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Como o Islam Explica o Mal?

  • O mal no Islam sempre tem uma finalidade benigna, ou que serve de incentivo para melhorar a condição das pessoas que estão sofrendo.
  • A maldade e o sofrimento podem ser coisas subjetivas, que não são necessariamente ruins, mas apenas um ponto de vista pessoal.
  • O mal também pode ser consequência de um ato pecaminoso, por isso o Islam orienta as pessoas a não cometê-los.
  • O mal e o sofrimento são parte da vida, sem eles os humanos não seriam capazes de fazer o bem por vontade própria.

Se Deus é bom, por que existe o mal? Esta é uma pergunta que as pessoas fazem e, sob a luz do Islam, é possível encontrar diversas respostas para ela.

De imediato, podemos citar alguns tópicos que sintetizam a percepção islâmica sobre a maldade e, em seguida, poderemos aprofundar em cada um deles para chegar a conclusão de que, sim, Deus é bom e a existência do mal não é uma contradição.

Os principais pontos são:

  • A maldade é fruto da moralidade humana.
  • A maldade é, na verdade, um ato de misericórdia.
  • A maldade é consequência de um pecado.
  • A maldade como algo necessário.

A Maldade como Fruto da Moralidade

A primeira coisa a ser destacada é que a percepção da maldade muitas vezes está sujeita a vários valores subjetivos, que podem pertencer a uma determinada cultura, período histórico ou indivíduo.

Essas pessoas podem ter experiências que fazem com que elas acreditem que algo é definitivamente mal, no entanto, isso é bom para um outro grupo de pessoas.

É óbvio que nem todos os valores são relativos, pois coisas como o assassinato de inocentes, fome, doença são alguns dos tipos de sofrimento que em geral são vistos como mal em todo lugar.

No entanto, as pessoas podem ter aversão a determinados comportamentos, ações, pensamentos ou até mesmo outras pessoas que não são detestados de forma universal, isto é, são coisas que não são percebidas como mal de forma unânime.

Deste modo, o mal pode ser uma coisa bastante particular, fruto de uma percepção que não é universal e, portanto, é algo bastante relativo.

O Alcorão diz que o homem foi colocado na terra pois, ao contrário dos anjos, ele possuía livre arbítrio, ou seja, ele exercia sua vontade no mundo por meio do conhecimento que ele adquiria, não por ordem Divina.

"Ele (Allah) ensinou a Adão os nomes (de todas as coisas) e depois os apresentou aos anjos e lhes falou: Nomeai-os para Mim se estiverdes certos. Disseram: Glorificado sejas! Não possuímos mais conhecimento além do que Tu nos proporcionaste, porque somente Tu és Prudente, Sapientíssimo. Ele ordenou: Ó Adão, revela-lhes os seus nomes."(Alcorão 2:31-33)

Neste caso, a forma como agimos depende, em parte, do conhecimento que obtemos das coisas à nossa volta, e isso pode ser bom ou mau, depende de cada circunstância.

Um bom exemplo para ilustrar este tópico, era a forma que os pagãos da Arábia pré-islâmica concebiam o fato de ter um bebê do sexo feminino, o que muitas vezes era visto como uma maldição.
As meninas não trabalhavam fora de casa e por isso não poderiam dar o sustento, eram mais vulneráveis que os homens e estavam sujeitas à gravidez indesejadas.

Por causa disso, os pais que tinham receio de criar as meninas acabavam enterrando-as vivas. Hoje, no entanto, é improvável em nossa cultura que alguém acredite que ter uma filha é uma maldição apenas por ela ser menina.

A Maldade como Bênção

Há muitas coisas que acontecem na vida das pessoas que no primeiro momento parece ser algo ruim, mas os desdobramentos acabam sendo muito positivos.

Um homem pode quebrar a perna e por causa disso perder a oportunidade de fazer a viagem dos seus sonhos, que ele havia planejado por anos. No final, o ônibus da viagem pode acidentar e ele acaba escapando da morte por não ter viajado.

Na verdade, Allah pode nos punir dando tudo aquilo que desejamos, afinal de contas todos os humanos são seres limitados e incapazes de conhecer todos os desdobramentos daquilo que ele deseja ter ou fazer.

"É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Allah sabe, e vós ignorais." (Alcorão 2:216)

O humano, portanto, muitas vezes não é capaz de saber se algo é de fato bom ou ruim para ele e, por isso, aquele que crê deve sempre buscar constante amparo em Allah na esperança de que Ele guie naquilo que é correto, pois é quem de fato sabe o que é o mal.

O mal também pode vir para abrir os olhos das pessoas para algo que será melhor para ela e para que ela desista daquilo que possa lhe prejudicar.

Isso se aplica especialmente no caso das pessoas que já possuem fé, pois Allah pode trazer a calamidade para evitar que alguém se torne incrédulo ou tire o seu foco das coisas mundanas para se voltar para Ele.

O sofrimento tem a capacidade de elevar a atenção dos homens para aquilo que é bom ou que realmente possui valor, em detrimento das coisas passageiras e nocivas.

A Maldade como Fruto do Pecado

Neste tópico ocorrem coisas que de fato podem prejudicar a vida das pessoas, não por meio de uma interpretação fraca dos fatos ou mesmo por uma ação que pode gerar bons frutos.

Allah envia Suas revelações ao mundo para orientar os humanos com relação a aquilo que pode ser nocivo para a sua existência.

Os humanos que se recusam a seguir essas orientações podem causar mal a si próprio e a outras pessoas à sua volta.

Por exemplo, se um homem rico deixa de praticar a caridade ele acabará deixando outras pessoas necessitadas. 

Sua concentração de riqueza muda a percepção das pessoas sobre o bem-estar e em muitos casos é feita às custas do empobrecimento dos outros, seja por meio da exploração do trabalho mal remunerado (ou sem remuneração como no caso dos escravos) ou como nos grandes monopólios que acabam com os pequenos negócios.

Ser rico não é pecado, pelo contrário, pode ser uma grande bênção, mas evitar fazer caridade e deixar de pagar o imposto do zakat aos pobres é algo gravíssimo e gera problemas para toda comunidade, algo que o muçulmano deve zelar.

A pessoa também pode atrair um mal para si mesma ao cometer outros pecados como, por exemplo, sofrer um acidente por consumo de álcool, sendo que o consumo deste é claramente um pecado.

Portanto, aquele que evita cometer pecados irá sofrer com menos males desta natureza do que aqueles que não se preocupam em cometê-los.

O Sofrimento É Algo Necessário

Se os humanos não morressem, sentissem fome, cansaço, não enfrentassem dificuldades, sentissem frio, ou se machucassem, não haveria motivo algum para que esta vida existisse.

É porque sofremos que buscamos nos ajudar, nos unir, tentamos criar soluções para que a nossa vida e a das outras pessoas possam se tornar mais fáceis, que esta vida é o que é.

Há um sentido profundo no sofrimento, pois ao mesmo tempo em que ele cria dor, ele nos estimula para que possamos criar coisas melhores, isso significa que só somos capazes de reconhecer a bondade, pois o mal existe e vice-versa.

Se somos capazes de absorver as dimensões mais profundas do mal, também somos capazes de enxergar que ele sempre vem por algum bom propósito, por mais que ele seja difícil de compreender.

Em outras palavras, isso reflete um pouco do que o Alcorão quer dizer: "Certamente que vos poremos à prova mediante o temor, a fome, a perda dos bens, das vidas e dos frutos. Mas tu (ó Mensageiro) anuncia (a bem-aventurança) aos perseverantes. Aqueles que, quando os aflige uma desgraça, dizem: Somos de Allah e a Ele retornaremos. Estes serão cobertos pelas bênçãos e pela misericórdia de seu Senhor, e estes são os bem encaminhados." (Alcorão 2:155-157)

A prova à qual Allah se refere é a nossa capacidade de fazer boas obras, portanto, é preciso não apenas entender a utilidade do mal do mundo, mas se esforçar para combatê-lo de todas as formas.

Se as ações humanas fossem livres de causarem danos, eles não seriam capazes de fazer o bem por escolha própria, o que anularia completamente a nossa natureza e o nosso livre arbítrio.

Conclusão

Para compreender o mal e o bem é necessário buscar uma conexão com Allah, pois é isso o que nos ajuda a enxergar onde está o sagrado nas coisas deste mundo.

Para o muçulmano, a compreensão do mal soma-se ao fato de que a vida não se encerra após a morte, portanto, tudo o que for feito aqui continuará contando até o Dia do Juízo, quando as pessoas serão de fato julgadas pelo que fizeram.

De qualquer modo, é possível utilizar a lógica islâmica mesmo em uma perspectiva cética para encontrar um profundo sentido para o sofrimento e o mal.

Nada neste mundo é totalmente desprezível, o que acontece de fato é que muitas vezes somos incapazes de compreender a profundidade das coisas e dos acontecimentos.

Portanto, podemos concluir que o mal é a dualidade do bem, e ambos são necessários para a existência neste mundo.

 

Referência: https://yaqeeninstitute.org/read/paper/the-problem-of-evil-a-multifaceted-islamic-solution

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