Página Inicial » Perguntas e Respostas » Uma Breve Análise sobre a questão dos túmulos – Dr. G.F. Haddad

Uma Breve Análise sobre a questão dos túmulos – Dr. G.F. Haddad

”Sinto-me vinculado a obrigação de nasiha (bom conselho), de assinalar que a carta publicada por shaykh Gamieldin ao editor do jornal sul-africano Cape Argus mostra falta de conhecimento das fontes do Islam a respeito de visita a túmulos e a ao adab (etiqueta islâmica) que lhe é apropriada. A carta em questão tem como ponto principal a ”construção de santuários aos mortos”. Presumo que ele quis referir-se aos túmulos (darih, qabr) e especialmente a santuário/túmulos de santos (maqam) – e por sua ”veneração”, quis referir-se ao respeito demonstrado por muçulmanos piedosos em visita a estes monumentos fúnebres, tocando-os ou beijando-os, adornando-os, etc.

Sobre construir santuários aos piedosos

Respondi a outra pessoa que me havia perguntado:
‘’Recentemente conheci um árabe, tivemos uma longa discussão acerca do Wahabismo e suas crenças. Quando discutimos sobre a construção de túmulos para os mortos, ele citou um hadith (dito do Profeta Mohammad s.a.w.s), no qual ele disse que uma vez o Profeta Mohammad, Que a Paz esteja com ele, enviou Hazart Ali (kAw) ao Iêmen para destruir tumbas. Por favor, Esclareça esse hadith’’

Resposta: O hadith é encontrado em Sahihain, Sunan e dan Musnad, com variadas formulações.
Ibn al-Jawzi em al-Tahqiq disse: ”Este hadith é entendido como referindo-se aos elevados túmulos que costumavam construir no Iêmen, com estruturas altas e bonitas”.  Al-Zayla mencionou isso em Nasb al-Raya.

Imam al-Nawawi, em seu Sharh Sahih Muslim, disse: ‘’A sunna é que o túmulo não seja de altura elevada muito acima da superfície da terra, nem arredondado. E que seja feito com a elevação de uma mão (shibr) e aplainado, e este é o madhab de al-Shafi’i e daqueles que concordaram com ele.  Enquanto al-Qadi ‘lyad relatou que a maioria dos ‘Ulama preferem que seja arredondado (na forma de um montículo), e este é o madhhab de Malik.’’
Al-Shawkani em Nayl al-awtar adicionou que é haram (proibido) construí-los com alturas elevadas e afirmou que o fato de os Salaf e os Khalaf os construírem elevados não é uma prova de que não é haram (proibido). al-‘Azim Abadi o aprovou inteiramente em ‘Awn al-Ma’bud.

Mas Amir al-San’ani em Subul al-Salam, disse: ” Os jumhur (grande maioria) sustentam que a proibição de edificar e enxertar sepulturas é de preferência (tanzih), e não de obrigatoriedade (tahrim).  Também há uma excelente e autoritária discussão atribuída a esposa de Shaykh Nuh Keller, Ustadha Umm sahl, na página principal de Mas’ud khan, sob o título: Cúpulas sobre a sepultura dos santos’.

 

Buscar bênçãos (tabarruk) nas sepulturas e relíquias dos Piedosos

O resto deste post diz respeito à veneração do túmulo de um muçulmano virtuoso.

Dawud ibn Salih disse: O governador de Medina Marwan (ibn al-hakam) um dia viu um homem colocando seu rosto sobre o túmulo do Profeta (s.a.w.s), e disse: “Você sabe o que está fazendo?”
Quando se aproximou do homem, percebeu então que se tratava de Abu Ayyub al-Ansari.
Este último disse: “Sim, eu vim ao Profeta (s.a.w.s), não a uma pedra.”

Registrado por Ibn Hibban em seu sahih, Ahmad (5:422); Al – Tabarani em seu Mu’jam al-Kabir (4:189) e em seu Awsat, de acordo com Haythami em al-Zawa’id (5:245 e 5:441 # 5845, no Livro do Hajj, na seção sobre ‘’A honra dos moradores de Medina’’, e no capítulo sobre A colocação do rosto sobre o túmulo de nosso Mestre, o Profeta s.a.w.s, e em # 9252, Livro do Khilafa, no capítulo sobre A liderança dos que eram indignos dele,  e em Al-Hakim em seu Mustadrak (4: 515). Tanto o último como al-Dhahabi disseram que era sahih. O mesmo também é citado por al-subki em shifa ‘al-siqam (p.126) e Ibn Taymiyya em al-Muntaqa (2: 261f.)
Também é narrado que Mu’adh Ibn Jabal e Bilal foram ao túmulo do Profeta, sentaram-se chorando, e este último esfregou o rosto contra ele. Registrado em Ibn Majah 2: 1320; Ahmad; al-Tabarani; al-Subki, em Ibn ‘Asakir.

Imam Muslim relata em seu Sahih, no primeiro capítulo do livro sobre vestimentas, que Asma’ bint Abi Bakr disse:

”Aqui está o manto (jubba) do Mensageiro de Allah…  o qual esteve com Aisha até ela morrer, e desde então eu o tenho sob minha posse. O apóstolo de Allah costumava vesti-la, e depois nós a levávamos para os doentes para que eles pudessem curar-se.’’ Al-Nawawi comenta em seu Sharh sahih Muslim, no livro 37, capítulos 2#10: ”Neste hadith há uma prova de que é recomendado buscar bênçãos através das relíquias e roupas dos justos (wa fi hadha al-hadith dalil ‘ala istihbab al-tabarruk bi aathaar al-salihin wa thiyabihim)’’.

O último veredicto põe um fim a alegação de que, com base nos relatos acima, tal veneração se aplica apenas ao Profeta s.a.w.s. Isso seria contrário às regras de princípios islâmicos (Usul) e provavelmente ninguém o reivindica, exceto os não instruídos.

Imam al-Dhahabi disse: ”Ahmad Ibn Hanbal foi questionado sobre tocar o túmulo do Profeta (s.a.w.s) e sobre beijá-lo, ele disse que não via nada de errado com isso.”

Seu filho Abd Allah relatou o seguinte sobre seu pai.

Se for questionado: ”Por que os companheiros não fizeram isso?” Responderemos: ”Porque eles o viram com seus próprios olhos quando estava vivo, desfrutavam de sua presença diretamente, beijavam sua mão, compartilhavam seus cabelos purificados no dia da Grande Peregrinação, quase lutavam uns com os outros sobre os restos de sua água de ablução, e mesmo se ele cuspisse a saliva não cairia, exceto na mão de alguém, para que ele pudesse passá-la sobre o seu rosto. Como não tivemos a tremenda fortuna de compartilharmos disso, nos lançamos sobre seu túmulo como sinal de compromisso, reverência, e aceitação. Até mesmo para beijá-lo. Você não vê o que Thabit al-Bunani fez quando beijou a mão de Anas Ibn Malik e colocou-a em seu rosto dizendo: ”Esta é a mão que tocou a mão do Mensageiro de Deus?’’. Os muçulmanos não são movidos a estes feitos exceto por seu amor excessivo pelo Profeta (s.a.w.s). Porque são requisitados a amar a Allah e ao Profeta (s.a.w.s.) mais que a suas próprias vidas, filhos, que todos os seres humanos, mais que a seus bens, mais que ao paraíso e suas donzelas.
Há até alguns crentes que amam Abu Bakr e Umar mais do que eles mesmos. Al-dhahabi, Mu’jam al-Shuyukh (1:73#58).

Al-dhahabi, em outro lugar, relata que Imam ahmad em pessoa costumava buscar bênçãos das relíquias do Profeta (s.a.w.s.), e ele criticava severamente quem quer que faltasse à prática de Tabarruk ou de buscar bênçãos em objetos sagrados.
Abd Allah ibn Ahmad disse: ”Vi meu pai pegar um cabelo que pertencia ao Profeta (s.a.w.s), colocá-lo em seus lábios e beijá-lo. Acredito que vi pô-lo em seus olhos, e também de tê-lo posto em contato com uma certa quantidade de água e a bebido para obter cura. O vi pegar a taça (qas’a) do Profeta (s.a.w.s), preenchê-la com água e beber. Também o vi beber água do Zamzam buscando cura, e enxugar suas mãos e rosto com ela.”

Eu digo: “Onde estão os arguciosos críticos do Imam Ahmad agora? Também está autenticamente estabelecido que Abd Allah perguntou ao pai sobre aqueles que tocam o pomo do púlpito do Profeta e tocam a parede do quarto do Profeta, e ele respondeu: ”Não vejo mal algum nisso’’.  Que Deus nos proteja e vocês da opinião dos Khawarij e de suas inovações!”  Al-Dhahabi, Syyar A’lam al-Nubala’ (9:457). Capítulo sobre Imam Ahmad, seção intitulada Min adabih.

Quanto à licitude, ou então, ao desejo de orar em uma mesquita que contenha ou esteja localizada próxima a sepulturas de um ou mais virtuosos, é estabelecido a partir do hadith do Profeta (s.a.w.s): ”Na mesquisa de al-Khayf existe o qabr (túmulo) de setenta profetas.” Narrado de Ibn Umar por al-tabarani em al-kabir e al-bazzar com uma cadeia de narradores confiáveis de acordo com al-haythami em majma al-zawa’id (#5769, #5965).

Maqam sem um corpo?

Quanto à confusão do shayk Gamiel sobre um maqam sem corpo, e como pode tal lugar ser venerado, ele não ouviu falar do Maqam de Abraão na frente da Ka’ba? Também há um maqam de Abraão em Barza, perto de Damasco, que os Ulamma do Sham autenticaram como o lugar onde Abraão (as) se refugiou de Nimrud e orou. Nenhum dos locais é seu túmulo, mas ambos são venerados.

Está estabelecido que seu túmulo está em al-khalil e que também é venerado. Os muçulmanos piedosos nesta ‘Umma não duvidam que du’as sejam respondidos em tais locais, como o são respondidos no mawlid do Profeta (s.a.w.s) em Mekka, na casa de Khadija, etc.

Todos estes são Maqams, como os são os lugares em que o Anjo disse ao Profeta (s.a.w.s) que orasse durante sua Isra’, ensinando-lhe: ”Este é o local onde Moisés (as) descansou em sua fuga do Egito, este é o lugar onde ‘Isa (as) nasceu, etc., porque, vejam só, todos esses lugares foram, são e serão, até o Dia da Ressureição, santos no Islam.

Quanto a caracterização do shaykh Gamiel a muçulmanos como cometendo ”tais práticas de shirk” e seu uso de termos sujos como ”adoração de santuários”, ”cerimônia pagã”, etc., é refutada no o Alcorão no versículo 16:116:

{E não profirais falsidades, dizendo: Isto é lícito e aquilo é ilícito, para forjardes mentiras acerca de Deus. Sabei que aqueles que forjam mentiras acerca de Deus jamais prosperarão.}

 

Was-Salam

Gf Haddad [2001]

Fonte: https://www.abc.se/~m9783/m/ret_e.html

Para uma analise profunda e completa sobre este tema, recomendamos o seguinte artigo em inglês: https://www.sunnah.org/aqida/cape_town_wahabi/

Sobre a Redação

A Equipe de Redação do Iqara Islam é multidisciplinar e composta por especialistas na Religião Islâmica, profissionais da área de Marketing, Ilustração/Design, História, Administração, Tradutores Especializados (Árabe e Inglês). Acesse nosso Quem Somos.