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A Formação do Sufismo como Ciência – O sufismo é algo novo, não praticado pelo Profeta (s.a.w.s.), os Sahaba, ou as primeiras gerações?

De “Realidades do Sufismo”, Sh. ‘Abd Al-Qâdir ‘Isa

”Muitas pessoas se perguntam o porquê do chamado ao sufismo ter sido desconhecido no começo do Islã e o porquê desse convite ter ganhado proeminência somente depois da geração dos Companheiros e de seus seguidores.

Em resposta a isso dizemos: na primeira geração, não havia necessidade disso. Por sua própria disposição, as pessoas daquela era já eram pessoas de piedade e escrúpulos, mestres dos rigores espirituais e inclinação para adorar. Pela virtude de sua proximidade e conexão com o Mensageiro de Allah (s.a.w.s.), eles se apressariam e competiriam um com o outro para seguir seu exemplo em tudo. Durante aquele tempo, não havia necessidade em estabelecer uma ciência distinta para guiá-los a algo que eles já estavam no caminho.

A semelhança dos Companheiros nesse assunto pode ser comparada àquela do árabe beduíno eloquente. Tal beduíno conhece a língua árabe por tê-la herdado de seus ancestrais, ao ponto que ele é até mesmo capaz de compor poesia eloquente por sua disposição natural e natureza, ainda que ele não saiba nada sobre os princípios da língua, inflexão, métrica poética ou composição. Alguém como ele não precisa aprender gramática ou retórica.

Ainda a despeito disso, quando erros gramaticais, dicção incorreta e retórica pobre se tornam muito evidente — ou mesmo quando um não árabe quer simplesmente aprender e entender, ou quando isso se torna uma necessidade social como a necessidade de outras ciências — aprender a ciência da gramática, os princípios da linguagem e poesia se torna uma necessidade.

Mesmo que os Companheiros e seus seguidores não tomaram para si o nome de “sufis”, eles eram sufis na realidade. O que é entendido por sufismo mais do que uma pessoa vivendo sua vida pelo seu Senhor e não por seu ego baixo, enquanto ao mesmo tempo adorna a si mesmo com ascetismo, persistindo na servidão, direcionando toda sua atenção a Allah com sua alma e coração todo o tempo, e observando todos os outros traços perfeitos que os Companheiros e seus seguidores alcançaram por meio da elevação espiritual; tendo obtido os níveis mais altos nisso?

Os Companheiros não se bastavam testificando as doutrinas da fé, ou estabelecendo as obrigações legais sozinhos, antes eles pareavam seu testemunho com conhecimento experimental e experiência direta. Eles realizavam cada ato amado pelo Mensageiro de Allah (s.a.w.s.) além das obrigações, tal como os atos super-rogatórios.

Eles se abstinham de todo ato detestável — para não falar das coisas proibidas — até que seus olhos internos fossem iluminados e os raios da sabedoria penetrassem seus corações, e os segredos divinos do Senhor fluíssem sobre seus corpos. Esse também era o estado dos seguidores depois deles e da geração depois dos seguidores. Essas três gerações foram as melhores e mais puras [da história] do Islã todo.

Foi relatado que o Mensageiro de Allah (s.a.w.s.) disse:

“As melhores gerações são a minha geração, então aquela depois dessa, e então aquela depois dessa.”

Com o passar do tempo e muitas nações e grupos diferentes entrando no Islã, os campos de conhecimento religioso se expandiram e foram divididos e distribuídos entre os especialistas, com cada grupo se especializando em seu próprio ramo de conhecimento ou arte e o codificando.

Depois que a gramática foi codificada como uma ciência distinta no começo, foi seguida pela jurispridência, então a crença, então a ciência do hadîth, então a teologia escolástica, então a exegese alcorânica, então a lógica, então a ciência da nomenclatura de hadîth, então a ciência da teoria legal (usûl), então a herança, e assim vai.

Depois desse período, a influência espiritual começou a declinar pouco a pouco. As pessoas começaram a esquecer a necessidade de se voltarem sinceramente a Allah com a pura servidão de ambos coração e aspiração. Tal situação motivou os mestres do rigor espiritual e ascetismo a resolverem agir no seu campo também, e a codificar a ciência do sufismo e estabelecer sua nobreza e virtude sobre todas as outras ciências.

Eles não empreenderam esse esforço para codificar a ciência — como alguns orientalistas erroneamente assumem — porque eles viram os outros especialistas codificando suas próprias matérias respectivas. Antes é uma necessidade, para que se evite uma deficiência e para atender as necessidades da religião em todas as facetas da vida; algo necessário para que se possa trabalhar juntos por piedade e retidão. Os primeiros imâms dos sufis construíram as fundações de suas ordens sobre o que é relatado historicamente dos notáveis de confiança. Quanto à história do sufismo, é mencionado num veredicto legal respondido pelo Imâm e hâfidh Sayyid Muhammad Siddîq al-Ghumari (rhmA). Perguntaram a ele: “Quem fundou as ordens sufis e elas [as ordens sufis] eram fortemente reveladas?” Ele respondeu:

”Quanto à sua questão sobre o primeiro a estabelecer uma ordem sufi, você deveria saber que em geral, a ordem espiritual (tarîqa) é fortemente revelada entre as coisas reveladas na religião Muhammadiana.

Indubitavelmente ela representa a estação do Ihsân que é um dos três pilares da religião que o Profeta (s.a.w.s.) explicou com essa afirmação: “…que foi Jibril que veio para você para ensinar a você sua religião” — essas três estações são: Islâm, Îmân e Ihsân.

Islâm é obediência e adoração.
Îmân é luz e doutrina.
Ihsân é a estação da vigilância e testemunho divino (murâqaba e mushâhada):
“…que você adore a Allah como se O visse, e se você não O vê, então saiba que Ele vê você.”

…Então assim como o hadîth indica os três pilares da religião, quem quer que falte nesse pilar (aquele do Ihsân) — que é a ordem espiritual (tarîqa) — então sua religião é deficiente por ter deixado um dos pilares. O máximo que se pode dizer quanto ao caminho espiritual é que ele é indicativo da estação do Ihsân, depois de se ter corrigido seu Islâm e Îmân.”

Ibn Khaldûn (rhmA) disse em sua Muqaddima:

”Depois da segunda geração, quando as pessoas começaram a se precipitar para o mundo e a se misturar com ele, aqueles que eram conhecidos por serem dedicados somente a adorar eram conhecidos pelo nome sufi.”

Ibn Khaldûn afirma [nessas palavras] que tanto os sufis quanto o sufismo surgiram como um resultado da absorção das pessoas na vida deste mundo na segunda geração depois da Hégira. Aqueles absortos somente em adoração receberam um nome que os distinguiam do povo comum que estavam distraídos pela vida passageira deste mundo.

De todos esses textos citados, é claro que o sufismo não é um assunto inventado e nenhuma novidade. Antes, é derivado da vida do Mensageiro de Allah (s.a.w.s.), e da vida de seus Companheiros.

Similarmente, sua origem não vem de fontes não islâmicas, como é alegado pelos inimigos do Islã entre os orientalistas e seus estudantes que chegam com ideias falsas…

Seu intento por trás de tais ataques é de duas pontas. Por um lado, desejam manchar o nome do sufismo, e por outro lado, desejam desviar os outros a pensar que o sufismo se derivou de fundações ancestrais e filosofias desviadas.

O crente não é afetado por esses ataques e ele não cai em suas armadilhas. O crente busca a clareza em seus assuntos e é firme em sua busca pela realidade; ele vê o sufismo pelo o que ele realmente é: a implementação prática do Islã.

Não há sufismo exceto sufismo islâmico e nada além.

Fonte: https://www.livingislam.org/m/fss_e.html

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