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Jihad: O Que é e Quais são os seus Princípios

Jihad é uma luta inerentemente justa e se uma guerra promove a opressão e o morticínio de inocentes, ela se afasta dos princípios islâmicos.
  • A jihad é um esforço espiritual e moral no Islam, visando o aperfeiçoamento pessoal e a justiça social.
  • Refere-se à luta física, sempre guiada por regras éticas, visando a defesa da comunidade e o estabelecimento da justiça.
  • Trata-se da luta interna contra o ego, focando na purificação espiritual e no cumprimento dos deveres religiosos.
  • A jihad é legítima e ética, enquanto o jihadismo é uma manifestação de extremismo que usa dos valores da religião para tentar respaldar atrocidades.

A jihad, frequentemente mal interpretada, é um conceito central no Islam que envolve a busca por melhoria pessoal e coletiva. No entanto, seu significado vai muito além da ideia de conflito armado. 

Na verdade, jihad significa "esforço" ou "luta" e engloba tanto a luta interna, espiritual, para alcançar a pureza moral, quanto a luta externa para proteger a comunidade e garantir a justiça. 

Neste texto, vamos explorar as diferentes dimensões da jihad, desmistificando suas conotações negativas e revelando seu verdadeiro propósito dentro da tradição islâmica.

O Conceito de Jihad no Islam

A jihad, no Islam, é amplamente definida como um esforço para cumprir a vontade de Allah em todos os aspectos da vida. 

Derivada da raiz árabe jahada, que significa "esforçar-se" ou "lutar", jihad envolve um esforço constante para alcançar a excelência moral, espiritual e social. 

Esse conceito está firmemente enraizado nas escrituras islâmicas, tanto no Alcorão quanto nos ditos do Profeta Muhammad.

No Alcorão, a jihad é frequentemente associada à busca por justiça e retidão. Um exemplo claro é o versículo que diz: 

"E quanto àqueles que lutam por Nossa causa, guiá-los-emos por certo em Nossos caminhos. E, por certo, Allah está com os que fazem o bem" (Alcorão 29:69). 

Este versículo sublinha o caráter amplo da jihad, mostrando que aqueles que se esforçam sinceramente por Allah são recompensados com orientação divina.

O Profeta Muhammad  também explicou o valor desse esforço em várias circunstâncias. Em um hadith autêntico, ele afirmou: 

"A melhor jihad é dizer uma palavra de verdade diante de um governante tirano" (Sunan Abi Dawud, 4344; Sunan al-Tirmidhi, 2174). 

Este ensinamento enfatiza que jihad pode ser realizada em contextos de justiça social e resistência contra a opressão.

Portanto, a jihad não se limita à ação física, mas abrange toda forma de esforço sincero para viver de acordo com os ensinamentos de Allah, seja no nível pessoal ou comunitário.

A Jihad Menor: O Combate Físico

A jihad menor refere-se à luta física para defender a comunidade muçulmana quando atacada ou ameaçada, dentro de um contexto de guerra justa. 

Ela tem este nome, pois o Profeta Muhammad frequentemente dizia que a luta contra o ego inferior era o pilar central da jihad, portanto, embora este não seja um termo cunhado diretamente nas fontes sagradas islâmicas, é amplamente aceito pelos eruditos.

Não te informei? O crente é aquele a quem se confia a vida e a riqueza das pessoas, e o muçulmano é aquele de cuja língua e mão as pessoas estão seguras. O mujahid é aquele que trava a jihad contra si mesmo em obediência a Allah, e o emigrante é aquele que emigra do pecado e do mal. (Musnad Ahmad 23438)

No Islam, o uso da força deve seguir princípios rígidos e éticos, com o objetivo de proteger a justiça, garantir a segurança dos muçulmanos, e manter a paz quando ela é comprometida. 

A jihad menor não é um ato de agressão ou expansão, mas uma resposta defensiva e altamente regulamentada. Seus princípios fundamentais são:

Autorização pela Liderança Legítima

A jihad menor só pode ser declarada por uma autoridade governante ou liderança legítima. 

Não é permitido que indivíduos ou grupos tomem a iniciativa de declarar guerra por conta própria. 

O Profeta Muhammad  advertiu contra a rebelião e a desordem, ressaltando que a jihad precisa de uma ordem estabelecida. O Alcorão enfatiza: 

"Ó vós que credes! Obedecei a Allah e obedecei ao Mensageiro e aos que, entre vós, detêm autoridade" (Alcorão 4:59).

Finalidade Defensiva e Justa

A jihad menor só pode ser travada em defesa da comunidade islâmica quando ela é atacada, oprimida ou está sob clara ameaça. O Alcorão claramente estabelece isso: 

"E lutai pela causa de Allah contra aqueles que lutarem contra vós, mas não transgridais. Por certo, Allah não ama os transgressores" (Alcorão 2:190). 

A transgressão, seja no início de hostilidades ou durante o combate, é proibida.

Proteção de Civis e Não Combatentes

Um dos princípios mais fundamentais da jihad menor é a proibição de atacar civis, não combatentes, mulheres, crianças, monges e qualquer pessoa que não participe ativamente das hostilidades. 

O Profeta Muhammad instruiu seus companheiros: 

"Não matem mulheres, crianças, idosos ou religiosos" (Sunan Abu Dawud, 2614). 

O objetivo é sempre proteger os inocentes, mesmo em tempos de conflito.

Respeito à Propriedade e ao Meio Ambiente

Além de proteger os civis, a jihad menor impõe limites rigorosos em relação à destruição de propriedades, colheitas, animais e o meio ambiente. Abu Bakr, o primeiro califa, ao enviar seus exércitos, ordenou: 

"Não corte árvores frutíferas, não destrua locais habitados, não mate animais a menos que necessário para comer" (Al-Muwatta, 21:3:10). 

Isso reforça o caráter ético da jihad no Islam, que busca evitar danos desnecessários.

Objetivo de Restabelecer a Paz

O principal objetivo da jihad menor é restabelecer a paz e a ordem. Quando o inimigo se propõe à paz, os muçulmanos são obrigados a aceitá-la, como mencionado no Alcorão: 

"E se eles se inclinarem para a paz, então, inclinai-vos para ela, e confiai em Allah" (Alcorão 8:61). 

Isso demonstra que a luta no Islam visa a cessação das hostilidades e a resolução pacífica de conflitos.

Proibição de Transgressão e Excesso

O Alcorão proíbe qualquer forma de excesso durante a jihad, e isso inclui a injustiça e a crueldade. A transgressão das regras estabelecidas é severamente condenada: 

"E lutai por Allah, e não ultrapasseis os limites. Certamente, Allah não ama os transgressores" (Alcorão 2:190). 

Este princípio rege toda a condução da guerra no Islam, garantindo que a justiça prevaleça, mesmo em combate.

Prisioneiros de Guerra e Tratamento Humanitário

O Islam também estabelece regras para o tratamento dos prisioneiros de guerra, proibindo qualquer tipo de tortura ou maus-tratos. O Alcorão diz: 

"E alimentam, por amor a Ele, o necessitado, o órfão e o cativo" (Alcorão 76:8). 

Os prisioneiros devem ser tratados com dignidade e respeito, e sua libertação pode ocorrer através de troca, resgate ou outros meios pacíficos, conforme estabelecido na época do Profeta.

Jihad e Intenção (Niyyah)

A intenção por trás da jihad é crucial. Deve ser puramente para a causa de Allah, e não por motivos egoístas, ambições pessoais ou ganhos materiais. 

O Profeta Muhammad ﷺ afirmou: "Aquele que luta para que a palavra de Allah seja suprema está na causa de Allah" (Sahih al-Bukhari, 2810; Sahih Muslim, 1904). 

Lutar por motivos injustos ou pessoais invalida a jihad.

A Jihad Maior: A Luta Interna pela Purificação e Submissão a Allah

A jihad maior (al-jihad al-akbar) refere-se ao esforço constante que cada muçulmano deve fazer para combater as inclinações do ego (nafs) e viver de acordo com os ensinamentos de Allah. 

Essa luta espiritual e moral é considerada a forma mais elevada de jihad, pois envolve o desafio diário de resistir às tentações, buscar o autodomínio e alcançar a excelência no comportamento, adoração e caráter. 

A jihad maior não implica em combate físico, mas sim a batalha interna que cada indivíduo enfrenta para se tornar um verdadeiro servo de Allah pois, antes de tudo, ela é um princípio espiritual.

A Jihad Contra o Ego (Nafs)

A base da jihad maior está no esforço contínuo para controlar o ego e as paixões. O Alcorão orienta os crentes a manterem o foco nessa luta: 

"E quem teme estar na presença de seu Senhor e refreia a alma de desejos egoístas, então, por certo, o Paraíso será o seu abrigo" (Alcorão 79:40-41). 

Esse versículo destaca a importância de controlar os impulsos internos que podem desviar a pessoa do caminho de Allah.

O Profeta Muhammad enfatizou a importância dessa luta espiritual em diversos hadiths. Em um dos exemplos mais autênticos, ele disse: 

"O muçulmano é aquele de cujas mãos e língua os outros muçulmanos estão a salvo, e o crente é aquele que é confiável com as vidas e propriedades dos outros" (Sunan an-Nasai 4995). 

Esse hadith ilustra que a jihad maior envolve o esforço para garantir que nossas ações e palavras estejam alinhadas com os valores islâmicos, respeitando a segurança e a dignidade dos outros.

A Busca por Excelência Moral e Espiritual

A jihad maior também inclui a luta pela purificação espiritual e o cumprimento das obrigações religiosas. 

O Alcorão orienta: "E quanto àqueles que lutam por Nossa causa, guiá-los-emos, por certo, em Nossos caminhos. E, por certo, Allah está com os que fazem o bem" (Alcorão 29:69). 

Esse esforço inclui a oração, o jejum, a caridade e a busca pela justiça em todos os aspectos da vida.

O Profeta Muhammad  também destacou que a jihad maior está associada à luta contínua contra as más inclinações e pela prática de boas ações, mesmo que sejam pequenas. 

"Aquele que cuida de uma viúva ou de um pobre é como um guerreiro que luta pela Causa de Allah (Mujahid), ou como aquele que reza a noite toda e jejua o dia todo." (Sahih al-Bukhari 5353)

 A jihad maior envolve controlar a raiva, praticar paciência, perdoar os outros e seguir o caminho da retidão, mesmo quando é difícil.

A Diferença entre Jihad e Jihadismo

A jihad, conforme descrito nas fontes islâmicas, é um conceito espiritual e moral que abrange o esforço contínuo de um muçulmano para seguir o caminho de Allah, seja por meio do crescimento pessoal ou, em casos específicos, pela defesa da comunidade muçulmana em tempos de ameaça. 

A jihad, portanto, é amplamente entendida como um esforço para alcançar a justiça, a paz e a excelência moral, conforme estipulado no Alcorão e nos hadiths autênticos. 

No entanto, nos últimos tempos, o termo "jihad" tem sido associado ao "jihadismo", uma ideologia política extremista que usa a violência para fins de controle e poder.

Jihad: Um Conceito Espiritual e Justo

No Islam, a jihad não é sinônimo de violência ou guerra indiscriminada, sendo governada por regras claras de justiça e ética, como evidenciado no Alcorão: 

"E lutai pela causa de Allah contra aqueles que lutarem contra vós, mas não transgridais. Por certo, Allah não ama os transgressores" (Alcorão 2:190).

A jihad em sua essência é a prática de estabelecer justiça e a retidão. O Profeta Muhammad enfatizou o comportamento ético durante o conflito, protegendo civis e não combatentes, proibindo a destruição injustificada e promovendo a reconciliação. 

A agressão injustificada ou terror contra inocentes, portanto, se afasta naturalmente da jihad, pois não há como ser justo praticando a injustiça, do mesmo modo que não há como se defender sendo um agressor.

Jihadismo: A Ideologização Política e Extremista da Jihad

O jihadismo, por outro lado, é um nome vulgar usado para denominar os terroristas muçulmanos , que usam a violência extrema para alcançar objetivos de poder, controle e domínio. 

Os jihadistas reinterpretam os textos islâmicos, criam uma teologia própria para legitimar suas ações e muitas vezes condenam os princípios do Islam normativo, tudo isso para usar força de forma ilegítima.

Eles usam a violência contra civis, instituições e Estados, sem respeitar os princípios éticos do combate que o Islam claramente estabelece em suas fontes sagradas amplamente aceitas pelos muçulmanos. 

Esses grupos, como Al-Qaeda, Estado Islâmico e outros, se apropriam da jihad sem se preocupar com os princípios que ela estabelece, afirmando estarem praticando os princípios islâmicos na tentativa de dar respaldo para sua opressão.

Diferenças Fundamentais

  1. Objetivo: A jihad é uma forma dos muçulmanos proteger sua comunidade e livrar pessoas que estão sendo oprimidas. Exemplos como o do Emir Abdelkader, que salvou a vida de milhares de cristãos na Síria, revelam que lutar na causa de Allah pode não ser apenas em favor dos muçulmanos. Os jihadistas, no entanto, não demonstram compromisso com a integridade de outros grupos, ao contrário, perseguem eles na maioria das vezes a fim de eliminar qualquer um que não adere a sua visão de Islam, incluindo outros muçulmanos 
  2. Métodos: A jihad é regida por limites éticos estritos, incluindo a proteção de civis e a proibição de violência desnecessária. O jihadismo frequentemente ignora esses princípios, atacando não-muçulmanos que estão em paz com os muçulmanos, e até matando pessoas queimadas, como o Estado Islâmico fazia no Levante, o que é proibido pela Sharia.
  3. Justificativa Teológica: Os jihadistas recorrem a textos de teólogos tardios do século XIX e XX, como Ibn Abdul Wahhab, e pensadores como Sayyid Qutb, para relativizar quem são os inimigos dos muçulmanos e abrir precedentes para atacá-los que não existem na doutrina islâmica normativa.

Conclusão

A jihad, em sua essência islâmica, é um conceito profundamente espiritual e ético, que visa promover a justiça, a paz e a melhoria tanto individual quanto coletiva. 

Longe de se limitar à ideia de conflito armado, a jihad envolve um esforço contínuo para seguir o caminho de Allah, combatendo as más inclinações internas e, quando necessário, defendendo a comunidade de maneira justa e regulada. 

Ao longo da história, a jihad tem sido usada para proteger muçulmanos e até mesmo não-muçulmanos, como demonstram exemplos em tempos de perigo.

Por outro lado, o jihadismo é uma corrupção de um conceito sagrado, esvaziando seu significado mais profundo para alcançar objetivos políticos por meio de violência e opressão que está em contradição com os princípios islâmicos. 

Enquanto a jihad é regida por regras éticas estritas e visa a preservação da dignidade e da vida humana, o jihadismo desrespeita essas diretrizes e promove a destruição e a violência ilegítima. 

Assim, é essencial distinguir o significado da jihad dos abusos cometidos por grupos extremistas que, em busca de poder, pois o muçulmano que se esforça para se manter no caminho nobre é um mujahid, aquele que pratica jihad, e o jihadismo é, por essência, uma contradição a esses princípios.

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