A jihad, frequentemente mal interpretada, é um conceito central no Islam que envolve a busca por melhoria pessoal e coletiva. No entanto, seu significado vai muito além da ideia de conflito armado.
Na verdade, jihad significa "esforço" ou "luta" e engloba tanto a luta interna, espiritual, para alcançar a pureza moral, quanto a luta externa para proteger a comunidade e garantir a justiça.
Neste texto, vamos explorar as diferentes dimensões da jihad, desmistificando suas conotações negativas e revelando seu verdadeiro propósito dentro da tradição islâmica.
A jihad, no Islam, é amplamente definida como um esforço para cumprir a vontade de Allah em todos os aspectos da vida.
Derivada da raiz árabe jahada, que significa "esforçar-se" ou "lutar", jihad envolve um esforço constante para alcançar a excelência moral, espiritual e social.
Esse conceito está firmemente enraizado nas escrituras islâmicas, tanto no Alcorão quanto nos ditos do Profeta Muhammad.
No Alcorão, a jihad é frequentemente associada à busca por justiça e retidão. Um exemplo claro é o versículo que diz:
"E quanto àqueles que lutam por Nossa causa, guiá-los-emos por certo em Nossos caminhos. E, por certo, Allah está com os que fazem o bem" (Alcorão 29:69).
Este versículo sublinha o caráter amplo da jihad, mostrando que aqueles que se esforçam sinceramente por Allah são recompensados com orientação divina.
O Profeta Muhammad também explicou o valor desse esforço em várias circunstâncias. Em um hadith autêntico, ele afirmou:
"A melhor jihad é dizer uma palavra de verdade diante de um governante tirano" (Sunan Abi Dawud, 4344; Sunan al-Tirmidhi, 2174).
Este ensinamento enfatiza que jihad pode ser realizada em contextos de justiça social e resistência contra a opressão.
Portanto, a jihad não se limita à ação física, mas abrange toda forma de esforço sincero para viver de acordo com os ensinamentos de Allah, seja no nível pessoal ou comunitário.
A jihad menor refere-se à luta física para defender a comunidade muçulmana quando atacada ou ameaçada, dentro de um contexto de guerra justa.
Ela tem este nome, pois o Profeta Muhammad frequentemente dizia que a luta contra o ego inferior era o pilar central da jihad, portanto, embora este não seja um termo cunhado diretamente nas fontes sagradas islâmicas, é amplamente aceito pelos eruditos.
Não te informei? O crente é aquele a quem se confia a vida e a riqueza das pessoas, e o muçulmano é aquele de cuja língua e mão as pessoas estão seguras. O mujahid é aquele que trava a jihad contra si mesmo em obediência a Allah, e o emigrante é aquele que emigra do pecado e do mal. (Musnad Ahmad 23438)
No Islam, o uso da força deve seguir princípios rígidos e éticos, com o objetivo de proteger a justiça, garantir a segurança dos muçulmanos, e manter a paz quando ela é comprometida.
A jihad menor não é um ato de agressão ou expansão, mas uma resposta defensiva e altamente regulamentada. Seus princípios fundamentais são:
A jihad menor só pode ser declarada por uma autoridade governante ou liderança legítima.
Não é permitido que indivíduos ou grupos tomem a iniciativa de declarar guerra por conta própria.
O Profeta Muhammad advertiu contra a rebelião e a desordem, ressaltando que a jihad precisa de uma ordem estabelecida. O Alcorão enfatiza:
"Ó vós que credes! Obedecei a Allah e obedecei ao Mensageiro e aos que, entre vós, detêm autoridade" (Alcorão 4:59).
A jihad menor só pode ser travada em defesa da comunidade islâmica quando ela é atacada, oprimida ou está sob clara ameaça. O Alcorão claramente estabelece isso:
"E lutai pela causa de Allah contra aqueles que lutarem contra vós, mas não transgridais. Por certo, Allah não ama os transgressores" (Alcorão 2:190).
A transgressão, seja no início de hostilidades ou durante o combate, é proibida.
Um dos princípios mais fundamentais da jihad menor é a proibição de atacar civis, não combatentes, mulheres, crianças, monges e qualquer pessoa que não participe ativamente das hostilidades.
O Profeta Muhammad instruiu seus companheiros:
"Não matem mulheres, crianças, idosos ou religiosos" (Sunan Abu Dawud, 2614).
O objetivo é sempre proteger os inocentes, mesmo em tempos de conflito.
Além de proteger os civis, a jihad menor impõe limites rigorosos em relação à destruição de propriedades, colheitas, animais e o meio ambiente. Abu Bakr, o primeiro califa, ao enviar seus exércitos, ordenou:
"Não corte árvores frutíferas, não destrua locais habitados, não mate animais a menos que necessário para comer" (Al-Muwatta, 21:3:10).
Isso reforça o caráter ético da jihad no Islam, que busca evitar danos desnecessários.
O principal objetivo da jihad menor é restabelecer a paz e a ordem. Quando o inimigo se propõe à paz, os muçulmanos são obrigados a aceitá-la, como mencionado no Alcorão:
"E se eles se inclinarem para a paz, então, inclinai-vos para ela, e confiai em Allah" (Alcorão 8:61).
Isso demonstra que a luta no Islam visa a cessação das hostilidades e a resolução pacífica de conflitos.
O Alcorão proíbe qualquer forma de excesso durante a jihad, e isso inclui a injustiça e a crueldade. A transgressão das regras estabelecidas é severamente condenada:
"E lutai por Allah, e não ultrapasseis os limites. Certamente, Allah não ama os transgressores" (Alcorão 2:190).
Este princípio rege toda a condução da guerra no Islam, garantindo que a justiça prevaleça, mesmo em combate.
O Islam também estabelece regras para o tratamento dos prisioneiros de guerra, proibindo qualquer tipo de tortura ou maus-tratos. O Alcorão diz:
"E alimentam, por amor a Ele, o necessitado, o órfão e o cativo" (Alcorão 76:8).
Os prisioneiros devem ser tratados com dignidade e respeito, e sua libertação pode ocorrer através de troca, resgate ou outros meios pacíficos, conforme estabelecido na época do Profeta.
A intenção por trás da jihad é crucial. Deve ser puramente para a causa de Allah, e não por motivos egoístas, ambições pessoais ou ganhos materiais.
O Profeta Muhammad ﷺ afirmou: "Aquele que luta para que a palavra de Allah seja suprema está na causa de Allah" (Sahih al-Bukhari, 2810; Sahih Muslim, 1904).
Lutar por motivos injustos ou pessoais invalida a jihad.
A jihad maior (al-jihad al-akbar) refere-se ao esforço constante que cada muçulmano deve fazer para combater as inclinações do ego (nafs) e viver de acordo com os ensinamentos de Allah.
Essa luta espiritual e moral é considerada a forma mais elevada de jihad, pois envolve o desafio diário de resistir às tentações, buscar o autodomínio e alcançar a excelência no comportamento, adoração e caráter.
A jihad maior não implica em combate físico, mas sim a batalha interna que cada indivíduo enfrenta para se tornar um verdadeiro servo de Allah pois, antes de tudo, ela é um princípio espiritual.
A base da jihad maior está no esforço contínuo para controlar o ego e as paixões. O Alcorão orienta os crentes a manterem o foco nessa luta:
"E quem teme estar na presença de seu Senhor e refreia a alma de desejos egoístas, então, por certo, o Paraíso será o seu abrigo" (Alcorão 79:40-41).
Esse versículo destaca a importância de controlar os impulsos internos que podem desviar a pessoa do caminho de Allah.
O Profeta Muhammad enfatizou a importância dessa luta espiritual em diversos hadiths. Em um dos exemplos mais autênticos, ele disse:
"O muçulmano é aquele de cujas mãos e língua os outros muçulmanos estão a salvo, e o crente é aquele que é confiável com as vidas e propriedades dos outros" (Sunan an-Nasai 4995).
Esse hadith ilustra que a jihad maior envolve o esforço para garantir que nossas ações e palavras estejam alinhadas com os valores islâmicos, respeitando a segurança e a dignidade dos outros.
A jihad maior também inclui a luta pela purificação espiritual e o cumprimento das obrigações religiosas.
O Alcorão orienta: "E quanto àqueles que lutam por Nossa causa, guiá-los-emos, por certo, em Nossos caminhos. E, por certo, Allah está com os que fazem o bem" (Alcorão 29:69).
Esse esforço inclui a oração, o jejum, a caridade e a busca pela justiça em todos os aspectos da vida.
O Profeta Muhammad também destacou que a jihad maior está associada à luta contínua contra as más inclinações e pela prática de boas ações, mesmo que sejam pequenas.
"Aquele que cuida de uma viúva ou de um pobre é como um guerreiro que luta pela Causa de Allah (Mujahid), ou como aquele que reza a noite toda e jejua o dia todo." (Sahih al-Bukhari 5353)
A jihad maior envolve controlar a raiva, praticar paciência, perdoar os outros e seguir o caminho da retidão, mesmo quando é difícil.
A jihad, conforme descrito nas fontes islâmicas, é um conceito espiritual e moral que abrange o esforço contínuo de um muçulmano para seguir o caminho de Allah, seja por meio do crescimento pessoal ou, em casos específicos, pela defesa da comunidade muçulmana em tempos de ameaça.
A jihad, portanto, é amplamente entendida como um esforço para alcançar a justiça, a paz e a excelência moral, conforme estipulado no Alcorão e nos hadiths autênticos.
No entanto, nos últimos tempos, o termo "jihad" tem sido associado ao "jihadismo", uma ideologia política extremista que usa a violência para fins de controle e poder.
No Islam, a jihad não é sinônimo de violência ou guerra indiscriminada, sendo governada por regras claras de justiça e ética, como evidenciado no Alcorão:
"E lutai pela causa de Allah contra aqueles que lutarem contra vós, mas não transgridais. Por certo, Allah não ama os transgressores" (Alcorão 2:190).
A jihad em sua essência é a prática de estabelecer justiça e a retidão. O Profeta Muhammad enfatizou o comportamento ético durante o conflito, protegendo civis e não combatentes, proibindo a destruição injustificada e promovendo a reconciliação.
A agressão injustificada ou terror contra inocentes, portanto, se afasta naturalmente da jihad, pois não há como ser justo praticando a injustiça, do mesmo modo que não há como se defender sendo um agressor.
O jihadismo, por outro lado, é um nome vulgar usado para denominar os terroristas muçulmanos , que usam a violência extrema para alcançar objetivos de poder, controle e domínio.
Os jihadistas reinterpretam os textos islâmicos, criam uma teologia própria para legitimar suas ações e muitas vezes condenam os princípios do Islam normativo, tudo isso para usar força de forma ilegítima.
Eles usam a violência contra civis, instituições e Estados, sem respeitar os princípios éticos do combate que o Islam claramente estabelece em suas fontes sagradas amplamente aceitas pelos muçulmanos.
Esses grupos, como Al-Qaeda, Estado Islâmico e outros, se apropriam da jihad sem se preocupar com os princípios que ela estabelece, afirmando estarem praticando os princípios islâmicos na tentativa de dar respaldo para sua opressão.
A jihad, em sua essência islâmica, é um conceito profundamente espiritual e ético, que visa promover a justiça, a paz e a melhoria tanto individual quanto coletiva.
Longe de se limitar à ideia de conflito armado, a jihad envolve um esforço contínuo para seguir o caminho de Allah, combatendo as más inclinações internas e, quando necessário, defendendo a comunidade de maneira justa e regulada.
Ao longo da história, a jihad tem sido usada para proteger muçulmanos e até mesmo não-muçulmanos, como demonstram exemplos em tempos de perigo.
Por outro lado, o jihadismo é uma corrupção de um conceito sagrado, esvaziando seu significado mais profundo para alcançar objetivos políticos por meio de violência e opressão que está em contradição com os princípios islâmicos.
Enquanto a jihad é regida por regras éticas estritas e visa a preservação da dignidade e da vida humana, o jihadismo desrespeita essas diretrizes e promove a destruição e a violência ilegítima.
Assim, é essencial distinguir o significado da jihad dos abusos cometidos por grupos extremistas que, em busca de poder, pois o muçulmano que se esforça para se manter no caminho nobre é um mujahid, aquele que pratica jihad, e o jihadismo é, por essência, uma contradição a esses princípios.
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