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Os ensinamentos do Imam Junayd al-Baghdadi – por Sh. G. F. Haddad

Al-Junayd ibn Muhammad ibn al-Junayd, Abu al-Qasim al-Qawariri al-Khazzaz al-Nahawandi al-Baghdadi al-Shafi`i (d. 298). O Imâm do Mundo em seu tempo, shaykh dos sufis e “Coroa dos Conhecedores”, ele acompanhou seu tio materno Sari al-Saqati, al-Harith al-Muhasibi, e outros.

Abu Sahl al-Su`luki narra que enquanto garoto al-Junayd ouviu seu tio sendo perguntado sobre a gratidão, quando então ele disse: “é não usar Seus favores no propósito de desobedecê-Lo”.
Aprendeu fiqh de Abu Thawr – em cujo círculo daria fatwas aos vinte anos de idade – e, também é dito, de Sufyan al-Thawri. Uma vez ele disse: “Allah não trouxe uma ciência à terra acessível às pessoas exceto que ele tenha me dado uma parte desse conhecimento.” Ele costumava ir ao mercado todo dia, abrir sua loja e começar a rezar 400 rak’as até a hora de fechar.

Entre seus ditos sobre o Caminho Sufi: “Quem quer que não memorize o Alcorão e escreva hadith não é apto de ser seguido nesse assunto. Pois nossa ciência é controlada pelo Livro e a Sunna.”
Para Ibn Kullab que estava lhe perguntando sobre tasawwuf ele respondeu: “Nosso madhhab é separar o pré-eterno do contingente, a deserção da irmandade e lares humanos e esquecimento do passado e do futuro.” Ibn Kullab disse: “Esse tipo de fala não pode ser debatido.”
Seu estudante Abu al-‘Abbas ibn Surayj diria, toda vez que ele derrotava seus adversários em debate: “Isso é da bênção de me sentar com al-Junayd.”
Al-Qushayri relata de al-Junayd as seguintes definições de tasawwuf:

* “Não a profusão de reza e jejum, mas a integridade do peito e altruísmo.”1

* “Tasawwuf quer dizer que Allah faz você morrer para seu ego e dá para você vida n’Ele.”

* “Quer dizer que você esteja exclusivamente com Allah sem associados.”

* “É uma guerra na qual não há paz.”

* “É a súplica junto com concentração interna, êxtase junto com audição atenta, e ação combinada com conformidade [com a Sunna]”.

* “É a defesa de toda alta etiqueta e o repúdio de toda baixa.”

Quando seu tio o pediu para falar do púlpito ele se depreciou, mas então viu o Profeta em seu sonho o ordenando a falar.
Ibn Kullab uma vez pediu a al-Junayd para ditar para ele uma definição compreensiva do tawhîd que ele acabou de ouvir dizê-lo. Respondeu: “Se eu estivesse lendo de um registro eu o ditaria para você.”
O mu’tazili al-Ka’bi disse: “Meus olhos nunca viram ninguém parecido com ele. Escritores vieram ouvi-lo por seu domínio linguístico, filósofos pela agudeza de seu discurso, poetas pela sua eloquência, e sábios de kalâm pelo conteúdo de seu discurso.”
Al-Khuldi disse: “Nunca vimos, entre nossos shaykhs, ninguém no qual ‘ilm e hâl vieram juntos exceto por al-Junayd. Se você visse seu hâl pensaria que teria precedência sobre seu ‘ilm, e se ele falasse você pensaria que seu ‘ilm teria precedência sobre seu hâl.”

Como os imâms sunitas de sua geração, al-Junayd odiava disputas teológicas sobre Allah e Seus Atributos: “O menor [perigo] que jaz dentro do kalâm é a eliminação do temor de Allah do coração. E quando o coração é deixado desprovido do temor de Allah, se torna desprovido de crença.”

Uma vez um jovem cristão o perguntou: “O que quer dizer o hadîth do Profeta: ‘Cuidado com a visão do crente pois ele vê com a luz de Allah?'” 2 Al-Junayd permaneceu imerso em pensamento e então levantou sua cabeça e disse: “Submeta-se, pois chegou o tempo de você aceitar o Islã.” O jovem homem abraçou o Islã ali mesmo.
Al-Junayd definiu o Conhecedor (al-‘arif) como “Aquele que se dirige a seu segredo embora você esteja em silêncio.” Ibn al-Jawzi cita outro exemplo do kashf de al-Junayd em sua Sifa al-Safwa:

Abu ‘Amr ibn ‘Alwan relata: Saí um dia ao mercado de al-Ruhba para algo que precisava. Vi uma processão funeral e a segui para que fosse rezar com os outros. Fiquei entre as pessoas até que enterraram o morto. Meus olhos involuntariamente caíram sobre uma mulher que não estava de véu. Eu me demorei olhando para ela. Então recuei e comecei a pedir o perdão de Allah o Exaltado. No meu caminho para casa uma velha me disse: “Meu mestre, por que seu rosto está todo escurecido?” Tomei um espelho e olha! meu rosto ficou escuro. Examinei minha consciência e procurei: Onde que a calamidade me caiu? Lembrei do olhar que lancei. Então me sentei sozinho em algum lugar, pedindo o perdão de Allah assiduosamente. Decidi viver austeramente por quarenta dias. [Durante aquele tempo] o pensamento me veio ao coração: “Visite seu shaykh al-Junayd.” Viajei para Bagdá. Quando alcancei o quarto onde ele vivia bati na porta e o ouvi dizer: “Entre, ó Abu ‘Amr! Seu pecado foi em al-Ruhba e nós pedimos perdão para você aqui em Bagdá.”3

Sobre os sufis al-Junayd disse:

* “Eles são os membros de uma única casa em que ninguém senão eles podem entrar.”

* “O sufi é como a terra: todo tipo de abominação é jogada sobre ela, mas nada senão todo tipo de bondade cresce dela.”

* “O sufi é como a terra: ambos os retos e os pecadores andam sobre ela. Ele é como as nuvens: dão sombra para todas as coisas. Ele é como a gota de chuva: rega todas as coisas.”

* “Se você ver um sufi se importando com sua aparência externa, então saiba que seu ser interior é corrupto.”

Ibn Qayyim al-Jawziyya relatou de al-Sulami que al-Junayd disse: “O buscador confiável (al-murid al-sadiq) não tem qualquer necessidade dos sábios de conhecimento” e: “Quando Allah deseja uma benevolência grandiosa para o buscador, Ele o põe no rebanho dos sufis e o impede de acompanhar àqueles que leem livros (al-qurra’).”4
Isso é similar ao dito de al-Junayd relatado por al-Dhahabi: “Não tomamos tasawwuf do que Tal-e-Tal disse e o que Tal-e-Tal disse, além de fome, abandono do mundo e ruptura dos confortos.”
Al-Junayd disse também: “Entre as marcas da ira de Allah contra um servo é que Ele o torna ocupado com aquilo que não tem a ver com ele.”5

Ibn al-Qayyim em al-Fawa’id afirma a superioridade do esforço contra o ego (jihad al-nafs) sobre todos os outros esforços e cita al-Junayd:

Allah disse: {Aqueles que se esforçam por Nossa causa, Nós os guiamos aos Nossos caminhos} (29:96). Ele então tornou a guia dependente do jihâd. Assim, as mais perfeitas das pessoas são aquelas que se esforçam mais por Sua causa, e o mais obrigatório dos jihâds (afrad al-jihad) é o jihâd contra o ego, o jihâd contra os desejos, o jihâd contra o diabo, e o jihâd contra o mundo inferior. Quem quer que se esforce contra esses quatro, Allah o guiará nos caminhos de Seu bom prazer que levará a Seu Paraíso, e quem quer que deixa o jihâd, então deixa a guia na proporção em que deixa o jihâd.
Al-Junayd disse: “[O versículo quer dizer que] Aqueles que se esforçarem contra seus desejos e se arrependerem por nossa causa, os guiaremos nos caminhos da sinceridade. E ninguém pode se esforçar contra seu inimigo externamente exceto aquele que se esforça contra esses inimigos internamente. Então quem quer que tenha obtido vitória sobre eles será vitorioso sobre seu inimigo. E quem quer que seja derrotado por eles, seu inimigo o derrota.”6

Ibn ‘Abidin relata em sua fatwa sobre a permissibilidade das reuniões de dhikr:

O Imâm dos Dois Grupos,7 nosso mestre al-Junayd foi informado: “Certas pessoas se satisfazem em wajd ou comportamento extático, e balançam com seus corpos.” Ele respondeu: “Deixe-os a sua felicidade com Allah. Eles são aqueles cujos afetos têm sido esmagados pelo caminho e cujos peitos têm sido dilacerados pelo esforço, e eles não estão aptos a aguentar. Não há culpa neles se eles respiram um tempo como remédio para seu estado intenso. Se você provasse o que eles provam, você os desculparia por sua exuberãncia.”8

Em seu Kitab al-Fana’ (“Livro da Aniquilação do Ego”) al-Junayd declara:

Quanto ao seleto e o seleto do seleto, que se tornou alienígena através da estranheza de suas condições – a presença para eles é perda, e a alegria do testemunho é esforço. Eles têm sido apagados de todo vestígio e todo significado que eles encontram em si mesmos ou que eles testemunham neles mesmos. O Real os subjugou, apagou-os, aniquilou-os de seus próprios atributos, tal que é o Real que trabalha através deles, neles e por eles em tudo que eles experimentam. É o Real que confirma tais exigências neles e sobre eles através da forma de seu acabamento e perfeição.9

Al-Junayd saiu em peregrinação a pé trinta vezes. Em seu leito de morte ele recitava o Alcorão incessantemente. Al-Jariri relatou que ele lhe disse: “Ó Abu al-Qasim! Relaxe.”
Ele respondeu: “Ó Abu Muhammad! Você conhece alguém que tem mais necessidade do Alcorão nesse momento, quando meu registro está sendo dobrado?” Ele terminou uma khatma e então começou de novo até que recitou setenta versículos da Sura al-Baqara, e então morreu. Ibn ‘Imâd al-Hanbali disse: “Se fôssemos falar de seus méritos poderíamos preencher volumes.”

Fontes principais: al-Qushayri, Risala 148-150; Ibn `Imad, Shadharat al-Dhahab 2:228-230; al-Dhahabi, Siyar A`lam al-Nubala’ 11:153-155 #2555; Ibn al-Subki, Tabaqat al-Shafi`iyya al-Kubra 2:260-275 #60.

NOTAS

1Em al-Qushayri, Kitab al-Sama` em al-Rasa’il al-Qushayriyya (Sidon e Beirute: al-Maktaba al-`Asriyya, 1970) p. 60.

2Narrado de Abu Sa`id al-Khudri por al-Tirmidhi (gharib) com uma corrente fraca, Abu Imama por al-Tabarani com uma corrente boa (hasan) de acordo com al-Haythami no capítulo sobre firâsa em Majma’ al-Zawa’id, Ibn `Adi, al-Hakim al-Tirmidhi, e al-Quda`i em Musnad al-Shihab (1:387). Também narrado por al-Bukhari em seu Tarikh, Ibn al-Sani, e de Ibn ‘Umar por Ibn Abi Hatim, al-Tabari, e Ibn Kathir em seus comentários do versículo (Nisto há sinais para os compreensivos (15:75)). Ibn al-Jawzi o inclui entre os forjamentos. Al-Sakhawi em al-Maqasid al-Hasana (#23) rejeita o nivelamento de Ibn al-Jawzi de mawdu’, mas considera todas suas correntes fracas, como faz al-Albani em sua Silsila Da’ifa (4:299-302) e al-Ahdab em Zawa’id Tarikh Baghdad (4:340-343 #687). Entretanto, al-Suyuti as declara hasan em al-La’ali’ al-Masnu’a (2:329-330) como faz al-Shawkani em al-Fawa’id (p. 243-244) e al-Zuhayri – aluno de al-Albani – em sua edição do Jami’ Bayan al-‘Ilm de Ibn ‘Abd al-Barr (1:677 #1197). A suposta fraqueza da corrente de al-Tabarani gira em torno do narrador ‘Abd Allah ibn Salih al-Juhani. Cf. al-Dhahabi, Mizan (2:440-445 #4383).

Al-Sakhawi cita outra narração onde o Profeta disse: “Allah tem servos que sabem (a verdade sobre as pessoas) através da leitura dos sinais” (tawassum). Narrado de Anas com uma corrente boa por al-Bazzar em seu Musnad, al-Tabarani e Abu Nu’aym em al-Tibb al-Nabawi como declarado por al-‘Ajluni em Kashf al-Khafa’.

3In Ibn al-Jawzi, Sifa al-Safwa 1(2):271, capítulo sobre al-Junayd (#296).

4Ibn Qayyim al-Jawziyya, Madarij al-Salikin (2:366).

5In Ibn al-Jawzi, Sifa al-Safwa, capítulo sobre al-Junayd.

6Ibn Qayyim al-Jawziyya, al-Fawa’id, ed. Muhammad `Ali Qutb (al-Iskandariyya: Dar al-Da`wa, 1992) p. 50.

7I.e. Sufis e fuqahâ’.

8Sétima Carta em Shifa’ al-‘Alil wa Ball al-Ghalil fi Hukm al-Wasiyya bi al-Khatamat wa al-Tahalil (p. 172-173).

9Tradução comunicada ao autor por Michael Sells, Haverford College.

Bênção e paz sobre o Profeta, sua Família e seus Companheiros

Fonte: https://www.abc.se/~m9783/n/jun_e.html

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