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Um Diálogo sobre o Mawlid: O Milad an-Nabi seria uma Inovação?

A – Assalamu Alaykum, irmão. Pela ocasião do abençoado Mawlid alguns irmãos vão se reunir e recitar o Alcorão, ler a biografia do Profeta, recordar seus ahadith e depois partilhar de uma refeição para finalizar, quer vir?

B – Irmão, não quero te ofender, mas isso tudo sobre Mawlid é uma inovação.

A – Você pode ser mais específico quanto a isso ser “uma inovação”?

B – Sim…nem o Profeta e nem seus companheiros o celebravam.

A – Entendo… Irmão, você conhece o Imam ash-Shafi (que Allah tenha misericórdia dele)?

B – Claro que sim, é um dos grandes sábios dos Salaf.

A – Exato. O Imam Ahmad bin Hanbal disse que o hadith: “O sábio de Qureish encherá a terra com seu conhecimento” se refere a ele. Em relação ao hadith: “Verdadeiramente, ao começo de cada cem anos, Allah enviará para sua comunidade alguém que reviva/reafirme a religião para ela”; disse o Imam ibn Hajjar al Asqalani: “Os sábios concordaram em afirmar e entre eles Abu Qilaba e o Imam Ahmad, que a primeira narração fazia referência ao Imam ash-Shafi e que a segunda narração significava ‘Umar ibn ‘Abd al-’Aziz e mais tarde Imam as-Shafi (que Allah esteja satisfeito com ambos).”

B – Mas irmão, o que isso tem a ver?

A – Só me responda: a opinião dele é confiável?

B – Astaghfirullah irmão, já te falei que ele é um dos maiores sábios de nossos salafis!

A – Pois o Imam ash-Shafi (que Allah tenha misericódia dele):

“Nada que goze do apoio e respaldo da sharia pode ser uma inovação na religião, inclusive se os companheiros não o praticarem, porque sua abstenção da prática pode ser devida a uma causa ou um contexto particular que se tenha dado ali naquela época (…) ou talvez as notícias sobre uma prática em particular não os tenha alcançado em absoluto.”

B – Não entendi…então você está dizendo que o hadith do profeta : “Toda novidade é uma inovação, toda inovação é um desvio e todo desvio está no Fogo”, não é verdadeiro?

A – Absolutamente, é um hadith totalmente verídico, assim como o restante das narrações, é necessário entender corretamente. Entender como os Sábios entenderam. Ignorar a explicação dos Sábios ou se apegar obsessivamente a uma explicação totalmente isolada, minoritária ou errônea é sem dúvida uma porta aberta para o enfrentamento, o pecado e a ruína espiritual.

O famoso Sábio dos Salafis, o Imam Sufyan az-Zauri (que Allah tenha misericórdia dele) declarou: “A explicação do hadith é melhor do que o hadith (em si). (Ibn ‘Abdul-Barr)

E o grande sábio dos salafis, Sufian ibn Uyaina (que Allah tenha misericórdia dele) disse por sua vez:

“O hadith é uma armadilha exceto para os fuqaha (juristas).”

Portanto, para obter um entendimento correto e são dos hadiths do bendito profeta, você terá que buscar aqueles sábios com o entendimento profundo da realidade por trás das ditas narrações (fuqaha); caso contrário, mais cedo ou mais tarde, a pessoa acabará por se convencer de algo errado, desviando-se a si mesmo e com certeza desviando aos outros em redor.

Confirmando essa realidade disse o famoso Muhaddiz Medinense dos Salafis, o Imam Abdallah ibn Wahb (que Allah tenha misericordia dele):

“O hadith é uma armadilha exceto para os Ulama. Um memorizador de hadith que não tem um Imam em fiqh é um desviado (dâll). (Ibn Abi Hatim, ad-Dhahabi, Ibn ‘Abdul Barr).

B – Não sei…achei que era um pouco mais simples…

A – E é, mas somente se busca a explicação do hadith dada pelos Sábios. Algo que já foi feito pelos grandes sábios das 4 escolas de Jurisprudência e pelos milhões de Sábios que no espaço de 13 séculos seguiram os seus passos até o dia de hoje. Permita-me te convencer: Você sabe quantos tipos de hadiths existem e quais são as principais obras que os contêm ?

B – Não sei, suponho que os hadiths autênticos são autênticos e já… e as obras são as de Bukhari e Muslim.

A – A grande maioria dos muçulmanos pensam a mesma coisa; no entanto, a realidade é outra.

Existem 7 obras básicas de hadiths autênticos, não somente Bukhari e Muslim. As chamadas de Sihah Sitta o Kutub as-Sitta e a Muwatta do Imam Malik

  • Sahih al-Bukhari
  • Sahih Muslim
  • Sunan Abi Dawud Yami’Tirmidihi
  • Sunan Ibn Majah
  • Muwatta do Imam Malik

B – É muito interessante, não me leve a mal mas…o que tem a ver o número?

A – Tudo! Já que para entender qualquer hadith de qualquer uma dessas 7 obras, digamos Bukhari, você tem que conhecer o resto dos hadiths presentes nas outras seis. Portanto, somente Sábios altamente especializados e com décadas de estudo nas costas é que podem adentrar às obras do hadith sem perigo de se desviar do entendimento correto.

Por outro lado, a divisão consensuada dos hadiths autênticos do bendito Profeta de acordo com seu texto são:

– ‘Amm: Aqueles hadiths autênticos cujo textos é de aplicabilidade geral a vários tipos de normas.

– Jass: Aqueles hadiths autênticos aplicáveis somente a um tipo de norma ou regra.

Mujmal: Aqueles hadiths autênticos que requerem de outros textos (presentes em qualquer das 6 obras de hadiths autênticos principais e outras secundárias) pra serem completamente compreendidos.

Mubayyan: Aqueles hadiths autênticos que não requerem outros textos para serem completamente entendidos.

Mutlaq: Aqueles hadiths autênticos que não têm em outros textos restrições à sua aplicabilidade.

Muqayyad: Aqueles hadiths autênticos cuja aplicabilidade está limitada por restrições presentes em outros hadiths (em qualquer das obras de hadiths autênticos).

Nasij: Aqueles hadiths autênticos que fora m revogados por outros hadiths emitidos anteriormente.

Mansuj: Aqueles hadiths autênticos que foram revogados posteriormente.

Nass: Aqueles hadiths autênticos que de maneira inequívoca decidem um determinado juízo legal;

Dhahir: Aqueles hadiths autênticos que podem apresentar mais de uma interpretação correta.

B – SubhanAllah! É mesmo muito complexo. Ou seja, para entender um hadith corretamente, a pessoa teria que saber a qual categoria ele pertence e também todos os hadiths presentes em toda essa obra?

A – Não, essa é só uma primeira condição. Existem muitas premissas como o tipo de palavras usadas no texto de acordo com a língua árabe empregada há 1400 anos, especialmente a língua de Quraish e muitas outras que em outro momento eu te explicaria com prazer.

Foi justamente por isso que o gandre Muhaddiz dos Salafis, ibn Wahb (que Allah tenha misericódia dele) disse: “Se Malik ibn Anas e al-Laiz Sa’d não tivessem aparecido, eu pensaria que tudo que o é (autênticamente) relatado pelo Profeta deveria ser posto à prática.”

Também declarou: “Recorri a muitos hadiths e me deixaram confusos. Consultei a Malik e al-Leiz (Fuqaha) e me disseram: ‘Toma isso e deixa aquilo.’”

B – Sinceramente, eu não sabia de nada disso…

A – Normal, não precisa. Mas é muito importante reconhecer que pelo menos não se sabe; se não, nunca aprenderá.

B – E o que dizem os Sábios sobre o hadith das inovações, aquele que diz que “toda inovação é desvio”?

A – Começar com essa pergunta cada tópico é uma tentativa de se assegurar.

B – Qual pergunta?

A – “O que dizem os Sábios…?”

B – Até onde sei, é o mais inteligente a se fazer (risos).

A – Sendo assim, permita-me responder-te de uma maneira resumida:

Disse Allah, descrevendo a história de Sayyiduna Nuh (que a paz e as bençãos de Allah estejam sobre ele): “E quando venha a Nossa Ordem e o forno ferva, faça com que entra uma parelha de cada espécie…”

Em sua obra de Exegese Corânica: Tafsir Ruh al-Ma’ani, o grande Mufti de Baghdad, o Imam Sayyinf Shibab al-Alusi explica que o uso de : “cada espécie” nesse versículo anterior não é literal; quer dizer, não subiu na arca uma parelha de todas as espécies vivas existentes nessa área e naquela época (dezenas de milhares de anos); mas sim uma parelha de cada animal necessário para que os crentes pudessem continuar com sua vida no período pós-dilúvio (espécie domésticas). Se a palavra “cullu” indicasse em todos os casos generalização absoluta de acordo com os parâmetros da língua árabe, esses grandes sábios jamais teriam dado tais explicações e outros milhares jamais teriam aceitado.

B – Que bom…

A – E o versículo diz:

“E quanto ao barco, pertencia a uns pobres que trabalhavam no mar e eu quis danificá-lo pois atrás deles vinha um Rei que se apoderava à força de todos os barcos.”

O versículo claramente diz “todos”, entretanto os exegetas do Alcorão dizem que era únicamente “os barcos em um estado muito bom” (Tafsir ibn Kathir) aqueles dos quais se apoderava o Rei na história de al-Khidr. Novamente, se a partícula “cullu” ou “culla” indicasse em todos os casos uma generalização absoluta nem um Sábio teria defendido ou aceitado tal comentário.

Estes são só uns poucos exemplos de casos em que o uso da partícula “cul ou cullu ou culla” não incida generalização absoluta…

(Para saber mais leia: “A inovação no Islam”)

Em relação ao hadith: “Toda inovação é um desvio”, os Sábios dizem que a partícula “cullu” é o que em árabe se conhece por: “abbara ‘an al-kazrati bi al-kulliyya” que quer dizer : “Significar uma parte mediante a menção do todo” ou sinédoque em português. Essa figura retórica é utilizada para dar ênfase na “gravidade ou importância” de se fazer algo ou deixar de fazê-lo. Como os hadiths: “Por Allah não acredite! Por Allah não acredite! Por Allah não acredite!” ( em quem não trata bem a seu vizinho) ou “Não há oração!” (quando a comida está encima da mesa), etc

Nenhum desses hadiths significa o que literalmente expressam.

Disse o Sheikh Muhammad bin Alawi Maliki al Hassani (que Allah tenha misericórdia dele):

“O hadith que se refere às inovações pertencem a essa mesma esfera do campo.”

(‘Noções que devem ser corrigidas’. Página 61 , 62.)

Confirmando esta realidade disse o Shiekh ul Islam al Imam an-Nawawi (que Allah tenha misericórdia dele): “O que foi referido pelo Profeta (saw) quando disse ‘cullu’, cada ou todas as inovações, é tudo aquilo que é geral mas restringido ou limitado (‘amm majsus)”. Quer dizer que nem todas as novas práticas de adoração. (Volume 6, página 21 em seu “Comentário del Sahih Al- Bujari”.)

Porém, se ignorarmos ou se mesmo rechaçarmos todo o mencionado e aceitarmos que a partícula “toda (cullu)” é “ilimitada em seu significado”, ou seja, que literalmente todas as inovações são desvios; a conclusão de que “não se refere a todos os nossos atos de adoração” se mantém intacta.

B – Não entendi…isso é contraditório…

A – Acompanhe meu raciocínio e logo você vai ver que não é assim.

B – Prossiga.

A – O que uma inovação no Islam?

B – Então, “todo novo ato de adoração que não foi praticado pelo Profeta”.

A – E qual é a sua fonte?

B – Não compreendo onde você quer chegar.

A – Quero dizer, de onde você tirou essa definição?

B – Não me lembro bem mas no Facebook, sites da internet, em algumas conversas com os Sábios da Arábia Saudita na televisão. Não sei, mas já ouvi isso muitas vezes…

A – Que Allah te recompense por se interessar em aprender sua religião, porém, essa definição é totalmente errada, um mito que passa de boca em boca e se copia e cola nos blogs e páginas da internet. Nenhum Sábio reconhecido definiu “inovação (no sentido rejeitável)” dessa maneira.

B – Acho que Ibn Taimyyah sim.

A – Ibn Taimyyah disse: “(…) Se um assunto novo (prática, ato, costume) tem base no Alcorão e na Sunna se chamará então de ‘Bida logawiyya (Inovação Linguística)’ mas bida na Shariah. A palavra bida será usada para se referir a coisas novas.” (Iqtidah as-Sirat Mustaquim, capítulo Bida de Hafiz ibn Taymiyya).

Ele jamais disse: “Todo ato de adoração que não tenha sido praticado pelo Profeta” e sim “todo ato novo de adoração que não tenha base no Alcorão e na Sunna” se entende por “base no Alcorão e na Sunna”como: “Respaldo pela Shariah”, ou seja, que esse tal ato ou costume novo esteja integrado pelos componentes lícitos (em quanto às formas reconhecidas de adoração) segundo a Shariah.

Exemplo: Reptir a al-Fatiha incessantemente depois do Fajr até que o sol nasça.

Prática de Ibn Taimyyah como está narrado em al-A’lam al-’Aliyya fi Manaqib Ibn Taymiyyah.

Costume e ato de adoração não praticado pelo Profeta (saw) mas em relação a isso, não existe prova jurídica contrária, sendo assim lícito na Shariah.

“Fazer ablução cada vez que se narrava um hadith do Profeta.”

Narrou Ibn Taymyyah: “Havia Sábios entre os Salafis que nunca narravam um hadith de Raulullah (saw) sem antes fazer ablução. (Sunna inovada). (Ibn Taymyyah em At’Tawasul, página 90).

Costume e ato de adoração não praticado pelo bendito profeta (saw) mas em relação a isso, não existe provas jurídicas contrárias, sendo assim lícito segundo a Shariah.

A – Porém, mesmo que talvez ele acreditasse em tal coisa, sua opinião iria de contra a de milhares de Sábios, alguns deles com um nível de erudição muito maior que o seu, como Imam Abu Hanifa ou Imam ash-Shafii, Sheikh ul Islam Hajar al-Askalani ou Imam as-Sujuti; entre outros muitos.

B – Entendo.

A – Fico feliz. O que acha do princípio “at-Tark la yaqtadi at-tahrim”?

B – Não é bem verdadeiro.

A – Esse princípio jurisprudencial estipula que: “A ausência da prática (por parte do bendito Profeta) não leva à proibição.

B – E o que dizem os Sábios?

A – Apesar da vasta maioria dos Sábios dos Salafis (Al-Rajih ‘inda al-Jumhur), o mais sábio de todas as criações, nosso bendito Profeta Muhammad (saw), foi quem disse: “Não há nada que Allah tenha ordenado sem que eu tenha ordenado, e não há nada que Allah tenha proibido sem que eu tenha proibido.” (Imam al Beihaqi e outros).

Ou seja, qualquer proibição foi então explicitamente indicada pelo bendito Profeta (saw) ou pode derivar-se analogicamente de suas indicações.

Ele também disse, como está narrado por Sayyiduna Salman al Farsi (que Allah esteja contente com ele): “Halal é aquilo que Allah fez Halal em seu livro e, Haram é aquilo que Ele fez Haram em seu livro e aquilo que não foi mencionado (explicitamente) os foi permitido como um favor a vós.” (Tirmidhi e Ibn Majah).

E nessa ocasião também disse: “Allah, o Insuperável, fez descer deveres, não os descuideis, Ele estabeleceu limites (barreiras), nos os sobrepásseis. Ele proibiu certas coisas, não as violeis; sobre outras coisas guardou silêncio por Compaixão a vós, não por esquecimento, portanto não as procureis (tomá-las como permissíveis tácita: Taqrir).

De tudo isso se deriva o princípio jurisprudencial que diz: “A base de tudo é a permissibilidade até que haja provas de sua proibição.”

B – Eu já li em vários blogs que o princípio é ao contrário: “A base de tudo é proibição até que haja provas de sua licitude.”

A – Totalmente correto.

B – Como totalmente correto se você mesmo acabou de dizer que o Pricípio real é o contrário?

A – Segundo os hadiths que acabei de citar: Quando algo é permissível?

B – Quando Allah assim o fez permissível em seu livro…

A – E quando mais? Os hadiths estão dizendo: “ E aquilo quenão tenha sido mencionado explicitamente os foi permitido como favor para vós”…

E também: “E aquilo também que está em silêncio, se os tem permitido.”

Portanto, algo é lícito e permissível não só quando “foi mencionado explicitamente como permissível” mas sim também “quando não foi mencionado sua proibição e nem pode derivar-se por analogia ou similitude com uma proibição se mencionada.” Exemplo, a proibição de vodka pela analogia da proibição de vinho.

Portanto, não é necessário que exista uma narração do bendito Profeta (saw) ou versículo do Alcorão que explicitamente mencione uma prática em particular como o Mawlid para que seja lícita, já que o “silêncio” é permissibilidade, como está narrado nos hadiths autênticos do bendito Profeta (saw).

E então, com isso em mente, você consegue entender mesmo que pareça confuso que o Princípio: “Tudo é permissível exceto aquilo para o qual existem provas de sua proibição” é igual ao Princípio: “Tudo é proibido exceto aquilo para o qual se apresenta provas de sua licitude”, já que existe “prova de licitude” quando não existe “prova de sua proibição.”

Entretanto, mesmo que ambas propostas indiquem a mesma realidade, a tão proposta: “Tudo é proibido exceto quando existem provas de sua licitude” é absolutamente propensa a confundir, uma vez que uma porcentagem muito pequena do público conhecem a explicação dos Sábios que eu te estou oferecendo ou os hadiths proféticos que indicam que algo é permissível não somente quando está mencionado especificamente sobre sua licitude no Alcorão e nos hadiths mas também quando existe “silêncio ou não existe menção específica de sua proibição.” Sendo assim, quando escutam que “a base é proibição até que se demonstre sua licitude” chegam à “confusa conclusão” de que se o Alcorão ou o bendito Profeta não mencionaram a solicitude de uma prática, então é proibida.

B – Era exatamente isso que eu buscava, a verdade é que eu nunca havia escutado essa explicação.

A – E infelizmente você não é o único. Para evitar essa confusão, a maioria dos Sábios decidiram por formular o Princípio Jurisprudencial tal como te apresentei: “Tudo é lícito exceto quando existem provas de sua proibição.” Clarificando que toda regra tem exceções e estas são: Tirar a vida de alguém (dima’), relações sexuais (abda’), uso de propiedades (amwal), difamção (a’rad) e as carnes.

Para o qual a base é proibição sendo lícito eventualmente caso haja “provas explícitas de sua licitude.”

B – Mas isso se aplica tanto aos atos de adoração quando aos do dia-dia?

A – Muito Obrigado por me lembrar desse tópico.

B – Me veio assim à mente…

A – Allah é quem quer…

Absolutamente. O contexto da parte dos hadiths mencionados é “ a permissividade de fazer o Hajj (Peregrinção) todos os anos” o qual é um ato de adoração ritualístico. Ao que o bendito Profeta (saw) contestou: “Aquilo que não foi mencionado (explicitamente) foi permitido como um favor a vós” ou “ e o que está em silêncio está perdoado (está permitido), sendo assim, aceite o perdão de Allah, já que Allah nunca se esquece. (Majma Az-Zawaid 1:171).

B – Então para que um ato de adoração que não foi praticado pelo profeta seja lícito basta que não haja menção de sua proibição no Alcorão e nos hadiths.

A – E, obviamente, que tenha respaldo na Sharia.

Sobre isso, falou o Imam Ibn Rajab al-Hanbali (736-795H): “Em referência à narração do Profeta (saw) : “Cuidado com os assuntos novos, inventados, porque cada inovação é um extravio”; é uma advertência e um aviso para a comunidade contra o seguir assuntos novos inovados. Ele (saw) deu ênfase a isso através de suas palavras “cada inovação é um extravio”. O que ele quer dizer aqui é tudo que há de novo e introduzido sem origem, raiz ou fundamento algum na Sharia que respalde. Em quanto a aquilo (novo e introduzido) que tenha fundamentos que o respaldem na Sharia então não é uma inovação desde o ponto de vista da Sharia, mesmo que ainda assim o seja do ponto de vista linguístico. (Hadith número 28 em seu Jam’i).

B – O que você quer dizer com “respaldo na sharia?”

A – Quando se fala de “respaldo da sharia” significa que o ato é lícito jurisprudencialmente , e não que “tenha precedente explicito na prática do Profeta”, se não não poderia ser algo novo e sim, estaríamos falando de uma Sunna. E o ato será lícito jurisprudencialmente quando seus componentes são lícitos. Simples assim.

B – Mas em outro hadith o Profeta não havia dito: “Todo aquele que introduz em nosso assunto algo que não esteja nele será rechaçado”?

A – A explicação que os Sábios dão deste hadith é a crosta de gelo que contribui para maior solidez e luz para o que acabo de te explicar. A expressão que se utiliza é “laysa aleihi” e em outro contexto significa que não esteja conforme ou que não harmoniza com “este nosso assunto”. (amria hada)

Permita-me citar a explicação que deste hadith dão 3 dos Sábios maiores que receberam o título de “Sheikh ul Islam” e só um ignorante ou um sectário rechaçaria:

Disse Sheikh ul Islam, al Imam Ibn Hajar al Heizami (que Allah tenha misericódia dele) sobre este hadith: “O ato será rechazado se não estiver totalmente de acordo com a Sharia ou se falta uma condição essencial que requer a Sharia (para ser aceito).”.

Também disse o Sheikh ul Islam, al Imam an-Nawawi (que Allah tenha misericórdia dele) sobre este hadith: “Esta narração deixa claro que qualquer pessoa que desenvolva um alvo que se oponha, contradiz (khilaf) a Sunna do Profeta, será rechazado, seja quem o introduziu ou outra pessoa.

Sheikh ul Islam, al Imam Ibn Hajar al Askalani (que Allah tenha misericórdia dele) falou sobre esse hadith: “Esse hadith é sobre aqueles se que servem de fontes para desviar os Pricincípios de Usul (bases jurisprudenciais) no Islam e seu significado é que: “quem quer que invente algo na religião que não esteja reconhecido (encontrado) em nenhum de seus Princípios (que se oponham ao Usul) então assim é rechazado e não merece consideração.” (Narrado por Imam ibn Hanbali em seu Jami’ al ‘Ulum wa’l Hikam).

Em nenhum caso é mencionado que o significado desse hadith seja: “O ato de adoração será rejeitado se o Profeta não praticou ou se o Profeta não o confirmou “explicita ou tacitamente (taqrir) ou se não foi praticado pelos Sahabas ou seus seguidores” mas sim que “o ato ou modalidade de adoração SOMENTE será rejeitado se não respeita as bases, objetivos, normas, princípios e preceitos da Sharia (Alcorão e Sunna).

Por isso o Imam an-Nawawi disse (que Allah tenha misericórdia dele): “O que quis o Profeta (saw) dizer quando usou o termo cullu, cada ou todas as inovações, é que aquilo que seja geral e restringido ou limitado (‘amm majsus).” Ou seja, “não todas as novas práticas de adoração.” (Volume 6, página 21 em seu comentário de Sahih Al-Bukhari).

Também disse como é narrado em Tahzib al Ama’wal Sifaat: “Inovação é originar algo que não existia na época do Profeta e se divide entre Bom e Mal.”

Mais adiante explica que novas práticas de adoração são proibidas ou maléficas: “E neste hadith se especifica seu dito “cada inovação é bida’ e cada bida’ é extravio” se refere às inovações inválidas e às inovações rejeitadas (Madhmuma), o qual já havia sido encarnado no livro Salat al Jumu’a (…) Sharh do Sahih Muslim.

B – E o que é Bida’ Madhmuma?

A – Definindo Bida’ Madhmuma disse o Imam ash-Shafii (que Allah tenha misericórdia dele): “As que contradizem a Sunna”.

B – Então, o que acontece, não há inovações?

A – Claro que sim, só não definidas dessa maneira.

Disse o Imam Ash-Shafii como é narrado por Ibn Hajar, ibn Taymiyyah e Imam al Beihaqi (que Allah tenha misericórdia de todos eles) entre outros: “Os assuntos inovados na religião são de duas classes”:

Qualquer coisa que é inovada e contradiz o Livro, a Sunna, uma narração ou o Ijma’ (consenso dos Sábios) – e então essa é uma inovação de desvio.

Aquilo que é inovado e contem um bem e não contradiz nenhum dos preceitos anteriores, é uma novidade que não é repreensível.

Em relação ao hadith: “Toda inovação é um desvio (…)”, Sheikh ul Islam Ibn Hajar al Hajzami al Makki (que Allah tenha misericódia dele) disse: “O que narrado no hadith ‘(…) todas as inovações são desvio e todos os desvios levam ao inferno.’ Este hadith se refere somente às Bidat al Muhrima (aquelas inovações que contradizem a Sharia) e não ao resto.” (Imam al Hajzami em Fatawa al Hadiziyyah, Volume No 1, página No 109, publicado por Dar ul Fikr, Beirut, Líbano.)

O famoso erudito da língua árabe, o Imam Al Jurjani (400-471) declarou em At-tTa’rifa: “Toda caoisa inventada que contradiga (Fi’latun) a Sunna é conhecido como bida’ (na Sharia)”; página 62.

Definindo bida’ de desvio disse o Imam Abdur Rahmaan Ibn al-Jawzi (508-597H) em seu Tablis Iblis: “…tudo aquilo que é condenával por contradizer os fundamentos da lei (Sharia).”

Em “Tahdhib Al-Asma wal Lugat” o conceito de bida’ é explicado da seguinte mandeira: “Bida’ à luz da Sharia é a invenção daquilo que não se encontrava presente na época do Mensageiro de Allah (saw) e se divide em duas categorias: Hassana (boa) e Qabiha (maléfica).”

O Imam adh-Dhahabi(que Allah tenha misericódia dele), estudande de Ibn Taymyyah disse: “ A inovação é de dois tipos: o primeiro grupo são aqueles novos assuntos que se opõem ao Alcorão, à Sunna, ao Athaar, e ao Ijma da Umma; esses são chamados de Bidat ad-dhalalah (inovações de desvio). O segundo tipo consiste daqueles atos que são executados para o bem e nesse caso não são detestáveis.” (Imam Dhahabi em seu As Siyar al Alam an-Nabula, Volume 10, página 70.)

O Imam as-Shawkani (que Allah tenha misericórdia dele)(1173-1250H) disse: “No Islam há dois tipos de bida’: bida’ Seija (má/de desvio) e bida’ Hassana (boa). Se algo novo contradiz o Alcorão, ou a Sunna, então é seija (malévolo), mas se não contradiz a Sharia é hassana (bom).” (Najl-ul-Autaar, Qadi Shawkani. Capítulo “Salah At Tarawih”.)

Sheikh ul Islam Al Hafiz Ibn Hajar Al-’Asqalani (que Allah tenha misericórdia dele)(852H) disse em sua Fath ul-Bari (Sharh Al Bukhari) explicando o famoso hadith dito por Umar ibn Al-Khattab: “Que excelente é esta inovação!”

Umar disse: “Que excelente é esta inovação!” e em algumas narrações uma letra “taa” é acrescentada. O significado base de inovação é tudo aquilo produzido sem um precedente. É aplicado em oposição à Sunna e é, por sua vez, condenável, rejeitado. Falando de forma estrita: se faz parte de tudo que é recomendável pela Lei, então é uma inovação excelente (hassana), ao passo que se faz parte de tudo aquilo que é categorizado pela Lei como condenável, então é condenável e rejeitável (Mustaqabaha).

B – Eu não conhecia essas citações.

A – São só algumas de todas as que eu poderia citar. O próprio Profeta (saw) confirmou em um hadith.

B – Em qual hadith?

A – Disse o bendito Profeta (saw) : “Quem originar, começar (sanna) no Islam uma prática (sunna) meritória obterá dela uma recompensa dobrada; primeiro por haver começado, segundo pela soma das recompensas adquiridas pelo os que o imitam depois dele, sem que isso diminua em nada sua própria recompensa.”

B – Mas dizem que esse hadith se refere a introduzir ou reviver uma Sunna do Profeta, como dar esmola.

A – A parte citada é só a metade do hadith, a outra metade continua dizendo: “(…) Mas aquele que introduzir ao Islam uma ‘Sunna Maléfica’ obterá desta um castigo dobrado, o primeiro por a haver introduzido, e segundo constituído pela soma de castigos adquiridos por aqueles que a imitaram depois dele, sem que isso dimunua em nada de sua própria recompensa.”

Se a Sunna da qual se trata o Hadith é a Sunna do Profeta (saw), você poderia me dar um exemplo da Sunna maléfica do Profeta?

B – Nenhuma Sunna do Profeta é maléfica.

A – Então não se pode referir estritamente à Sunna do Profeta (saw). Mas sim, se refira a qualquer “costume ou prática” introduzida por qualquer indivíduo.

Em segundo lugar, o hadith diz “man sanna fil Islam” e segundo o dicionário Lisan al Arab: Sanna é “Kullu msn Badaa” ou “Todo aquele que faça badaa” e segundo o mesmo dicionário “badaa” é… Tradução :”Bada’: entre os Nomes de Allah – Azza wa Jal – está al Mubdi’ (O Originador). Ele é Quem fez todas as coisas e as inventou pela primeira vez antes de qualquer outro.” Al-Bud’, “Ser o primeiro a fazer alguma coisa ( o início, origem, princípio).

Portanto, “Man Sanna fil Islam” significa “Todo aquele que introduza ou origine no Islam.”

Dizer que o hadith se refere unicamente a “reviver atos do Profeta” é uma autêntica falácia que somente contradiz a explicação dos Sábios dos Salafis e também, a própria prática dos Sahaba al-Kiram (que Allah esteja contente com todos eles) que introduziram tanto durante como depois do bendito Profeta (saw) costumes ou modalidades de adoração não praticadas por ele (saw).

B – Por exemplo?

A – Vou citar só alguns:

– Dois ciclos de oração após cada ablução. Narrado por Sayyiduna Bila (Bukhari)

– Recitar sempre Surat al Ikhlass após a Sura que se recita depois da al-Faitha. (Bukhari)

– Recitar só a Surat al Ikhlass na oração, conhecendo mais Suras. (Bukhari)

– Usar Sura al-Fatiha como cura (Bukhari).

– Ibn Umar acrescentou a Talbiyyah do Profeta (saw): “Aqui estou a teu serviço, aqui estou a teu serviço, preparado para te obedecer. O Bien está em teu poder. Aqui estou a teu serviço. Para vós as súplicas e os atos.”

(Muslim Libro 7, Número 2667/8)

– A oração de despedida: “Seyyidina Khubaib”.

– Tabari narra que Abdullah bin Masu’d acrescentou o “tashahud”: “as-Salamu aleina min Rabbina”.

– O acréscimo de Rabbana wa lakal Hamd : Hamdan Kaziran Tayyiban mubarakan fih” e se tornou tradição depois de introduzi-lo.

– Dois ciclos de oração antes de entrar e de sair de casa – o companheiro Abdullah ibn Rawaha (Narrado por Ibn Hajar em seus Isabah e por Adh Dhahabi em seu Siyar com cadeias de trasmissão Sahih).

– Acrescentar ao Adhan do Fajr : “A oração é melhor que o sono” (Narrado por Tabara’ni em seu Awsat).

– Segundo e Terceiro adhan (Sayyiduna Uthman ibn Affan).

– Unificação das modalidades de recitação (Sayyiduna Uthman ibn Affan).

– Saudar os quatro cantos da Kaaba por muitos Salihin de entre os Salafis (o profeta só saudava dois). Sheikh ul Islam Hafiz Ibn Hajar (Fath al-Bari 3:473-74).

– Segunda oração do Eid (Sayyiduna al Imam Ali) (Narrado entre outros por al Bazzar em seu Zawa’id 1:313).

E muitos mais…

Em terceiro lugar o Corpus de Princípios Jurisprudenciais  Islámicos que estabelece que existem normas metodológicas para a “derivação de normas diretamente da fonte (Quran ou hadiths)”; ou seja, normas para a derivação da norma. Um dos regulamentes diz:

“A extração de normas se realiza com base no termo geral (palavras) usado e não com base no evento específico relacionado ao uso do dito termo (palavras).”

Portanto, não importa qual incidente específico contextualiza o hadith citado, mas sim, o termo geral incorporado em seu texto, e o texto diz: “ Quem origine, comece (sanna) no Islam uma prática (sunna) meritória obterá desta uma recompensa dobrada: a primeira por haver començado…”

Dizer, portanto, que o hadith se refere unicamente ao reviver “atos do profetas” é mais do que uma mentira, um engano. Quem espalha tais mentiras deveria temer a Allah Subhanahu wa Ta’ala. Se soubesse o quanto isso seria melhor!

B – Mas, afinal, o que é uma inovação?

A – Inovação, além do significado linguístico, é:

“Todo ato ou modalidade nova de adoração que não tem respaldo algum da Sharia.”

“Todo ato ou modalidade nova de adoração que (mesmo tendo respaldo na Sharia) se pretende acrescentar como parte constitutiva do Código Revelado, alterando assim a Religião Original.”

B – Não entendi o último.

A – Por exemplo, decidir que algo é parte obrigatória da Religião quando o Divino Legislador não o estabeleceu como tal:

– “Afirmar que se reunir para ler o Alcorão na ocasião do Nascimento do Profeta é obrigatório.”

– “Afirmar que o Tahajud (Oração Noturna Sunna) é obrigatório.”

– “Afirmar que unir fisicamente os pés com o companheiro do lado é obrigatório no Salat.”

Tudo isso alteraria a religião revelada por Allah a seu Profeta, sendo por definição uma inovação na Sharia e disse o Profeta: “Toda inovação é desvio.”

Portanto, somente isso é chamado de inovação na Sharia, ou Inovação Maléfica, Proibida ou Condenável (Seiyya, Muharrama, Madhmuma).

E é essa classe de inovações a que os Sábios se referem ao dizer: “Toda inovação (na Sharia) é extravio, e mesmo assim os homens a viram como algo bom.” (Narrado por ‘Abdullah Bin ‘Umar segundo Muhammad Bin Nasr Al Maru’zi em As-Sunnah).

“Quem quer inove no Islam uma bida (na Sharia) e a vê como boa, na verdade, pretende afirmar que Muhammad falhou em sua mensagem, porque Allah disse: ‘Hoje os tenho aperfeiçoado a vossa religião.’ Portanto, aquilo que um dia não foi (parte obrigatória) da religião, hoje não será tampouco.” (Imam Malik: Al I’tisam de As Shatibi).

B – Eu pensava que se referia a qualquer novidade de adoração.

A – Aqui está o erro. Nenhuma dessas citações se referem à bida em um sentido semântico (ato novo de adoração) mas na verdade, fazem referência à bida na Sharia, também chamada de Saiyya, Muharrama ou Madhmuma, que é aquela “que não tem respaldo na Sharia (Quran e Sunnah), contradizendo-a ou violando seus preceitos, ou aquele ato ou modalidade de adoração que se pretende integrar como parte original da Revelação quando nem Allah nem seu profeta regulamentaram tal efeito.”

Prova disso é que o Imam Malik disse ao fim da citação: “Portanto, o que não foi parte da religião (parte obrigatória) tampouco hoje o será.”

B – Por Allah, que perigo é se convencer com o que primeiro aparece na internet!

A – E muito…

Infelizmente, essas citações são comumente usadas para persuadir os crentes bem intencionados, os que caem nos preceitos e princípios totalmente ‘inovados’. Princípios como: “ Todo ato de adoração não praticado pelo Profeta é uma inovação proibida.”

B – Que Allah nos guie a todos…

A – Amin. Portanto, em relação à proibição do Mawlid, seria obrigatório apresentar:

– “Um versículo ou narração que explicitamente o proiba” e na sua ausência do mismo:

– “Provar que os atos feitos pelo Profeta em dita ocasião não têm respaldo na Sharia”

E nesse sentido:

“Qual versículo do Alcorão ou qual hadith do Profeta (saw) condena “reunir-se no dia 12 de Rabi ul Awwal para oferecer atos de adoração como ler o Alcorão, explicar hadiths e a biografia do bendito Profeta (saw) etc….” em agradecimento por ter sido enviado a nós?

Qual ayah do Alcorão ou hadith do Profeta proibe explicitamente preparar e oferecer comida como demonstração de alegria por recordar do imenso Favor e Benção de Allah ao nos enviar o bendito Mensageiro?

B – Na verdade, não conheço nenhum.

A – Neste caso, lembre-se do que disse o Profeta (saw): “Halal é aquilo que Allah tem feito halal em seu livro e haram é aquilo que Ele fez haram em seu livro e aquilo que não há sido mencionado explicitamente vos foi permitido como um favor para vós.” (Tirmidhi e Ibn Makhah)

Que recorde o Princípio Jurisprudencial que estipula: “Al-aslu fil-ashya’i al-ibahatu hatta yadulla al-dalilu ‘ala al-tahrimi” ou “A base de tudo é permissibilidade até que haja provas de sua proibição.”

E lembre-se de que os Maiores Sábios afirmam que todo ato de adoração que tenha respaldo na Sharia não pode ser categorizado como uma inovação (proibido) pelo simples fato de ter não ter sido praticado pelo Profeta ou os Sahaba.

“tudo aquilo que é (novo e introduzido) que tenha fundamentos que o respalde na Sharia então não é uma inovação a partir do ponto de vista da Sharia.” Ibn Rajab al Hanbali

“Nada que goze do apoio e respaldo da Sharia pode ser uma inovação na religião inclusive se os companheiros não o praticaram ou não.” (Imam ash-Shafi)

“Tudo que é inovado e contém um bem e não contradiz nenhum dos preceitos anteriores (Quran, Sunna, Hadith e o Consenso dos Sábios), é uma novidade (inovação) que não é repreensível.” (Imam ash-Shafi)

Nesse sentido, ler o Alcorão é permitido?

B- Claro que é, e recomendável.

A – Enviar saudações para o Mensageiro de Allah (saw)?

B – Sem dúvida. Allah disse: “Certamente, Allah e seus anjos bendizem ao Profeta. Oh, Crentes! Envie saudações vós também e peçais bençãos e paz para ele.” Alcorão 33:56

A – Recitar poesia o elogiando?

B – Sinceramente não tenho certeza.

A – Vou citar só algumas provas:

-Ibn Seyyed un-Nas compilou em sua obra chamada “Minahul Maht”, todas as poesias que os Sahaba recitavam elegiando o Profeta. Entre eles o famoso poema que os Sahaba cantavam chamado “Baanat suat”.

O tio do Profeta, al-Abbas (que Allah esteja satisfeito com ele) escreveu e costumava recitar estes versos: “Quando nasceste, a terra brilhava, o firmamento dificilmente podia conter tua luz e nós podemos agora transpassá-lo. Graças por tal resplandor, tal luz e tal fonte de orientação.”

(Dhikr Mawlid Rasulullah salla Llhau ‘alayhi wa sallam wa Rida’atih, página 30)

-Ibn Qayyim al-Yawziyya (que Allah tenha misericórdia dele) escreveu em seu Madarij as-Salikin, Vol 1: “O Profeta deu permissão para cantar nas celebrações nupciais, permitindo também que se recitasse poesia. Ouviu a Anas e aos companheiros o elogiando e recitando poemas enquanto cavavam antes da famosa batalha das Trincheiras (al Khadak). Diziam: Nós somos aqueles que deram o baiyyah (juramento de fidelidade) a Muhammad para o Jihad enquanto permanecermos com vida.”

Continuo citando Ibn Qayim:

“O extenso poema de Abdullah ibn Rawaha elogiando o Profeta enquanto entrava em Meca, pelo qual o Profeta rezou por ele. Também rezou a Allah, para que apoiasse a Hassan ibn Zabit, um outro poeta com (ruh al-quddus= espírito santo), contanto que lhe apoiasse a poesia.” De maneira semelhante continua citando Ibn Qayim: “O profeta premiou a Ka’b ibn Zubayr pelo seu poema com uma prenda” e finaliza “A’isha sempre recitava poemas elogiando-o e ele sempre estava contente com ela.”

Portanto, não só é permissível mas também recomendável.

A – Ler a Biografia (Sira) do Santo Profeta e narrar os milagres que rodearam seu nascimento?

B – Logicamente permitido.

A – Não só permitido como altamente recomendado.

Seyyidina Abu Darda (que Allah esteja satisfeito com ele) narra:

“Fui à casa de Amer Ansari junto com o Profeta. Seyyidina Abu Amer estava narrando os acontecimentos do nascimento do Profeta Muhammad em uma reunião de parentes e filhos e repetia ‘Este foi o dia e este foi o dia’. O Profeta entrou e disse: ‘Oh ‘Aba Amer, Allah abriu as portas de Sua Misericórdia para ti e os Anjos rezam pelo teu perdão (maghfirah). Quem quer que faça o que tens feito, também receberá uma salvação como a tua.” (Hadith narrado por : Abul Khattab Umro Bin Wahia Kalbi em seu livro ‘At tanwir Maulid bashir an-nadzir’ e o Imam Jalaludin Sujuti em seu libro ‘Siblul Huda fi Mauludil Mustafa’”.

Seyyidina Abdullah Ibn Abbas (que Allah esteja satisfeito com ele) narrou:

“Um dia reuni em minha casa umas pessoas e lhes descrevi o nascimento do Profeta Muhammad. As pessoas se sentiam felizes e invocavam as bençãos sobre o Profeta. O Profeta Muhammad veio à nossa reunião e disse: ‘Meu intercessão (hallat lakum shafa’a) por ti se tornou legítima.’”

(Hadith narrado por: O Imam Suyuti em seu livro “Siblul Huda”, Ahmad Bin Hujur Al Makki, o famoso jurista da escola Shafi’i dm seu livro “Maulud al-Kabir” e (iii) Abul Qasim Muhammad Ibn Osman em seu livro “Addurul Munazzam”.)

A – Portanto, qual conceito legal ou norma contradiz o Mawlid quando segundo a Shariah todos os atos que o integram são recomendáveis?

B – Vendo por esse lado não existe nenhuma contradição.

A – Então dizer que comemorar o Mawlid mediante meios lícitos é uma bida’ na Sharia, é uma falácia e um grave erro, já que nenhum dos atos que integram a tal comemoração contradiz ou viola norma alguma da Sharia, muito pelo contrário; sendo por definição um “ato voluntário do bem”.

B – Então, deixa-me ver se entendi direito. O Mawlid (celbrá-lo) é permitido uma vez que:

Não existe prova explícita contra e o silêncio acarreta “permissibilidade”.

Nenhum de seus elementos contradiz a Sharia (Alcorão e Sunna) portando não pode ser considerado uma “inovação na Sharia” segundo a definição que os Sábios (Ibn Taymyyah inclusive) deram sobre “inovação na Sharia”, certo?

A – Sim, tudo que você disse é verdade. E além de ser uma impossibilidade na inovação na Sharia, poderíamos incluir um terceiro e um quarto ponto:

“Não se pretende acrescentar à religião revelada como parte obrigatória da mesma, já que é um ato voluntário de adoração; portanto não existe adição ou subtração alguma na religião revelada e aperfeiçoada por Allah em seu formato original.”

Tanto o Alcorão como a Sunna respaldam tal evento de maneira explícita. Eu reservei este ponto para o final.

B – Sério? Onde?

A – Disse Allah Subhanahu wa Ta’ala:

“Enviamos a Moisés como nosso sinais (e ordem): “Tirai as pessoas das trevas profundas para a luz, e fazei com que se lembrem dos dias de Allah, realmente neles há sinais para os que são pacientes, agradecidos” (14:5).

Imam al-Baihaqi narra em seu Sh’ab al Iman que o bendito Profeta disse:

“Os dias de Allah são suas “Bençãos e verdadeiros sinais” (Tafsir Ruh ul Ma’ani).

Hafiz Ibn Kathir e Qadi Shawkani (que Allah tenha misericórdia de ambos) escreveram:

“Quanto aos dias de Allah, se faz referência ao dia em que Allah, o Altíssimo, concedera uma graça e favor a toda a humanidade.” (Ibn Kathir, Tafsir Ibn Kathir, Qadi Shawkani, Fath al-Qadir.)

Al-Hafiz Ibn Rajab al-Hanbali (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

“O maior favor com o qual Allah Subhanahu wa Ta’ala agraciou esta Nação é o nascimento do Profeta Muhammad quando fora enviado à humanidade.”

B – Allahu Akbar!

A – É Allah Subhanahu wa Ta’ala quem nos chama para comemorar seus dias e o nascimento do Profeta, por Consenso dos Sábios é sem dúvida, o maior destes dias.

Disse o Sheikh ul Islam, al Imam an-Nawawi (que Allah tenha misericórdia dele) : “A noite do Mawlid é melhor do que a noite do Destino (Laylatul Qadr).”

B – Allahu Akbar.

A – Não é o único versículo. Allah Subhanu wa Ta’ala também disse: “Diz: Que em favor de Allah e em sua Misericórdia se regozijem, demonstrem alegria, (fal yafrahu) isso é melhor do que acumulam/reúnem (riquezas).” Sura Yunus, 10:58.

A mesma palavra se traduz como “regozijar” (yafrahu) poderia sem dúvida ser traduzida como manifestar alegria, manifestar deleite, alvoroçar e a segunda forma verbal “farraha” é literalmente “celebrar”.

Imam Ibn al-Yawzi (que Allah tenha misericórdia dele) explica o significado deste versículo em seu Tafsir:

“ Ad-Dhahak narrou de Ibn Abbas (que Allah esteja satisfeito com ele) que Favor, Graça mencionado neste versículo significa “Conhecimento” ao mesmo tempo que Misericórdia significa Muhammad (Ibn Yawzi Z’ad fi Ilm at Tafsir, 4/40).

O Imam Abu Hayyan al Andalusi (que Allah esteja satisfeito com ele) também disse:

“Favor, Graça fazem referênciaa  ‘Conhecimento’, ao passo que Misericórdia faz referência a ‘Muhammad’”. Tafsir Al-Bahr al Muhit, 5/171.

O Grande Imam, Sheikh ul Islam Jalaluddin as-Sujuti (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

“Abu Sheikh narrou de Ibn Abbas que ‘O favor de Allah’ significa ‘conhecimento’ e também ‘ Misericórdia significa Muhammad’. Disse Allah Ta’ala: ‘Não te enviamos se não como misericórdia para todos os mundos.’” (Al-Anbiya:107) (Imam As-Sujuti em Dur al Manthur, 4/330).

Allama Alusi explica que inclusive Fadhl (favor ou graça) se refere ao Profeta Muhammad, ele disse:

“Narrado por Al Khatib r Ibn Asakir que: ‘Favor se refere ao Mensageiro’. Disse Allah: ‘Realmente Allah tem concedido um grande favor/graça aos crentes e ao lhes enviar um Mensageiro saído deles mesmos que lhes recita seus sinais, lhes purifica e lhes ensina o Livro e a Sabedoria já que antes estavam em um claro/evidente extravio.” (Sura Ali Imram 3:164) Al-Alusi em Ruh al-Ma’ani to 11/141.

Como pode ver, é de novo Allah Suhanahu wa Ta’ala que nos chama a mostrar regozijo e alegria por ter nos enviado nosso bendito Profeta Muhammad (saw) a modalidade para essa dita expressão de deleite ou alegria, de novo, não está limitada exceto pela Sharia; ou seja, mesmo que se violem os limites da Lei Sagrada, a pessoas poderá expressar alegria como queira, e isso inclui reunir os irmãos para ler o Alcorão, recitar poesia, enviar saudações para o bendito Profeta, repartir doces etc…e tudo isso de acordo com tudo citado e o Princípio Jurisprudencial que diz:

“ ‘As-Sukut fi sa’at al-bayan yufid al-hasr’, O silêncio sobre (um aspecto de) algo, durante a explicação do todo o que o rodeia (a esse algo), indica a exclusão (a permissibilidade) de todo aquele que não foi especificamente mencionada.”

Portanto, ao comemorar o Mawlid, não fazemos se não cumprir com as indicações de Allah Subhanahu wa Ta’ala, comemorando seus dias e mostrando alegria e regozijo durante tais comemorações.

B – Eu deveria ter começado por ai…

A – Eu queria que você tivesse certas premissas claras antes.

B – Tudo isso deveria ser explicado de forma massiva; sei que se muitos irmãos e irmãs tivessem acesso a esta explicação mudariam de opinião.

A – Sem dúvida.

B – Uma pena que sujam o Nome de algo tão bom.

A – Vivemos em tempos de confusão, nos quais, de acordo com o hadith: “A verdade será vista como mentira e a mentira como verdade.” É lamentável que aqueles que não participam perdem uma oportunidade muito especial de fazer o bem que sem dúvida terá uma enorme recompensa na outra vida. Uma recompensa eterna…

Sabe quem é Abu Lahab?

B – Um dos inimigos do Profeta. Um dos seus tios, se não me engano.

A – Muito bem. Você sabe sobre sua situação após a morte?

B – Se me lembro bem, creio que é alguém que Allah dá água no Inferno porque ao nascer o Profeta se alegrou e libertou uma escrava. Então Allah lhe dá água a cada período de tempo, como uma recompensa.

A – Sim, mas não exatamente…

Narro Ibn Hayar em Al-Fath al-Bari: “As-Suheili que al-’Abbas disse: ‘Quando Abu Lahab morreu, vi-o em um sonho um ano depois e estava em um estado terrível. Disse: ‘Não tenho encontrado depois de ti nenhum descanso, exceto pelo fato de o castigo me é aliviado a cada Segunda-Feira.’ E ele disse:                Isso ocorreu porque o Profeta, que Allah o bendiga e lhe dê paz, nasceu em uma Segunda-Feira e Zuweiba lhe deu a Abu Lahab a notícia de seu nascimento, e em consequência disso a libertou.’”

B – Justamente o que eu falei, que devido a alegria do nascimento de seu sobrinho, libertou a escrava e Allah o recompensou, fato esse que reduziu seu castigo.

A – Justamente por isso disse que “não exatamente…”

B – Não entendo.

A – Em relação às boas ações dos Kuffar, Allah disse:

“Examinaremos suas obras e as converteremos em povo disperso no ar.” (25:23)

“Essa é a Guia de Allah, com a qual Ele guia a quem quer dentre seus servos. Mas se tivessem associado outros deuses a Allah, então suas obras não teriam nenhum valor.” (6:88)

“E para aqueles que não creem ai estará o Fogo do Inferno. Agonizarão sem morrer e não os será aliviado o castigo. Assim retribuímos a todo ingrato.” (35:36)

O Imam al-Qadi ‘Iyyad (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

“Há consenso sobre as boas ações dos ‘Kuffar’, que não lhes beneficiarão e não serão recompensados por elas com bençãos ou redução do castigo, mesmo que alguns podem ser mais severamente castigados que outros.”

B – Então por que foi reduzido o castigo de Abu Lahab?

A – Pela alegria que ele sentiu ao nascer seu sobrinho Muhammad.

B – Subhan’Allah…

A – Sim, e nem somente por ter nascido o Profeta (saw) mas sim porque seu sobrinho Muhammad havia nascido. Por isso, al-Hafiz ad-Din disse em sua poesia:

“Se ele era kafir, sobre o qual desceu a maldição,

E suas duas mãos perecidas na chama eterna estão,

E acontece, que a cada Segunda-feira, de maneira repetida e sem fim,

Seu castigo é aliviado, pela alegria que sentiu por Ahmad.

Então, o que é do servo que durante toda sua vida se conduziu em alegria pelo nascimento de Ahmad e morreu crendo na Unicidade Divina?”

(al-Zurqani, Sharh Mawahib of al-Qastallani)

B – Allahu akbar!

A – Alhamdulillah (sorriso). E não só é recomendado mas sim podemos dizer sem sombra de dúvida que: “Comemorar seu nascimento e celebrar os dias de Allah é sua bendita Sunna.”

A – Imam Muslim narra em seu Sahih :

“Ibn Abbas narrou que: ‘O profeta chegou a Medina e viu os judeus jejuando no dia 10 de Muharram. Perguntou-lhes o porquê e contestaram: ‘Este é o Dia em que os filhos de Israel emergiram vitoriosos sobre o Faraó. Por isso jejuamos para assim o glorificar.’ O Profeta disse: ‘Nós temos mais direitos sobre Moisés do que vós (já que a mensagem original de Moisés era o Islam e Moisés era um Profeta do Islam), sendo assim, ordenou que os muçulmanos jejuassem nesse dia.’” (Não há dúvida que implique em obrigação legal).

Portanto, o Santo Profeta estabeleceu como sua “bendita Sunna” comemorar e aceitar a comemoração dos “dias de Allah”.

Por outro lado Abi Qatada Ansari narrou que ao Mensageiro de Allah (saw) perguntaram sobre o jejum constante de Segunda-feira, ao que ele respondeu: “É o dia no qual eu nasci e é o dia que me desceu a revelação.” (Sahih Muslim 2807)

B – E o que representava esse jejum?

A – Uma oferenda em agradecimento por haver sido enviado como um Favor e uma Benção para a humanidade; e também como um mode de comemorar um “Dia de Allah” como no caso de Ashura.

Por isso, podemos dizer sem titubear, que “Comemorar o Nascimento do Profeta” oferecendo atos de adoração é sua Sunna. Neste sentido, disse um de seus descendentes, as-Seyyed ash-Sheikh Muhammad al-Maliki al Maliki (cujo enterro foi o mais lotado dos últimos 100 anos na Arábia) em sua fatwa: Hawl al-Ihtifal bi Dhikra al-Mawlidd al-Nabawi al-Sharif: “O primeiro a observar a celebração do Mawlid foi o próprio Profeta (saw), jejuando as Segundas-feiras porque foi o dia que ele nasceu como é narrado pelo Imam Muslim em seu Sahih. Esta é a prova mais autêntica e textual da licitude de comemorar o Nobre Nascimento do Profeta.”

B – Uma última pergunta que me acabou de vir a mente, eu também li que na verdade, se está celebrando a morte do Profeta porque se sabe que ele morreu no dia 12 de Rabi ul Awwal, mas existe discrepância se nasceu ou não nesse dia.

A – Esse tipo de argumento é indício do grau de desespero intelectual no qual está submergido certos grupos sectários e infelizmente, indício também de declive intelectual de muitos crentes que aceitam esse tipo de argumento como válido.

A premissa “Ao comemorar o Mawlid no dia 12 se está celebrando sua morte por ser o dia 12 o dia de sua morte” é simplesmente “falsa”.

Disse o Bendito Profeta: “Certamente as boas ações dependem das intenções (niyyah), e cada homem terá segundo sua intenção(…)”

Portanto, se a intenção é “Comemorar o maior Dia de Allah oferecendo atos bons e manifestar alegria pelo maior Favor e Misericórdia de Allah”; isso que se está fazendo e absolutamente nada mais.

Sheikh ul Islam, al Imam Jalaludin as-Sujuti responde a esta falácia dizendo:

“Tradução: ‘O nascimento do Profeta é uma grande benção para nós, do mesmo modo que sua morte é meu triste para nós; entretanto, a Sharia nos ordenou que nos ‘regozijássemos’ e agradecêssemos a Allah pelas bençãos, enquanto passássemos por calamidades, nos ensinou a ter paciência e ocultar; é por essa razão que a Sharia nos disse que cumpramos a ‘aqiqa’ (sacrifício ritual) nos nascimentos, já que é uma forma de estarmos felizes e sermos agradecidos com Deus por temos nascido. Para morte, por sua vez, não existe o conceito de sacrificar um animal e inclusive o lamento (excesivo) é proibido. Por este motivo à luz das normas prescritas pela Sharia, o crente deve demonstrar regozijo durante Rabi ul Awwal pelo Nascimento do Amado Profeta (Husn al-Maqasad fi Amal al-mawlid, Página 54-55).

Por outro lado, a discrepância em torno de algo que não nos leva a negar uma das duas posições. Quero dizer que se há duas distintas opiniões não quer dizer que o dia 12 de Rabi ul Awwal não seja seu nascimento.

Também é necessário analisar que uma das maneiras sutis de enganar é “não dizer toda a verdade”. A afirmação: “Existe discrepância entre os sábios” é enganosa já que a afirmação correta é “Existe discrepância entre os Sábios MAS A VASTA MAIORIA DOS SÁBIOS afirma que ele nasceu no dia 12 de Rabi ul Awwal.”

Al Hafiz Ibn Rajab al-Hanbali (que Allah tenha misericórdia dele) disse em seu livro Lata ‘if al Ma’arif (p.185):

“A vasta maioria dos Ulama (al-mashhur) sustêm que ele nasceu no segundo dia da seemana (al-Iznein = Segunda-feira) 12 Rabi al-Awwal, no ano do Elefante.”

Hafiz Ibn Kathir disse em seu Sirat an-Nabi:

“A imensa maioria dos Sábios estão de acordo que o Profeta nasceu no dia 12 de Rabu al-Awwal. A evidência das pessoas que aceitam isso é débil. (Sirat an-Nabi, vol 1, ‘Nascimento do Profeta).

E disse o bendito Profeta (saw):

“Quando haja divergências, remete-as aos Siwadil-A’ zam!” (A opinião da maioria dos Sábios e a grande maioria dos muçulmanos) (Ibn Maja).

B – E a maioria dos muçulmanos celebra o Mawlid?

A – Se refere aos Sábios, mas já que perguntou, com certeza; é celebrado a nível nacional com a ajuda do Estado no Egito, na Síria, no Líbano, na Jordânia, na Palestina, no Iraque, no Kwait, nos Emirados Árabes Unidos, no Sudão, no Iêmen, na Líbia, na Tunísia, na Argélia, no Marrocos, na Mauritânia, no Djibouti, na Somália, na Turquia, no Paquistão, na Índia, no Sri Lanka, no Irã, no Afeganistão, no Azerbaidjão, no Usbequistão, no Turcomenistão, na Bósnia, na Indonésia, na Malásia, em Brunei, em Cingapura e em centenas de milhares ou até milhões de lares de maneira extraoficial no Hijaz, recentemente rebatizado como Arábia Saudita.

B – Outra informação que eu não sabia.

A – Gostaria de continuar falando mas creio que já ficou claro e está ficando tarde; vamos perder o evento.

B – Sim, mas podemos passar tudo isso para uns amigos?

A – Certamente…

Fonte: https://centroalhuda.files.wordpress.com/2015/12/el-dialogo-sobre-el-mawlid.pdf

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