No dia 4 de janeiro, a Al Jazeera publicou uma notícia sobre o famoso monge budista birmanês, Ashin Wirathu, líder do movimento religioso radical "969", que recebeu uma homenagem do governo de Mianmar durante a cerimônia de celebração dos 75 anos de independência do país.
A notícia chocou muitas pessoas. Wirathu, que foi homenageado pelo seu "excelente trabalho para o bem da união de Mianmar", teve um papel ativo na propagação do discurso anti-islâmico que contribuiu para a radicalização do país, motivando o genocídio da etinia Rohingya, de maioria muçulmana.
De acordo com o relatório da ONU, 25 mil Rohingyas morreram entre 2016 e 2017 em Mianmar e outros 700 mil foram obrigados a deixar o país em direção a Bangladesh.
O sentimento nacionalista e religioso da população birmanesa de maioria budista foi algo ativamente explorado, tanto pelo monge quanto pelo grupo radical.
A visão extremista de Wirathu é capaz de chocar pessoas de todas as religiões, pois nenhuma fé defende o uso da violência para assassinar inocentes, praticar intolerância, oprimir pessoas e cometer massacres.
No entanto, muitas vezes, isso parte de uma visão preconceituosa de acreditar que há religiões em que todos defendem a paz enquanto outras pregam o preconceito, a guerra, e seus fiéis são pessoas inerentemente más.
O Islam frequentemente está associado ao segundo caso. Muitos acreditam que a religião detém o monopólio da violência religiosa e afirmam que grupos como a Al Qaeda, Taliban, Estado Islâmico, Boko Haram, etc são a expressão mais pura da fé - quando, na verdade, estão entre as mais desviadas.
A seguir, veremos que, além do Islam, todas as outras religiões e até grupos que não manifestam fé alguma estão sujeitos a distorções de sua doutrina para colocá-la a serviço do ódio e da intolerância contra a fé alheia e contra a vida de outras pessoas.
Começando pela organização já mencionada. O 969 é uma organização nacionalista birmanesa que defende a identidade budista e é contrário à presença de muçulmanos em Mianmar.
O líder e maior porta-voz do grupo é o monge Ashin Wirathu, que é uma figura que dialoga com as massas e possui uma presença ativa na internet.
Embora o grupo se apresente como uma organização que se opõe à violência, seu discurso é o exato oposto disso.
Ele liderou manifestações exigindo que muçulmanos fossem enviados para outros países, propôs boicotes ao comércio de adeptos do Islam e defendeu restrições de casamentos inter-religiosos.
Wirathu disse repetidas vezes que os muçulmanos pretendiam dominar Mianmar, embora os adeptos do Islam não ultrapassassem 4% do total da população do país.
O genocídio dos muçulmanos da etnia Rohingya foi, em grande medida, motivado pelo crescimento do extremismo budista que se instaurou em Mianmar nas últimas décadas.
Esta organização foi formada em 2012 para promover o nacionalismo budista no Sri Lanka e é aliada do grupo 969 de Mianmar. Seu discurso é pautado em ideias antidemocráticas, contrário a visões moderadas do budismo e favorável à perseguição de cristãos e, principalmente, de muçulmanos.
Desde a sua fundação, o grupo promove protestos contra líderes evangélicos, comunidades muçulmanas e outros comércios e associações acusadas de sacrilégio.
O Bodu Bala Sena defende um Sri Lanka exclusivo para budistas e é contrário à pluralidade religiosa, acreditando que isso afeta a identidade cingalesa, que é a etnia predominante do país.
Em 2014, o grupo atacou casas, saqueou e depredou comércios de muçulmanos em várias cidades do país após um monge budista alegar ter sido agredido por um grupo de muçulmanos.
Três pessoas morreram nos motins promovidos pelos radicais budistas, 80 foram feridas e centenas ficaram desabrigadas.
Na ocasião, o monge Galagoda Athethe Gnanasara, líder da organização, declarou: “Ainda temos a polícia cingalesa neste país, ainda temos militares cingaleses. A partir de hoje, se algum muçulmano... maltratar qualquer cingalês, será o fim deles”.
Os afrikaners compõem uma etnia de descendentes de colonos calvinistas europeus no continente africano.
Ao longo da dominação européia em locais como a África do Sul, eles desenvolveram seu próprio nacionalismo fundamentado nos valores do cristianismo protestante calvinista.
De modo resumido, o nacionalismo afrikaner acreditava que os ideais iluministas e revolucionários que defendiam a liberdade, igualdade e fraternidade conspiravam contra a autoridade de Deus e, portanto, deveriam ser rejeitados.
Sob essa perspectiva, acreditavam que Deus criou os povos e que eles tinham o direito de viver separados.
Os afrikaners são contrários a permitir que a maioria negra se desenvolva, pois isso seria uma ameaça à sobrevivência dos brancos.
Nesta perspectiva supremacista, isso seria anticristão, pois os nacionalistas afrikaners se veem como enviados de Deus para estabelecer o cristianismo na África.
Essa foi a ideologia imposta pelo pastor sul-africano Daniel François Malan, que instaurou o apartheid em seu país, e também é o ideal de vários grupos políticos.
Entre alguns partidos afrikaners, ainda em atividade estão o Freedom Front Plus, o National Conservative Party of South Africa e o Afrikaner self-determination Party.
A partir do nacionalismo branco da África do Sul, surgiu a milícia armada intitulada Afrikaner Weerstandsbeweging (AWB), ou "Movimento de Resistência Afrikaner", em português.
Embora sua bandeira tenha claras inspirações na bandeira da Alemanha Nazista, o grupo diz que, na verdade, o vermelho representa o sangue de Jesus e a luta dos cristãos, enquanto o preto representa a bravura.
O círculo branco interno simboliza a "pureza" e a "vida eterna" e o número 777 ao centro é uma oposição ao 666, o número da besta em algumas interpretações cristãs.
Eles se opuseram às leis que flexibilizavam o apartheid, estiveram envolvidos em assassinatos de pessoas não-brancas e na tentativa de assassinato da jornalista Jani Allan.
Fizeram protestos contra a libertação de Nelson Mandela que evoluíram para confrontos violentos com a polícia e resultaram na morte de 10 pessoas, sendo que outras 42 foram feridas, incluindo civis, na cidade de Ventersdorp.
Também promoveram motins contra eleições multirraciais e o fim do apartheid na cidade de Kempton Park.
Entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, o grupo perdeu muita força, especialmente após a queda do apartheid. Em seu auge, chegou a ter apoio de cerca de 5% a 7% da população total do país.
O AWB segue ativo e uma estimativa de 2016 indica que ele possui cerca de 5 mil membros.
Embora o partido libanês, Kataeb, não seja considerado uma organização terrorista, mantém uma ideologia ligada ao nacionalismo cristão e já esteve empenhado em massacres e genocídios contra muçulmanos durante a guerra do Líbano.
O partido defende ideais nacionalistas libaneses e suas raízes fenícias, que são distintas dos povos árabes. Por isso, o Kataeb acredita que o Líbano deve ser independente dos ideais pan-árabes, além de um local onde o cristianismo maronita, que é ligado à igreja católica, deve prosperar.
Em 1982, eles cometeram uma grande carnificina contra a população de muçulmanos e refugiados palestinos em Beirute, que ficou conhecida como o massacre de Sabra e Chatila.
Elie Hobeika, que era o chefe da inteligência do Kataeb, mantinha ligações com a inteligência israelense, Mossad. Ele foi responsável por recrutar uma milícia e liderar o massacre com a ajuda do Exército do Sul do Líbano, liderado pelo major Saad Haddad.
A matança que durou três dias foi uma resposta ao assassinato do líder do Kataeb, Bashir Gemayel. Mais tarde, foi descoberto que ele, na verdade, havia sido morto por outro cristão, membro do Partido Social Nacionalista Sírio.
A área onde ocorreu o massacre estava sob controle do exército israelense, que nada fez para impedir o ocorrido. Não se sabe quantas pessoas morreram, no entanto, as estimativas vão de 460 a 3500 vítimas.
O crime de guerra foi classificado pela Assembleia-Geral da ONU como um genocídio em 1982.
Este foi o maior massacre das Forças Regulatórias do Kataeb, mas não o único. Entre outros, podemos citar: o massacre de Karantina; o massacre de Tel al-Zaatar e o massacre de Safra.
O Partido Radical Sérvio é um partido que professa a fé da Igreja Ortodoxa Sérvia.
Possui ideais ultranacionalistas, chauvinistas e defende a incorporação de territórios de outros países com conexões culturais e históricas com a Sérvia, mais especificamente nas regiões da Bósnia-Herzegovina, Croácia, Montenegro e do Kosovo.
Durante a Guerras dos Bálcãs, contou com uma ala paramilitar chamada Águias Brancas, que esteve envolvida em diversos massacres contra católicos croatas e principalmente muçulmanos bósnios, como os da cidade de Vócin, na Croácia, e nas cidades de Visegrad, Foca e Gecko, na Bósnia-Herzegovina.
Também praticou limpezas étnicas e demoliu igrejas católicas e mesquitas.
Embora o Águias Brancas não exista mais, o partido ainda está em atividade e celebra a memória de vários criminosos de guerra sérvios, como o general Ratko Mladic, conhecido também como "o açougueiro dos Bálcãs", que foi condenado por uma série de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, além de Radovan Karadzic, ex-presidente da República Sérvia, também condenado por crimes contra a humanidade e genocídio.
O próprio líder do Partido Radical Sérvio, Vojislav Seselj, é um criminoso de guerra condenado pelo Tribunal Internacional de Haia pelo seu envolvimento nas atividades do Águias Brancas. Ele ficou preso entre 2003 e 2014.
Vojislav já foi homenageado com a honraria Anjo Branco em 2015 e recebeu-a das mãos do bispo do mosteiro de Filaret. No mesmo ano, ele foi homenageado com a Ordem da Imagem de Ouro de São Pedro cedida pelo Metropolita de Montenegro, Amfilohije.
Em 2022, Seselj recebeu a Ordem de São Bispo Mardari de uma diocese ortodoxa sediada nos Estados Unidos.
A Ku Klux Kan é um movimento que existe desde o século XIX. Passou por várias fases e reformulações de seus ideais, mas sua essência sempre esteve calcada no nacionalismo branco e na identidade protestante norte-americana.
Cometeu diversos crimes, principalmente contra a população negra dos EUA e também contra imigrantes de origem católica e judaica.
Seu racismo está, em grande medida, atrelado à visão dos confederados derrotados na Guerra Civil Americana, que se concentravam na região sul dos EUA e eram favoráveis ao escravagismo.
Seu oponente, a União, não apenas era favorável à abolição da escravatura, como incorporou soldados negros em seu exército.
Deste modo, a preservação da identidade sulista defendida pela Ku Klux Kan usava da supremacia branca como forma de proteger o que dizia ser a moral e a identidade cristã protestante contra os costumes da União.
Em 1915, após um grande período de declínio, a Ku Klux Kan produziu o filme propagandista intitulado "O Nascimento de Uma Nação", que foi um grande sucesso e contribuiu para a expansão do grupo em todo os EUA.
Nesta época, seus ideais racistas ganharam projeção nacional. Naquele período, eles se posicionaram contra à miscigenação e favoráveis às leis de segregação que dificultavam a mobilidade social dos negros e a organização política dos mesmos, evitando que tivessem qualquer forma de poder.
Em seu auge, na década de 1920, chegou a ter entre 4 e 5 milhões de membros, cerca de 15% do total da população dos EUA. No entanto, viveu um forte declínio nos anos 1940 após escândalos envolvendo suas lideranças e associação da imagem do grupo ao Nazismo.
A Ku Klux Klan nunca desapareceu totalmente e existe ainda nos dias atuais. Se tornou famosa pelo linchamento de minorias étnicas e religiosas, assassinatos de ativistas, explosão de templos de minorias étnicas, protestos contra as Leis Civis que extinguiam a segregação racial e uma série de outros crimes.
Em 2013, na República Centro-Africana, Michel Djotodia se tornou o primeiro muçulmano a assumir o poder por meio de uma coalisão rebelde que depôs o antigo governo de François Bozizé, que era cristão.
Como o governo de Bozizé era incapaz de oferecer segurança pública nas áreas mais remotas do país, foram criados grupos de autoproteção nas aldeias para conter a criminalidade, essas milícias foram chamadas de Anti-Balaka.
Quando a disputa pelo poder se iniciou, os Anti-Balaka começaram a fazer dura oposição armada à milícia dos muçulmanos, mas não parou por aí.
Eles são acusados de uma série de crimes como: converter muçulmanos à força para o cristianismo, queimar mulheres acusadas de bruxaria, decapitação de crianças e assassinato de civis.
Uma das maiores atrocidades cometidas pelas milícias foi o massacre na cidade de Bossemptéle, em 14 de janeiro de 2014, quando os Anti-Balaka se aproveitaram que o local não contava com a proteção das milícias muçulmanas e atacaram a população civil, matando homens, mulheres e idosos.
Estima-se que cerca de 100 muçulmanos tenham sido mortos neste atentado.
A criação do estado de Israel deu origem a várias guerrilhas urbanas formada por grupos paramilitares clandestinos que deram início ao conceito moderno que nós temos sobre o terrorismo.
O mais conhecido deles foi o Haganah, um grupo que foi criado sob controle da Agência Judaica, órgão oficial do governo encarregado da comunidade judaica da Palestina durante o Mandato Britânico.
Foi fundado após os motins de Jerusalém de 1920, que terminaram com 5 judeus mortos e 216 feridos, além de 4 árabes mortos e 18 feridos. O objetivo da existência do Haganah era proteger os judeus que viviam em solo palestino.
O grupo tinha uma postura defensiva que visava manter a segurança dos judeus, o que muitos sionistas julgavam como insuficiente para a consolidação de seu projeto de estado.
Na década de 1930, surge um novo grupo mais agressivo chamado Irgun, com uma abordagem abertamente ofensiva, com o intuito de forçar a criação do estado judeu através das agressões contra o povo árabe.
Estima-se que, até 1945, o Irgun tenha matado cerca de 250 pessoas. Boa parte foi morta no massacre de Deir Yassin, um vilarejo árabe que havia adotado um posicionamento neutro na guerra mas, mesmo assim, não escapou das atrocidades do grupo.
Cerca de 120 pessoas foram mortas no massacre. Eram aldeãs árabes que não tinham qualquer tipo de armamento. Além delas, vários outros palestinos inocentes foram mortos em ataques contra ônibus, emboscadas e bombardeios.
O massacre de Deir Yassin foi apoiado por um outro grupo chamado Lehi, que esteve ativo entre 1940 e 1948, cujos princípios estavam próximos do Irgun, mas seu alvo preferencial era, no entanto, as autoridades e militares britânicos que controlavam a Palestina.
O objetivo do Lehi era expulsar os britânicos da região e permitir o aumento do fluxo da imigração judaica para colonizar a Palestina.
O Lehi foi uma resposta à política britânica de tentar conter a imigração judaica para a região da Palestina. Isso gerou uma enorme insatisfação entre os judeus que viviam ali e deu início a uma revolta entre essas milícias.
Juntos, os três grupos criaram o Movimento de Resistência Judaica e foram responsáveis pela insurgência entre 1944 e 1948, que fez uma série de ataques às autoridades do mandato britânico na Palestina.
O grupo foi responsável por uma série de sabotagens contra linhas férreas e estações de trem britânicas, explosões de pontes que ligavam a Palestina a países vizinhos, ataques contra delegacias, além do bombardeio contra a sede administrativa britânica que ficou conhecido como o Atentado ao Hotel King David, matando 91 pessoas e ferindo outras 46.
O Lehi ainda chegou a matar Folke Bernadotte, que era o mediador do conflito nomeado pela ONU, responsável por supervisionar o cumprimento da partilha territorial entre os árabes e judeus, além do cessar fogo.
O Lehi e o Irgun foram considerados grupos terroristas até mesmo por Israel. No entanto, boa parte de seus membros e estrutura foram absorvidos pelo estado judeu.
Após a independência de Israel em 1948, o Haganah se tornou o núcleo das Forças da Defesa de Israel (IDF) e também absorveu o Irgun e o Lehi.
O Irgun também foi o predecessor do partido Herut, que atualmente é o partido de direita Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O ex-líder do Lehi, Yitzhak Shamir, tornou-se primeiro-ministro de Israel em 1983. Em 1949, os membros do grupo terrorista foram anistiados pelo governo israelense.
No país, ainda há uma condecoração militar que homenageia pessoas pelo envolvimento em atividades na luta pelo estabelecimento de Israel, que se chama Fita Lehi.
O Kach é um partido radical sionista com uma orientação religiosa ortodoxa do judaísmo, que desde 1988 está proibido de disputar as eleições israelenses por incitação ao racismo.
O partido defendia que os árabes não tinham o direito de ser cidadãos e que eles deveriam, obrigatoriamente, deixar os locais onde vivem.
Sua política supremacista incitou atos violentos por meio de seus apoiadores. O mais famoso foi Baruch Goldenstein, um terrorista que invadiu a mesquita Ibrahimi, na cidade palestina de Hebron durante o mês sagrado islâmico do Ramadan e atirou contra 800 fiéis que oravam ali.
No ataque, 29 pessoas morreram e 125 ficaram feridos. O terrorista foi morto após ser linchado pelos fiéis.
Baruch era um kahanista, nome dado às pessoas simpáticas ao extremismo judaico desenvolvido pelo rabino Meir Kahane, fundador do Kach.
O terrorismo na mesquita Ibrahimi é atrocidade mais famosa impulsionada pela política violenta do Kach, mas não foi a última.
Membros do Kach e simpatizantes da ideologia kahanista já foram presos pelo assassinato de árabes, por queimar santuários cristãos, planejar atentados contra políticos e mesquitas, entre outros eventos.
A principal organização kahanista ainda em atividade é a Liga de Defesa Judaica, também fundada pelo Meir Kahane. Mas há também outras menores, como a Juventude da Colina, administrada pelo neto do extremista.
Alguns políticos também seguem sua linha radical, como é o caso do Ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir.
O hindutva é uma ideologia política que prega a supremacia hindu e defende a ideia de que a Índia é um estado onde deve prevalecer o hinduísmo enquanto as religiões abraâmicas seriam estrangeiras.
É uma ideologia que começa a ser formulada a partir de 1923 e acaba sendo fortemente influenciada pelos regimes fascistas europeus.
É considerado um ideal extremista, pois enxerga a presença de cristãos e principalmente muçulmanos como uma ameaça à soberania do estado hindu.
Um fato que deixa clara a ligação entre hindutva e o fascismo é a visita do líder do partido Hindu Mahasabha, BS Moonje, ao ditador italiano Benito Mussolini em 1931. O Hindu Mahsabha viria a ser um dos grandes formuladores dos principais grupos hindutvas do país.
BS Moonje ficou impressionado com o modo como os italianos sistematizaram militarmente a juventude do partido e desejou reproduzir o modelo dos fascistas na Índia.
A formulação ideológica do grupo é feita para agregar todas as religiões que acreditam no dharma. Esta crença é o que tornaria alguém um legítimo indiano, o que também contempla religiões como o sikhismo, jainismo e budismo.
Atualmente, o Partido Bharatiya Janata (PBJ) do primeiro-ministro Narendra Modi é um partido adepto do hindutva e está no poder na Índia.
Sua política social é altamente focada em criar um ambiente hostil contra os muçulmanos. Modi revogou a autonomia limitada que havia sido concedida no passado aos estados de maioria islâmica de Jammu e na Caxemira.
Além disso, a Suprema Corte da Índia aprovou em 2019 a criação do templo Ram Mandir no terreno onde havia a Mesquita Babri, um templo histórico com mais de 4 séculos de existência e que foi destruído por extremistas hindus em 1992.
Muitos estados governados pelo PBJ criaram leis que endureceram severamente o casamento entre muçulmanos e hindus com base em uma teoria da conspiração de que os adeptos do Islam usavam o matrimônio para converter pessoas à força.
Há ainda grupos de civis que se armam para atacar pessoas que fazem abate de gado. Um relatório da Reuters afirma que 28 indianos morreram pelas mãos dos vigilantes de gado entre 2010 e 2017, sendo que 24 deles eram muçulmanos.
Os adeptos da ideologia extremista também protagonizaram diversos capítulos de hostilização contra hindus de castas inferiores. Eles também fizeram ameaças contra estudiosos que exerciam trabalho acadêmico.
Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS) é o nome da organização que funciona como um grande corpo de unidades paramilitares que pregam a supremacia hindu.
Os principais grupos extremistas da Índia, incluindo o Partido Bharatiya Janata, fazem parte do RSS. Podemos dizer que eles são os grandes responsáveis por colocarem o hindutva em prática.
Ao todo, são mais de 20 grupos, entre organizações políticas, think tanks, instituições filantrópicas, institutos educacionais e associação de trabalhadores. Estimativas apontam que há entre 5 e 6 milhões de afiliados ao RSS.
O grupo foi responsável pela morte de Mahatma Ghandi, pela destruição da histórica mesquita Babri, diversos motins e linchamentos que resultaram na morte de minorias religiosas e pela depredação de templos e objetos sagrados.
O grande objetivo deles é estabelecer um estado baseado no dharma, no qual os cristãos e muçulmanos que desejarem viver ali deverão se submeter às leis e não poderão fazer nenhuma reivindicação.
O sikhismo é uma religião monoteísta e panenteísta baseada nos ensinamentos dos dez gurus que estabeleceram a sua doutrina. Envolve certo sincretismo entre o hinduísmo e o Islam.
Os adeptos do sikhismo possuem uma ligação histórica com a região de Punjab, que fica entre o norte da Índia e o sul do Paquistão. Ali é onde a religião foi formulada e também é o local onde estão seus principais templos.
Desde a partilha da Índia, os sikhs se articularam politicamente para conseguir melhorias sociais, direitos políticos e maior autonomia de sua comunidade.
Junto a isso, estabeleceu-se um movimento nacionalista que reivindicava Punjab como um país sikh independente, mas essa causa teve pouca adesão nos seus primórdios.
No entanto, acabou ganhando notoriedade por causa da brutalidade policial e pela recusa do estado indiano em reconhecer o sikhismo como uma religião autônoma ao invés de um ramo do hinduísmo.
Boa parte das atividades do grupo foram pacíficas mas, a partir da década de 1980, os protestos dos sikhs começaram a ser reprimidos com muita violência e várias pessoas foram torturadas e mortas pela polícia indiana, o que motivou uma insurgência.
Em 1984, o Templo Dourado, principal templo do sikhismo, foi invadido e vários rebeldes foram assassinados.
O período da insurgência, sobretudo após a invasão do templo, motivou a criação de diversos grupos terroristas, entre os quais podemos destacar:
No ocidente, o grupo ficou mais conhecido depois de 2009, quando terroristas atacaram com facas os fiéis em um templo hindu na Áustria, matando uma pessoa e ferindo 17.
O movimento pelo Khalistão independente ainda existe e é uma demanda recorrente entre os sikhs, mas não possui a mesma articulação e força de outrora. Seu auge, até aqui, foi durante a década de 1980 e 1990.
A Ordem dos Nova Ângulos, também conhecida como O9A, é um grupo satanista e nazista que cultiva a formação de uma identidade por meio de práticas ocultistas e atos criminosos.
Para sintetizar a cosmologia do grupo de forma simplificada, podemos dizer que eles acreditam que a humanidade está em constante evolução e isso é observado por meio das eras já atravessadas.
Cada era dura um período de 2000 anos e, ao final de cada uma, há a criação de um "Império", que seria uma espécie de tirania.
Atualmente, o grupo acredita que a humanidade está na quinta era que, por sua vez, é representada pelo mundo ocidental, porém, foi contaminada pela ética cristã, humanismo, democracia, capitalismo e comunismo, e esses valores são considerados pela O9A como contra-revolucionários.
Segundo o grupo, a única forma de possibilitar uma evolução seria removendo esses valores da sociedade através de ações satânicas, que o grupo julga terem sido muito bem executadas por Hitler.
Na concepção desses satanistas, a próxima era começará quando a raça ariana colonizar a via-láctea.
A ordem não cultiva uma identificação com a ideologia nazista, mas defende que esta é uma parte importante para a perturbação da ética ocidental moderna para promover evolução da humanidade.
A O9A incentiva seus membros a cometerem crimes e entrarem para organizações extremistas e terroristas para perturbar a ética ocidental. Muitos deles fazem parte de grupos neonazistas, anarquistas e até mesmo islâmicos radicais.
Vários de seus membros já estiveram presos por assassinatos ritualísticos, tentativas de assassinatos de militares, estupros, apologia, consumo e venda de pornografia infantil e material pornográfico envolvendo necrofilia.
A comercialização deste conteúdo é uma forma de financiar a produção de materiais sobre a Ordem dos Nove Ângulos.
Muitos regimes de extrema-esquerda ficaram marcados pelas suas constantes tentativas de retirar a influência da religião da sociedade. Isso é algo que aconteceu em locais como Albânia, China, Camboja, Iêmen do Sul, Polônia, etc.
Essas perseguições normalmente aconteciam em estados que acreditavam que as religiões ofereciam riscos ao modelo revolucionário socialista e eram capazes de criar grupos e ações anti-revolucionárias.
O ateísmo de estado, em muitos casos, foi visto como solução para reduzir a influência da religião na sociedade e minimizar as diferenças culturais entre as etnias e fés que existem no país.
Uma das primeiras tentativas de organizar um estado socialista ateu foi durante a existência da antiga União Soviética. A Liga dos Ateus Militantes atuou com o objetivo de institucionalizar o ateísmo em todas as repúblicas que compunham o país.
O grupo era basicamente constituído pelo Komsomol, que era a juventude leninista da União Soviética, e também contava com membros do partido comunista, além de algumas pessoas leigas sem filiação partidária.
Em 1929, o Partido Comunista da União Soviética começou a formular políticas antirreligiosas usando a Liga dos Ateus na vanguarda do planejamento e implementação.
Milhares de publicações como livros e revistas antirreligiosas foram impressas ao longo da década de 1930, fazendo deboche da fé alheia e colocando a ciência como o suprassumo da razão humana.
Sacerdotes foram impedidos de frequentar as residências das pessoas, templos não podiam mais receber doações e nem ser restaurados, escolas passaram a ter ensino antirreligioso e militantes da Liga faziam doutrinações de casa em casa.
Vários templos foram fechados na União Soviética. Em 1941, havia menos de 500 igrejas em todo o país, sendo que, em 1927, havia 29.584.
Naquele período, muitos fiéis, padres e bispos foram presos, assassinados e muitos acabaram morrendo nas prisões.
Na parte asiática do país, os muçulmanos sofreram dura perseguição. Das 20.000 mesquitas que existiam na União Soviética, mais de 16.000 foram fechadas nos primeiros 12 anos do regime socialista.
Paralelo às atividades da Liga dos Ateus, em 1943 o governo soviético começa a empreender uma ofensiva contra os muçulmanos tártaros que viviam no cáucaso. Este povo historicamente havia resistido à coletivização do campo e à sovietização de sua cultura.
Este episódio ficou conhecido como Operação Lentil, no qual vários muçulmanos foram deportados para locais da Ásia Central e submetidos a trabalhos forçados.
A república Chechena-Ignush foi apagada do mapa, vários muçulmanos morreram nas batidas policiais, durante as deportações e também no exílio. Ao todo, estima-se que morreram entre 123 mil e 200 mil muçulmanos.
O governo soviético ainda tentou ocupar as casas desabrigadas com cidadãos vindos de diferentes regiões do país, em uma clara tentativa de extermínio cultural.
Desde 2004, o Parlamento Europeu reconhece o exílio dos muçulmanos tártaros como um genocídio.
A Liga dos Ateus Militantes teve suas atividades drasticamente reduzidas a partir de 1941, o que foi motivado pela invasão nazista na Rússia, mas suas políticas continuaram vigentes ao longo da década.
Embora as hostilidades contra os religiosos tenham diminuído ao final da era Stalin, o governo soviético sempre manteve uma postura hostil contra a fé de seus cidadãos e houve campanhas antirreligiosas até a sua extinção em 1991.
O modelo antirreligioso soviético serviu de inspiração para outros países que adotaram o regime socialista.
Em 1946, a Albânia se torna um estado socialista seguindo o modelo soviético do stalinismo, incluindo as questões que envolviam a liberdade de culto.
No entanto, adotou uma política ainda mais restritiva. Apesar de toda a repressão, o governo soviético não proibia que os seus cidadãos seguissem alguma forma de religião - o que era praticado na Albânia.
Após assumir o poder, o Partido do Trabalho da Albânia confiscou as propriedades que pertenciam a entidades religiosas por meio da lei da reforma agrária em 1946.
Comunidades religiosas com sede fora do país foram fechadas e instituições de educação e hospitais ligados a alguma religião não puderam mais operar.
Os católicos foram estigmatizados como colaboradores dos fascistas. Das 253 igrejas que haviam no país, somente 100 continuaram suas atividades.
Os sacerdotes de todas as religiões foram tratados com humilhações públicas, os hábitos religiosos foram confiscados e o simples porte de literatura religiosa poderia resultar em prisão.
Muitos juristas muçulmanos e sacerdotes cristãos e bektashis foram forçados a entregar seus cargos e renunciar à sua fé.
Mais de 200 clérigos foram presos e, entre eles, alguns foram executados ou morreram de fome.
A partir de 1967, a política contra as religiões se endureceu ainda mais e todos os templos islâmicos, cristãos e bektashi foram fechados.
Os prédios foram transformados em armazéns, ginásios e centros culturais, mas muitas construções históricas foram completamente destruídas. Nem os túmulos e santuários dos santos sufis escaparam da depredação promovida pelo estado.
O governo proibiu a propaganda religiosa e até mesmo os jejuns da quaresma e do mês do Ramadan eram reprimidos.
Embora as repressões tenham diminuído com a morte do líder socialista Enver Hoxha no ano de 1985, a liberdade de culto só foi estabelecida novamente com a queda do regime socialista, em 1991.
Rodnover é a tentativa de reviver as antigas tradições espirituais das tribos eslavas pré-cristãs.
O seu sistema de crenças é baseado em antigos textos sagrados tribais, interpretações sobre os vedas e o que eles chamam de ortodoxia, que seriam elementos religiosos que foram usurpados e canonizados pelo cristianismo.
Não é uma religião que desempenha um papel na política e sua doutrina não é inerentemente radicalizada, mas se divide em organizações que, em alguns casos, acabam tendo inclinações nacionalistas e de extrema-direita, se tornando um terreno fértil para neonazistas.
Por ser uma religião que resgata a ancestralidade eslava e o identitarismo branco, tem um forte apelo entre supremacistas raciais.
Na Rússia, vários de seus adeptos já foram presos pelo assassinatos de minorias étnicas não-eslavas.
Em 2006, um pagão entrou em uma sinagoga, em Moscou, e, armado com uma faca, feriu o rabino Yitzhak Kogan e outros nove fiéis.
Em 2008, na cidade de Yekaterinburg, na Rússia, um homem pichou uma suástica em uma igreja e também escreveu: "Russo ou cristão. Escolha um". No dia seguinte, atirou coquetéis molotov no templo, na escola paroquial e, em seguida, fugiu do local. A igreja de madeira foi completamente queimada.
Em 2009, os neopagãos incendiaram outra igreja de madeira em Yekaterinburg.
Ainda naquele ano, membros radicais do rodnover tentaram explodir um restaurante de fast-food próximo a uma estação de metrô em Moscou, mas, inexplicavelmente, a bomba não detonou.
Outro atentado no mesmo período foi um ataque a bomba na igreja de São Cirilo e Metódio. Ninguém ficou ferido, mas o templo foi danificado. O autor do atentado deixou um bilhete no local que dizia: "Através do terror e da destruição dos santuários judaico-cristãos, vamos acabar com a propagação deste contágio".
Em 2014, duas pessoas morreram e seis ficaram feridas após um atirador invadir uma igreja em Yuzhno-Sakhalinsk e disparar contra os fiéis.
O volkisch foi um movimento nacionalista étnico alemão que surgiu no final do século XIX.
Sua ideologia era focada no renascimento nacional dos alemães, levando em conta não apenas as questões raciais de seu povo, mas também o folclore que o envolvia.
Os adeptos do volkisch divergiam quanto à perspectiva religiosa do movimento, mas era comum a ideia de que o cristianismo era uma religião de origem judaica que tornou os alemães um povo dócil e domesticado e que era preciso resgatar os princípios do paganismo para fazer com que o espírito alemão agressivo ressurgisse.
Ser exposto a um costume judaico e conviver com judeus era compreendido pelo movimento como uma exposição a influências estrangeiras, o que prejudicaria a integridade biológica e mística do povo alemão.
Além dos judeus, os ciganos, testemunhas de Jeová e homossexuais também eram considerados povos que também comprometiam a integridade do povo alemão.
No entanto, era bastante difundida a opinião de que o cristianismo deveria ser completamente rejeitado, enquanto o paganismo germânico precisava ser resgatado.
Embora a questão da raça assumisse um papel central no seu pensamento, o grupo nutria um forte esoterismo, com adeptos celebrando datas pagãs e lendo os Eddas, uma coleção de antigos textos medievais.
Aliás, durante a existência do movimento, vários cultos a deuses pagãos germânicos ressurgiram, uma teosofia ariana foi desenvolvida e toda uma estética artística foi criada por meio de trabalhos como o dos pintores Ludwig Fahrenkrog e Fidus.
Os antigos povos germânicos não evitavam a mistura étnica, mas os neo-pagãos acreditavam que era um ponto central para manter a integridade da raça.
O movimento teve um papel importantíssimo na formulação do pensamento do Partido Nazista, sendo que vários de seus membros, como Rudolf Hess, Alfred Rosenberg, Hans Frank, Gottfried Feder, Dietrich Eckart e Karl Harrer pertenciam a organizações do vokisch.
A própria suástica nazista foi elaborada por outro adepto do movimento - Friedrich Krohn.
Os ideais do volkisch inspiraram outros movimentos fascistas ao longo da história. Grande parte deles possui fortes ligações com diferentes formas de neopaganismo.
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