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Plovdiv: a Granada do Oriente – Sheykh Abdul Hakîm Murad

Quando o viajante turco Evliya Çelebi atravessou a cidade balcânica de Plovdiv em 1650, não economizou louvores panegíricos otomanos para descrever essa “cidade maravilhosa”. Ele contou cinquenta e três mesquitas, setenta escolas alcorânicas, nove madrassas, sete colégios para recitação alcorânica avançada, oito banhos públicos e onze zâwiyas (centros sufis). Das vizinhanças da cidade, trinta e três cidades eram muçulmanas, cinco eram cristãs e uma era judia. Nove acampamentos de caravanas servidos com o comércio abundante que o governo islâmico trouxe para a cidade; de fato pintou um quadro da prosperidade islâmica, uma cidadezinha antes insignificante que floresceu sob a égide do Sultão e o sistema econômico islâmico.

Hoje é difícil sequer fazer um rascunho desse passado islâmico magnífico. Atacado pela Rússia em 1878, amputado da Turquia e premiado ao novo estado da Bulgária, a maioria de sua população muçulmana e judia fugiu para o que sobrou das terras otomanas. Massacres horríveis tomaram a vida de milhares, enquanto muitos refugiados que chegaram em Istambul traziam sinais de tortura e mutilação ou carregavam histórias assombrosas de carnificina de suas famílias. A população caiu de 125000 para menos de 30000. Hoje, a história de Plovdiv ou, como os otomanos um dia a chamaram, Filibe, evoca uma reflexão mesmo entre os turcos mais secularizados.

Aproximar-se da cidade moderna faz pouca diferença para dissipar essa imagem deprimente. Milha a milha, o vazio das fábricas da era comunista que se arruinaram junto com a ideologia que a criou, alinhadas com as superfícies esburacadas da Avenida Leningrado e da Rodovia Industriyalna. Homens agachados na sombra, fumando, observando o fluxo do trânsito. O desemprego em algumas partes da Bulgária vai além dos cinquenta porcento, mesmo em lugares onde muitos jovens partiram para trabalhar fora do país. Os cientistas da União Europeia estão se empenhando para lidar com a poluição do solo e da água causados pela negligência comunista. O crime está espalhado por toda parte, com gangues no estilo mafioso operando com impunidade e uma nova elite de empreendedores dúbios está construindo condomínios estravagantes na zona norte da cidade. Punhados de reconstruções de estilo ocidental substituíram os alojamentos cinzas da era de Stálin em volta do novo Novotel e de alguns outros marcos históricos; em outros lugares, entretanto, a pobreza sinistra é a norma.

Em poucos países a mão mortal do comunismo caiu tão pesada como na Bulgária. Sob o governo de trinta e cinco anos de Theodor Zhivkov, pais cujos filhos recusavam porco na escola encaravam a prisão ou pior. A crença em Deus era considerado uma forma de doença mental. Somente os membros do Partido Comunista poderiam esperar ter uma carreira profissional, e a afiliação era restrita a ateus somente. Cristãos, claro, encararam numerosas desvantagens, mas uma islamofobia persistente mais profunda que o comunismo garantia que era a minoria muçulmana que sentiria o jugo secularista mais pesadamente. Durante os anos de Zhivkov, a maioria das mesquitas remanescentes do país foram fechadas ou demolidas. Falar turco em público incorria em uma multa automática. Todos os nomes islâmicos foram forçadamente mudados para nomes cristãos, enquanto a circuncisão de meninos foi criminalizada. Mais de mil manifestantes muçulmanos morreram tentando resistir a essa erradicação de sua identidade, muitos deles perecendo nas condições terríveis dos campos de trabalho forçado de Zhivkov.

No fim, o regime búlgaro provou ser mais resoluto que as outras peças de dominó do Pacto de Varsóvia que se puseram no topo no despertar da perestroika de Gorbachev. As preces dos crentes sofredores foram dramaticamente respondidas quando Zhivkov foi retirado à força do seu escritório em 1989. Ainda assim as cicatrizes da Inquisição Búlgara estão por toda parte para serem vistas.

Um meio efetivo, senão revivificante, de sobreviver ao dano é se sentar no cume do Morro Bunarchik de Plovdiv. Como Istambul, a cidade é construída sobre sete morros (Taksim, Nebet, Janbaz, Sahat, Jendem, Bunarchik e Markovo). Durante a época otomana vários desses eram lugares de recreação pública e piqueniques de Eid no Bunarchik eram particularmente populares. Do cume, sobre figueiras e castanheiras, pode-se aproveitar de uma vista panorâmica da cidade, que se estende para além do Rio Meritch, cuja ponte otomana fez muito para galvanizar a prosperidade da cidade. Prédios do século XIX são proeminentes no centro da cidade, e por todo lado prevalece os desoladores condomínios de apartamentos de estilo soviético. Ainda assim é impossível discernir a cidade muçulmana. Da floresta de minaretes do passado, nenhum parece ter sobrevivido.

Para poder rastrear os sinais de uma vida muçulmana, é necessário descer o rio caminhando. Aqui não se acha nenhum sinal dos ruidosos moinhos d’água turcos que outrora se alinhavam com o Meritch, nem as pitorescas casas fechadas, sustentadas sobre as águas, que os viajantes vitorianos admiravam. A nascente está abandonada, seu potencial inteiramente ignorado. Ainda depois de uma milha de caminhada ao lado do Meritch, sobre uma trilha de mato alto e infestada de ratos, cruza-se com um milagre. A mesquita de Imaret, datada de 1444, de alguma maneira conseguiu sobreviver, junto com a tumba de seu fundador, o Paxá Shihabeddin. A construção é um exemplo excepcional como uma joia da escola de Bursa de construção otomana. Distinta de tantas mesquitas na Bulgária, esta reteve seu minarete, que é decorado com um padrão espiral delicado incrustado no padrão dos tijolos. O cemitério é agora só um jardim, mas os pedaços quebrados das lápides, esmagadas em 1985, ainda são visíveis, caídas para um lado. Não há qualquer traço do prédio de caridade que deu o nome à estrutura (um imaret é uma cozinha pública de sopa, onde os pobres de todas as religiões poderiam vir para uma refeição grátis por conta dos muçulmanos). Ficava, aparentemente, entre a mesquita e o rio. A madrassa do paxá, a Kara Shahin, também ficava bem perto. Aqui o foco era em hadîth: um dos diretores mais ilustres do colégio foi o grande muhaddith Çelik Yahya Efendi (morto em 1567), que mais tarde ensinou no Dâr al-Hadîth em Edirne, antes de ser o qâdi chefe de Bagdá.

Ali perto ficava o banho público (hammâm) construído pelo mesmo paxá. Um dos dois únicos que parecem ter sobrevivido na cidade é agora uma galeria de arte, abrigando instalações de arte conceitual de qualidade indiferente. Os quartos apodrecidos são imbuídos com o espirito que os turcos chamavam de hüzün, um sentido de perda e melancolia. É difícil pintar a cena como ela teria sido há cento e trinta anos atrás: corpos macios, massagistas, o odor de tabaco balcânico, piqueniques no hammâm para senhoras ociosas e visitantes judeus sefaradis. Agora só restam poeira e tinta descascando; uma vida vibrante da carne desvaneceu-se, para ser substituída por ecos e um sentido de mortalidade. A Plovdiv muçulmana aqui dá uma sensação distante e irretornável como o Antigo Egito.

Pode-se tentar escapar o hüzün visitando o restaurante italiano Da Lino para o almoço. Aqui, entretanto, outra tragédia oprime o visitante muçulmano. Ocupando uma área valorizada do Bulevar 6 de Setembro, o Da Lino era até vinte anos atrás a mesquita muito amada de Tashkapi. O Mufti de Plovdiv, Hasan Ali, relembra como ela foi tomada pelos comunistas em 1983. O cemitério foi pulverizado e o minarete demolido. Pouco uso foi feito da construção até a queda do comunismo quando, entre os processos caóticos usuais da privatização apressada, veio a virar propriedade privada. Seis anos atrás o Da Lino abriu suas portas, para a angústia da população muçulmana. E para acrescentar um insulto bem deliberado sobre a ferida, o restaurante é decorado com afrescos claramente obscenos, cenas talvez de Boccaccio. Mulheres nuas montadas em burros cruzando o teto da mesquita; homens másculos e bêbados parecem estar ao ponto de vomitar na sala de jantar; um bacanal selvagem está em progresso. Sobre o mihrab, um deus romano balança seu tridente. Á esquerda, onde estariam a cadeira de wa’z e uma prateleira para Alcorães, fica um recipiente de vidro de presunto de Parma e um escaninho de vinho.

Cristãos em Plovdiv parecem não se importar com o Da Lino. Mas o extremo da provocação não ficou sem ser percebido internacionalmente. Numa visita recente à Bulgária, o primeiro-ministro turco Tayyib Erdogan pareceu se referir a isso quando listou as igrejas históricas búlgaras na Turquia, tais como a de São Jorge em Edirne, que seu governo pagou para que se restaurasse. Seria um gesto esplêndido de reciprocidade, ele acrescentou, se a Bulgária considerasse o apoio à volta dos lugares de adoração dos muçulmanos de algumas mesquitas históricas bem famosas. Seus comentários foram recebidos com suspeita pela imprensa búlgara e ainda assim o governo e seus municípios prosseguem com as políticas islamofóbicas antigas. Talvez temam abrir as portilhas? Se o Da Lino reabrisse como uma mesquita, então o que dizer da mesquita vizinha Shukur, também um restaurante licenciado? O que dizer sobre os prédios construídos nos locais da Mesquita Kadi Seyfullah, a Mesquita Yesiloglu, a Mesquita Anber Kadi, a Madrassa Paxá Karagoz? Completamente consciente de que a maioria das cidades foram primariamente muçulmanas, o governo búlgaro talvez esteja relutante em abrir um precedente por isso.

Então pagamos a conta no Da Lino e agradecemos ao casal perfeitamente amistoso que o dirige, e partimos em busca de algo menos deprimente. É melhor não parar no lugar do Mevlevihane, a zâwiya dos Dervixes Girantes, construída originalmente por refugiados muçulmanos da Hungria no fim do século XVII e amavelmente restaurada em 1849. Sumiu sem rastros, junto com suas tumbas e biblioteca. A rua onde, no século XIX, alguns dos quarenta jornais e revistas turcos de Plovdiv eram publicados, oferece um prospecto não menos desolador e anônimo. Bem diferente é o velho distrito próximo de Hisar Kapi, que por outro lado, de fato é um exemplar excelentemente preservado das casas otomanas. Passear por essas ruas estreitas, um remanescente muito forte do distrito de Albaicín na velha Granada, é para fazer lembrar o conforto e prosperidade com os quais os cristãos búlgaros foram angariados sob os sultães. Os cristãos de Plovdiv controlavam uma rede de comércio que incluía centros de mercadoria nas distantes Daca e Jacarta. Uma vez que a ameaça duma Cruzada antiortodoxa pelo Papa foi removida pelo governo turco, a Ortodoxia floresceu aqui; com igrejas novas e mosteiros sobrepujando em tamanho e beleza àquelas presentes antes do período otomano. Como o historiador de arte Machiel Kiel comenta: “Se nos lembrarmos do destino trágico de algumas das civilizações islâmicas mais trágicas da Europa medieval, tais como da Espanha e Sicília, voluntariamente destruída por um cristianismo agressivo, a existência da arte cristã no Sudeste da Europa controlada pelos muçulmanos seria incompreensível.” Ele ainda registra o florescimento da cultura cristã sob o governo otomano, tornado possível pela tolerância dos ‘ulamâ’. “No Império Otomano,” ele conclui, “havia o alto “clero” muçulmano que parou governantes ultrazelosos. Na Espanha houve o exato oposto.”

Há várias igrejas otomanas substanciais no distrito de Hisar Kapi, e apesar disso a joia da vizinhança não é nem uma igreja nem uma mesquita, mas uma casa. Foi construída em 1848 por uma família muçulmana, os Kurumjioglus, e é verdadeiramente esplêndida: digna e aristocrática, embora charmosa da maneira vernácula otomana. Tipicamente os guias oficiais a chamam de “um fino exemplo da arquitetura barroca búlgara”, apesar de ser quintessencialmente de qualidade otomana. Agora abriga o Museu Etnográfico que, apesar da preponderância demográfica de culturas islâmicas ricas na região, dão um jeito de ignorar totalmente a existência de comunidades não cristãs.

A casa dos desafortunados Kurumjioglus então nos dá outra razão para se ficar aborrecido e não se sentir culpado de sair de lá e se direcionar para o centro da cidade. Aqui vale parar no no local do Bedestan, o velho bazar coberto destruído sem motivo algum pelos búlgaros, para conversar com Demir, dono de um dos únicos dois cafés halal da cidade. Demir é um homem esplêndido, um verdadeiro crente e amante da cidade, que é uma mina de informação sobre a situação atual dos muçulmanos na região. Há sessenta mil turcos aqui, mais trinta mil tziganes (ciganos muçulmanos), formando por volta de dez porcento da população de Plovdiv. A discriminação é generalizada, parece, mas Demir é adepto de lembrar a todos como era muito pior sob Zhivkov, quando o ramadã era um segredo de família bem guardado e as rezas só poderiam acontecer em casas privadas.

À alguns passos depois da loja do Demir se vê a grande maravilha de Plovdiv, a Mesquita de Hüdavendigar. Apesar das suas redondezas abandonadas, é sem dúvida uma das antigas construções otomanas mais importantes. Completa no começo do século XV, faz tempo desde que foi desmembrada de seus anexos, incluindo sua madrassa, cemitério e fonte para wudû’ (shadirvan). As paredes externas são usadas como um mictório por bêbados búlgaros e geralmente o exterior da mesquita é nada demais para que se olhe. Dentro, entretanto, é outra história.

A mesquita é comtemplada por um lance íngreme de escadas, algo não incomum nessa cidade de morros. Alcançando o topo, vê-se um chafariz interno, relembrando a cascata maravilhosa de mármore que reluz dentro da Grande Mesquita de Bursa, sendo que alguns arquitetos podem de fato terem trabalhado ali. É dito que quando o sultão Suleiman o Magnificente passou pela cidade, ele concedeu segredos durante discussões com seus generais se sentando ao lado do chafariz, cujo som tornaria ouvir fofoca impossível. A mesquita tem três domos grandes indo na direção do mihrab e absides provistos com quatro pilastras imensas. Como a mesquita de Bursa, as paredes são ricas com caligrafia. Muito disso foi feito pelo mestre calígrafo Ulu Arif Mehmed Efendi e data da restauração pelo Sultão Abdülhamit I em 1785. Depois de um terremoto, uma outra renovação em 1819 permitiu os construtores adicionarem floreios barrocos extravagantes do lado de baixo dos domos. Aqui e ali pode ser vista a excelente caligrafia do grande sayyid naqshbandi Mustafa Çelebi de Edirne, a maioria do estilo thuluth. Na parede da qibla há a famosa prece: “Ó Allah, Mudador dos anos e condições: mude nossa condição para a melhor das condições!” Uma inspeção mais de perto revela que os traços do pincel foram de fato feitos de pequenos versículos alcorânicos escritos no estilo Jali Divani. Outra peça monumental à direita do mihrab, em escrita ta’liq, feita pelo calígrafo local Ali Haydar, completa no começo do século XIX.

Nessa mesquita, grandes pregadores já se apresentaram para multidões imensas. Aqui, por exemplo, Molla Khayali, o principal comentador da Qasîda Nûniyya de Khidr Bey, ensinava teologia. Qâdi ‘Abdullah Efendi, o grande faqîh hanafi ensinava aqui, e quando o clima era de inverno amargo, grandes braseiros com carvão eram carregados para o benefício dos que não tinham condições de comprar peles. É dito que Ibn Kemal, o maior dos teólogos otomanos, se arrependeu aqui de sua antiga carreira militar e decidiu se dedicar à academia, uma decisão que um dia o fez Shaikh al-Islâm do mundo otomano inteiro. Mehmet Izzati, o pregador que faria até traficantes de escravos chorar, ensinou a partir da plataforma oriental da mesquita. Assim também fez Kör Hasan, o qâdi muito amado da cidade, que fundou uma madrassa em Istambul antes de morrer, cego porém contente, em 1580. Os poetas de Plovdiv Raunaq e Jefa’i declamavam seus versos na mesquita, antes de fazerem seus nomes na capital. O sábio de hadîth e sufi Nureddin Muslihuddin (morto em 1573), o grande aluno de Bali Efendi de Sófia, viajou daqui para a Mesquita Zeyrek em Istambul, onde foi grandemente reverenciado pelo Shaikh al-Islâm Ebu-s-Suud. Mais tarde numa noite, ele fez seu caminho para o Palácio de Topkapi, onde ele insistiu em acordar o sultão. Suleiman o Magnificente apareceu como devia, e perguntou o que o trouxe. Nureddin lhe contou que tinha acabado de ver o Abençoado Profeta num sonho, que lhe contou que o Sultão não esperarasse sua intercessão se ele abandonasse o jihâd. O sultão chorou e levou seu exército para a Hungria para bater de frente com a ameaça de Hapsburg. Morreu ali, para ser reconhecido como mártir.

O último grande imâm da mesquita, Filibeli Hajji Hafiz Tevfiq Efendi (morto em 1929), que guiava as rezas aqui fazia cinquenta anos, emigrou para a cidade ainda otomana de Mudurnu, onde milhares se arrependeram em suas mãos; a montanha onde ele foi enterrado carrega o nome de Sheykhulimran em sua honra. O político, dramaturgo e teólogo Filibeli Ahmed Hilmi rezava aqui quando era pequeno. Ali Suavi, o defensor ferrenho da lei Islâmica, recrutou alunos aqui no meio do século XIX.

Tristemente, os dias quando a Hüdavendigar era uma das grandes mesquitas do Islã já se foram há muito. Hoje, somente umas mil pessoas vão participar das rezas de sexta ali, a despeito da imensidão da construção. Há dois imâms, um dos quais, Nurettin, em seus vinte anos, tinha uma voz soberba, tendo treinado nos sistemas de maqâm em Istambul. Está trabalhando duro para trazer vida para esse lugar santo, mas ele frisa que nem todos estão felizes de rezar numa construção onde grandes rachaduras estão se espalhando sobre o teto. Algumas dessas tem vários centímetros de largura, e os engenheiros locais têm balançado suas cabeças. Apesar do fim da Inquisição Comunista, o futuro dessa estrutura magnífica não é garantido.

Nurettin é nativo de Filibe e intensamente orgulhoso de sua cidade. Ele relembra o desejo da minoria muçulmana de viver com paz e respeito com seus vizinhos cristãos, apesar de todas as dificuldades que danificaram as relações em anos recentes. Ele ficou estasiado que no ano de 2002 foi concedida a permissão para abrir uma madrassa na cidade de novo. Localizada no subúrbio de Ustina, tem agora quarenta alunos, alguns deles tendo formado um grupo de canto que é famoso pela Bulgária muçulmana. Devagar, como ele frisa, o país está emergindo do pesadelo comunista. Uma universidade islâmica assistida por sábios turcos abriu em Sófia. Os ‘ulamâ’ da Bulgária como Ahmad Davudoglu, que foi forçado a trabalhar quase como escravo pelos comunistas, estão estabelecendo as fundações culturais que servem às comunidades muçulmanas. Acadêmicos que se converteram ao Islã como o Professor Tsvetan Theophanov em Sófia estão ajudando os ‘ulamâ’ tradicionais a alcançar a nova geração. Uma suspeita antiga quanto à língua búlgara está agora dando lugar a uma aceitação da ideia de que os jovens muçulmanos podem e deveriam falar búlgaro, e uma quantidade crescente de material tem sido traduzido. O mais efetivo tem sido o livro de sîra do Shaikh Osman Nuri Topbas, uma obra que tem tido um impacto muito posítivo em búlgaro, como já teve em inglês e em muitas outras línguas.

A comunidade muçulmana tem uma vantagem maior, que também é um acaso. A Bulgária está enfrentando uma crise demográfica. Por causa de uma taxa de natalidade negativa, a população nacional cai pela metade a cada geração. Por causa da pobreza da comunidade muçulmana e de sua relutância de mandar mulheres para trabalhar, embora somente doze porcento da população é muçulmana, mais de sessenta porcento dos bebês são nascidos em famílias muçulmanas. Ambas as comunidades muçulmana e não muçulmana reconhecem, agora que a Bulgária é parte da União Europeia, que essa realidade terá que se acomodar através de garantias constitucionais férreas e um relacionamento baseado em respeito mútuo.

Infelizmente, muitos na sociedade búlgara se sentem intimidados pela presença muçulmana crescente, refletindo inseguranças sobre a indentidade de um país cristão criado quando a maioria de sua população era muçulmana. Um partido de extrema-direita está cada vez mais popular. Ano passado um cemitério islâmico foi vandalizado; só a ponta do iceberg, de acordo com os ativistas dos direitos humanos. A Igreja Búlgara, embora fraca em geral, ainda cultiva fortes sentimentos anti-islâmicos e tem patrocinado a construção de igrejas em vilarejos muçulmanos, até mesmo onde essas igrejas ficam trancadas e nunca usadas. Tem até mesmo patrocinado a construção da maior estátua da Virgem Maria, que fica num morro que se sobrepõe sobre Haskovo, a principal cidade com maioria islâmica. Os locais de mesquitas destruídas são frequentemente marcados com crucifixos enormes, relembrando os “santuários de sangue” construídos pelos radicais croatas em antigos locais islâmicos em Herzegovina.

Uma aliança em estilo sérvio de clérigos, ex-comunistas e nacionalistas é, nos olhos de alguns observadores muçulmanos, não impossível. A minoria islâmica pacífica da Bulgária frisa que enquanto mosteiros e igrejas sobreviveram seis séculos de governo otomano, e os cristãos viveram como uma elite frequentemente rica sob os sultões, a vida tem sido menos gentil para os muçulmanos em cidades como Plovdiv seguindo a escultura de um estado nacionalista búlgaro a partir de um mosaico étnico em 1878. Se o nacionalismo cristão búlgaro tradicional ou alguma ideologia mais tolerante ganhará o dia é uma questão que é semelhante a determinar se o destino de Plovdiv é o de um centro florescente do Islã europeu ou um palco para mais um rompante de violência e inquisição islamofóbica.

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