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O sufismo e Ibn Taymiyyah – Futooh al-Ghayb

A evidência externa da filiação de Ibn Taymiyya com a tariqa Qadiriya através de uma cadeia de três shaykhs nomeadamente Ibn Qudama foi apresentada pelo discípulo de Ibn Taymiyya, Ibn Abd al-Hadi. Evidências mais internas da inclinação sufi de Ibn Taymiyya encontram-se em seu comentário de cem páginas a respeito de Abdul-Qadir al-Gilani e que abarca somente cinco dos 78 sermões contidos no livro ”Futooh al-ghayb”, mas mostrando que ele (Ibn Taymiyya) considerava o caminho sufi um esforço salutar e até mesmo essencial dentro da vida da comunidade islâmica.

Tal comentário pode ser encontrado no volume 10: 455-548 da primeira edição de Ryadh, Majmoo ‘fatawi shaykh al-Islam Ibn Taymiyya.

Pode ser visto a partir deste comentário onde Ibn Taymiyya chama Abd al-Qadir de ”Shaykhuna”, ”nosso shaykh”, um título que ele nunca atribuiu a mais ninguém em toda sua obra, tal como ele nunca deu o título de ”imamuna”, ”nosso imam”, a qualquer um que não fosse Ahmad Ibn Hanbal.

Ibn Taymiyyah em seu comentário sobre o “Futooh” salienta que ter como primazia a sharia é o que constitui a tradição mais sólida no sufismo. Para argumentar sobre este ponto, ele lista mais de uma dúzia de antigos mestres, assim como shaykhs contemporâneos, como seus colegas Hanbalis, Al-Ansari, al-Harawi e Abdul-Qadir, e seu próprio Shaykh, Hammad al-Dabbas:

”Os justos entre os seguidores do Caminho – como a maioria dos primeiros shaykhs (shuyukh al-salaf), tais como Fudayl ibn `Iyad, Ibrahim ibn Adham, Ma`ruf al-Karkhi, al-Sari al-Saqai,  al-Junayd ibn Muhammad, e outros dos primeiros mestres, assim como Shaykh Abd al-Qadir Gilani, Shaykh Hammad, Shaykh Abul Bayan e outros dos mestres posteriores, estão na lista dos  que não permitem que os seguidores do Caminho se afastem dos comandos e proibições da lei sagrada, mesmo que essa pessoa esteja pairando no ar ou andando sobre a água. p516″.

Em seu tratado sobre as formas legítimas de adoração e sobre suas inovações, intitulado “Risalat al-`ibadaat al-shar`iyya wal-farq baynaha wa bayn al-bid`iyya”, (em “Majmoo`at al-rasa’il wal- masa’il”, Beirut, Lajnat al-turath al-`arabi 5:83), Ibn Taymiyya inequivocamente afirma que a metodologia legítima é a maneira ”daqueles que seguem o caminho” (al-salikeen), ou ”o caminho da abnegação (zuhd)”, e daqueles que seguem ”aquilo que é chamado de pobreza e sufismo”, isto é, os fuqara e os sufis:

 ”O legítimo, é aquilo pelo qual alguém se aproxima de Allah. Este é o caminho de Allah: virtude, obediência, boas obras, caridade e justiça. Esta é a via daqueles que estão no caminho (al-salikeen), e o método daqueles que objetivam e adoram Allah; é o que é percorrido por todos que desejam Allah e seguem a via da auto abnegação (zuhd) e da prática religiosa, e do que é denominado, pobreza e Sufismo, e seus equivalentes’’.

Sobre o ensinamento de Abd al-Qadir de que o salik (buscador) deve abster-se de desejos permitidos, Ibn Taymiyya determina que a intenção de Abd al-Qadir é de que se desista das coisas permitidas, que não são obrigatórias, por poder haver um perigo entre elas. Mas até que ponto? Se o Islã está essencialmente aprendendo e executando o mandamento Divino, então deve haver um jeito para quem se esforça no caminho (tariqa) para discernir a vontade de Allah em cada situação em particular. Ibn Taymiyya concede que o Alcorão e a Sunna possivelmente não cubram todos os possíveis eventos específicos na vida de cada crente. No entanto, se o objetivo é da união da vontade e desejo com Deus, isso deve ser realizado por aqueles que O buscam, e deve haver um caminho para o buscador poder verificar o comando Divino em sua particularidade.

A resposta de Ibn Taymiyya é uma tentativa de aplicar o conceito legal de ijtihad (esforço de reflexão) ao caminho espiritual, especificamente à noção de ilham, ou inspiração. Em seus esforços para alcançar a união da própria vontade com a de Allah, o verdadeiro sufi chega a um estado onde ele não deseja nada que não seja o bem maior, e a ação que seja mais agradável e adorável para Deus.  Quando diretrizes de Sharia não podem servir de orientação em tais assuntos, pode-se confiar no padrão da noção Sufi de inspiração privada (ilham) e percepção intuitiva (dhawq):

”Se o salik tiver realmente empregado seus esforços para saber as indicações corretas da Sharia, e não conseguir discernir qual é a melhor ação a realizar, ele pode julgar-se inspirado, junto à bondade de sua intenção e ao temor de Allah, a escolher a ação mais adequada que concluir superior as outras. Este tipo de inspiração (ilham) é uma indicação a respeito da verdade. Isso pode representar uma indicação mais forte que fracas analogias, hadiths de fraca autenticidade, fracos argumentos literais (zawahir), e fracos instisHaab que são empregados por muitos em princípios, diferenças, e sistematizações de fiqh. p.473.”

Ibn taymiyya baseou esta visão sobre o princípio de que Allah pôs uma disposição de encontrar a verdade dentro das faculdades humanas (p. 474), e quando esta disposição tiver sido fundamentada na realidade da fé e iluminada pelos ensinos do Alcorão, e se ainda assim o salik for incapaz de determinar a precisa vontade de Allah em instâncias específicas, então seu coração irá mostrar a ação preferível a ser tomada. Tal inspiração, ele sustenta, é uma das autoridades mais fortes possíveis a se recorrer nessas situações.

Certamente o salik às vezes errará, falsamente guiado por sua inspiração ou percepção intuitiva da situação, assim como o mujtahid algumas vezes erra. Mas, ele diz, mesmo quando o mujtahid ou o inspirado está em erro, ele é obediente.

Recorrer a ilham e dhawq não significa seguir seus próprios caprichos ou preferências pessoais (p. 479). Em sua carta a Nasr al-Manbiji, (“Majmu`at al-rasa’il wal-masa’il” 1:162), denomina essa intuição como ”fé-informada” (al-dhawq al-imaani). Seu ponto é, como no comentário ao Futooh, que a experiência inspiradora é por natureza ambígua e precisa ser esclarecida pelos critérios do Alcorão e da Sunna. Também não pode conduzir, em seu ponto de vista, a uma certeza da verdade; o que ela pode fazer, é dar ao crente firmes fundamentos para escolher a melhor ação em um determinado caso e ajudá-lo a conformar a sua vontade, e detalhes específicos de sua vida, a de seu Criador e Senhor.

Em outras obras dele (taymiyya), abundam os louvores aos ensinos Sufi. Por exemplo, em seu livro, “al-ihtijaaj bi al-qadar” (Cairo: al-matba`a al- salafiyya, 1394/1974 p. 38), defende a ênfase Sufi ao amor a Deus e sua entrega a Ele, ao invés da abordagem intelectual da religião como estando de acordo com os ensinos do Alcorão, dos hadiths mais autênticos, e de Ijma ‘al-salaf:

”Quanto aos Sufis, afirmam o amor a Deus, e isto é o que há de mais evidente entre eles, acima de quaisquer outras questões. A base de seu Caminho (tariqa) é simplesmente vontade e amor. A afirmação do amor a Allah é bem conhecida no discurso que vem desde seus mestres mais antigos, e se estende até aos atuais, demonstrando estar de acordo com o afirmado no Livro, na Sunna e no consenso entre os salaf.”

Que as Bençãos e a Paz estejam com o Profeta, sua Familia, e seus Companheiros.

G Fouad Haddad ©

20 Mar 1996

Fonte: https://www.abc.se/~m9783/n/itaysf_e.html

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