos apuraram que a história era encenada.
  • A CNN fez uma reportagem no ano passado mostrando o casamento entre um idoso e uma menina de 9 anos no Afeganistão.
  • Uma reportagem da mídia afegã entrevistou pessoas envolvidas no caso e da comunidade próxima, averiguando que a história era falsa.
  • Em países onde há crises humanitárias, é comum que pessoas inventem histórias para atrair ajuda.
  • No passado, casos semelhantes a este já foram noticiados pela imprensa, mas em seguida foi constatado que também eram falsos.

Em novembro do ano passado, poucos meses após da retomada do poder do Talibã no Afeganistão, a rede americana CNN exibiu na televisão, em horário nobre, uma reportagem mostrando uma menina de 9 anos que estaria supostamente sendo entregue em casamento para um homem que tinha 55 anos. 

O caso que chocou os EUA revelava mais detalhes sobre os chocantes fatos que marcavam o cotidiano do Afeganistão que, além de atravessar uma guerra e a tomada de poder dos Talibãs, ainda enfrentava dura miséria que oprimia, sobretudo, as mulheres. A história, no entanto, não passava de uma farsa desmentida por uma reportagem feita pelo grupo afegão Rukhshana.

Na reportagem da CNN, foi mostrado um homem chamado Abdul Malik entregar sua filha Parwana em troca de US$ 2.200 para um homem chamado Qorban. Antes de ser levada, ela é mostrada rindo com os irmãos e brincando com maquiagem. No momento em que o suposto pretendente decide levar a menina, a reportagem narra, em tom ameaçador: “Suas grandes mãos agarram seu pequeno corpo. Parwana tenta se afastar... Mas é inútil. O destino da criança pequena e indefesa foi selado”.

Em entrevista ao Rukhshana, Abdul Malik afirmou que estava, na verdade, pegando um empréstimo com Qorban, que não era nenhum pretendente, mas sim tio-avô da garota. O pai de Parwana deu a guarda da filha para ao tio avô até que conseguisse melhorar sua situação financeira afetada pelo uso de drogas, e quitar sua dívida. ​​“Os jornalistas me perguntaram se poderíamos reencenar o episódio na frente deles. E nós fizemos”, disse Abdul, 8 dias após a reportagem da CNN.

Em resposta à reportagem da Rukhshana, a CNN manteve a sua versão apresentada na matéria: “Rejeitamos fundamentalmente toda a premissa deste artigo. Mantemos absolutamente nossa reportagem, que foi elaborada por jornalistas afegãos confiáveis ​​e experientes e funcionários da CNN com profundo conhecimento do Afeganistão”, disse a rede por meio de um porta-voz.

CNN Manteve a Versão

Após a publicação da reportagem da Rukhshana, a CNN insistiu na versão que havia apresentado e, em uma nova entrevista ao pai Abdul Malik, o homem disse que havia mudado a versão por vergonha do que fez. A reportagem levou a organização Too Young to Wed a intervir em favor da menina, deslocando ela, sua mãe e seus irmãos para um local afastado dali, onde estivessem em segurança.

Em entrevista ao Washington Post, a editora do Rukshana, Zahra Nader, disse que a CNN tinha apenas uma fonte para cobrir o caso e que o grupo de mídia afegão conseguiu entrevistar outras pessoas que afirmam que toda a história foi encenada. A rede americana nega esta afirmação.

Embora o casamento com crianças ainda seja algo recorrente no Afeganistão, casamentos entre tios-avós e sobrinhas-netas são vistos como incestuosos e seriam amplamente condenados pelas leis e pela sociedade afegã.

A fotojornalista Stephanie Sinclair, responsável pela Too Young to Wed, levantou a hipótese de a criança ter sido entregue a Qorban como serva em troca de dinheiro e disse à reportagem do Washington Post que acredita que ela pode sim ter sido entregue, mas o real motivo de a jovem ter ido parar nas mãos do homem é desconhecido pela organização.

Crise Humanitária Gera Aumento de Histórias Falsas

Em contextos de guerras, extrema pobreza, fome generalizada e falta de presença estatal, é comum que as pessoas inventem histórias para terem algum tipo de auxílio. O delegado do campo Jalil Hafiz foi entrevistado por Rukhshana e disse que o pai de Parwana é um homem viciado em ópio e inventou a história junto a seu tio para obter ajuda.

Essa não é a primeira vez que casos desse tipo são vistos na imprensa internacional. Em 2013, circulou em todo o mundo uma notícia de que uma menina de 9 anos havia morrido após passar a lua de mel com o seu marido de 40 anos. Na época, o jornal Gulf News entrevistou Mosleh Al Azzani, o diretor de investigação do distrito de Hardh, onde teria ocorrido o fato, e ele constatou junto ao pai da garota que ela estava viva e não havia se casado.

Em 2013, seguindo os eventos em torno da falsa morte da menina iemenita, o Gulf News entrevistou o ativista pelo direito das crianças, Ahmad Al Qurishi, que investigou o caso e afirmou: "Algumas pessoas criam essas histórias para obter publicidade, atenção e ajuda de organizações internacionais".

No entanto, os casos de pessoas sendo vendidas em troca de dinheiro são reais. A BBC registrou casos de famílias que não têm o que comer vendendo seus bebês como uma forma de se manter. A Human Rights Watch disse que as mulheres são as mais afetadas pela crise humanitária e, além de serem vendidas para casamentos, elas são as que também enfrentam mais obstáculos para conseguir comida, assistência médica e dinheiro.

Com informações de Rukhshana Media

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