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Muçulmanos Podem ter Amigos de outras Religiões?

Alguns versículos do Alcorão falam da relação dos muçulmanos com outras religiões. Saiba qual deve ser a conduta do muçulmano nesses casos.
  • Existem alguns versículos no Alcorão que tratam a respeito da amizade entre muçulmanos e pessoas de outras religiões.
  • Em geral, apenas são proibidas as amizades em que são prejudiciais ao Islam da pessoa, sua integridade ou à de terceiros.
  • Não é permitido tratar mal pessoas de outras religiões que tratam muçulmanos com respeito e não causam nenhum prejuízo a eles ou sua fé.

A amizade é uma das formas mais profundas e significativas de relacionamento humano, proporcionando suporte emocional, companheirismo e crescimento pessoal. 

Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, é comum encontrar pessoas de diferentes origens culturais e religiosas. 

No contexto do Islam, muitos muçulmanos se perguntam sobre a possibilidade de formar amizades com pessoas de outras religiões.

Este texto busca explorar essa questão à luz dos ensinamentos islâmicos, destacando os princípios de convivência pacífica, respeito mútuo e compreensão que são centrais para a fé muçulmana.

O que o Alcorão diz sobre amizade entre muçulmanos e não-muçulmanos?

No Alcorão, há um versículo que frequentemente é citado em discussões sobre amizades inter-religiosas: 

"Ó vós que credes! Não tomeis por amigos judeus e cristãos. Eles são amigos uns dos outros. E quem dentre vós tomar por amigos a eles, por certo será um deles. Por certo, Allah não guia o povo injusto." (Alcorão 5:51). 

Para a perfeita compreensão deste versículo, é importante considerar o contexto histórico e outros versículos do Alcorão que complementam o que está dito nele.

O versículo 5:51 foi revelado em um período de conflito e tensão entre as primeiras comunidades muçulmanas e algumas tribos judaicas que quebraram tratados e alianças.

Os judeus de Medina tratavam os muçulmanos com hostilidade, tentavam fazer com que eles abandonassem o Islam e voltassem ao paganismo, que era a religião de seus antepassados.

Mais tarde, essas tribos se empenharam em sabotagem contra os muçulmanos, estabelecendo acordos secretos com os pagãos de Meca para que eles tivessem sua entrada em Medina facilitada, e consequentemente conseguissem acabar com o Profeta e seus seguidores.

A revelação, portanto, visava proteger a jovem comunidade muçulmana de traições políticas e militares.

Complementarmente, o versículo 60:8 do Alcorão oferece uma visão mais generalizada sobre o assunto: 

"Allah não vos proíbe de agirdes com bondade e equidade para com aqueles que não vos combateram por causa da religião e não vos expulsaram de vossas casas. Por certo, Allah ama os equitativos." (Alcorão 60:8)

Amizades e Boas Relações com Não-Muçulmanos no Tempo do Profeta Muhammad

O Profeta Muhammad teve várias boas relações com não-muçulmanos, destacando a importância do respeito e da justiça nas interações inter-religiosas. 

Um exemplo notável é sua relação com seu tio Abu Talib, que, apesar de não ter se convertido ao Islam, sempre protegeu e apoiou Muhammad. 

Fato histórico altamente notável, é que a Constituição de Medina foi uma das primeiras da história a garantir liberdade religiosa para os habitantes locais, sendo que a cidade contava com larga presença de muçulmanos e judeus.

Outro exemplo é a relação com a tribo cristã de Najran, com quem o Profeta fez um tratado de paz, garantindo-lhes segurança e liberdade religiosa.

O Rabino Mukhayriq, um judeu de Medina, também exemplifica essa convivência. Ele lutou ao lado dos muçulmanos na Batalha de Uhud, falecendo como mártir. O Profeta Muhammad elogiou Mukhayriq e disse: "Mukhayriq é o melhor dos judeus."

Outra relação importante foi com o Negus da Abissínia, um rei cristão que ofereceu refúgio aos primeiros muçulmanos que fugiram da perseguição em Meca. 

O Profeta Muhammad expressou grande apreço pelo Negus e manteve uma relação de respeito e diplomacia com ele.

Há vários hadiths que encorajam os muçulmanos a tratar bem os não-muçulmanos. Um deles é: "Aquele que mata uma pessoa sob um pacto (de não-muçulmano) não sentirá o cheiro do Paraíso." (Sahih Bukhari).

 Este hadith destaca a importância de respeitar os acordos e proteger os direitos dos não-muçulmanos.

Outro hadith relevante é: "Quem é cruel e duro com uma minoria não-muçulmana, ou restringe seus direitos, ou lhes impõe algo além da sua capacidade, ou toma algo deles contra a sua vontade; eu (Profeta Muhammad) me queixarei contra essa pessoa no Dia do Juízo." (Abu Dawud). 

Este hadith sublinha a responsabilidade dos muçulmanos em serem justos e compassivos com todos, independentemente de sua fé.

Portanto, as boas relações do Profeta Muhammad com não-muçulmanos e os hadiths que encorajam o bom tratamento refletem a possibilidade e a importância de os muçulmanos terem amizades e interações positivas com pessoas de outras religiões. 

Desde que essas relações não prejudiquem sua fé ou a comunidade muçulmana, a convivência pacífica e o respeito mútuo são valores fundamentais do Islam.

Relação dos Muçulmanos com Pais e Parentes Não-Muçulmanos

No Islam, o respeito e a bondade para com os pais e parentes são valores fundamentais, mesmo que eles não compartilhem a mesma fé. 

As fontes sagradas islâmicas fornecem orientação clara sobre como os muçulmanos devem tratar seus pais e parentes não-muçulmanos, enfatizando a importância da justiça, do respeito e do bom tratamento.

O Alcorão exorta os muçulmanos a manter boas relações com seus pais, independentemente de suas crenças. 

Na Surata Luqman, Deus diz: 

"E recomendamos ao homem benevolência para com os seus pais. Sua mãe o suporta, entre dores e dores, e sua desmama é aos dois anos. (E lhe dizemos): Agradece a Mim e aos teus pais, porque retorno será a Mim. Porém, se te constrangerem a associar-Me o que tu ignoras, não lhes obedeças; comporta-te com eles com benevolência neste mundo, e segue a senda de quem se voltou contrito a Mim. Logo o retorno de todos vós será a Mim, e então inteirar-vos-ei de tudo quanto tiverdes feito." (Alcorão 31:14-15)

Este versículo ressalta que, embora os muçulmanos não devam seguir instruções contrárias à sua fé, ainda devem tratar seus pais com bondade e respeito.

Além disso, há hadiths que enfatizam o bom tratamento para com todos os parentes, independentemente de sua fé. Um hadith relatado por Asma bint Abu Bakr, cuja mãe era uma politeísta, ilustra isso. 

Asma bint Abu Bakr disse: "Minha mãe que era pagã, veio com seu pai durante o período de paz entre os muçulmanos e os infiéis. Fui buscar o conselho do Profeta  dizendo: "Minha mãe chegou e ela está esperando que eu a receba, devo manter boas relações com ela?". O Profeta  disse: "Sim, seja bondosa com sua mãe"." (Sahih Bukhari).

Esses exemplos e ensinamentos sublinham que os muçulmanos devem tratar seus pais e parentes não-muçulmanos com bondade, respeito e justiça, desde que isso não comprometa sua fé. 

A convivência pacífica e o bom tratamento são valores fundamentais do Islam, e manter boas relações com a família é uma expressão significativa desses princípios.

Conclusão: Muçulmanos podem ter amigos de outras religiões?

Sim, muçulmanos podem ter amigos de outras religiões. As amizades com não-muçulmanos somente são proibidas caso isso gere prejuízos para a própria fé e integridade, ou a de algum outro muçulmano.

Caso ele tenha uma amizade que tente o afastar da religião, não respeite sua fé, tenta constrangê-lo por causa disso, ou o induza a fazer coisas parecidas com outro muçulmano, manter este vínculo pode ser um pecado.

Porém, não é permitido tratar mal e muito menos prejudicar pessoas de outras religiões que não causam nenhum tipo de malefício aos muçulmanos.

Isso é enfatizado sobretudo no caso dos pais, pois os muçulmanos são incentivados a manter laços familiares e tratar os parentes com o devido respeito.

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